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Archive for abril \29\-03:00 2011

Fonte: FSSPX

por Santo Afonso Maria de Ligório

Sempre tenha o livro sagrado em suas mãos, para que ele possa alimentar sua alma pela leitura devota.” S. JERÔNIMO, (Carta a São Paulino).

DA LEITURA ESPIRITUAL

1. Se a oração é útil para a vida espiritual, talvez não o seja menos a leitura dos livros de piedade. Segundo S. Bernardo, nós aí aprenderemos, ao mesmo tempo a fazer oração e a praticar as virtudes. Donde concluía que a leitura e a oração são armas com que se pode vencer o inferno e adquirir o paraíso.[1] Nem sempre podemos ter junto de nós nosso padre espiritual, para nos ajudar com seus conselhos em todas as nossas ações, e especialmente em nossas dúvidas; mas a leitura supre tudo, nos fornece as luzes necessárias e nos ensina como havemos de proceder para evitar as ciladas do demônio e do nosso amor próprio, e para nos conformarmos com a vontade de Deus. — Dizia por isso Sto. Atanásio que não se verá ninguém que de propósito se aplique ao serviço de Deus, que não seja dado a leitura espiritual.[2] — É por isso que todos os fundadores de ordens muito recomendaram este santo exercício aos seus religiosos. — S. Bento, entre outros, ordenou que cada um dos seus monges fizesse todos os dias a sua leitura, e que houvesse dois encarregados de ir visitar as celas, para verem se todos observavam esta regra; e quando se achava algum nisto negligente, queria que fosse penitenciado. — Mas, antes de todos, o Apóstolo a impôs a seu discípulo Timóteo, dizendo-lhe: Aplica-te à leitura.[3]

Estas palavras são dignas de nota: Significam que, por mais ocupado que estivesse S. Timóteo nos seus trabalhos pastorais, como bispo, S. Paulo queria que se aplicasse ainda a leitura dos livros santos, e isto não de passagem e por pouco tempo, mas aturadamente.

2. — Tanto é nociva a leitura dos livros maus, quanto proveitosa a dos bons. Assim como esta foi muitas vezes a causa da conversão dos pecadores, assim aquela não cessa de perverter uma multidão de moços inexperientes. — O Espírito de Deus é o primeiro autor dos livros de piedade, ao passo que o autor dos livros perniciosos é o espírito do demônio, que muitas vezes tem a arte de ocultar o veneno aos olhos de certas pessoas, sob o pretexto de que tais livros servem para aprenderem o modo de falar bem e conhecerem as coisas do mundo para seu bom governo, ou ao menos para passarem o tempo sem enfado. — Para as religiosas, sobretudo, eu digo que nada é mais pernicioso do que a leitura dos maus livros. E por maus livros eu entendo não só os proibidos pela Santa Sé que tratam de heresia e de matérias torpes, mas também todos o que versam sobre amores mundanos. Que piedade poderá ter uma religiosa que lê romances, comédias ou poesias profanas? Que recolhimento poderá ter na oração e na comunhão? Deverá essa tal chamar-se esposa de Jesus Cristo? Ou antes, uma má esposa do mundo? Pois que até as jovens do século, que soem ler esses livros, raramente são boas seculares.

3. — Mas, dirá aquela, que mal fazem os romances e as poesias profanas, onde não há palavras imodestas? Vós perguntais que dano fazem? Ei-lo: inflamam a concupiscência, despertam, sobretudo, as paixões, as quais facilmente dominam a vontade, ou, ao menos, a enfraquecem de tal modo que, apresentando-se depois a ocasião de conceber alguma afeição desregrada, o demônio acha o coração já disposto para vencê-lo. — Notou um sábio autor: É pela leitura de tais livros perniciosos que a heresia fez e faz todos os dias tantos progressos; porque ela assim deu e dá mais força à libertinagem. O veneno desses livros entra pouco a pouco na alma; apodera-se primeiro do espírito, infecciona depois a vontade e acaba por dar a morte à alma. O demônio talvez não tenha meio mais eficaz e mais seguro para perder uma jovem, do que a leitura de tais livros envenenados. Oh que assolação não fará esse veneno, se acaso se introduzir em uma comunidade? Bastará um só livro mau desta espécie para arruiná-la! — Esposa bendita do Senhor, se vos acontecer ter nas mãos um livro semelhante, lançai-o imediatamente no fogo; digo no fogo, para não aparecer mais. Se fordes superiora, empregai todos os esforços possíveis, para extirpar e afastar essa peste do convento sob pena de dar contas severas a Deus, nosso Senhor.

4. — Adverti, além disso, que certos livros não serão maus por si mesmos, mas serão inúteis para o vosso proveito espiritual. Esses serão também nocivos para vós, porque vos farão perder o tempo que podereis empregar em ocupações proveitosas para a alma. — Eis que S. Jerônimo escreveu para a sua discípula Sta. Eustóquia, para instruí-la: Na sua solidão de Belém, ele apreciava e lia muitas vezes os livros de Cícero; e, ao contrário, tinha certo horror aos livros sagrados, pelo estilo inculto que achava nestes. Sobreveio-lhe uma enfermidade grave, na qual se viu transportado e apresentado ao tribunal de Jesus Cristo. Então o Senhor lhe perguntou: Quem és? — Ele respondeu: Eu sou cristão. — Mentes, replicou o Juiz; tu és cristão? Não. Tu és ciceroniano e não cristão. — E ordenou que imediatamente fosse flagelado. O santo logo prometeu emendar-se, e, voltando a si, achou as espáduas lívidas e contundidas, em consequência do castigo recebido durante a visão. Desde este momento, deixou as obras de Cícero e entregou-se à leitura dos livros sagrados. — É verdade que alguns autores profanos às vezes apresentam algum pensamento útil à vida espiritual; mas o mesmo S. Jerônimo, escrevendo a uma outra sua discípula, faz esta sábia reflexão: Que necessidade tens de procurar um pouco de ouro no meio da lama, quando podes ter livros de piedade onde acharás ouro puro, sem mistura de lama?[4]

As obras de teologia moral são também livros ordinariamente inúteis e algumas vezes mesmo nocivos para as religiosas, porque podem facilmente perturbar-lhes a consciência, ou ensinar-lhes o que lhes seria mais vantajoso ignorar. Igualmente, a leitura dos livros de teologia mística pode ser nociva a algumas, que presumam ter pretensões à oração sobrenatural: para consegui-lo, deixariam a costumada oração ordinária, que consiste na meditação e nos afetos, e desta arte ficariam privadas de ambas; pois ninguém se deve elevar à contemplação, se Deus a não leva a tal manifestamente. — É por isso que Sta. Teresa apareceu, depois de sua morte, a uma de suas filhas e ordenou que as superioras proibissem às religiosas ler o que ela escreveu sobre as visões e revelações; e acrescentou que ela se tinha santificado pelo exercício das virtudes e não com as visões e revelações.

5. — Voltemos ao nosso assunto, e consideremos os felizes efeitos que produz em nós a leitura dos bons livros.

