Feeds:
Posts
Comentários

Archive for janeiro \27\-03:00 2012

O CAMINHO DO CALVÁRIO

.

Por fim Pilatos, receoso de perder as boas graças e a amizade de César, depois de ter declarado muitas vezes a Jesus inocente, sentencia-O a morrer crucificado; lê-se a iniqua sentença, Jesus, ouve-a, e aceita-a com santa resignação, sujeitando-Se a vontade do Eterno Pai que quer que Ele morra na Cruz pelos nossos pecados.
.
“Humilhou-Se, diz o Apóstolo, e fez-Se obediente até a morte, e morte de cruz.” Logo os verdugos se lançam sobre o divino Cordeiro, inocente, agarram-nO com furor, tornam a vestir-Lhe os Seus vestidos, e tomando em seguida a Cruz, formada de dois grossos e informes madeiros Lh’a apresentam: Jesus recebe-a e abraça-a e beija-a e a põe Ele próprio aos ombros.
.
“Ó inocentíssimo Salvador meu! disse banhado em lágrimas São Bernardo, que delito havíeis Vós cometido, para serdes condenado a semelhante gênero de morte? Mas, Senhor, prossegue o Santo, eu bem sei qual foi o Vosso delito, – foi o Vosso excessivo amor para conosco.”
.
Ah! Jesus meu! Que mais podereis fazer para me obrigardes a amar-Vos? se um pobre escravo se tivesse oferecido a morte por mim, teria certamente conquistado o meu amor e gratidão. Como tenho eu, pois podido viver tantos anos sem Vos amar, sabendo que Vós, meu Senhor e Soberano, e meu Deus, quisestes morrer para me salvar? Eu Vos amo, ó Bem infinito, e, por Vosso amor, me arrependo, de haver-Vos ofendido.
.
Saem os réus do tribunal, e dirigem-se ao lugar do suplício. Entre eles vai o Rei da glória, com a Cruz às costas. Saí, vós também, ó Serafins, e descei lá do Céu a acompanhar o Vosso Deus que Se encaminha para o monte Calvário a morrer crucificado. Que espetáculo! Um Deus que vai deixar-Se crucificar pelos homens! Vê, alma minha, o teu Salvador que vai morrer por ti; com a cabeça inclinada, o corpo oprimido, lacerado das feridas, derramando sangue; contempla-O coroado de espinhos, com aquele pesado madeiro aos ombros, e pergunta-Lhe – “Aonde vais, ó Cordeiro de Deus, assim fatigado?” – Eu vou, te responderá, acabar de morrer por teu amor, a fim de, quando Me vires morto, te lembrares do muito que te amei. Eia pois, lembra-te do Meu amor para contigo e consagra-Me o teu.”
.
Ah! meu dulcíssimo Redentor, como tenho eu podido viver esquecido do Vosso amor? Os meus pecados foram os que amarguraram o Vosso coração, ó meu Jesus. Pesa-me, Senhor, dos agravos, que Vos hei feito; agradeço-Vos a paciência de que até agora tendes usado para comigo, e amo-Vos com todas as forças da minha alma, e a Vós só quero amar. Fazei-me lembrar sempre do Vosso amor, para que não deixe nunca de corresponder-Vos com o meu.
.
Sobe Jesus ao Calvário, e convida-nos a segui-lO com as palavras ditas aos Seus discípulos: “Quem quiser vir após de Mim, abnegue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-Me.” Ouvida esta intimação, cheio de caridade o Apóstolo dirigi-se aos fiéis e diz-lhes: “Eia pois, vamos após Ele, e abracemos os Seus opróbrios e ignominias”. Se Vós, Senhor, ides adiante de mim com a Cruz, sendo inocente, dai-me a que Vos aprouver impor-me, pois com ela quero ir até a morte!
.
Quero morrer conVosco, pois quisestes morrer por mim! Vós mandais que Vos ame, e eu nada mais desejo do que amar-Vos. Vós sois e sereis sempre o meu único amor. Ó Maria, minha esperança, rogai por mim a Jesus.
.
(Sagrada Família, por um padre redentorista, 1910)

.

________

Extraído do blog Escravas de Maria

Read Full Post »

.
.
Sidney Silveira
 .
Como aponta Santiago Ramírez em sua clássica apresentação à Suma Teológica, publicada em meados da década de 40 do século passado pela editora espanhola BAC, ao falar-se em “autoridade doutrinal” de Santo Tomás de Aquino (Doutor Comum da Igreja), convém fazer a distinção entre autoridade científica e autoridade dogmática.
 .
a autoridade científica depende do valor intrínseco da obra;
 .
a autoridade dogmática depende da conformidade da obra com a Divina Revelação e de sua recomendação solene pelo Magistério da Igreja, mestra infalível da verdade revelada.
 .
Pois muito bem: no caso de Santo Tomás de Aquino, ambas as autoridades se dão em grau superlativo, eminentissimum. Mas no que tange especificamente à sua autoridade dogmática, lembra-nos Ramírez que é preciso salientar o seguinte: desde a canonização do “Boi Mudo”, no distante século XIV, até meados do século XX, ela manteve uma linha ascendente formidável — sendo dignificada como doutrina comum da Igreja.
Neste contexto, é preciso deixar claro o seguinte, para não dar margem a confusões: quando se diz que o tomismo é a doutrina comum da Igreja, está-se reiterando, com o Magistério da Igreja, que em seus princípios e em seus fins ela não contém erros em matéria de fé, e mais ainda: tal é a sua riqueza teológica que dela se serve o próprio Magistério na proclamação de Dogmas e/ou na defesa da fé contra erros e heresias. É evidente que, nos pontos teologicamente opináveis, pode um católico concordar com um Doutor que não esteja totalmente alinhado a Tomás. Mas, mesmo nestes casos, é grandemente temerário afastar-se do Angélico, e veremos o porquê disto.
A doutrina teológica do Aquinate, como apontara Clemente VI, é verdadeira sem contágio algum de falsidade (vera sine contagio falsitatis), é clara sem a tediosa sombra da obscuridade(clara sine taedio obscuritatise é frutuosa sem o vício da curiosidade (fructuosa sine vitio curiositatis). É, por fim, “Doutrina Comum da Igreja” (videmus ad sensum quod doctrina istius sancti, quae dicitur ‘Doctrina Communis’ […] semper tamet permanet et invalescit in saecula saeculorum).
São Pio V canoniza definitivamente essa doutrina na bula Mirabilis Deusjá citada noutro artigo da presente série, pela qual proclama Santo Tomás Doutor da Igreja Universal. A fórmula é bem simples e solene: a doutrina de Santo Tomás é regra certíssima da fé (certissima christiane regula doctrinae, qua Apostolicam Ecclesiam infinitis confutatis erroribus illustravit). Neste mesmo documento magisterial diz São Pio V nada menos que o seguinte: a Igreja recebe essa doutrina teológica como sua, por ser a mais certa e segura de todas (…eius doctrinam theologicam ab Ecclesiam Catholicam receptam, aliis magis tutam et securam existere). A propósito, há uma tradução para o português da Mirabilis Deus que pode ser adquirida no Instituto Aquinate, para quem quiser inteirar-se do conteúdo deste importante documento magisterial.
Antes de prosseguir com este breve texto, repitamos, pois, a título de ênfase:
 .
a) a doutrina de Santo Tomás é comum da Igreja (Clemente VI);
b) é regra certíssima da fé (São Pio V); e
c) a Igreja a recebe como sua (São Pio V).
 .
Mas há muito, muito mais. Bento XIII, por exemplo, lembra-nos em um de seus documentos magisteriais: a doutrina de Santo Tomás de Aquino foi aprovada pelo próprio Cristo em pessoaRefere-se ali o Papa à passagem (que consta da bula de canonização de Santo Tomás e de todas as biografias, desde as primeiras) em que alguns dos confrades do Angélico ouviram a imagem de Cristo miraculosamente dizer o seguinte a ele: “Falaste bem de mim, Tomás. O que queres como recompensa?”. Ao que o Aquinate respondeu: “Nada além de Ti, Senhor”.
Por sua vez, Bento XIV, ao aprovar os estatutos do Colégio São Dionísio, em Granada, escreve que o não-ensinamento da doutrina teológica de Santo Tomás (ali ou em quaisquer centros de ensinos do orbe católico) acarretará pena de excomunhão reservada a Santa Sé. Será que os leitores conseguem dimensionar bem isto, ou seja, o não-ensinamento de uma doutrina como matéria de excomunhão? Pois é isto mesmo.
Por uma questão de economia, pulemos alguns séculos de ditos solenes e magisteriais com o mesmo teor dos que acima descrevemos para chegar a Pio IX — que afirma numa conhecida alocução que Santo Tomás possuía engenho sobre-humano, o que lhe permitiu escrever formidavelmente sobre as coisas divinas e humanas, merecendo aprovação de Deus mesmo. E frisa, com sua linguagem peculiar, que, acima da doutrina de Santo Tomás, só há a da visão beatífica (Ipse enim modo veritates revelatas tanta luce perfudit, ut extra beatificae visionis meridiem amplior nec optari nec sperari posse videatur: sed scientias etiam rationales ac naturales tanta veritate pertractavit, ut in his non secus ac in illis omnium instar merito esse possit).
De Leão XIII falar-se-á amiúde noutro texto, pois a sua famosa Encíclica Aeterni Patris merece um capítulo à parte. Falemos de São Pio X, que no motu proprio intitulado Sacrorum Antistitum diz, entre outras coisas, que os princípios da filosofia e da teologia de Santo Tomás não devem ser considerados como meramente opináveis ou discutíveis, mas como fundamentos sobre os quais se apóiam os conhecimentos acerca das coisas humanas e divinas (… in S. Thomae sun capita, non ea haberi debent in oponionum genere de quibus in utramque partem disputare licet, sed velut fundamenta in quibus omnis naturalium divinarumque rerum scientia consistit…).
A primazia doutrinal do Aquinate foi também coroada por Bento XV, que, como refere o genial tomista G.M. Manser, a incluiu no Código de Direito Canônico de 1917 (cânon 1366) com as seguintes palavras: “O sentido da filosofia e da teologia, assim como a instrução filosófica e teológica dos estudantes de teologia, devem ser dispostos pelos professores de modo a que se ajustem em tudo(omnino) ao sentido e espírito das doutrinas do Doutor Angélico, considerando-se tais princípios como coisa santa”.
Pio XI, na Encíclica Studiorum Ducem, repete o fato de a doutrina do Aquinte ser comum a toda a Igreja Universal (...sed etiam Communem seu universalem Ecclesiam Doctorem appelandum putemus Thoman).
Ditas todas estas coisas, será conveniente para um católico que estuda teologia afastar-se de Santo Tomás? Bem, conforme se apontou acima, a sua doutrina teológica foi proclamada pelo Magistério da Igreja : a) como doutrina comum; b) como aprovada pessoalmente pelo próprio Cristo; c) como inferior apenas à visão beatífica da essência divina; d) como não passível de ser discutida em seus princípios; e) como regra certíssima da fé; f) como doutrina que a Igreja recebe como suag) como fundamento sobre o qual se apóiam os conhecimentos acerca das coisas divinas; h) como doutrina a ser ensinada obrigatoriamente em todo o orbe católico, sob pena de excomunhão para os recalcitrantes;g) como doutrina santa; e i) como doutrina que, quanto aos seus princípios, deve ser seguida em tudo.
Bem, ainda não se disse sequer um décimo com relação à autoridade doutrinal de Tomás, que obviamente é participada — pois, como ele próprio ensinara, a autoridade da Igreja é maior do que a de quaisquer de seus Doutores, posto que dela recebem eles a sua ciência (cf. Suma Teológica, II-II, q. 10, art. 12, corpus).
No caso do Doctor Communis, a doutrina teológica é chamada “comum” porque, como afirmara Leão XIII (um ano após a publicação da Aeterni Patris, ao proclamar Santo Tomás Patrono dos Estudos católicos), é riquíssima em seu conteúdo, saníssima, perfeitamente organizada, admiravelmente acorde com as verdades da Sagrada Escritura e sinceramente obsequiosa com a fé.
Ainda há muito a dizer quanto a este tópico.
 .
(continua)
.
.
__________
Extraído dos blogs Contra Impugnantes e SPES

Read Full Post »

Santa Brígida, rogai por nós!

.

