Fonte: SPES
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Dom Williamson
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[Tradução: Maria Dolores Ribeiro Orge]
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AMBIGÜIDADE DE ABRIL
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Em meados de abril, foi submetido a Roma em nome da Sociedade de São Pio X um documento confidencial, de natureza doutrinal, do qual foi dito que ele estabeleceu princípios católicos que todas as autoridades da FSSPX poderiam subscrevê-lo. Em meados de junho, Roma rejeitou o documento como base para um acordo Roma-FSSPX. Graças a Deus, porque ele continha uma ambigüidade extremamente perigosa: em resumo, uma expressão do tipo “O Magistério de todos os tempos” significa até 1962 ou até 2012? É toda a diferença entre a religião de Deus e a religião de Deus mudada pelo homem moderno, ou seja, a religião do homem. Aqui estão alguns dos princípios, conforme sintetizado pelas autoridades da FSSPX:
“1/ …A Tradição deve ser o critério e guia para a compreensão dos ensinamentos do Concílio Vaticano II. 2/ Assim as declarações do Concílio Vaticano II e o ensinamento pontifício pós-conciliar, referente ao ecumenismo e o diálogo inter-religioso ou liberdade religiosa, só podem ser entendidos à luz da tradição completa e ininterrupta, 3/ de forma a não colidir com as verdades anteriormente ensinadas pelo Magistério da Igreja, 4/ sem aceitar qualquer interpretação contrária ou em ruptura com a Tradição e o Magistério…”.
A ambigüidade de 1962 ou 2012 se esconde aqui nas palavras “Tradição” e “Magistério”. São estas duas palavras tomadas para excluir as doutrinas do Concílio (1962-1965) e suas conseqüências, ou elas estão incluindo-as? Qualquer seguidor da Tradição vai ler o trecho a fim de excluí-las, porque ele sabe que há uma enorme diferença entre a Igreja e a Nova Igreja. Mas qualquer crente no Concílio Vaticano II pode então ler o trecho para ser capaz de fingir que há uma perfeita continuidade entre a Igreja de antes e depois do Concílio. Vamos olhar mais de perto como os tradicionalistas e os conciliaristas podem ler o trecho a sua própria maneira.
Em primeiro lugar, a leitura tradicional: -“1/ a Tradição pré-conciliar conseguiu ser a medida e o juiz dos ensinamentos do Concílio (e não o contrário). 2/ Assim os ensinamentos conciliar e pós-conciliar devem ser peneirados de acordo com a totalidade do ensino tradicional antes do Concílio, 3/ de forma a não colidir com qualquer coisa que o Magistério ensinou antes do Concílio, 4/ não aceitando nenhuma interpretação ou texto que rompe com a Tradição ou o Magistério pré-conciliar.”
Em segundo lugar, a leitura conciliar (certamente aquela dos Romanos no comando da Igreja de hoje): – “1/ A Tradição de antes e depois do Concílio (porque não há nenhuma diferença) deve ser o juiz do Concílio. 2/ Assim o ensinamento Conciliar sobre assuntos polêmicos deve ser peneirado de acordo com uma completa Tradição pré e pós-conciliar (porque só isso é a “complementação” da Tradição), 3/ para assim não chocar com o Magistério pré ou pós-conciliar da Igreja (porque eles ensinam o mesmo), 4/ não aceitando nenhuma interpretação que rompa com a Tradição ou o Magistério pré ou pós-conciliar (porque não há nenhuma ruptura entre todos os quatro).”
Esta leitura conciliar quer dizer que o Concílio será julgado pelo Concílio, o que significa, é claro, que ele vai ser absolvido. Ao contrário, pela leitura tradicional, o Concílio é totalmente condenado. A ambigüidade é mortal para a Fé. Alguém aqui está parecendo jogar com nossas mentes católicas. Quem quer que seja, seja anátema!
Kyrie eleison.