Primeiramente, se a leitura dos maus livros, como dissemos, nos enche de sentimentos mundanos e perniciosos, a dos bons livros, ao contrário, nos sugere bons pensamentos e santos desejos. Quando uma religiosa passa parte considerável do dia a ler livros curiosos e profanos, que lhe abarrotam o espírito com uma multidão de ideias mundanas e afetos terrenos, como pode recolher-se, ocupar-se de pensamentos piedosos, conservar-se na presença de Deus e produzir frequentes atos de virtudes? — O moinho mói o grão que recebe. Se recebe mau grão, como poderá dar boa farinha? — Depois de ter empregado um bom espaço de tempo em ler algum livro curioso, vá uma religiosa à oração, à comunhão; em vez de pensar em Deus e de fazer atos de amor e de confiança, estará toda distraída; por que a lembrança de todas as vaidades que leu, se apresentará ao seu espírito. — Ao contrário, aquela que nutre seu espírito com coisas edificantes, tais como as máximas espirituais e os exemplos dos santos, não só no tempo da oração, mas ainda fora dela, será sempre acompanhada de santos pensamentos e se conservará quase sempre unida a Deus. — S. Bernardo nos faz compreender bem esta verdade, por uma outra comparação, ao explicar as palavras do divino Mestre: Procurai e achareis.[5]— Procurai pela leitura dos livros de piedade, diz ele, e achareis na meditação, o que houverdes buscado; porque a leitura nos põe na boca a nutrição espiritual, que digerimos depois na meditação.[6]

6. — Em segundo lugar, a alma que se nutre de santos pensamentos na leitura, tem mais força para repelir as tentações interiores. — Eis o conselho que dava S. Jerônimo à Salvina, sua discípula: Procura ter sempre à mão algum bom livro, afim de que te sirva de escudo para te defender dos maus pensamentos.[7]

Em terceiro lugar, a leitura espiritual nos ajuda a descobrir as máculas de nossa alma e a fazê-las desaparecer. O mesmo S. Jerônimo em sua carta a Demetriades, lhe recomenda o uso da leitura espiritual como de um espelho.[8] Queria dizer que, assim como o espelho nos mostra as manchas que temos no rosto, assim os bons livros nos fazem conhecer as faltas que mancham a nossa consciência. — Falando da leitura espiritual, S. Gregório diz: Nela podemos contar nossas perdas e nossos adiantamentos de espírito: nela observamos o atraso ou proveito que temos adquirido no caminho de Deus.[9]

Em quarto lugar, na leitura dos livros santos, recebem-se muitas luzes e inspirações divinas. — Dizia S. Jerônimo que na oração nos falamos a Deus, mas na leitura é Deus que nos fala.[10] O mesmo dizia Sto. Ambrósio: Quando oramos, Deus escuta as nossas preces; mas quando lemos, escutamos a voz de Deus.[11] — Como já vos disse, não podemos ter sempre, perto de nós, nosso padre espiritual, nem ouvir os santos pregadores que nos dirigem e nos comunicam as luzes necessárias para caminhar bem no caminho do Senhor: Os bons livros suprem suas instruções. — Sto. Agostinho diz que eles são outras tantas cartas que o Senhor em sua bondade nos envia, para nos advertir dos perigos que corremos, nos ensinar os caminhos da salvação, nos animar a sofrer as adversidades, nos esclarecer e inflamar de seu divino amor. Quem, pois deseja salvar-se e adquirir o amor divino, deve ter frequentemente estas cartas do paraíso.

7. — Quantos santos, pela leitura de algum bom livro, se decidiram a deixar o mundo e se entregar a Deus! É sabido que Sto. Agostinho estava miseravelmente encadeado por suas paixões e vícios, e, com a leitura de uma Epístola de S. Paulo, foi iluminado pela divina luz, saiu das suas trevas e começou a se santificar. — O mesmo sucedeu a Sto. Inácio de Loyola. Era soldado e estava preso no leito por uma grave enfermidade. Para se desenfastiar pôs-se a ler as vidas dos santos em um livro que tomou ao acaso. Isto foi bastante para se determinar a começar uma vida santa; e eis como veio a ser o pai e fundador da Companhia de Jesus, que tanto bem tem feito à Igreja. — Assim também S. João Colombini, lendo quase contrariado um livro de piedade, resolveu a deixar o mundo, se santificou e fundou também um instituto religioso. — Eis ainda o que conta Sto. Agostinho: Dois cortesãos do Imperador Teodósio entram um dia em um mosteiro. Um deles se põe a ler por acaso a vida de Sto. Antão abade, que encontra em uma cela, e logo se sente tão penetrado de santos pensamentos, que toma a resolução de renunciar o mundo. Depois, fala com tanto ardor ao seu companheiro, que o persuade a ficar com ele no mosteiro para se consagrarem ao serviço de Deus. — Lê-se também na crônica dos Carmelitas descalços que uma senhora de Viena se tinha preparado para ir uma tarde a um festim. Não se realizando, porém este, ela tomou para distrair a sua cólera, um livro de piedade com que deparou, e nele aprendeu tão bem o desprezo do mundo, que o abandonou com suas vaidades e se fez carmelita da reforma de Sta. Teresa. — O mesmo aconteceu à duquesa de Montalto, na Sicília, a qual, também por acaso, se pôs, um dia, a ler as obras de Sta. Teresa; e tanta impressão lhe causaram que obteve o consentimento de seu marido e entrou na ordem das Carmelitas descalças.

8. — A leitura dos livros espirituais foi útil aos santos, não só no começo de sua conversão, mas também durante toda a sua vida, para se manterem e aproveitarem cada vez mais no caminho da perfeição. — O glorioso S. Domingos beijava ternamente seus livros de piedade e os apertava com amor ao seu coração, dizendo: “Estes livros me dão o leite que me nutre”. — E como poderiam os anacoretas passar tantos anos a viver no deserto, longe de todo o comércio com os homens, se não tivessem a prática da oração e o uso dos livros espirituais? — O grande servo de Deus Tomas de Kempis não podia gozar de mais doce consolação, do que estar em um canto de sua cela a ler um livro que lhe falasse de Deus. — O mesmo se dava com o venerável padre Vicente Carafa, já citado em outro lugar: assegurava que não podia aspirar maior felicidade neste mundo, do que passar a sua vida em uma pequena gruta, com um pedaço de pão e um livro de piedade. — S. Filipe Nery empregava todas as horas de que podia dispor, em ler livros espirituais, e particularmente as vidas dos santos.

9. — Se me perguntardes agora que livro seria preferível para vós, que sois religiosa, eu vos aconselho antes de tudo que procureis ter aqueles em que vossa alma acha mais devoção e dos quais mais vos aproveitastes para ter união com Deus. Tais podem ser as obras de S. Francisco de Sales, de Sta. Teresa, de Luiz de Granada, de Rodrigues, de Saint-Jure, de Nieremberg, de Pinamonti, e outros semelhantes, especialmente os Avisos aos Religiosos pelos Padres de S. Mauro e o Diretório ascético do Pe. Scaramelli, obra moderna, mas muito doutra e devota. — De resto, geralmente falando, eu vos aconselho a deixar os livros difíceis, e escolher os que são devotos e fáceis. Procurai ler as matérias que sabeis serem mais úteis para a vossa perfeição. Lede muitas vezes, entre outros, as vidas dos santos e principalmente das santas e santos que foram religiosos, como de Sta. Teresa, de Sta. Maria Madalena de Pazzi, de Sta. Catarina de Senna, de Sta. Joana de Chantal, da Venerável Sór Francisca Farnese, da Venerável Sór Serafina de Capri, de S. Pedro de Alcântara, de S. João da Cruz, de S. Francisco de Borgia, de S. Luiz Gonzaga, e outros. Lede também frequentemente as vidas dos santos mártires, principalmente de tantas santas virgens que deram a vida por Jesus Cristo. Para este fim podeis adquirir as vidas dos santos publicadas pelo padre Croiset, as quais se vendem em três volumes separados da sua obra grande dos Exercícios de Piedade.