Santa Brígida nasceu em 1302 na majestosa província de Uppsala (Suécia), no Castelo de Finsta em Norrtälje. Seus pais pertenciam a uma Família Real, eram cristãos fervorosos e extremamente piedosos, em tudo conciliavam a fé com a vida. Era uma família admirada por toda a corte e até em outros reinos.
 .
A pequena Brígida até os 3 anos de idade, não falava, de repente falou com facilidade e desenvoltura. Aos 7 anos de idade teve a sua primeira experiência mística: ela viu Nossa Senhora que lhe sorriu e colocou sobre sua cabeça sua majestosa coroa e depois desapareceu.
Com a idade de 10 anos depois de ouvir um sermão na igreja local sobre a Paixão de Cristo, ficou muito impressionada com as crueldades e terríveis sofrimentos. Alguns dias depois, teve uma visão de Cristo pregado na cruz, coberto de chagas, e o Senhor lhe disse essas palavras: “Olha em que estado me encontro, minha filha.” Ela perguntou: “Jesus quem te fez isto?” – Nosso Senhor respondeu: “Aqueles que me ofendem e não querem o meu amor”. Essa visão deixou uma profunda e indelével marca em seu coração.

.

Também aos 10 anos, experimentou a dor da separação, sua Mãe adoece gravemente e falece em 1312. Seu pai sentindo-se desorientado, enviou a pequena Brígida a casa de sua cunhada Catarina, em Aspanäs.
Ao completar 14 anos de idade, e atendendo as ordens de seu pai e parentes casa-se com Ulf Ulväsa, príncipe da Nércia. Foi com quem viveu um matrimônio feliz por 28 anos e como frutos desse casamento tiveram 8 filhos (4 meninos e 4 meninas).
Carlos, o mais velho, tornou-se homem de vida desregrada. Dois meninos morreram ainda crianças e o quarto era Gudmaro. As mulheres se casaram, porém a terceira ficando viúva tornou-se religiosa e santa e foi canonizada como – Santa Catarina da Suécia (rogai por nós!) e a quarta entrou para a Ordem de Cister, também como religiosa.
Santa Brígida com seu marido, realizaram muitas peregrinações a lugares santos, inclusive a Santiago de Compostela. Em comum acordo, fazem votos a Deus e a ele se consagram interamente. Foram morar em uma humilde casa perto do Mosteiro de Alvastra. Contudo, Ulf é acometido de grave enfermidade e não suportando, vem a falecer no ano de 1344. Santa Brígida permanece na mesma casa por mais 4 anos em oração e penitência.
Foi nessa época, e depois de distribuir todos os seus bens, que as visões se tornaram mais numerosas e freqüentes. As revelações divinas não eram mais através de sonhos, mas sim quando estava desperta e em oração. Muitas vezes ficava em êxtase.
Certa vez Jesus lhe disse: “Brígida o que eu te falo, não é somente para ti, … Mas por meio de ti falarei ao mundo.” Santa Brígida era a primeira na sucessão real, era Princesa Real de Suécia. Todavia, invocando o Espírito Santo consegue se esquivar da realeza para se dedicar unicamente ao Reino de Deus.
As visões e revelações de Santa Brígida se referiam aos assuntos mais polêmicos de sua época; muitos reconheceram que graças a essas visões muitos acordos de Paz foram firmados, acertos políticos entre estados, se deram graças as revelações de Brígida. Todas essas visões foram escritas em latim pelo prior do Mosteiro de Santa Maria, Pe. Pedro de Skninge, era o confessor e confidente de Santa Brígida.
Segundo Santa Brígida, e por revelação Divina, fundou-se em Vadstena um Monastério e, mais adiante, a ordem do Santíssimo Salvador. Seu ministério apostólico compreendeu sua austeridade, sua devoção e peregrinação aos Santuários, sua severidade consigo e sua bondade com o próximo e sua entrega total aos cuidados dos pobres e doentes.
Em 1349, Santa Brigída viajou para Roma a fim de conseguir autorização do Papa para fundar a nova ordem. Enquanto aguardava a volta do Papa de Avijnon, ela foi residir perto da Igreja de São Lourenço e nas imediações esmolou em favor dos pobres e necessitados.
Foi nesse tempo de espera que visitou Assis, Nápoles etc. Somente em 1368 conseguiu de Urbano V, que depois de varias modificações; a aprovou das regras.
Em 1371 viajou a Terra Santa, regressou a Roma em 1373, e já estava com 71 anos, Santa Brígida sente suas forças desaparecer, vindo a falecer logo em seguida; foi sepultada na Igreja de São Lourenço, em Roma. Mais tarde seu corpo é transladado para a Suécia em atenção ao seu pedido. Em 1377, foi publicada a primeira edição da obra “Aparições Celestiais”. Santa Brígida foi canonizada em 1391, e elevada a categoria de patrona da Suécia e Copatrona da Europa.
A Ordem por ela fundada perdura até hoje com o nome de: “Ordem do Santo Salvador Chamada Ordem Brigidina”.
 .
O Tempo Presente e as Profecias de Santa Brígida.
.
(Nosso Senhor a Santa Brígida) Referindo-se aos Últimos Tempos, disse:
 .
“40 anos antes do ano 2000, o demônio será deixado solto, por um tempo. Um sinal dos eventos que marcarão o fim dos tempos”, continua Santa Brígida, “será: Os sacerdotes deixarão de usar hábito santo e se vestirão como pessoas comuns; as mulheres se vestirão como os homens e os homens como as mulheres”. “…Esta é a hora de Satanás, que tem a infame intenção de destruir a Minha Criação. Grita, a alta voz, Minha filha, porque esse dia está próximo e Satanás apressa-se a devastar nação a nação. O Meu Coração está despedaçado…”
 .
O restante das profecias de Santa Brígida é facilmente encontrado na internet, contudo, todo cuidado é pouco com o restante do conteúdo dos sites que as contém.
.
.
____________
Extraído do blog SPES

Read Full Post »

Extraído do blog Contra Impugnantes

.

.

[continuação deste texto]

.

Sidney Silveira

.

2- Assassino de Celestino V?

.

Aquilo que Santo Agostinho chamara de “cidades do amor próprio”, nas quais os homens são carniça do demônio, representa o terrível influxo do pecado original sobre as sociedades, sem nenhuma exceção. Em resumo, há uma gota da baba de Caim — fundador da primeira cidade, segundo o relato bíblico (Gn, IV, 17) — em todas as Pólis, desde a perda do Éden. Esta premissa teológica de Agostinho n’A Cidade de Deus nos servirá como ponto de partida para a análise das relações entre a Igreja e o Estado durante o pontificado de Bonifácio VIII, ou seja: em meio à grave insurreição do poder temporal contra o eclesiástico que fundou a Idade Moderna, espiritual e politicamente.

.

Diz o bispo de Hipona:

.

A soberba é o que de pior e mais condenável pode haver, pois busca o recurso das escusas mesmo para os pecados mais evidentes. Assim fizeram os nossos primeiros pais. Eva disse: “A serpente me enganou e eu comi”; e Adão disse: “A mulher que me deste por companheira deu-me o fruto e eu o comi” (Gn, III, 12-13). Jamais o pedido de perdão! Jamais a busca do remédio! Embora, como Caim, não tenham negado o que fizeram, a sua soberba os fez descarregar sobre o outro a responsabilidade pelas más obras. A soberba da mulher culpou a serpente, a do varão culpou a mulher” (Santo Agostinho, A Cidade de Deus, XIV, 15, 1).

.

O relato de Agostinho nos mostra que, com o pecado, se perdeu no ato a inocência original — e as cidades fundadas pelos descendentes dos primeiros pais da humanidade não poderiam deixar de ser o reflexo dessa dramática queda: ímpias, idólatras, sensuais ao extremo, orgulhosas, cúpidas, revoltadas contra Deus e suas leis. Somente com Cristo e o Seu Corpo Místico, que é a Igreja, se poderá instituir em terreno sólido a Cidade de Deus, que, ao contrário da cidade do amor-próprio, trará o único remédio capaz de encaminhar as almas ao céu.

.

Com este quadro podemos ter clara a idéia de que o papel da Igreja nas sociedades é de mestra, médica e juízamestra porque ensina a partir dos tesouros espirituais da Sagrada Escritura e do Magistério participado por Cristo, ou seja, educa repetindo o que Cristo ensinou e mandou ensinar (ergo euntes docete omnes gentes, Mt. II, 18); médicaporque com sua doutrina e com os sacramentos traz para o corpo social a sanidade e a santidade, frutos da graça, sem as quais não haveria freio à maldade e à perdição; juíza porque, à luz dos ensinamentos divinos, tem o critério infalível para julgar se os indivíduos e as sociedades encaminham-se a Deus ou ao capeta. Neste contexto, todas as suas intervenções legislativas e/ou coercitivas no âmbito do Estado serãosub ratione peccati, com a autoridade de Cristo — e, portanto, daquele que até o Juízo Final estará em seu lugar (Viccarius Christi): o Papa.

.

Estes são, pois, os principais vetores da política católica consagrada solenemente no Magistério de Bonifácio VIII e no que se lhe seguiu, até a derrocada doutrinal ocorrida no último quartel do século XX. Tendo-os bem claros no horizonte, prossigamos contando a sua apaixonante e trágica história.

.

Vimos, com o historiador Luigi Tosti, que a abdicação de Celestino V, ao contrário do que dizem os detratores de Bonifácio VIII, se deu motu proprio, ou seja: foi ele o único Papa da história a renunciar por vontade própria, publicamente expressa[1]il gran rifiuto, nos versos de Dante. Agora vejamos o que sucedeu imediatamente após este acontecimento de grande importância para a história da Igreja.

.

Ricardo Villoslada afirma que é absolutamente fantástica e legendária a frase que Celestino V teria dito ao Cardeal Gaetani: Intrabis ut vulpes, regnabis ut leo et morieris ut canis. “Entrarás como raposa, reinarás como leão e morrerás como cão”. E o diz porque, como historiador honesto, verificou a inexistência de fontes seguras que confirmem tal “profecia” — que, a propósito, os fatos contrariarão eloqüentemente, se contemplados à luz da fé. É bem provável que esse suposto dito de Celestino V tenha sido mais uma das incontáveis invenções espalhadas contra Bonifácio VIII por seus inimigos, e os motivos deste parecer serão expostos adiante, no decorrer dos textos desta série. Seja como for, os vinte e quatro cardeais reunidos na véspera do Natal de 1294 elegeram o Cardeal Gaetani, que assumiu o nome de Bonifácio VIII.

.

Ao contrário do que sucedera com Celestino V, o rei Carlos II não conseguiu reter Bonifácio VIII em Nápoles. E mais: viu-se compelido a logo acompanhá-lo a Roma, que é o lugar do Papado por excelência, de onde Pedro ex cathedra espraia a sua autoridade a todo o orbe cristão. E aos 4 de janeiro de 1295 a comitiva pontifícia deixou o Castel Nuovo, em Nápoles — onde reinava Carlos I, tendo até então o Papa anterior sob o seu domínio político — e partiu para Roma, onde Bonifácio VIII recebeu a tiara pontifícia.

.

De acordo com os principais historiadores e cronistas, a primeira medida do novo Papa foi revogar os privilégios que Celestino V havia outorgado de forma pródiga (e, em alguns casos, irresponsável), até que se organizasse administrativamente a Cúria. Assim, prebendas, nomeações altamente duvidosas de bispos e outras concessões e benefícios foram suspensos. Outro problema não menos importante, e muito mais imediato, apresentou-se ao recém-empossado Papa: a ameaça de cisma crescera vertiginosamente após a renúncia de Celestino V, com a grita generalizada por parte dos “espirituais” franciscanos: sátiras e memoriais blasfemos contra Bonifácio VIII foram imediatamente espalhados, tanto por esses “espirituais” como por partidários da família Colonna, que começaram uma campanha sedevacantista dizendo aos quatro ventos que Celestino V continuava Papa, e Bonifácio VIII era um usurpador[2].

.

A tentativa desses homens era simplesmente convencer o simplório Pedro de Morrone de que não perdera a tiara pontifícia, malgrado a sua cabal renúncia. Bonifácio VIII deu, então, o primeiro sinal do governante que seria: estando a Igreja em perigo de cindir-se por um cisma movido por algumas facções de fanáticos, ordenou prudencialmente a Morrone que não se afastasse dele, pois o velho eremita, influenciável que era, poderia servir às ambições dos Colonnas e dos radicais adeptos da pobreza absoluta. Nas palavras de Bartolomeu de Lucca, uma fonte coetânea, Morrone ficou retido num mosteiro “in custodia non quidem libera, honesta tamen” e o cronista Villani, outro autor contemporâneo, nos informa que o ex-Papa morreu “in cortese prigioni”.

.