Oh! como é vantajoso ler as vidas dos santos! Nos livros de instrução sobre as virtudes, vê-se o que se deve fazer, mas nas vidas dos santos se mostra o que fizeram tantos homens e tantas mulheres que eram da mesma carne que nós. Seu exemplo se outra utilidade não nos trouxesse, ao menos nos faria humilhar e prostrar com a face em terra. Quando lemos as grandes coisas que fizeram os santos, de certo nos envergonhamos do pouco que fizemos e fazemos por Deus.

10. — Falando de si mesmo, dizia Sto. Agostinho: Meu Deus, a consideração dos exemplos dos vossos servos consumia a minha tibieza e me inflamava de amor para convosco.[12] — S. Boaventura escreveu também de S. Francisco, que, quando ele pensava nos santos e em suas virtudes, se sentia tão abrasado de novo amor de Deus, como se estivesse em contato com outras tantas pedras encandecidas.[13]

S. Gregório conta que havia em Roma um pobre chamado Sérvulo, que era enfermo e tinha necessidade de mendigar para viver. Das esmolas que recebia dava uma parte aos outros pobres como ele, e com outra parte comprava também alguns livros devotos. Não lia, mas os fazia ler por outros a quem dava hospedagem nos aposentos em que dormia. Deste modo, diz S. Gregório, Sérvulo adquiriu uma grande paciência e, ao mesmo tempo, uma admirável ciência das coisas divinas. Quando chegou o tempo de morrer, pediu a seus amigos que continuassem a sua cara leitura; mas, antes de expirar, os interrompe, dizendo: “Calai-vos, calai-vos. Não ouvis como todo o paraíso ressoa em cânticos e harmonias?”. E, dizendo estas palavras, terminou docemente a vida. Apenas expirou, um odor celeste se espalhou pelo quarto, e provou a santidade do mendigo que partiu deste mundo pobre dos bens materiais, mas rico de virtudes e merecimentos.[14]

11. — Eis o que se deve observar para tirar muito fruto da leitura espiritual:

Primeiramente, antes de começar, é preciso recomendar-se a Deus, a fim de ser esclarecido por sua luz nas coisas que se vão ler. Já ficou dito, que, na leitura espiritual, é o Senhor que se digna de nos falar. Devemos, pois, ao pegar no livro fazer esta prece: Falai, Senhor, que o vosso servo ouve.[15] Fazei-me conhecer a vossa vontade, pois quero vos obedecer em tudo.

Em segundo lugar, é preciso ler unicamente para avançar no amor divino, e não para se instruir nem para satisfazer a sua curiosidade. Ler para se instruir, é fazer, não uma leitura espiritual, mas um estudo inútil nesse momento para a alma. O mal é maior quando se lê por curiosidade, como fazem algumas religiosas, que devoram os livros, sem pensar em outra coisa que em percorrê-los depressa para contentar a sua curiosidade. Que proveito esperam elas de tais leituras? Todo o tempo que empregam nelas é tempo perdido. — S. Gregório dizia: Muitos lêem, e lêem muito; mas, depois da leitura, se acham em jejum, como se nada houvessem lido, porque o fizeram somente por curiosidade.[16] — Disto justamente o Santo censura o médico Teodoro, que lia os livros sagrados, percorrendo-os com vista rápida e sem fruto.

12. — Em terceiro lugar atenda-se que para aproveitar a leitura espiritual, é preciso ler pausadamente e com reflexão. — Sto. Agostinho dizia: Nutre a tua alma com as leituras divinas.[17] Ora, para nutrir-se bem, não é bastante devorar os alimentos, mas é preciso mastigá-los bem.

Advirta-se, portanto, que para tirar bastante fruto das boas leituras, é preciso ruminar, isto é ponderar bem o que se lê, aplicando a si mesmo as resoluções práticas que se insinuam. — Sto. Efrem aconselha que se torne a ler o que fez mais impressão.18

Além disso, quando, na leitura de um ensinamento ou de um exemplo que penetra o coração, se recebe alguma luz especial, é muito útil parar um pouco e elevar o espírito a Deus, tomando alguma boa resolução, ou fazendo algum bom ato interior ou alguma prece fervorosa. — Dizia S. Bernardo: A oração interrompa a leitura.[19] Nesse caso, pois, deixe-se a leitura para se entregar à oração, enquanto durar o sentimento vivo que fez impressão. — Façamos sempre assim, à exemplo da abelha, que não passa de uma flor a outra, senão depois de ter recolhido todo o mel que ai encontra.

Pouco importa que, em tal caso, se esgote de todo o tempo, determinado para a leitura, porque, assim, é empregado de uma maneira mais útil para o nosso bem espiritual: a leitura de uma só linha, às vezes, nos é mais proveitosa, do que a de uma página inteira.

É preciso, enfim, ao terminar a leitura, escolher algum sentimento mais piedoso que se tenha tirado dela, e levá-lo consigo, como se faz com uma flor de um jardim, onde se tenha estado a recrear-se.

ORAÇÃO

Senhor, eu vos agradeço todos os socorros e todas as luzes que me destes, para me santificar e me unir a vós mais e mais. Quando virá o dia em que me possa ver livre de todos os afetos terrenos, e inteiramente unida ao vosso coração tão cheio de ternura para com minha alma? Eu espero tudo isto da vossa misericórdia infinita. Meu Jesus, eu não poderia resistir mais ao vosso amor, não quero mais ser ingrata para convosco, como fui pelo passado. Senhor, dai-me um coração novo, que só cuide em vos agradar.[20] O desejo que me inspirais, faz esperar a graça que vos peço.

Meu Deus, eu creio em vós, e daria mil vezes a vida para vos ser fiel. Espero em vós pelos merecimentos de Jesus Cristo, sem os quais estaria perdida. Ó sumo bem, eu vos amo, e por vosso amor renuncio tudo, e abraço todas as penas, todas as cruzes que quiserdes me enviar. Eu vos ofendi, mas disso tenho mais pesar, do que se tivesse experimentado todas as desgraças. Agora nada mais desejo, senão a vossa graça e o vosso amor. Meu Deus, ajudai-me, tende piedade de mim.

Vós também, ó Virgem santa, socorrei-me por vossas preces, que obtém de Deus tudo o que pedem. Minha Mãe, recomendai-me ao vosso Filho, não vos esqueçais de mim.

Notas:

1. Lectio nos ad orationem instruit et ad operationem. Lectio et oratio sunt arma, quibus diabolus expugnatur, beatitudo acquiritur. De modo bene viv. c. 50.

2. Sine legendi studio, neminem ad Deum intentum videas.

3. Attende lectioni. I. Tim. 4, 13.

4. Non necesse habes aurum in luto querere. Ep. ad Furiam.

5. Quaerite et invenietis. Matth. 7, 7.

6. Quaerite legendo et invenietis meditando; lectio quasi cibum ori apponit, meditatio masticat. Scal. claust. c. 2.

7. Semper in manibus tuis sit divina lectio, ut omnes cogitationum sagittae hujusmodi clypeo repellantur.

8. Lectionem adhibeas speculi vice.

9. Ibi foeda, ibi pulchra nostra cognoscimus; ibi sentimus quantum proficimus. Mor. l. 2, c. 1.

10. Oras; loqueris ad Sponsum. Legis; ille tibi loquitur. Ep. ad Eustoch. 218

11. Illum alloquimur, cum oramus; illum audimus, cum legimus. De off. l. 1, c. 2.

12. Exempla servorum tuorum, congesta in sinum cogitationis nostrae. urebant et absumebant gravem torporem, et accendebant nos valide. Conf. l. 9, c. 2.