Pois muito bem, o velho Morrone, provavelmente com a ajuda dos “espirituais”, desobedecendo ao Papa fugiu do mosteiro com o propósito de encaminhar-se à Dalmácia ou à Grécia. Sabedor disto, Bonifácio VIII enviou emissários que, no meio do caminho, frustaram a fuga de Morrone e o conduziram ao Castelo Monte Fumore, onde ficou confinado “em honesta reclusão”, segundo Villoslada, levando uma vida contemplativa até falecer em 19 de maio de 1296.

.

Neste ponto, Villoslada, Tosti e Mcbrien — os três historiadores que nos têm servido como fio condutor desta história — são unânimes: não possuem o menor crédito as absurdas lendas, inventadas pelos adversários de Bonifácio VIII logo após a morte de Morrone, de que o ex-Papa havia sido assassinado por ordem de Bonifácio, tendo o crânio partido ao meio ou perfurado com uma lâmina. Tais calúnias, como adiante veremos, foram fomentadas pelos sequazes de Felipe, o Belo, rei de França, ainda em vida de Bonifácio, mas também após sua morte, no mais escandaloso e infame julgamento post-mortem de que se tem notícia na história da Igreja.

.

Quanto às supostas “condições terríveis”, que teriam sido impostas a Morrone, paira a mesmíssima sombra da detração contra Bonifácio — a sombra negra e irresponsável da calúnia. As coisas se passaram de outra forma. Luigi Tosti, baseando-se em diferentes testemunhas ocularesque escreveram sobre a reclusão de Morrone no Castelo Monte Fumore (como por exemplo o cronista Giacomo Stefaneschi, biógrafo de Celestino V), relata que o idoso homem, acostumado à vida de penitência e jejum mesmo antes de ser Papa, impunha-se a si mesmo um rigor assombroso (como era, aliás, típico de alguns monges ligados aos espirituais, que chegavam ao paroxismo em suas penitências). Assim, nas palavras de Tosti, que culpa teria Bonifácio se o ex-Papa jejuava às vezes durante dois dias, mortificava-se fisicamente e dormia no chão, mesmo com sua avançada idade, por amor à penitência? E mais: a estreiteza da cela onde Morrone ficou — onde, segundo o relato das fontes primárias, cabiam apenas duas pessoas — foi exigência dele mesmo!

.

Como se vê, são fábulas maléficas espalhadas por inimigos de Bonifácio VIII as histórias do “assassinato” de Pedro Morrone, ex-Celestino V. Mas com relação a este tópico vale ainda fazer a defesa do grande Bonifácio VIII no tocante aos motivos que o levaram a manter sob sua custódia o Papa que renunciara à suprema dignidade apostólica por conta própria. Eles têm a ver com a própria função que cabe ao Papa como governante da Igreja até o final dos tempos, Igreja que é mestra, médica e juíza, como apontou-se acima. Têm a ver com a função daquele a quem cabe julgar a moral e os costumes e zelar para que, no plano político, não surjam obstáculos à salvação das almas.

.

A argumentação é simples: o perigo de cisma era mais do que evidente, pois, como diz Villoslada, a fúria desesperada dos “espirituais” franciscanos após a renúncia de Celestino V levou-os a uma campanha de difamação e calúnias contra um Papa como nunca houve até então em toda a história eclesiástica, e nem depois. Além de blasfêmias e sacrilégios, trataram a Bonifácio VIII como pseudo-Papa, herético, sodomita, satanista, etc., desorientando muitas cabeças e criando problemas de eclesiologia que só seriam resolvidos séculos depois. Nas palavras de Villoslada, esses homens “contribuiram para o desprestígio do Pontificado e alimentaram as primeiras fontes da [herética] doutrina conciliarista”.

.

Ora, num cenário como este, levando em conta a fortíssima pressão destes inimigos da Igreja (alguns deles ligados à família dos Colonnas) e a patente debilidade do caráter de Pedro Morrone, Bonifácio VIII, ao mantê-lo confinado, evitou o que provavelmente seria um dos grandes cismas da história da Igreja — fomentado por um ódio insano travestido de virtudes.

.

Pois bem, refutadas as acusações (infelizmente, repetidas ainda hoje em alguns ambientes católicos) de que Bonifácio VIII seria um usurpador que adquiriu a tiara pontifícia por ardis políticos e, pior ainda, teria mandado assassinar o Papa renunciante, veremos no quarto texto desta série se procedem as acusações de que Bonifácio foi responsável pela ida do Papado a Avignon.

.

Não chegamos nem à metade da história.
______________________

.

1- Que Celestino V renunciou com plena liberdade, ou seja, por vontade própria, é fato indubitável, nas palavras de Ricardo Villoslada. O documento de abdicação, lido pelo Papa diante de todos os cardeais, não deixa a menor margem a dúvidas: “Ego Celestinus papa V, motus ex legitmis causis (…) sponte ac libere cedo papatui et expresse renuntio loco et dignitati, oneri et honori”. É certo que o escrupuloso Morrone aconselhou-se com os cardeais acerca de sua renúncia, entre eles o Cardeal Gaetani (futuro Bonifácio VIII), mas não há nenhuma fonte primária que insinue que Gaetani o tenha oprimido, coagido ou coisa que o valha. A bibliorafia arrolada por Villoslada em sua Historia de la Iglesia Católica é considerável.

.

2- Um dos mais fanáticos e virulentos homens desta campanha foi Jacopone di Todi, que esperava ardentemente pelo “Papa angélico” (que acreditava ser Celestino V) e, com o seu talento poético, escreveu contra Bonifácio alguns dos mais odiosos panfletos (em prosa e em verso). Do Papa escreveu, por exemplo “Come la salamandra / vive dentro lo foco / cosi par che lo scandalo / te sie sollaz’ e joco /dell’anime redente / per che ti curi poco”.

Read Full Post »

Cada vez é mais evidente que a crise atual da Igreja, a crise modernista, foi permitida pelo Céu como um castigo, da mesma forma que o comunismo é, por sua vez, fruto perfeito e flagelo do laicismo liberal-maçônico (incluindo também o semi-laicismo católico-liberal). Castigo de um mundo afastado de Deus há vários séculos, porém também castigo de uma cristandade decadente, surda, espiritualmente falando, e tíbia. Portanto, seria lógico e prudente que o clero e os seculares não-progressistas, se compreendem a situação, se organizassem e com zelo e lucidez procurassem afastar a causa do castigo, em vez de perder tempo com lamentações pela situação presente. É isso que fazem ?

Há dois fenômenos que causam estupor em muitas pessoas de boa vontade, perplexas ante a situação atual do mundo católico (muitas delas vendo um só de seus aspectos e não a situação geral).

O primeiro fenômeno é uma mentalidade “de tempos normais”: essas pessoas raciocinam, falam, comportam-se como se vivêssemos sem que nada de especial venha acontecendo; como se, por exemplo, uma pessoa diante das ruínas ocasionadas por um terremoto dissesse: não posso ir deitar porque não escovei os dentes; aprendi isso desde pequeno.

O outro fenômeno é constituído por essas absurdas ilusões sobre a realidade eclesiástica de hoje; ilusões que quando são de boa fé revelam uma terrível incompreensão da dinâmica modernista. Ante qualquer coisa boa dita ou feita pelos Pastores atuais, ou que talvez os meios de comunicação atribui a eles, estas pessoas vêm em seguida dizer-nos: não está tudo tão mal como dizes… ou ainda também: as águas estão voltando a leito do rio. E de forma automática tais pessoas moldam-se às cômodas “normas oficiais” adotadas, por exemplo, por uma série de “meias medidas” politicamente corretas.

Porém, não é próprio da ilusão católico-liberal ou ecumênico-conciliar juntar o que não se pode unir? O católico-liberal, ou seja, o modernista de outrora ou de hoje, não quer, por principio, renunciar ao que é católico: antes, quer fazer o catolicismo compatível com o Iluminismo ou Protestantismo. Em sua célebre encíclica contra o modernismo, escrevia assim São Pio X: “Lendo seus livros, encontram-se coisas que poderiam ser ditas perfeitamente por um católico, porém se se vira a página, lêem-se outras que poderiam ser ditas perfeitamente por um racionalista”.

Certo prelado, considerado conservador (corrompido, porém, em seu fundo pelo liberalismo) me disse um dia uma frase claramente significativa desta dualidade: “os modernistas mais avançados [somente estes?] devem abrir-se a certos aspectos da tradição [só a alguns aspectos?], e assim tanto os “de direita” como os “de esquerda” chegariam a encontrar-se dentro de um nível de moderação”. O que quer dizer que o catolicismo tradicional não deveria combater o modernismo (e suas conseqüências) mas somente moderá-lo. Haveria que se ancorar numa posição moderada da Revolução. Chegados a este ponto, não podemos deixar de pensar na Pascendi que fala das transformações insidiosas levadas a cabo pelos modernistas: tais transformações deveriam realizar-se mediante um “entendimento por ambas as partes”, entre progressistas e conservadores, sendo estes últimos umas simples marionetes. Estes “conservadores” não o compreendem ou não querem compreendê-lo?

À esta anêmica “posição moderada”, à qual, segundo nosso prelado “conservador”, todos deveríamos concorrer, se aplicam estas palavras: “E ao anjo da igreja de Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e veraz, o princípio da criação de Deus. Conheço tuas obras, que não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, porque és tíbio, e não és nem frio nem quente, estou para vomitar-te de minha boca” (Ap. 3,14-16).

Um sacerdote que conheceu bem o Cardeal Siri (que também o ajudou junto a Paulo VI e também em seu livro Getsemaní, contra a nova teologia) falou-me do sofrimento do Cardeal após as demissões forçadas que presenciou, quando viu cessar, em sua cidade de Gênova, o que cria poder conservar mediante uma certa linha de conduta. Li numa biografia deste grande Cardeal (Benny Lai, O Papa não-eleito) que nos últimos momentos de sua vida, “o último grande príncipe da Igreja”, pedia perdão a Deus, temendo ter-se evadido de um dever que a Providência lhe havia assinalado.

Um remorso talvez pouco freqüente, inclusive entre muitos homens provavelmente próximos ao “redde rationem” e que parecem ter medo de tudo, exceto da terrível responsabilidade de ter deixado que a Igreja se “auto destruisse” (na medida em que sua natureza divina e humana o permite) (Pablo VI!), e de não haver “dado de comer e beber” espiritualmente à dolorosa multidão que disso tinha necessidade (ver: Visões da beata Jacinta).

.

Observador

.

________

Fonte: Mosteiro da Santa Cruz

Read Full Post »

A SANTA MISSA É DE GRANDE AUXÍLIO
PARA AS ALMAS DO PURGATÓRIO
.

.

Para concluir esta instrução, refleti que não foi premeditado desígnio que disse anteriormente que uma única Santa Missa, tomada em si e em relação ao seu valor intrínseco, basta para esvaziar inteiramente o Purgatório e abrir a todas as almas, que lá se acham, as portas do Paraíso. Com efeito, este Divino Sacrifício vai em auxílio das almas dos falecidos, não só satisfazendo por suas dívidas como propiciatório, mas ainda obtendo-lhes a libertação, como impetratório. Isto decorrente claramente da conduta da Igreja, que não somente oferece a Santa Missa pelas almas sofredoras, como também insere orações para libertá-las.
 .
Ora, a fim de excitar vossa compaixão por essas santas almas, sabei que o fogo em que estão mergulhados é tão devorador quanto o do próprio Inferno. Tal é a opinião de São Gregório. Instrumento da Justiça Divina, ele age sobre as almas com tão grande ardor, que lhes causa dores intoleráveis e superiores a todos os suplícios que jamais se pode ver, experimentar ou sequer imaginar aqui na Terra.
 .
Muito mais, porém, sofrem elas pela pena de dano, e é, a privação da bem-aventurada visão de DEUS. Elas experimentam, diz São Tomás, uma insuportável angústia, causada pelo desejo que têm de ver o Soberano Bem, desejo que não pode ser satisfeito.
 .
Pois bem, consulta-vos intimamente e respondei à pergunta: Se vísseis vosso pai e vossa mãe a ponto de afogar-se num lago e que para salvá-los vos bastasse estender a mão, não seríeis levados, pela caridade e pela Justiça, a socorrê-los!?
 .
E então! vedes com os olhos da Fé tantas pobres almas de vossos parentes próximos, queimando vivas num lago de fogo, e não quereis impor-vos um pequeno incômodo para assistir devotamente à uma Santa Missa em seu sufrágio. De que é feito o vosso coração? Pois quem pode duvidar que a Santa Missa leve um grande auxílio a essas pobres almas? Quanto a isto, ouvi São Jerônimo. Ele vos dirá claramente que, ao celebrar-se a Santa Missa por uma alma do Purgatório, o fogo tão devorante que ordinariamente a consome, suspende sua ação e ela não sofre pena alguma enquanto dura o Sacrifício. Animae quae sunt in Purgatorio pro quibus solet sacerdos in Missa orare, ínterim nullum tormentum sentiunt dum Missa celebratur.
 .
Além disso, afirma que, a cada Santa Missa, muitas almas ficam livres do Purgatório e voam para o Paraíso. Missa celebrata, plures animae exeunt de Purgatório. Acresce que esta caridade, exercida em favor das pobres almas, redundará inteiramente em vosso proveito.
 .
Infinidade de exemplos poderia eu apresentar-vos em apoio desta afirmação. Contentar-me-ei com um fato perfeitamente autêntico, acontecido com São Pedro Damião. Criança ainda, ele perdeu o pai e foi recolhido na casa de um dos irmãos, que o tratava com muita desumanidade a ponto de deixá-lo andar descalço, em andrajos e lhe faltando tudo.
 .
Sucedeu que um dia o menino achou, na rua, uma moeda qualquer. Imaginai a sua alegria e como lhe pareceu ter achado um tesouro. Mas em que empregá-lo! A pobreza sugeria-lhe mil projetos. Por fim, depois de refletir longamente, decidiu dar o dinheiro a um sacerdote para que celebrasse uma Santa Missa pelas santas almas do Purgatório. Podeis acreditar: desde então a fortuna mudou para ele. Recolheu-o outro dos irmãos, mais compassivo, que o amou como um filho deu-lhe roupas convenientes, enviou-o à escola, contribuindo assim para que ele se tornasse esse grande homem e grande Santo, ornamento púrpuro e forte sustentáculo da Igreja.
 .
Vede como uma única Santa Missa, encomendada com ligeiro sacrifício, se tornou para ele a origem de tão grande bem.
 .
Ó bem-aventurada Santa Missa! Que ajuda ao mesmo tempo os mortos e os vivos, que alcança graças para o tempo presente e para a eternidade. Essas santas almas são tão gratas a seus benfeitores, que chegando ao Céu, elas se constituem seus advogados e jamais os abandonam até que os vejam de posse da glória.
 .
Foi o que verificou uma mulher de má vida em Roma. Inteiramente esquecida de sua salvação, não pensava senão em satisfazer suas paixões, e servia de agente de satanás para corromper a mocidade.
 .
Já não fazia nenhuma boa ação, a não se encomendar quase todos os dias uma Santa Missa pelas almas do Purgatório.
 .
Oh! Essas almas, como se pode crer piedosamente, oraram tão bem por sua benfeitora, que um belo dia, tomada de profunda contrição de suas faltas, ela abandonou sua casa infame, foi prostrar-se aos pés de um zeloso confessor, fez sua confissão geral e pouco tempo depois morreu em consoladoras disposições que todos ficaram persuadidos de sua salvação eterna. Esta graça tão admirável foi atribuída à eficácia das Santas Missas que ela encomendava pelas almas do Purgatório.
 .
Despertemos também nós, e não deixemos que os publicanos e as mulheres da má vida nos precedam no Reino de DEUS (Mt 21,31).
 .
Se fôsseis dessa raça de ingratos que não só faltam à caridade, que se esquecem de rezar por seus falecidos, e não participam nunca de uma Santa Missa por esses pobres afligidos, mas ainda, violando toda justiça, recusam aplicar os legados piedosos de Missas, indicados no testamento de seus parentes.
 .
Oh! Então eu me inflamaria a vos diria em face: “Retira-vos, sois piores que um demônio, pois, realmente, os demônios só torturam as almas dos réprobos, mas vós, vós atormentais as almas dos eleitos; os demônios exercem sua raiva sobre os condenados, mas vós sois cruéis com os predestinados, os amigos de DEUS. Não, não há para vós, nem confissão que valha, nem padre que vos possa absolver se não fizerdes penitência de tão grande pecado e não solverdes inteiramente as dívidas que tendes com os mortos.”
 .
– Mas, direis, não tenho meios de encomendar essas missas, não é possível.
 .
– Não tendes meios? Não é possível? E para manter essa casa confortável, para andar suntuosamente vestido, para gastar loucamente em festins, em recepções de prazer, e, às vezes, em, divertimentos criminosos, tendes meios. Depois quando se trata de pagar vossas dívidas, aos pobres defuntos; não possuís nada! Não é possível?! Ah! compreendo: não há ninguém na Terra para cobrar essas contas. Mas tereis que prestá-las a DEUS.  Continuai, portanto, a comer os bens dos mortos, os legados piedosos, os sacrifícios, mas sabei que é para vós que está escrito nos Profetas uma ameaça de desgraças, de calamidades, de tribulações, de ruína irreparável para vossos bens, vossa honra e vossa vida. Eis a palavra de DEUS que não poderá ficar sem efeito: Comederunt sacrificia mortuorum et multiplicata est in eis ruína – “Comeram os sacrifícios dos mortos e multiplicou-se neles a ruína” (Sl 102, 28-29).
 .
Sim, ruínas, infortúnios, perdas irreparáveis às casas que não se desobrigaram de seus deveres para com os mortos. Vede quantas famílias extintas, quantas casas arruinadas, lojas fechadas, comércio em apuros, falências, quantos males, quantos lamentos! Mas qual é a causa? Um exame atento revelaria que uma das causas principais é a crueldade para com os pobres mortos, recusando-lhes os sufrágios devidos, negligenciando o cumprimento dos legados piedosos. Comederunt sacrificia mortuorum et multiplicata est in eis ruín.
 .
Entretanto, não consiste ainda nisto todo o castigo de DEUS àqueles sem amor a seus falecidos: outro maior lhes está reservado na outra vida. São Tiago assegura que eles serão julgados por DEUS com todo o rigor da justiça, sem misericórdia, pois que eles mesmos foram impiedosos com os pobres mortos. Judicium sine misericordia illi qui non fecit misericordiam. (Tg 2, 13).
 .
Permitirá DEUS que seus herdeiros lhes paguem na mesma moeda, e é, que suas últimas disposições não sejam cumpridas, as Missas deixadas em testamento não sejam realizadas: e, se forem celebradas, DEUS não as aplicará a eles, mas a outras almas que nesta vida tiveram compaixão dos mortos.
 .
Isto nos ensinam, outrossim, nossas crônicas, a respeito de um irmão que, após a morte, apareceu a um de seus companheiros, revelando-lhe que no Purgatório sofria dores extremas, especialmente por ter sido muito negligente em rezar por seus irmãos falecidos. Até aquele momento ele não recebera nenhum alívio dos sufrágios e Missas oferecidos em seu favor. Como punição por sua negligência, DEUS os aplicava a outras almas que em vida tinham sido devotas das almas sofredoras.
 .
Ante de terminar esta instrução, permiti-me caro leitor, suplicar-vos de joelhos e mãos postas de não fechar este livro sem tomar a firme resolução de fazer, no futuro, todo o esforço para assistir ou encomendar todas as Santas Missas que vossas ocupações e vossa condição vos permitirem, não só pelas almas dos falecidos, mas também pela vossa, e isto por dois motivos. Em primeiro lugar, para alcançardes uma boa e santa morte, pois é opinião constante dos teólogos que não há meio mais eficaz para se chegar a um bom fim, do que a Santa Missa. Ainda mais, Nosso Senhor JESUS CRISTO revelou a Santa Mectilde que aquele que, durante a vida, tiver tido o hábito de assistir devotamente à Santa Missa, será consolado na morte pela presença dos Anjos e dos Santos protetores, que o defenderão poderosamente contra todos os ataques dos demônios.
Ah! De que bela morte será coroada a vossa vida, se a tiverdes empregado em assistir a todas as Santas Missas que puderdes. Em segundo lugar, para sair prontamente do Purgatório e voar à glória eterna. Já provamos suficientemente a eficácia da Santa Missa para apressar a remissão das penas do Purgatório. Contentai-vos aqui com o exemplo e autoridade do grande servo de DEUS, João d´Ávila, oráculo da Espanha. Encontra-se em artigo de morte e alguém lhe perguntou o que mais queria depois da morte, e ele respondeu: Missas, Missas, – Missas!
 .
As excelências da Santa Missa – Leonardo de Porto Maurício, da Ordem dos Frades Menores, conforme a edição romana de 1737 dedicada a S.S. Papa Clemente XII (Em PDF)
.
.
________
Extraído do blog A grande guerra

Read Full Post »

Súplicas a Nossa Senhora do Socorro
para alívio das almas do Purgatório

.

É tão grande, ó Mãe do Perpétuo Socorro, a Vossa bondade, que não podeis ver qualquer miséria sem logo Vos compadecerdes. Lançai, nós vo-lo pedimos, os Vossos olhos misericordiosos sobre as aflitas almas do Purgatório, que naquele fogo sofrem, sem poderem encontrar algum alívio às suas horríveis penas, e compadecei-Vos delas.
 .
Pela Vossa piedade e pelo amor que tendes ao Vosso Jesus, Vos pedimos que Lhes mitigueis os seus sofrimentos, e lhes procureis o eterno descanso. Ah! Quão doloroso deve ser para o Vosso coração o abandono em que tantos cristãos deixam as almas do Purgatório, esquecendo-se delas. Ansiosas esperam os nossos sufrágios, e apenas há quem delas se lembre.
 .
Dignai-Vos, ó Maria, de inspirar a todos os fiéis uma terna e viva compaixão para com os nossos irmãos falecidos: comunicai-lhes a todos um ardente desejo de oferecer pelas almas deles obras meritórias, e lucrar as indulgências que lhes forem aplicáveis, gozar da presença de Deus. E agora, Senhora, ouvi a súplicas que por elas Vos dirigimos. Para que possam sair daquele cárcere tenebroso, imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Para que Deus lhes perdoe a pena dos seus pecados.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Para que se apaguem as chamas que as abrasam.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Para que um raio de luz celeste alumie as suas horrendas trevas.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Para que sejam consoladas em seu triste abandono.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Para que alcancem o alívio de suas penas e angústias.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe  de bondade.
 .
Para que a sua tristeza se troque em perpétua alegria.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Para que satisfaçam prestes seus ardentes desejos de entrar na glória.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pelas almas de nossos pais e filhos.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pelas almas de nossos irmãos e irmãs.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pelas almas de nossos amigos.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pelas almas de nossos benfeitores.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pelas almas que sofrem naquelas chamas por culpa nossa.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pelas almas dos que em vida nos fizeram sofrer.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pelas almas mais desamparadas.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pelas almas que sofrem maiores tormentos.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pelas almas que em vida mais Vos amaram e a Vosso divino Filho.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pelas almas que há mais tempo sofrem.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Por todas as almas do Purgatório.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pela Vossa inefável misericórdia.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pelo Vosso incomensurável poder.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pela Vossa maternal bondade.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pela Vossa incomparável maternidade.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pelas Vossas preciosas lágrimas.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pelas Vossas acerbas dores.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pela Vossa santa morte.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pelas cinco chagas de Vosso amado Filho.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Por Seu sangue divino, por nosso amor derramado.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Pela Sua morte dolorosíssima no duro madeiro da Cruz.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Para que a gloriosa legião dos Santos as socorram sem cessar.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Para que os nove coros dos Anjos as recebam com alegria.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Para que sobre elas lanceis um olhar de compaixão.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Para que as torne felizes a vista de Vosso divino Filho.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Para que sejam bem-aventuradas, contemplando a Trindade Santíssima.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Para que a nossa devoção para com elas seja cada dia mais fervorosa.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Para que se ofereçam cada vez mais orações, indulgências e obras satisfatórias em sufrágio delas.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Para que nós recebamos o prêmio eterno da nossa devoção pelas almas.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Para que as almas, que houvermos libertado do Purgatório, façam algum dia o mesmo em nosso favor.
Imploramos o Vosso perpétuo socorro, ó Mãe de bondade.
 .
Oração
 .
Ó Mãe compassiva do perpétuo socorro, olhai benigna para essas almas aflitas, que Deus em Sua justiça retêm, mergulhadas nas chamas do Purgatório.  Elas são objetos queridos do Coração de Vosso divino Filho, amaram-nO durante a vida, e presentemente ardem em desejos vivíssimos de vê-lO e possuí-lO; não podem, porém, por si mesmas quebrar as suas cadeias, nem sair do fogo devorador que as abrasa. Comova-se o Vosso terníssimo coração à vista de suas dores.
 .
Dignai-Vos consolá-las, pois Vos amam e suspiram continuamente por Vós. São filhas Vossas , mostrai-lhes que sois a Mãe do perpétuo socorro. Visitai-as, aliviai suas penas, abreviai seus sofrimentos, e apressai-Vos em livrá-las, alcançando-lhes de Vosso divino Filho a aplicação dos merecimentos infinitos do santo sacrifício que por elas se celebra. Um credo pelos devotosCreio
 .
(Oração retirada do livro: A Sagrada família por um padre redentorista, 1910)

.