13. Ex recordatione Sanctorum, tanquam lapidum ignitorum, in deificum recalescebat incendium. Vit. S. Franc. c. 9.

14. S. Greg. In Evang. hom. 15.

15. Loquere, Domine, quia audit servus tuus. I. Reg. 3, 9.

16. Multi legunt, et ab ipsa lectione jejuni sunt. In Ezech. h. 10.

17. Nutri animam tuam lectionibus divinis.

18. Non pigeat saepius eumdem repetere versum. De Potient. et Cons. saec.

19. Oratio lectionem interrumpat. De Vita sol. c. 10.

20. Cor mundum crea in me Deus.

Extraído de “A Verdadeira Esposa de Jesus Cristo” de Santo Afonso Maria de Ligório, embora escrito para irmãs religiosas, não pode ser subestimado o benefício para todas as outras pessoas apud catholicapologetics.info.

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Fonte: A grande guerra

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O Padre Ratisbonne, fundador da Congregação de Nossa Senhora do Sion, comenta que todo cristão tem, em sua vida, três instantes de graça maior, três píncaros decisivos. O primeiro é o momento do batismo, quando o homem nasce para a vida da graça, e se torna membro da Santa Igreja de Deus. O último é o momento supremo da perseverança final, quando a alma se separa do corpo e nasce para a Vida Eterna. Entre esses dois extremos, há, no entanto um outro momento, que é a hora da vocação. É quando o homem conhece a missão para a qual Deus o criou, e aceita, e abraça essa missão como sendo a razão de sua existência. Essa correspondência a vocação é o elo que une o batismo a perseverança final, elo importantíssimo e quase indispensável, sem o qual a salvação corre sério perigo, elo que resume a vida de um homem, e sem cuja análise, nenhuma biografia pode ser digna desse nome.
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Antes de conhecida, a vocação é como uma luz, difusa, um farol oculto pela neblina, que o navegante procura ansioso, mas, sem desespero, porque sabe que o encontrará; depois da descoberta, a vocação é a bússola, é a estrela, é a rota que o cristão segue com alegria e confiança. E então, quando surgem os momentos de angustia e as agruras do combate, o católico encontrará o ânimo no considerar a própria vocação: “foi para isso que eu nasci nisso Deus me quer, e nisso encontrarei a Deus“.
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Godofredo de Bouillon, Duque da Lorena, nasceu para ser cruzado. E realizou sua vocação naquela Sexta- Feira, do ano de 1099, quando, com a espada em punho, e a frente do exército católico, atravessou as muralhas da Cidade Santa de Jerusalém, expulsando os muçulmanos e retomando para Deus o que a Deus pertencia. Vencida a batalha, Godofredo depôs suas armas, e, de pés descalços, em sinal de humildade correu para o tesouro que veio buscar: o Santo Sepulcro de Nosso Senhor; não eram as  riquezas que o atraíam.  Mais tarde, quando seus soldados o quiseram coroar rei, exclamou: “não posso aceitar ser coroado de ouro, no mesmo lugar onde Nosso Senhor foi coroado de espinhos!”
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E ficou em Jerusalém o resto da vida, como defensor do Santo Sepulcro. Sua força era lendária. Os soldados afirmavam que ele era capaz de cortar completamente o pescoço de um camelo, com um só golpe de espada. Conta-se que alguns árabes duvidaram disso, e apostaram, com os católicos, que Godofredo não seria capaz de tal proeza. Ajustados os termos da aposta, foram procurar o cruzado, levando um camelo que os árabes haviam comprado para o teste. Godofredo levantou-se, tomou de sua espada e, de um só golpe, fez cair à cabeça do animal. Atônitos, os árabes protestaram, afirmando que aquilo era impossível, a menos que a espada fosse mágica. Desafiou Godofredo a repetir o feito, usando dessa vez uma espada árabe.
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Novo camelo é trazido e, em poucos instantes, sua cabeça decepada vai juntar-se a do anterior.
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Os soldados católicos, ironicamente, perguntaram se os árabes desejavam financiar mais um camelo para novo teste, talvez agora com uma espada grega…
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Os árabes, vendo os custos crescerem, desistiram e pagaram a aposta. Depois, ainda atônitos, perguntam a Godofredo: “Qual é a mágica que lhe deu tanta força?” E o cruzado, estendendo serenamente suas mãos, assim falou: “Tenho tanta força porque estas mãos nunca pecaram contra a pureza“.
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Sublime resposta! Magnífica lição para tantos jovens e velhos de hoje que cultuam irracionalmente a força bruta, mas desprezam a pureza! “Rambos” e “Rockys” de alma imunda, assemelhando-se mais a bichos do que a Filhos de Deus…
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Godofredo de Bouillon, o Cruzado, faleceu em Jerusalém, aos pés do santo Sepulcro que jurou, até a morte, defender.
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Sua vocação estava cumprida. Agora se lhe abriam as portas do Céu.
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(O Desbravador – Setembro de 2007)
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PS: Grifos meus.

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Fonte: Fiéis Católicos da Arquidiocese de Ribeirão Preto

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Quantas vezes dos lábios piedosos a todo momento, um pouco por toda parte, se levanta ao Céu a oração Salve Rainha! Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, Salve, etc., etc.
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Mas, quantos sabem qual é a sua origem? Sabem que foi composta especificamente como um canto de guerra para os Cruzados?
Pois bem, eis a origem dela.
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Ela é atribuída ao bispo de Puy, Dom Adhemar de Monteuil, membro do Concílio de Clermont, onde foi resolvida a primeira Cruzada. Adhemar seguiu a Cruzada na qualidade de legado apostólico e compôs a Salve Rainha, ou Salve Regina em latim, para que se tornasse o canto de guerra dos cruzados.
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A princípio, a antífona acabava por estas palavras: nobis post hoc exilium ostende. A tríplice invocação que a termina presentemente foi acrescentada por São Bernardo, e merece ser narrado como se fez.
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Na véspera do Natal do ano de 1146, S. Bernardo, mandado para a Alemanha como legado do Papa, fazia sua entrada solene na cidade de Spire, depois de uma viagem memorável na qual os milagres foram numerosos.
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O bispo, o clero, os cidadãos todos, com grande pompa vieram ao encontro do santo e conduziram-no, ao toque dos sinos e dos cânticos sagrados, através da cidade até a porta da capital, onde o imperador e os príncipes germânicos o receberam com todas as honras devidas ao legado do Papa.
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Enquanto o cortejo penetrava no recinto sagrado, o coro cantou a Salve Rainha, antífona predileta do piedoso abade de Claraval.
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Bernardo, conduzido pelo imperador em pessoa e rodeado da multidão do povo, ficou profundamente comovido com o espetáculo que presenciara.
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Acabado o canto, prostrando-se três vezes, Bernardo acrescentou de cada vez uma das aclamações, enquanto caminhava para o altar sobre o qual brilhava a imagem de Maria: O clemens! O Pia! O dulcis Virgo Maria! — Ó clemente! Ó piedosa! Ó doce Virgem Maria!
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Fonte: “Maria ensinada à mocidade” – Livraria Francisco Alves, 1915

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Carlos Nougué e Sidney Silveira

É a FSSPX a principal coluna da Tradição. Ao contrário de constituir cisma nem nada parecido, ela foi criada para preservar, em sua integralidade, a fé, os sacramentos e o sacerdócio, e manter as notas próprias da Igreja ante a degradação causada nela pelo Concílio Vaticano II e sua doutrina. Esta é a sua heróica razão de ser. Portanto, em qualquer discussão que envolva o nome da FSSPX, não nos esqueçamos jamais disto: estando a fé em grave risco de perder-se, dada a radical inversão de vetor doutrinário implantada pelo Magistério conciliar, a FSSPX assumiu a tarefa — num momento dramático da história da Igreja — de preservar intacto o bem comum natural e sobrenatural do Corpo Místico, precisando apelar, a certa altura de sua trajetória, ao estado de necessidade (instituto reconhecido pelo Direito Canônico), para justificar sua existência e atuação.