.

_________

Extraído do blog A grande guerra

Postado também no blog Escravas de Maria

Read Full Post »

Defendei-nos neste combate!

Para adquirir o seu terço clique aqui [Lojinha do Convento]

.

REZA-SE NA MEDALHA O INÍCIO:
.
V. Deus, vinde em nosso auxílio
R. Senhor, socorrei-nos e salvai-nos. 
Glória ao Pai…
.

Primeira Saudação

.
Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste dos Serafins, para que o Senhor Jesus nos torne dignos de sermos abrasados de uma perfeita caridade.

Amém.
.
Glória ao Pai… Pai Nosso…
.
Três Ave-Marias… ao primeiro coro de Anjos 

.

Segunda Saudação

.
Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste dos Querubins, para que o Senhor Jesus nos conceda a graça de fugirmos do pecado e procurarmos a perfeição cristã.
Amém.
.
Glória ao Pai… Pai Nosso…
.
Três Ave-Marias… ao segundo coro de Anjos 

.

Terceira Saudação

.
Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste dos Tronos, para que Deus derrame em nossos corações o espírito de verdadeira e sincera humildade.
Amém.
.
Glória ao Pai… Pai Nosso…
.
Três Ave-Marias… ao terceiro coro de Anjos 

.

Quarta Saudação

.
Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste das Dominações, para que o Senhor nos conceda a graça de dominar nossos sentidos, e de nos corrigir das nossas más paixões.
Amém.
.
Glória ao Pai… Pai Nosso…
.
Três Ave-Marias… ao quarto coro de Anjos 

.

Quinta Saudação

.
Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste das Potestades, para que o Senhor Jesus se digne de proteger nossas almas contra as ciladas e as tentações de Satanás e dos demônios.
Amém.
.
Glória ao Pai… Pai Nosso…
.
Três Ave-Marias… ao quinto coro de Anjos 

.

Sexta Saudação

.
Pela intercessão de São Miguel e do coro admirável das Virtudes, para que o Senhor não nos deixe cair em tentação, mas que nos livre de todo o mal.
Amém.
.
Glória ao Pai… Pai Nosso…
.
Três Ave-Marias… ao sexto coro de Anjos 

.

Sétima Saudação

.
Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste dos Principados, para que o Senhor encha nossas almas do espírito de uma verdadeira e sincera obediência.
Amém.
.
Glória ao Pai… Pai Nosso…
.
Três Ave-Marias… ao sétimo coro de Anjos 

.

Oitava Saudação

.
Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste dos Arcanjos, para que o Senhor nos conceda o dom da perseverança na fé e nas boas obras, a fim de que possamos chegar a possuir a glória do Paraíso.
Amém.
.
Glória ao Pai… Pai Nosso…
.
Três Ave-Marias… ao oitavo coro de Anjos 

.

Nona Saudação

.
Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste de todos os Anjos, para que sejamos guardados por eles nesta vida mortal, para sermos conduzidos por eles à glória eterna do Céu.
Amém.

 .
Glória ao Pai… Pai Nosso…
.
Três Ave-Marias… ao nono coro de Anjos 

.

Ao final, reza-se:

.
Um Pai Nosso em honra de São Miguel Arcanjo.
.
Um Pai Nosso em honra de São Gabriel.
.
Um Pai Nosso em honra de São Rafael.
.
Um Pai Nosso em honra de nosso Anjo da Guarda. 

.

Antífona:

.
Gloriosíssimo São Miguel, chefe e príncipe dos exércitos celestes, fiel guardião das almas, vencedor dos espíritos rebeldes, amado da casa de Deus, nosso admirável guia depois de Cristo; vós, cuja excelência e virtudes são eminentíssimas, dignai-vos livrar-nos de todos os males, nós todos que recorremos a vós com confiança, e fazei pela vossa incomparável proteção, que adiantemos cada dia mais na fidelidade em servir a Deus.
Amém.
.
V. Rogai por nós, ó bem-aventurado São Miguel, príncipe da Igreja de Cristo. 

R. Para que sejamos dignos de suas promessas. 
.

Oração

.
Deus, todo poderoso e eterno, que por um prodígio de bondade e misericórdia para a salvação dos homens, escolhestes para príncipe de Vossa Igreja o gloriosíssimo Arcanjo São Miguel, tornai-nos dignos, nós vo-lo pedimos, de sermos preservados de todos os nossos inimigos, a fim de que na hora da nossa morte nenhum deles nos possa inquietar, mas que nos seja dado de sermos introduzidos por ele na presença da Vossa poderosa e augusta Majestade, pelos merecimentos de Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Amém.

.

.

Extraído do blog Escravas de Maria

Read Full Post »

.

Os Reis Magos ofereceram a Cristo, enquanto Homem, mirra; enquanto Deus, incenso; e enquanto Rei, ouro.
Como porém disse Monsenhor Delassus, citando a São Gregório Magno no Sermão n. 10:
 .
«“… há hereges que creem em sua divindade (de Jesus), mas que não admitem de modo algum que Ele seja Rei em todos os lugares. Sem dúvida lhe oferecem incenso, mas não querem oferecer-lhe também o ouro”. Deste tipo de hereges ainda há, e levam o nome de católicos liberais» (A missão póstuma de Santa Joana d’Arc e o Reinado Social de N.S.J.C, p. 52. Ed. Ste Jeanne d’Arc, “Les Guillotes”, Villegenon, 1826, Vailly-sur-Suldre).
 .
Palavras que lembram estas de Santo Agostinho: “Que disseram (os Reis Magos) ao chegar? Onde está o rei dos judeus que nasceu? Que significa isto? Por acaso não haviam nascido antes numerosos reis dos judeus? Por que tanto empenho em conhecer e adorar o rei de um povo estranho? É que vimos, disseram, sua estrela no oriente, e viemos para adorá-lo. Por acaso o buscariam com tanta devoção, o desejariam com afeto tão piedoso, se não houvessem reconhecido no rei dos judeus aquele que é também rei dos séculos?” (Santo Agostinho, fragmento do Sermão 201,1).
.
.
Extraído do blog SPES

Read Full Post »

.

.

Read Full Post »

.

“Procura-se frequentemente a exaltação do homem, o êxito externo, a felicidade física sem quaisquer peias. Mas sempre sem renúncia, sem cruz. Os homens não querem ‘sacrifícios de luxo’ e esquecem frivolamente que o caminho da perfeição é um só e igual para todos. O próprio Cristo estabeleceu esse caminho com palavras que não admitem limites no tempo: Se alguém quer vir a mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz de cada dia e siga-me (Luc., IX, 23). Depois disso, poderá alguém ter a pretensão de mudar aquilo que está no próprio âmago do cristianismo, e deslocar o centro da espiritualidade de Cristo para o homem?”
.
(Por um cartuxo anônimo)
.
.
Extraído do blog A grande guerra

Read Full Post »

.
Sidney Silveira
.

[Continuação de Bonifácio VIII, o Papa mais caluniado da história (I)]

.

1- Articulador da abdicação de Celestino V?
.
Os acusadores imputam a Bonifácio VIII o crime de ser o malicioso articulador da abdicação de Celestino V — movido por ambições pessoais e políticas. Mas em que fontes se baseiam? Que documentos sustentam um juízo histórico tão terrível? Antes de chegar a isto, façamos um breve resumo da situação da Igreja no momento do conclave que elegeu Celestino V.
.
Celestino V e a virulência dos “espirituais” franciscanos
.
No decorrer do século XIII floresceu na Igreja, sobretudo entre fanáticos franciscanos de extremado caráter milenarista, uma tendência monástica de homens que chamavam a si mesmos de “espirituais”. Propugnavam a mais estrita pobreza, não admitindo que entre eles houvesse propriedade alguma, nem mesmo a dos bens primo usu consumptibiles (comida e vestuário). Para esses monges, a pobreza absoluta representaria a perfeição evangélica da qual nem o Papa os poderia dispensar. Tal visão, que a pretexto de ser “espiritual” é materialista a não mais poder (pois confunde a bem-aventurança da pobreza de espírito, reflexo da verdadeira humildade, com uma pobreza meramente material), será condenada formalmente no século XIV por João XXII, o Papa que canonizará Santo Tomás de Aquino.
.
Dante Alighieri, de quem se falará adiante e sobre cuja Commedia paira uma terrível sombra gnóstica — o que se entrevê já em sua descida ao “inferno”, périplo em busca do conhecimento nel mezzo del cammin della nostra vita, e não uma experiência escatológica cristã após esta vida —, tinha grande simpatia por esses espirituais franciscanos. Comprova-o o fato de o poeta haver colocado no “céu” o herético Joaquim de Fiore, grande inspirador daqueles frades, atribuindo a São Boaventura as seguintes palavras: “Lucemi da lato/il calavrese abate Gioacchino/di spirito profetico dotato” (Paraíso, Canto XII)[1]. Pois bem, o suposto “espírito profético” de Fiore louvado por Dante começava na idéia de que a Santíssima Trindade, embora divina, seria o símbolo da multidão de homens que, ao longo dos séculos e espalhada pelo mundo, constitui o povo fiel, a Igreja.
.
Em correspondência a esse conceito de Trindade que agredia frontalmente ao Magistério da Igreja, Fiore dividira a história da humanidade em três idades:
.
  • a do Antigo Testamento, que manifestou a glória do Pai (tempo dos homens casados que viviam segundo a carne);
  • a do Novo Testamento, em que se revelou o Filho (tempo dos clérigos que viviam segundo a carne e o espírito); e
  • a do “Evangelho Eterno”, que seria o reino do Espírito Santo (tempo dos monges que viveriam apenas segundo o espírito).
.
De acordo com os cálculos de Fiore, ancorados num misticismo patentemente falso, esta última “idade” teria tido como precursor ninguém menos que São Bento, nos idos do século VI, e alcançaria a plenitude em 1260, ano que demarcaria o começo dos novos tempos, a aurora da espiritualização de toda a história humana. Em suma, no estado de felicidade terrena alicerçado no “Evangelho Eterno” concebido por Fiore, o povo fiel (transformado, forçosamente, em hipóstase da Santíssima Trindade no devir histórico) teria um só coração e uma só alma, e nenhum indivíduo possuiria qualquer coisa de particular ou própria — pois tudo seria comum.
.
Tal espírito de “pobreza” agradará em cheio à ala mais radical do franciscanismo: a dos “espirituais”, que sem o menor constrangimento davam as costas à condenação de Fiore no IV Concílio de Latrão e seguiam a sua doutrina publicamente. Um deles, Frei Gerardo de Borgo, mestre de teologia em Paris, escreve em 1254 o livro Introductionis in Evangelium aeternum, condenado em 1255 por Alexandre IV. Daí em diante os “espirituais” crescerão em número e em radicalismo, difundindo a teoria joaquinista das três idades em livros, panfletos e discursos. Na pena de alguns desses homens, a tese de Fiore adquirirá proporções messiânicas e se voltará contra o Papado, contra a “Igreja carnal”, a “meretriz do Apocalipse” apegada às seduções do mundo. Expressões como “babilônia Romana” são encontráveis em escritos de autores como Pedro Livi e Jacopone di Todi, os sedevacantistas da época, que não aceitarão Bonifácio VIII como Papa e, unidos ao rei Felipe, o Belo, o chamarão de “Anticristo”, de “besta apocalíptica”, “sodomítico”, “assassino”, “inimigo da fé”.
.
Levando ao pé da letra a “profecia” de Fiore de que a nova era do Espírito começaria em 1260, esses franciscanos esperavam por uma espécie de papa angélico, reformador da Igreja que instituiria a pobreza absoluta por eles proposta, propulsor do “Evangelho Eterno” cuja ação prática representaria um divisor de águas para o mundo. Ora, dada a insana esperança milenarista desses homens, imagine-se o seu estado de impaciência quando da morte Nicolau IV, em 1292! Na ocasião, os Orsinis e os Colonnas, entre os quais havia distintos papabiles, estavam em guerra aberta e pairava sobre Roma o grave perigo de cisma, devido à discórdia quanto à eleição do novo Pontífice — a qual já demorava dois anos de acirrada briga entre as duas famílias que disputavam a tiara pontifícia.
.
Com este feio exemplo de guerra político-familiar imiscuída nos assuntos religiosos (embate em meio ao qual paróquias ligadas a uma e a outra família foram atacadas, e em que os cardeais se dividiram de acordo com sua lealdade a Orsinis ou a Colonnas), tenha-se em vista algo que pode incomodar aos espíritos mais idealistas, que não conseguem enxergar matizes nos acontecimentos eclesiásticos, por terem uma imagem romantizada da Igreja militante: não obstante a moção do Espírito Santo, o Papado foi, em diferentes épocas, objeto de lutas e intrigas eclesiásticas que puseram totalmente de lado a fé e a salvação das almas, ocasiões nas quais a vontade divina se cumpriu apesar dos pecados humanos, pois Deus —de potentia absoluta — é capaz de extrair de quaisquer males bens infinitos para a Igreja fundada por Cristo. E este foi o caso do período que antecedeu à eleição de Celestino V.
.
Naquele momento de grande efervescência política e religiosa, o rei Carlos II, de Nápoles, cognominado “O Coxo”, dirige-se a Perugia, cidade onde mais uma vez estavam reunidos os cardeais para o conclave, com um propósito bem definido: acelerar a eleição e, segundo Ricardo Villoslada em sua Historia de la Iglesia Católica, “tirar o maior proveito político possível dela”. O astucioso Carlos II sugeriu então aos cardeais o nome do monge ermitão Pedro de Morrone, um súdito seu, para dar fim ao impasse — homem com quem tinha estado um pouco antes de ir a Perugia. Morrone era um ancião de 85 anos com fama de santidade, religioso de grande rigor ascético que vivia totalmente isolado do mundo, pois se retirara da ordem beneditina para fundar a Congregação dos Ermitãos, no monte Majella, situado nos apeninos italianos.
.
Esse homem indicado por Carlos II foi eleito Papa em 1294, assumindo o nome de Celestino V.
.
“Ex plenitudine simplicitatis”
.
Todos os principais historiadores que pesquisam este período a partir das fontes primárias — sejam católicos ou não — consideram quase um enigma a eleição de Morrone, homem que por inúmeras razões não parecia destinado a tornar-se o chefe supremo da Igreja. Era notória a sua ingenuidade rústica (logo propagada pelos “espirituais” franciscanos como simplicidade evangélica), a sua escassícima ciência a respeito dos homens, o seu nulo conhecimento teológico, a sua timidez mórbida, a sua absoluta inexperiência eclesiástica, a sua radical incapacidade de pastoreio até mesmo de uma simples paróquia, quanto mais da Igreja universal. Também se tornou notória a suasubserviência ao poder político durante o curtíssimo período em que foi Papa, como a seguir se mostrará.
.
Realisticamente, a resposta mais evidente para esta improvável eleição se impõe: Morrone era totalmente desligado tanto dos Colonnas como dos Orsinis, razão pela qual apareceu como solução para o impasse. E mais: a eleição se deu por meio da esperta manobra do rei de Nápoles em prol de um súdito seu facilmente manipulável, do ponto de vista político. Tudo isso malgrado a real necessidade de reforma eclesiástica, dada a crise ética e religiosa na qual os valores meramente humanos sobrepujavam os sobrenaturais no seio da própria Igreja. Neste ponto observe-se que, como católicos, sabemos muitíssimo bem que os desígnios da Igreja estão nas mãos de Deus e se realizam no tempo histórico pela moção do Espírito Santo, mas essa moção não exclui as contingências humanas que, não raro, maculam materialmente os fins sobrenaturais, embora formalmente não tenham força para os impedir — justamente por serem, apenas, humanas. Ou seja: a vontade de Deus se impõe mesmo quando os desmerecimentos humanos são patentes[2].
.
Seja como for, o fato é que Celestino V foi eleito graças ao ardil de um político inescrupuloso, e o Papa teve de imediato o apoio de monges fanáticos que viram nele o realizador dos seus anseios milenaristas. A propósito, o seu curtíssimo pontificado de cerca de três meses e meio começa com uma “plumada” pela qual promove ao arcebispado de Lyon o filho de Carlos II, justamente o rei por cujo influxo se elegera — um inexperiente rapazola de 20 anos! E a um dos favoritos do rei de Nápoles (o conde de Marsica) Celestino V nomeia senador de Roma. Houve também ocasiões, como aponta Richard McBrien, autor do citado Life of the Popes, em que o Papa atrapalhadamente outorgou o mesmo benefício a quatro ou cinco pretendentes num mesmo ato, além de conceder prebendas com uma facilidade que beirava a prodigalidade.
.
Terminado o conclave, Carlos II exigiu que o novo Papa residisse em Nápoles, e não em Roma, como queria a Cúria. E o Romano Pontífice obedeceu. Naquela cidade italiana, além da nomeação acima mencionada de um quase adolescente para o arcebispado da importante Lyon, Celestino V acabou fazendo de tudo o que lhe ditava o rei.
.
Enumeremos apenas três ações bastante significativas:
.
  • colocou homens de Carlos II na Cúria e nos Estados pontifícios;
  • nomeou doze cardeais indicados pelo rei, alguns deles, obviamente, napolitanos;
  • reintroduziu regras para o conclave que faziam do rei o guardião da eleição papal seguinte — o que tinha perigosas implicações naquele momento histórico.
.
Celestino V, sendo Pontífice, queria continuar levando vida de anacoreta — o que era absolutamente incompatível com a dignidade suprema do seu cargo. Assim, houve ocasiões em que o Papa simplesmente desapareceu quando precisava estar à frente de uma festividade solene para a Igreja, sendo encontrado numa cela de mosteiro após muito procurarem-no. Próximo ao Advento, propôs algo verdadeiramente insólito em toda a história eclesiástica: que três cardeais assumissem a total responsabilidade pelo governo da Igreja, enquanto ele ficaria rezando e jejuando solitariamente, o que por razões prudenciais foi recusado pelos cardeais. O seu espírito de austeridade, em si louvável, excedia ordinariamente o ponto de equilíbrio e se transformava em atitude de inferioridade diante de fatos e pessoas.
.
Em vista destas e de muitas outras coisas, informa-nos Villoslada que se começou a dizer o seguinte na Cúria: Celestino V governava não “ex plenitudine suae potestatis”, mas sim “ex plenitudine simplicitatis”. Queria-se com isto apontar a evidente ojeriza do Papa à sua própria autoridade pontifical.
.
A renúncia de Celestino V e as acusações a Bonifácio VIII
.
Segundo McBrien, foi justamente depois de ter rejeitada a sua idéia de afastar-se do governo da Igreja para jejuar que Celestino V — por vontade própria — consultou alguns cardeais sobre a possibilidade de renunciar ao pontificado. Villoslada, por sua vez, conta que o desgoverno chegara a tal ponto que vários cardeais o aconselharam mesmo a retirar-se para a vida privada. Somente então, sendo cada vez mais acossado por escrúpulos, Celestino V procurou o douto cardeal Benedito Gaetani (futuro Bonifácio VIII) para informar-se sobre como deveria proceder para renunciar — pois a princípio sua idéia era apenas afastar-se do governo em prol de uma regência a ser feita por cardeais.
.
Abra-se aqui um parêntese para dizer que, logo após a renúncia de Celestino V, os “espirituais” começaram e propagar, por meio de panfletos e sátiras expressas em linguagem altamente desrespeitosa,que o humilde Pedro de Morrone, o “papa angélico”, havia renunciado ao pontificado graças à astúcia de Gaetani — que o teria induzido a isto. Em sua clássica Storia di Bonifazio VIII e de’ suoi tempiLuigi Tosti dedica um apêndice a este fato histórico e reduz a pó essa tese, mostrando que as fontes propagadoras desta interpretação ou eram notórias inimigas de Bonifácio VIII (o que veremos quando abordarmos o célebre e infame julgamento post-mortem a que este Papa foi submetido por Felipe, o Belo, e seus sequazes), ou se tratava de documentos de segunda mão escritos em época já distante do fato — os quais simplesmente reproduziam as calúnias do inimigos de Bonifácio sem aduzir novos documentos para sustentar a tese.
.
E mais: Tosti aponta como as principais fontes primárias — próximas temporalmente do fato e entre as quais havia testemunhas de todo o processo que culminou na renúncia de Celestino V — apenas citam Bonifácio como um dos cardeais consultados pelo Papa renunciante. E que Gaetani, decidida a renúncia por vontade própria de Celestino V, preparou o documento lido de viva voz pelo Papa, a fórmula de abdicação. Celestino leu-a e, de imediato, exortou os cardeais a proceder imediatamente à eleição do próximo Papa.
.
Presenciada por inúmeras pesssoas, essa exortação, feita sem nenhuma coação externa, assim como a bula por ele publicada, na qual explica que é facultada ao Papa a possibilidade de depor a tiara, são indicadores do porquê de Celestino V passar à história da Igreja como o único Papa a renunciar à suprema dignidade apostólica por livre e espontânea vontade, apesar das tentativas dos “espirituais” e de Felipe, o Belo, de responsabilizar a Bonifácio VIII por sua abdicação, como se Celestino V fosse um estulto sem nenhuma vontade própria ou poder para resistir. Os quatro outros renunciantes o fizeram por pressões políticas (Ponciano, em 235; Silvério, em 537; João XVIII, em 1009; e Bento IX, em 1045). Dante chamará a isto de il gran riffuto e colocará Celestino V no “inferno”. Mas, como apontou-se acima, sobre o poeta se falará depois, pois ele merece um capítulo à parte.
.
A data da renúncia de Celestino V é 13 de dezembro de 1294. E a quem diz — sem perceber que toma o Papa por um simples demente — que o “pobrezinho” e Santo foi induzido por uma pessoa humana a renunciar ao cargo divinamente instituído por Cristo, o próprio Bonifácio VIII, seu sucessor, dará em 1303 o exemplo de como deve proceder o Romano Pontífice quando há pressões políticas para que renuncie.
.
Mas acerca disto também se tratará adiante, quando apontar-se como aconteceu a canonização de Pedro de Morrone, desde então Santo Confessor.
.
.
(continua)
.
.
________________

1- “Brilha ao meu lado / Joaquim, o abade calabrês / de espírito profético dotado“.

2- No plano político, ainda durante a Cristandade podemos trazer como exemplo o corrupto Delfim francês Carlos — entronizado como Carlos VII graças a Santa Joana D’Arc. Mesmo traída pelo rei no armistício assinado com os borgonheses em troca de dinheiro, ela jamais deu mostras de que Deus tivesse errado na escolha desse rei para a França. Ou seja: foi justamente aquele homem medíocre, pusilânime e venal que Deus escolheu para ser rei; aquele homem por quem Deus ordenou à Santa ir à guerra.

Read Full Post »

.

SPES
 .
A construção, em todos os sentidos, do Colégio São Bento e Santa Escolástica, do Mosteiro da Santa Cruz (cf. Colégio São Bento e Santa Escolástica, do Mosteiro da Santa Cruz, é reaberto em alto estilo), vai de vento em popa. Estamos todos – Dom Prior, monges, freiras, oblatos, simples fiéis, membros do SPES – envolvidos profundamente nesta construção, e já conseguimos bastantes coisas: o acabamento dos prédios já vai bem adiantado, comprou-se uma impressora multifuncional, etc.
Mas ainda se necessita de muitas outras coisas, razão por que pedimos a todos que ajudem com o possível. Uma das maneiras de fazê-lo é dar uma contribuição em dinheiro, por pequena que seja, depositando-a na seguinte conta bancária:
 .
Banco: Itaú
Titular: SC MANTENEDORA MOST SANTA CRUZ
Conta: 47957-8
Agência: 0222
CNPJ: 30.171.417/0001-88.
 .
Fazê-lo, na medida do possível a cada um, é contribuir para a educação católica de crianças de todas as classes sociais – e propiciar educação católica a crianças é atender a um pedido do próprio Cristo: “Deixai vir a mim as criancinhas”.
.
.
________
Extraído do blog SPES

Read Full Post »

As bíblias protestantes

Instrução, 45ª

.

As Bíblias Protestantes 
 .
Peca mortalmente todo o católico, que ciente comprar, vender, ler, ou reter em seu poder as bíblias protestantes, que são essas, que por esses vendilhões em toda a parte, nas cidades, nas vilas, e até nas aldeias, se vendem em grande abundância. Peca, sim, mortalmente, porque estas bíblias estão proibidas pela Igreja Católica; e a Igreja proibiu-as, porque a sua tradução não está aprovada pela mesma Igreja, nem é acompanhada de anotações tiradas dos santos Padres, ou de varões doutos e católicos, como o exige o decreto da Sagrada Congregação do Index, o qual decreto foi confirmado pelo Sumo Pontífice Benedito XIV.
.