Reiteremos: desde os seus primórdios, a FSSPX assumiu a grave tarefa de defender a doutrina de sempre contra uma espécie de câncer que atingira quase toda a Igreja, com frutos patentíssimos para quem quer que analise a história eclesiástica recente sem paixões. O câncer era o modernismo denunciado no começo do século XX por São Pio X na Pascendi, mas que aprendera a resistir a todos os remédios, até alcançar por metástase as mais altas esferas e ser “consagrado” nos documentos do Concílio Vaticano II — assim como em todo o Magistério que se lhe seguiu.

Observe-se bem: não dizemos que a FSSPX é a única coluna da Tradição. Mas, por sua história, ela é indubitavelmente a principal. Ainda hoje. Portanto, respeito para com ela é o mínimo que qualquer fiel amante da Tradição deve ter. Respeito para com a sua história. Respeito para com a nobreza de sua batalha, que, ao contrário do que insinuam alguns, não se restringe a questões litúrgicas e/ou pastorais, mas a algo muito, muitíssimo maior.

Este breve texto assinado em dupla é a propósito de vários argumentos ad hominem que alguns clérigos e grupos de leigos no Brasil têm usado para denegrir a Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Argumentos contra pessoas, e que passam longe de qualquer aspecto doutrinal. O padre fulano é isso; o padre beltrano disse aquilo; o padre sicrano me ameaçou, roubou meu saco de pipocas… Santo Deus! Isto são argumentos teológicos? Isto é tratar a questão com a altura teológica que ela merece? Não! Decididamente, não. Pois bem, dirigimo-nos a estes leigos e clérigos para dizer o seguinte: se quiserem discutir doutrina, está-se à disposição para qualquer debate público. Mas, se quiserem fofoca, é melhor nem começar.

Neste momento, não podemos senão apoiar publicamente a FSSPX brasileira contra tais ataques, que em meio ao disse-me-disse apelam a argumentos teológica e religiosamente inconsistentes. Esses ataques parecem visar apenas a debilitar a luta da Tradição iniciada por D. Lefebvre e D. Antônio de Castro Meyer.

Não caiamos nesta armadilha. E pensemos bem: ou se está com o Magistério infalível pré-conciliar e com a Tradição, ou de algum modo se atua, ainda que inconscientemente, pelo advento do Anticristo.

Em tempo: Nenhum dos que assinamos esta breve nota pertence à FSSPX. Apoiamos a sua posição doutrinal e a sua luta, sim, mas não incondicionalmente. A única condição é, precisamente, ela manter-se fiel à Tradição, sem concessões doutrinárias de nenhuma ordem ao modernismo. Rezamos por esta intenção, para que a FSSPX jamais faça como Esaú, que trocou algo muito valioso por um simples prato de lentilhas (Gên. XXV, 29-34).

Fonte: Contra Impugnantes

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Fonte: Mulher Católica

Por Santo Tomás de Aquino
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Do mistério da Ressurreição do Senhor podemos tirar quatro ensinamentos para nossa instrução:
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1) Primeiro, que devemos nos esforçar para ressurgirmos espiritualmente da morte da alma, contraída pelo pecado, para a vida da justificação que se obtém pela penitência.
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Escreve o Apóstolo: “Surge, tu que dormes, ressurge dos mortos, e Cristo te iluminará” (Ef 5, 14).
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Esta é a primeira ressurreição da qual nos fala o Apocalipse: “Feliz o que teve parte na primeira ressurreição” (Ap 20, 6).

2) Segundo, que não devemos protelar esta nossa ressurreição da morte, mas realizá-la já, porque Cristo ressuscitou no terceiro dia.

Lê-se: “Não tardes na conversão para o Senhor, e não a delongues dia por dia” (Ecle 5, 8).
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Porque estás agravado pela fraqueza, não podes pensar nas coisas da salvação, e porque perdes parte de todos os bens que te são concedidos pela Igreja, incorres em muitos males, perseverando no pecado.
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Como disse o Venerável Beda, o diabo, quanto mais tempo possui uma pessoa, tanto mais dificilmente a deixa.
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3) Terceiro, que devemos também ressurgir para a vida incorruptível, de modo que não mais morramos, isto é, que devemos perseverar no propósito de não mais pecar. Lê-se na Carta aos Romanos: “Assim também vós vos considereis mortos para o pecado, vivendo para Deus em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo, obedecendo-lhes as concupiscências; não exibais os vossos membros como armas de maldade para o pecado, mas deveis vos exibir a vós mesmos para Deus como vivos que saíram da morte” (Rm 6,9; 11-13).
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4) Quarto, que devemos ressurgir para uma vida nova e gloriosa evitando tudo o que antes nos foi ocasião e causa de morte e de pecado. Lê-se na Carta aos Romanos: “Como Cristo ressuscitou de entre os mortos pela glória do Pai, também nós devemos andar na novidade de vida” (Rm 5,4). Esta vida nova é a vida da justiça, que renova a alma e a conduz para a glória. Amém.
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AQUINO, Santo Tomás de; Exposição sobre o Credo. São Paulo: Loyola, 1997, p. 56-57.

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Fonte: Mulher Católica

Por Santo Tomás de Aquino
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Por cinco motivos, houve necessidade de Cristo ressurgir.
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1. Primeiro, para louvor da divina justiça, à qual é próprio exaltar aqueles que se humilham por causa de Deus, conforme o que diz São Lucas: “precipitou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes” (Lc I, 52). E uma vez que Cristo, por causa do amor e da obediência a Deus, se rebaixou até a morte de cruz, convinha que fosse exaltado por Deus até a gloriosa ressurreição. Por isso, representando-o, diz o Salmo 138 (Sl 138,2), com o comentário da Glosa: “Senhor, tu conheces”, isto é, aprovaste, “o meu cair”, isto é, minha humilhação e paixão, “e a minha ressurreição”, isto é, minha glorificação na ressurreição.

2. Segundo, para instrução da nossa fé. É que pela ressurreição dele foi confirmada nossa fé sobre a divindade de Cristo, pois, como diz a segunda Carta aos Coríntios (II Cor 13,4): “Foi crucificado pela nossa fraqueza, mas está vivo pelo poder de Deus”, e, por isso, diz em outra Carta (I Cor 15,14): “Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia, e vazia também a vossa fé”. E diz o Salmo 29 (Sl 29, 10): “Que utilidade haverá em meu sangue”, isto é, com a efusão de meu sangue, “e em minha descida”, isto é, como que por diversos degraus do mal, “à corrupção?”, como se dissesse: nada. Pois se não ressurgir logo e meu corpo se corromper, não pregarei a ninguém, e não ganharei ninguém, como explica a Glosa.

3. Terceiro, para levantar nossa esperança, pois, ao vermos Cristo, nossa cabeça, ressuscitar, temos esperança de que também nós ressuscitaremos. Por isso, diz a primeira Carta aos Coríntios (I Cor 15,12): “Se se proclama que Cristo ressuscitou dos mortos, como é que alguns dentre vós dizem que não há ressurreição dos mortos?”. E o livro de Jó (Jó 19, 25-27): “Mas eu sei”, isto é, pela certeza da fé, “que meu redentor”, isto é, Cristo, “está vivo”, isto é, tendo ressuscitado dos mortos, e, por isso, “no último dia se erguerá da terra; esta minha esperança depositada em meu peito”.
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4. Quarto, para dar forma à vida dos fiéis, segundo o que diz a Carta aos Romanos (Rm 6,4): “Assim como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, também nós levemos uma vida nova”. E mais abaixo [v.9,11] diz: “Ressuscitado de entre os mortos, Cristo não morre mais; do mesmo modo também vós: considerai que estais mortos para o pecado e vivos para Deus”.
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5. Quinto, para aperfeiçoamento de nossa salvação. Assim como, por esse motivo, suportou incômodos morrendo, para nos livrar dos males, também foi glorificado ressurgindo, para nos fazer avançar no bem, segundo o que diz a Carta aos Romanos (Rm 4, 25): “Entregue por nossas faltas e ressuscitado para nossa justificação”.
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Deve-se dizer que a Paixão de Cristo operou a nossa salvação, propriamente falando, pela remoção dos males, e a ressurreição, como o início e o modelo de todas as coisas boas.
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Santo Tomás de Aquino. Summa Theologiae, III, q.53, a.1.

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 Regina caeli, laetare! Alleluia! 

Quia quem meruisti portare! Alleluia!  
Resurrexit, sicut dixit! Alleluia!
Ora pro nobis Deum! Alleluia!
Gaude et laetare, Virgo Maria! Alleluia!
 Quia surrexit Dominus vere! Alleluia!
 
 Oremus:

Deus, qui per resurrectionem Filii tui, Domini nostri Iesu Christi,
mundum laetificare dignatus es:
praesta, quaesumus; ut per eius Genetricem Virginem Mariam,
perpetuae capiamus gaudia vitae.
Per eundem Christum Dominum nostrum.
Amen!
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A todos, uma Santa e feliz Páscoa!

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Fonte: Mulher Católica

1. Satisfação cabal
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Em primeiro lugar, porque Sua Morte é uma satisfação cabal, e em todos os sentidos perfeita, que Jesus Cristo rendeu a Deus Pai pelos nossos pecados, de uma maneira toda particular. O resgate que pagou em nosso lugar, não só igualava com a nossa dívida, mas era-lhe até muito superior (Rm 5, 19-21*).
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2. Sacrifício agradável a Deus
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Em segundo lugar, por ter sido infinitamente agradável a Deus o sacrifício que o Filho Lhe ofereceu no altar da Cruz, e pelo qual abrandou inteiramente a cólera e indignação do Pai. Esta é a convicção do Apóstolo, quando nos afirma: “Cristo amou-nos, e por nosso amor Se entregou a Si mesmo, como Vítima de suave odor para Deus” (Ef 5, 2).
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3. Resgate inigualável
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Em terceiro lugar, por ter sido o preço de nossa Redenção, conforme as palavras do Príncipe dos Apóstolos: “Fostes resgatados de vossa vida frívola, que herdastes de vossos pais, não a preço de coisas perecíveis, como o são ouro e prata; mas, pelo precioso Sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha nem defeito” (1 Pd 1, 18). E o Apóstolo ensina [por sua vez]: “Cristo nos livrou da maldição da Lei, tornando-Se Ele mesmo maldição por nossa culpa” (Gl 3, 13).
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4. Exemplo de virtudes
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A par destes imensos benefícios, recebemos ainda outro que de todos é talvez o maior. Naquele padecimento se descobrem os mais brilhantes exemplos de todas as virtudes: paciência, humildade, exímia caridade, mansidão, obediência; máxima constância, não só para sofrer dores, mas até para arrostar a própria morte, por amor da justiça. Disso nos faz [Cristo] tal demonstração, que na verdade podemos dizer: Num só dia de sofrimento, Nosso Salvador encarnou em Si mesmo todas as normas de virtude, que de boca nos havia ensinado, durante todo o tempo de Sua pregação.
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* “Ó feliz culpa que [nos] mereceu tal e tão grande Redentor! (Precônio Pascal no Sábado Santo)
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Catecismo Romano. I Parte: Do Símbolo dos Apóstolos: Capítulo Quinto: Quarto Artigo, Parágrafo 15.

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1. Livra-nos do pecado
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Em primeiro lugar, a Paixão do Senhor livrou-nos do pecado, conforme o declara São João: “Amou-nos, e no Seu Sangue nos lavou de nossos pecados” (Ap 1, 5). E o Apóstolo diz também “[Deus] vos fez reviver com Ele, perdoou-vos todos os pecados, cancelando e pregando na cruz o título de condenação, que contra nós fora lavrado” (Cl 2, 13-14).
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2. Livra-nos do demônio
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Em segundo lugar, livrou-nos da tirania do demônio. O Senhor mesmo disse: “Eis chegado o julgamento do mundo. O príncipe deste mundo será expulso agora. E Eu atrairei tudo o a mim, quando for elevado da terra” (Jo 12, 31-32).
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3. Satisfaz pelas penas do pecado
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Em terceiro lugar, satisfez a pena devida pelos nossos pecados (Rm 5, 10; 2 Cor 5, 19).
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4. Reconcilia-nos com Deus
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Em quarto lugar, como não se podia oferecer outro sacrifício mais agradável e mais bem aceito aos olhos de Deus, reconciliou-nos com o Pai, a quem aplacou e tornou propício para conosco.
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5. Abre-nos o céu
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Finalmente, destruindo o pecado, franqueou-nos a entrada para o céu, à qual punha embargo a culpa comum do gênero humano. É o que o Apóstolo nos dá a entender com as palavras: “Em virtude do Sangue de Cristo, temos a confiança de entrar no Santo dos Santos” (Hb 10,19).
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Na Antiga Aliança, não faltava um afigura deste mistério. Assim, por exemplo, aqueles proscritos, aos quais era defeso repatriar-se antes da morte do sumo-sacerdote (Nm 30, 25; Js 20, 6), eram uma figura dos justos que, apesar de sua justiça e santidade, não podiam transpor o limiar da Pátria Celestial, antes da Morte de Jesus Cristo, o Sumo e Eterno Sacerdote (Hb 9, 11ss). Logo que Cristo a sofreu, as portas do céu de pronto se abriram a todos os que, purificados pelos Sacramentos, possuídos de fé, esperança e caridade, se tornaram participantes de Sua Paixão.
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Catecismo Romano. I Parte: Do Símbolo dos Apóstolos: Capítulo Quinto: Quarto Artigo, Parágrafo 14.