São Proibidas, porque os Sumos Pontífices Pio VII, Leão XII, Gregório XVI e Pio IX tem condenado por muitas vezes todas essas sociedades bíblicas; e bem assim as bíblias, que delas dimanam; como evidentemente são as tais, de que agora faço menção, já pelo empenho e porfia com que são espalhadas por toda a parte; já pela barateza do seu preço, que nem sequer se pagam da encadernação; onde se vê claramente, que são impressas á custa das mesmas sociedades; já porque carecendo de notas explicativas das passagens obscuras tendem evidentemente a acostumar os fiéis á interpretação segundo o juízo privado ao modo dos protestantes, os quais desprezam o sentido verdadeiro da Igreja Católica, única autoridade infalível e competente para interpretar as Sagradas Escrituras, e seguem a razão desvairada; donde resulta o perder-se a fé, o não haver crenças firmes e invariáveis, mas tudo opiniões, e essas mesmas variáveis todos os dias; porque cada um pensa de seu modo e conforme suas paixões.

 .
Finalmente, são proibidas, porque a essas bíblias de maior volume e formato faltam todos os livros canônicos, capítulos e versículos, que são rejeitados por todas as seitas protestantes, como são: Tobias, Judith, Eclesiástico, Baruch, os dois dos Macabeus; sessenta e seis versículos e dois capítulos, 13 e 14, no livros de Daniel; e sete capítulos no livro de Ester. Ora, faltando todos estes livros, versículos, e capítulos nessas bíblias, que se dizem sagradas e traduzidas segundo a vulgata latina, já se vê que tais bíblias são manifestamente heréticas; porque insinuam e propalam o erro, de que aqueles livros, versículos, e capítulos não fazem parte da vulgata latina, isto é, que não são canônicos e sagrados; contra o que definiu o Concilio Tridentino: “Se alguém não receber por sagrados e canônicos estes mesmos livros inteiros com todas as suas partes, do modo que eles se costumam ler na Igreja Católica, e se cotem na antiga edição da vulgata latina, seja excomungado…”
 .
Logo, peca mortalmente quem ciente comprar, vender, lê, ou reter em seu poder as tais bíblias; e até incorre em excomunhão maior ipso facto se as defender, reputar, ou as tiver por verdadeiras; porque na verdade são heréticas, falsas, e protestantes; e como tais reprovadas pela Igreja Católica. Á vista destas razões, alerta, meus colegas no confessionário, alerta!.. Se encontrardes alguns penitentes com tais bíblias, mandai-as queimar todas, ou que as entreguem a quem tiver licença de lê-las; de outra sorte vos tornareis responsáveis por todos os prejuízos na fé e bons costumes que daqui resultarem… Pois não vedes vós o empenho e a porfia com que as espalham por toda a parte? e para que? Para assim de longe ir dispondo o povo para em tempo oportuno introduzir neste reino o protestantismo, que é uma religião falsa e depravada; é uma religião, que veio do inferno e abre a porta a todos os vícios…
 .
Desengane-se todo o católico: a religião protestante é cômoda para viver, porque cada um entende a bíblia como quer, e conforme as suas paixões; e assim pode luxar, divertir-se, regalar-se, namorar, amancebar-se, comer carne nos dias de abstinência; não é precisa a penitencia, nem o jejum, nem a confissão, nem a oração, nem boas obras; basta só a fé; e assim esta religião é cômoda para viver: mas para morrer? Para morrer é o diabo… Assim respondeu uma senhora protestante a um ministro protestante, que a repreendeu por ela em perigo de vida se ter convertido ao catolicismo. Portanto, todos nós devemos olhar, e perguntar por estas bíblias, e cumprir com os nossos deveres; e bom era que todas as autoridades, tanto eclesiásticas, como civis fizessem o mesmo; quando não, brevemente se tornará este reino protestante; e como tal fora do caminho da salvação eterna, porque fora da Igreja Católica não há salvação.
 .
Enviado pelo leitor Guilherme dos Reis
.
——–

Read Full Post »

.

Papa Bonifácio VIII

18.11.1302
.
Una, santa, católica e apostólica: esta é a Igreja que devemos crer e professar, já que é isso o que a ensina a fé. Nesta Igreja cremos com firmeza e com simplicidade testemunhamos. Fora dela não há salvação, nem remissão dos pecados, como declara o esposo no Cântico: “Uma só é minha pomba sem defeito. Uma só a preferida pela mãe que a gerou” (Ct 6,9). Ela representa o único corpo místico, cuja cabeça é Cristo, e Deus é a cabeça de Cristo. Nela existe “um só Senhor, uma só fé e um só batismo” (Ef 4,5). Com efeito, apenas uma foi a arca de Noé na época do dilúvio; ela foi a figura antecipada da única Igreja; encerrada com “um côvado” (Gn 6,16), teve um único piloto e um único chefe: Noé. Como lemos, tudo o que existia fora dela, sobre a terra, foi destruído.
.
A esta única Igreja, nós a veneramos, como diz o Senhor pelo profeta: “Salva minha vida da espada, meu único ser, da pata do cão” (Sl 21,21). Ao mesmo tempo que Ele pediu pela alma – ou seja, pela cabeça –, também pediu pelo corpo, porque chamou o seu corpo de único, isto é, a Igreja, por causa da unidade da Igreja no seu esposo, na fé, nos sacramentos e na caridade. Ela é a veste sem costura (Jo 19,23) do Salvador, que não foi dividida, mas tirada à sorte. Por isso, esta Igreja, una e única, tem um só corpo e uma só cabeça, e não duas como um monstro: é Cristo, e Pedro é vigário de Cristo, bem como os sucessores de Pedro, conforme o que disse o Senhor ao próprio Pedro: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,17). Disse “minhas” em geral e não “esta” ou “aquela” em particular, de forma que se subentende que todas lhe foram confiadas. Assim, se os gregos ou outros dizem que não foram confiados a Pedro e aos seus sucessores, é necessário que reconheçam que não fazem parte das ovelhas de Cristo, pois o Senhor disse no Evangelho de São João: “Há um só rebanho e um só Pastor” (Jo 10,16).
As palavras do Evangelho nos ensinam: este poder comporta dois gládios, ambos estão em poder da Igreja: o gládio espiritual e o gládio temporal. Mas este último deve ser usado para a Igreja, enquanto o primeiro deve ser usada pela Igreja. O espiritual deve ser manuseado pela mão do sacerdote; o temporal, pela mão dos reis e cavaleiros, com o consenso e segundo a vontade do sacerdote. Um gládio deve estar subordinado ao outro gládio; a autoridade temporal deve ser submissa à autoridade espiritual.
O poder espiritual deve superar em dignidade e nobreza toda espécie de poder terrestre. Devemos reconhecer isso porque muito nitidamente percebemos que as coisas espirituais sobrepujam as temporais. A verdade o atesta: o poder espiritual pode estabelecer o poder terrestre e julgá-lo se este não for bom. Ora, se o poder terrestre se desvia, será julgado pelo poder espiritual. Se o poder espiritual inferior se desvia, será julgado pelo poder superior. Mas, se o poder superior se desvia, só Deus poderá julgá-lo e não o homem. Assim testemunha o apóstolo: “O homem espiritual julga a respeito de tudo e por ninguém é julgado” (1Cor 2,15).
Esta autoridade, ainda que tenha sido dada a um homem e por ele seja exercida, não é humana, mas de Deus. Foi dada a Pedro pela boca de Deus e fundada para ele e seus sucessores n’Aquele que ele, a rocha, confessou, quando o Senhor disse a Pedro: “Tudo o que ligares…” (Mt 16,19). Assim, quem resiste a este poder estabelecido por Deus “resiste à ordem de Deus” (Rm 13,2), a menos que esteja imaginando dois princípios, como fez Manes, opinião que julgamos falsa e herética, já que, conforme Moisés, não é “nos princípios”, mas “no princípio” que “Deus criou o céu e a terra” (Gn 1,1).
Por isso, declaramos, dizemos, definimos e pronunciamos que é absolutamente necessário à salvação de toda criatura humana estar sujeita ao romano pontífice.
.
Dada no oitavo ano de nosso pontificado [18 de novembro de 1302].
.
.
.
Extraído de: SPES
.
Publicado originalmente em 7/10/2011

Read Full Post »

Bonifácio VIII

.

Sidney Silveira

.

A morte de Bonifácio VIII (1235-1303) marca a um só tempo o fim a Idade Média e o começo do lento e progressivo declínio da Cristandade[1].Marca a derrota da visão de mundo fundada na Sagrada Escritura — e defensora da ordenação das coisas materiais às espirituais — para uma concepção de total independência dos governos das nações com relação às leis eclesiásticas.

.

Em resumo, o sacrílego atentado sofrido por Bonifácio VIII em 1303, na cidade de Anagni (tramado pelos Colonnas, influente e terrível família romana), é um símbolo da sublevação do absolutismo nacionalista contra o universalismo cristão — coluna vertebral da política do Medievo —, como afirma o historiador Ricardo García-Villoslada. E mais do que isto: é o emblema de uma significativa mudança de vetor nas sociedades, que se consolidará nos séculos imediatamente posteriores ao pontificado de Bonifácio VIII, com a crescente perda do poder político e espiritual da Igreja:

  • do sentido de transcendência para o de imanência;
  • da fé para o indiferentismo religioso e, em seguida, para a apostasia;
  • do espiritualismo para o sensualismo materialista;
  • da moral ascética baseada no Evangelho para um hedonismo libertário de grande virulência antieclesiástica;
  • do sentido coletivista — que visava ao bem comum — para um individualismo crescente, que descambará séculos depois nas democracias liberais;
  • do objetivismo ontológico para o subjetivismo psicológico;
  • do clericalismo fundado na supremacia espiritual do Papado para o laicismo de Estado, em suas várias conformações.

.

Em verdade, Bonifácio VIII é o último personagem de um tríptico papal que retrata fielmente a mentalidade do Medievo, no que tange às relações entre a Igreja e o Estado:

  • o reformador Gregório VII (1020/1085) ensinara, em seus Dictatus Papæ, que o Romano Pontífice tem poder para eximir os súditos de qualquer nação da obediência a leis iníquas, e portanto da obediência a governantes tirânicos. Ele deu exemplo disto ao excomulgar e depor ninguém menos que o terrível e poderoso Henrique IV, sacro-imperador Romano-Germânico. “Em nome de Deus Onipotente, Pai, Filho e Espírito Santo, e investido do Seu poder e autoridade, proíbo ao rei Henrique IV, que com inaudita soberba se lançou contra a Igreja, governar o reino da Itália e da Alemanha. Desobrigo a todos os cristãos do juramento de fidelidade que lhe prestaram e mando que ninguém lhe sirva como rei”. Em resumo: por ordem do Papa, devido às leis tirânicas, injustas e anticristãs vigentes naquele império, nenhum católico poderia obedecer ao rei, o que na prática foi o mesmo que depô-lo. Mas a história desse acontecimento extraordinário do pontificado de Gregório VII não é para este breve texto.

.

  • Inocêncio III (1160/1216), cujo pontificado é um símbolo do que de mais alto e luminoso produziu a Idade Média — no tocante à consolidação da hierarquia sócio-política em que o Papa estava no cume da pirâmide, tendo abaixo de si príncipes e imperadores — postulara o seguinte: pode o Romano Pontífice, ratione et occasione pecatti, depor o rei e coroar outro, tendo em vista o fim último a que se destinam tanto os indivíduos como as sociedades: Deus.

.

  • Bonifácio VIII propugnara que o poder espiritual da Igreja, dada a superioridade e transcendência do fim a que visa, que é o mesmo para todas as criaturas, pode e deve julgar o poder material se este se desvia, mas não pode ser julgado por ele. E que todas as criaturas racionais (de quaisquer religiões!) estão subordinadas ratione peccati ao Romano Pontífice.

.

.

Preâmbulos da crise bonifaciana

.

Como se verá adiante, não se trata de uma despótica teocracia universal que se imiscua em tudo — inclusive no que não lhe é devido intervir — como acusam historiadores modernos que ignoram completamente o que é a Igreja. Quem estuda os documentos do Magistério desses Papas sabe muito bem que os reis se submetiam ao Vigário de Cristo nos negócios que poderiam trazer danos espirituais aos indivíduos e às sociedades. E vale dizer que tal “poder” papal não era absoluto, no sentido de autocrático: o Romano Pontífice tinha acima de si a Cristo-Rei, cabeça invisível atuante misticamente na Igreja e no mundo — e neste contexto os reis, príncipes e imperadores eram os responsáveis pela salvaguarda do bem comum político, que formalmente não poderia divergir nem contrapor-se ao bem comum universal, cujo poder emana do alto.

.

O Papa e o imperador eram, pois, as duas cabeças que em harmonia governavam o hierarquizado mundo medieval, e se tal harmonia nem sempre foi um fato durante a Idade Média, ela foi sempre uma aspiração e um modelo para as sociedades e para os indivíduos. Um exemplo disso? O citado Henrique IV, ao ser excomulgado e deposto por Gregório VII, humilhou-se diante desse Papa, beijando-lhe os pés e penitenciando-se para receber a absolvição e não perder a coroa. Mas, homem tremendo que era, não se humilhou porque quis (como demonstram cabalmente as suas ações ao recuperar o cetro), mas sim porque os seus súditos simplesmente obedeceram ao Pontífice e deixaram de lhe prestar obediência. E o mesmo se pode dizer do rei Felipe II, de França, excomulgado por Inocênio III por abandonar a sua esposa, a linda dinamarquesa Ingeburga, para contrair segundas núpcias, à revelia do Papa, com Inês de Meraine. Na ocasião, durante 12 anos, quando Felipe chegava a qualquer cidade francesa os sinos não tocavam. Até que o rei obedeceu ao Papa, voltou para Ingeburga e foi perdoado, tirando a França da interdição que, por ordem do Pontífice, pesava sobre o país. O mesmo Inocêncio III mandou o rei espanhol Afonso IX separar-se da primeira e da segunda esposas, por razões de consagüinidade. O que Afonso IX fez.

.

Os Papas medievais sempre fizeram questão de deixar claro que o poder humano e o divino não se contrapõem, e portanto as leis eclesiásticas e as civis não têm entre si nenhum antagonismo, mas complementaridade; assim, quando a Igreja atuava na ordem temporal, tinha em vista o bem sobrenatural. Para explicar isso grandes teólogos do período lançaram mão de uma analogia: sendo a alma ontologicamente superior ao corpo, a Igreja, que governa as almas, será superior ao Império e a qualquer Estado, que governa a ordem material. Entre o poder do Papa e o do rei haveria, pois, relação semelhante à que existe entre o sol e a lua: esta tem expressivo influxo em seu âmbito, mas reflete a luz que recebe do sol — princípio superior.

.

Em resumo, o Papa exerceria a sua autoridade sobre o rei de suas formas: a) de modo direto nas coisas espirituais; e b) de modo indireto nas coisas materiais, atinentes à moral e aos costumes (e, portanto, à ordem política), ensinando, admoestando, exortando, corrigindo, condenando, intervindo quando necessário.

.

Pois bem. Feito este preâmbulo, comecemos por dizer que a derrocada de Bonifácio VIII resultará historicamente, em primeiro lugar, no absolutismo monárquico. Um absolutismo de conformação extremamente nacionalista, na medida em que as nações, cada vez mais desvinculadas do Romano Pontífice, perderão o sentido de irmandade transnacional sob a liderança da Igreja que caracterizava o Medievo, malgrado as lutas pelo poder inerentes à condição humana no presente estado[2].

Neste contexto, o embate entre Bonifácio VIII e Felipe, o Belo, rei de França, representa o encarniçado cabo-de-guerra entre duas concepções políticas antagônicas. De um lado, a sociedade hierarquicamente organizada na qual as leis positivas têm três propósitos fundamentais: tornar os homens virtuosos, como afirmava Santo Tomás; preservar o bem comum; e, acima de tudo, conduzir os homens a Deus, tendo por instrumento a Igreja — custodiadora magisterial da verdade do Evangelho, divinamente revelada. De outro lado, sociedades libertárias tendentes ao caos e à entropia, nas quais as leis representam, no melhor dos casos, um útil — porém incômodo — obstáculo à liberdade humana, confundida tristemente com a vertigem de poder oriunda da cupidez dos homens. Lei positiva sem vínculo com a lei eterna, e por esta razão fundadora do humanismo político.

.

A propósito, nas sociedades pós-medievais desvinculadas da hierática sombra do Magistério da Igreja, a lei logo descambará num formalismo jurídico (com a tentativa de recuperar alguns aspectos do Direito Romano, ainda na época de Bonifácio VIII, como veremos) e não mais buscará tornar os homens melhores nem ensiná-los o bem, mantendo a ordem pela obediência à lei enraizada nos costumes, como concebia Aristóteles, mas apenas tentará frear a desordem com placebos legislativos; não buscará preservar o bem comum, que, deturpado em seus princípios, se transforma numa quimera irrealizável; e não se ordenará à lei divina como a seu fim, dado o apartamento entre os planos material e espiritual, defendido, já na aurora do século XIV, por Dante Alighieri no livro De Monarchia, que permaneceu por mais de seiscentos anos no Index Librorum Prohibitorum, por óbvias razões magisteriais.

.

Estamos, pois, no vértice entre dois mundos: o católico e o liberal. Este último, como afirmara o ensaísta brasileiro José Guilherme Merquior, só se tornou historicamente possível graças à perda, no terreno ético-político, da noção cristã de Summum Bonum e conseqüente dissolução da idéia de bem comum. Neste contexto, o atentado que, em 1303, o já idoso Bonifácio VIII sofre de homens a quem podemos muito bem chamar de inimigos da Igreja representa “a violenta reação da carne às duras exigências do espírito cristão”, frase que pegamos de empréstimo ao Pe. Álvaro Calderón — utilizada no livro A Candeia Debaixo da Alqueire para demarcar a oposição entre a Idade Média e o Renascimento, sendo este último norteado por um espírito de apostasia e revolta.

.

Por razões que veremos adiante, a agressão ao Papa também serve como símbolo do ataque à unidade da Igreja, nas perspectivas política e doutrinária. E as conseqüências disto se consumarão, totalmente, no decorrer dos séculos:

  • no plano político, a fratura que se deu no atribulado pontificado de Bonifácio VIII produziu, de forma efetiva, os seus frutos dois séculos mais tarde, quando com a reforma luterana começou a perder-se a unidade cristã entre as nações sob a égide da Igreja. E como os fatos históricos afloram na ambiência que lhes serve de esteio, vale aqui dizer que a reforma luterana teria sido impossível sem os questionamentos ao poder papal que cresceram em progressão geométrica após o pontificado de Bonifácio VIII;
  • no plano doutrinário, os frutos só estarão definitivamente maduros com a consagração do laicismo político no seio da própria Igreja, sete séculos depois de Bonifácio VIII com o Concílio Vaticano II. Na ocasião, o liberalismo é entronizado intra Ecclesiam, e, com relação a este ponto, faça-se um importantíssimo registro: não fosse a bula Una Sanctam, de Bonifácio VIII — impecável do ponto de vista doutrinal e também em sua formulação —, a separação entre a Igreja e o Estado na forma da lei certamente teria acontecido séculos antes, e não somente no século XX! Durante séculos a Una Sanctam foi a incômoda pedra no sapato do espírito liberal que primeiramente atacou no terreno político, depois dentro da própria Igreja.

.

Ditas estas coisas, frisemos que uma das táticas do modernismo que dominou a hierarquia da Igreja e os seminários a partir do Vaticano II é recontar a história eclesiástica na perspectiva da nova mentalidade: ecumenista, laicista, antiapostólica, moralmente laxa, humanista, naturalista, etc. É denigrir, sem o menor escrúpulo, os feitos da Igreja no passado e a memória de personagens — clérigos ou seculares — que a defenderam nos planos material e espiritual. Neste contexto, como diz o citado Álvaro Caldeón, o pedido de desculpas do Papa João Paulo II pelos “erros” do passado não é propriamente um mea culpa perante o mundo, mas sim um culpa vestra, ou seja: a culpa seria da supostamente autocrática Igreja medieval, que quase nada teria a ver com essa Igreja tão comodamente adaptada ao espírito mundano, com essa Igreja cuja mentalidade foi modificada durante o seu longo pontificado, com espalhafatoso aplauso midiático do mundo. O pedido papal de desculpas não é (reiteremos!) a assunção de uma culpa histórica, mas a acusação à Igreja do passado, cujos pressupostos foram “desconstruídos” por João Paulo II ao longo de vinte e sete anos, na teoria e na prática.

.

Pois bem, essa tática de recontar a história a partir de novas premissas eclesiais é aplicada de forma pertinaz a Bonifácio VIII — sem dúvida o Papa mais caluniado da história —, seja por inimigos internos ou externos da Igreja. E, dado o fato de que muito poucas pessoas recorrem às fontes primárias para sustentar os seus juízos históricos, até entre defensores da Tradição da Igreja hoje se encontram detratores deste notável Papa, infelizmente.

.

Assim, de Bonifácio VIII se diz — entre outras coisas — o seguinte:

  • Foi ele o articulador da abdicação de seu antecessor, Celestino V. A propósito, antes de tudo vale dizer que Celestino V, ao tornar-se Papa, era um idoso monge ligado a fanáticos franciscanos autodenominados de “espirituais”, adeptos do messianismo milenarista do herético monge cisterciense Joaquim de Fiore — condenado solenemente no IV Concílio de Latrão. Veremos em que sombrias circunstâncias se deu a canonização de Celestino V como Santo Confessor.
  • Encarcerou o Papa renunciante de forma cruel, injustificável e insana, levando-o a morrer em condições desumanas — sob tortura física e psicológica. Alguns chegam a dizer que a cabeça de Celestino V teria sido partida ao meio, por ordem de Bonifácio VIII.
  • Foi politicamente culpado pela ida do Papado a Avingon, e por quase criar um cisma.
  • Proclamou documentos — como as bulas Clericis laicos e Una Sanctam — que se imiscuíam nas coisas seculares indevidamente, em razão de sua má-compreensão das relações entre a Igreja e o Estado.
  • Foi um tirano opressor da liberdade política em várias nações européias.
  • Exterminou cruelmente uma cidade inteira (Palestrina), levando à morte mulheres e crianças.
  • Defendeu uma hierocracia universal, entendida de forma errônea por alguns cientistas políticos contemporâneos como “augustinismo político”.
  • Dante o colocou no “inferno” em sua Comédia, e por razões justíssimas. A isto, mais à frente, além de explicarmos que Dante (cuja concepção política do livro De Monarchia foi condenada solenemente pela Igreja) não tem poder algum para colocar quem quer que seja no inferno real, mostraremos como o ódio do poeta a Bonifácio VIII se transformara numa patológica monomania. A propósito, como sói acontecer com os acusadores, com os caluniadores.

.

Veremos se estas e outras acusações contra Bonifácio VIII têm algum fundamento histórico, tomando por base três obras:

.

a) Storia di Bonifazio VIII e de’ suoi tempi, famosa biografia de Luigi Tosti publicada em 1846. A obra foi reeditada recentemente e traz abundantíssima quantidade de fontes primárias. Ela pode ser lida por inteiro, numa antiga edição, neste link;

b) Historia de la Iglesia Medieval, do mencionado Ricardo García-Villoslada, escrita em meados da década de 50 do século passado. A propósito, Villoslada é também um pesquisador que traz à luz abundantes fontes primárias, sem as quais qualquer juízo histórico vira quase uma boataria;

c) Lives of the Popes. The Pontiffs from St. Peter to John Paul II, de Richard MacBrien, insuspeito professor de teologia da Universidade de Notre Dame. Digo “insuspeito” por ser um modernista da melhor cepa.

.

Por uma questão pedagógica, separaremos a nossa análise pelos tópicos acima, aos quais acrescentaremos outros, de acordo com a necessidade da explicação. Comecemos, pois, pela primeira dessas acusações e sigamos a ordem delas — sempre partindo dialeticamente de uma interrogação.

.

1- Articulador da abdicação de Celestino V?

.

Os acusadores imputam a Bonifácio VIII o crime de ser o malicioso articulador da abdicação de Celestino V — movido por ambições pessoais e políticas. Mas em que fontes se baseiam? Que documentos sustentam um juízo histórico tão terrível?

.

(continua)

.

.

__________________________

1-Não concordamos com os historiadores que pretendem levar à Idade Média até a queda de Constantinopla (1453), ou ao Descobrimento da América (1492), ou ainda à rebelião da reforma luterana (1517), pois estes acontecimentos são insuficientes para demarcar a mudança de mentalidade que é o divisor de águas entre as épocas medieval e moderna. Neste ponto estamos totalmente de acordo com Ricardo G. Villoslada, para quem o terminus ad quem da Idade Média é 1303, com a morte de Bonifácio VIII, embora divirjamos deste autor no que diz respeito ao conceito de hierocracia universal aplicado a este Papa.

2- Somos compelidos a registrar que as lutas intestinas pelo poder são encontráveis em absolutamente todas as épocas, desde a Antiguidade mais remota. E, como católicos, cremos que assim será até o final dos tempos, devido à mancha do pecado original. Na Idade Média, no entanto, havia uma contraforça espiritual que punha um freio (na medida do possível, é claro) à degradação humana: a Igreja e seu Magistério.

.

.

___________

Extraído do blog Contra Impugnantes

Read Full Post »