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Fonte: Mulher Católica

Foi muitíssimo conveniente ter Cristo sofrido a morte numa cruz. Primeiro, como um exemplo de virtude. É o que diz Agostinho: “A sabedoria de Deus tornou-se homem para nos dar exemplo de honestidade de vida. É próprio, porém, da vida honesta não temer o que não deve ser temido. Há, contudo, homens que, embora não tenham medo da morte em si, têm horror a um determinado tipo de morte. Assim, para que o homem de vida honesta não temesse nenhum tipo de morte, teve de lhe ser mostrado na cruz qual a morte daquele homem, pois entre todos os gêneros de morte nenhum foi mais execrável e temível que esse”.
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Segundo, porque esse tipo de morte era de máxima conveniência para satisfazer o pecado de nosso primeiro pai, pecado que consistiu em ter ele comido o fruto da árvore proibida, contrariando a ordem de Deus. Assim, foi conveniente que Cristo, a fim de dar satisfação por esse pecado, suportasse ser ele próprio afligido no madeiro, como quem restitui o que Adão roubara, segundo o que diz o Salmo 68: “Então pagarei o que não roubei”. Por isso, diz Agostinho: “Adão desprezou uma ordem ao colher o fruto da árvore, mas o que Adão perdeu, Cristo o adquiriu na cruz”.
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Terceiro, porque, como diz Crisóstomo: “Sofreu no alto do madeiro e não dentro de casa a fim de purificar até mesmo a natureza do ar. Mas também a terra sentia os efeitos desse benefício, limpa que era pelo gotejar do sangue a escorrer de seu lado”. E a respeito do que diz o Evangelho de João: “É preciso que o Filho do Homem seja levantado”, observa Teofilato: “Ao ouvires ‘que seja levantado’, deves entender que foi elevado para o alto, a fim de que santificasse o ar aquele que santificara a terra, ao caminhar sobre ela”.
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Quarto, porque, por ter morrido no alto da cruz, prepara-nos a subida ao céu, como diz Crisóstomo. Daí ter dito o próprio Cristo conforme o Evangelho de João: “Se for elevado da terra, atrairei a mim todos os homens”.
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Quinto, porque essa morte é adequada à completa salvação do mundo inteiro. Por isso, diz Gregório de Nissa: “A representação da cruz, que se estende por quatro extremidades a partir de um ponto de união central, significa o universal poder e providência daquele que nela está pendente”. ― E também Crisóstomo afirma de Cristo na cruz: “Morre de braços abertos, a fim de atrair com uma das mãos o povo antigo e com a outra os que ainda são pagãos”.
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Sexto, porque, por esse tipo de morte, designam-se várias virtudes. Assim, afirma Agostinho: “Não foi em vão que escolheu esse tipo de morte a fim de se mostrar mestre da largura e da altura, do comprimento e da profundidade”, das quais fala o Apóstolo. “A largura está representada no madeiro que se apóia transversalmente na parte de cima; refere-se às boas obras porque nele é que se estendem os braços. O comprimento, no tronco que desce da travessa até o chão; nele de certo modo está apoiado, ou seja, mantém-se estável e firme, o que é próprio da longanimidade. A altura está naquela parte do madeiro que se eleva acima da parte transversal, ou seja, onde está a cabeça do crucificado; é a suprema expectativa do que têm justa esperança. Já a parte do madeiro oculta e fincada na terra e de onde se levanta toda a estrutura significa a profundidade da graça gratuita”. E como diz Agostinho no comentário ao Evangelho de João, o madeiro no qual estavam pregados os membros do padecente foi igualmente a cátedra do mestre a ensinar”.
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Sétimo, porque esse gênero de morte corresponde a muitas figuras. Como diz Agostinho: “Uma arca de madeira salvou o gênero humano do dilúvio das águas; ao se afastar o povo de Deus do Egito, Moisés dividiu o mar com o bastão, vencendo o Faraó e redimindo o povo de Deus; o mesmo bastão Moisés lançou às águas, e de salgadas as tornou doces; com esse bastão faz jorrar da rocha espiritual uma água salutar; e, para vencer Amalec, Moisés mantém os braços abertos ao longo do bastão; e a lei de Deus é posta na arca de madeira do Testamento; de modo que, por tudo isso, como que por degraus, se chegasse ao madeiro da cruz”.
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[…] Ad tertium. Deve-se dizer que, como diz Agostinho, o pecado é amaldiçoado e, consequentemente, assim é a morte e a mortalidade que dele provém. “A carne de Cristo, porém, era mortal, ‘por ser semelhante à carne do pecado’”. Por isso, Moisés a chama de “maldição”, como o Apóstolo a chama de “pecado”, quando diz: “Aquele que não conhecera o pecado fez-se pecado por nossa causa”, ou seja, pela pena do pecado. “Nem há nisso maior ignomínia porque o chama de ‘maldito por Deus’. Pois se Deus não odiasse o pecado, não teria enviado seu Filho para assumir nossa morte e a destruir. Confessa, portanto, ter aceito a maldição por nós aquele mesmo que confessas ter morrido por nós”. Daí o que diz a Carta aos Gálatas: “Cristo nos libertou da maldição da lei, tornando-se ele mesmo maldição por nós”.
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Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.46, a.4.

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Fonte: Mulher Católica

Um modo é tanto mais conveniente para atingir um fim quanto mais ocorrem, por meio dele, resultados adequados a esse fim. Ora, o fato de o homem ter sido libertado pela paixão de Cristo teve muitas conseqüências apropriadas à sua salvação, além da libertação do pecado..
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1. Primeiro, o homem conhece, por esse fato, quanto Deus o ama, sendo assim incentivado a amá-lo também, e é aí que está a perfeição da salvação humana. É o que diz o Apóstolo na Carta aos Romanos (5, 8-9): “Nisto Deus prova o seu amor para conosco: Cristo morreu por nós quando ainda éramos inimigos”.
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2. Segundo, deu-nos exemplo de obediência, de humildade, de constância, de justiça e das demais virtudes que demonstrou na paixão de Cristo, necessárias todas para a salvação humana. É o que diz a primeira Carta de São Pedro (I Pe 2, 21): “Cristo sofreu por nós, deixando-nos um exemplo, a fim de que sigamos suas pegadas”.
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3. Terceiro, Cristo, por sua paixão, não apenas livrou o homem do pecado, mas também lhe mereceu a graça santificante e a glória da bem-aventurança […].
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4. Quarto, mostra-se ao homem, por esse fato, que é ainda mais necessário ele se manter imune do pecado, segundo a primeira Carta aos Coríntios (I Cor 6, 20): “Alguém pagou o preço do vosso resgate. Glorificai e levai a Deus em vosso corpo”.
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5. Quinto, esse fato trouxe maior dignidade ao homem. Ou seja, como o homem fora vencido e enganado pelo diabo, seria também um homem a vencer o diabo; e como o homem merecera a morte, seria também um homem, ao morrer, que venceria a morte, como diz a primeira Carta aos Coríntios (I Cor 15, 57): “Rendamos graças a Deus, que nos dá a vitória por Jesus Cristo”.
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Portanto, foi mais conveniente que fôssemos libertados pela paixão de Cristo do que somente pela exclusiva vontade de Deus.
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Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.46, a.3.

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Fonte: Mulher Católica

O termo necessário tem várias acepções, como ensina o Filósofo no livro V da Metafísica. Pela primeira, é impossível alguma coisa ser diferente daquilo que é segundo sua natureza. É claro então que não foi necessário Cristo ter sofrido, nem por parte de Deus nem parte do homem.
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Noutra acepção, algo pode ser necessário por um motivo externo. Tratar-se-á de uma necessidade de coação, se esse motivo externo for causa eficiente ou motriz; é o que acontece quando alguém é impedido de andar porque outro o segura à força. Se o motivo externo que gera a necessidade for um fim, diz-se que algo é necessário porque supõe esse fim, ou seja, quando um determinado fim de modo algum puder existir, ou não o for convenientemente a não ser que algo o suponha.
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Não foi, pois, necessário que Cristo sofresse, por necessidade de coação, nem por parte de Deus, que estabeleceu que Cristo sofresse, nem por parte do próprio Cristo, que sofreu por vontade própria.
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Mas esse sofrimento foi necessário por necessidade de fim. O que pode ser entendido de três modos.
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1. Primeiro, quanto a nós, que por sua paixão fomos libertados, como diz o Evangelho de São João (Jo 3): “É preciso que o Filho do Homem seja levantado, a fim de que todo aquele que nele crê não pereça e tenha a vida eterna”.
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2. Segundo, quanto ao próprio Cristo, que mereceu a glória da exaltação pelo abatimento da paixão. É o que diz o Evangelho de São Lucas (Lc 24, 26) a propósito: “Não era preciso que o Cristo sofresse isso para entrar em sua glória?”
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3. Terceiro, quanto a Deus, que estabeleceu a paixão de Cristo, anunciada nas Escrituras e prefigurada nas observâncias do Antigo Testamento. É o que diz o Evangelho de São Lucas (Lc 22, 22): “Eis as palavras que eu vos dirigi quando ainda estava convosco: é preciso que se cumpra tudo o que foi escrito sobre mim na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” e “E porque foi escrito: convinha que o Cristo sofresse e ressuscitasse dos mortos”.
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[…] Ad tertium. Deve-se dizer que foi conveniente tanto à misericórdia como à justiça divina ser o homem libertado pela paixão de Cristo. À justiça porque, por sua paixão, Cristo deu satisfação pelo pecado do gênero humano e assim o homem, pela justiça de Cristo, foi libertado. À misericórdia porque, não podendo o homem, com suas forças, dar satisfação pelo pecado de toda natureza humana, […], Deus lhe deu seu Filho para cumprir essa satisfação. É o que diz a Carta aos Romanos (3, 24-25): “São gratuitamente justificados por sua graça, em virtude da libertação realizada em Jesus Cristo. Foi a ele que Deus destinou para servir de expiação, por meio da fé”. O que se tornou uma misericórdia mais abundante do que se tivesse perdoado os pecados sem satisfação. Por isso, diz também a Carta aos Efésios (2, 4-5): “Deus é rico em misericórdia; por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos, deu-nos a vida com Cristo”.
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Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.46, a.1.

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Fonte: Index Bonorvm

Extraído de Escola Católica.

Durante o santo Tríduo Pascal podemos ganhar para nós ou para os defuntos o dom da Indulgência Plenária se realizarmos algumas das seguintes obra estabelecidas pela Santa Sé.

Obras que gozam do dom da indulgência pascal:

Quinta-feira Santa

1. Se durante a solene reserva do Santíssimo, que segue à Missa da Ceia do Senhor, recitamos ou cantamos o hino eucarístico “Tantum Ergo” (“Adoremos Prostrados”).

2. Se visitarmos pelo espaço de meia hora o Santíssimo Sacramento reservado no Monumento para adorá-lo.

Sexta-feira Santa

1. Se na Sexta-feira Santa assistirmos piedosamente à Veneração da Cruz na solene celebração da Paixão do Senhor.

Sábado Santo

1. Se rezarmos juntos a reza do Santo Rosário.

Vigília Pascal

1. Se assistirmos à celebração da Vigília Pascal (Sábado Santo de noite) e nela renovamos as promessas de nosso Santo Batismo.

Condições:

Para ganhar a Indulgência Plenária além de ter realizado a obra enriquecida se requer o cumprimento das seguintes condições:

A. Exclusão de todo afeto para qualquer pecado, inclusive venial.

B. Confissão sacramental, Comunhão eucarística e Oração pelas intenções do Sumo Pontífice. Estas três condições podem ser cumpridas uns dias antes ou depois da execução da obra enriquecida com a Indulgência Plenária; mas convém que a comunhão e a oração pelas intenções do Sumo Pontífice se realizem no mesmo dia em que se cumpre a obra.

É oportuno assinalar que com uma só confissão sacramental podemos ganhar várias indulgências. Convém, não obstante, que se receba freqüentemente a graça do sacramento da Penitência, para aprofundar na conversão e na pureza de coração. Por outro lado, com uma só comunhão eucarística e uma só oração pelas intenções do Santo Padre só se ganha uma Indulgência Plenária.

A condição de orar pelas intenções do Sumo Pontífice se cumpre rezando-se em sua intenção um Pai Nosso e Ave-Maria; mas se concede a cada fiel cristão a faculdade de rezar qualquer outra fórmula, segundo sua piedade e devoção.

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Fonte: Mulher Católica

Por Santo Afonso Maria de Ligório

Proprio Filio suo non pepercit, sed pro nobis omnibus tradidit illum ― «Não poupou a seu próprio Filho, mas entregou-o por nós todos» (Rm 8, 32).

Sumário. Embora Maria Santíssima já tivesse consentido na morte de Jesus Cristo, desde que aceitou a maternidade divina, quis todavia o Pai Eterno, que ela renovasse o consentimento no tempo da Paixão, afim de que, juntamente com a vida do Filho, fosse também sacrificado o coração da Mãe. Pelos merecimentos deste consentimento tão espontâneo como doloroso, a Santíssima Virgem foi feita Reparadora do gênero humano, e credora de toda a nossa gratidão. Quantos, porém, lhe pagam com a ingratidão mais monstruosa, renovando pelo pecado a paixão do Filho e as dores da Mãe!

I. Ensina Santo Tomás que, conferindo a qualidade de mãe direitos especiais sobre os filhos, parece conveniente que Jesus, inocente e sem culpa própria merecedora de suplício, não fosse destinado à morte de cruz sem que a Santíssima Virgem consentisse e o oferecesse espontaneamente a morrer. Verdade é que Maria já dera o seu consentimento quando foi escolhida para Mãe do Redentor. Quis, porém, o Eterno Pai que ela o renovasse no tempo da Paixão, afim de que, juntamente com o sacrifício da vida do Filho, fosse também sacrificado o coração da Mãe.
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A Bem-Aventurada Virgem, ao pensar no Filho amado, que em breve ia perder, tinha os olhos sempre arrasados de lágrimas, e, como ela mesma revelou à Santa Brígida, um suor frio corria-lhe pelo corpo, por causa do temor do doloroso espetáculo que se avizinhava. Eis que, chegando finalmente o dia destinado, veio Jesus e chorando se despediu da Mãe, para ir morrer. Diz Cornélio a Lapide que, para compreendermos a dor que Maria então sentiu, seria mister que compreendêssemos o amor que tal Mãe tinha a tal Filho. Como, porém, poderemos fazer ideia disso?
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Ah! os títulos unidos de serva e mãe, de filho e Deus acenderam no coração da Virgem um incêndio composto de mil incêndios, de tal modo que São Guilherme de Paris chega a dizer que Maria amou a Jesus Cristo tanto, que uma pura criatura não seria quase capaz de amá-lo mais: Quantum capere potuit hominis modus. No tempo da Paixão, todo este incêndio de amor se converteu num mar de dor. Pelo que São Bernardino disse: «Todos os sofrimentos do mundo, se fossem ajuntados, não poderiam igualar à dor de Maria». Pobre Mãe! E nós não nos compadeceremos dela?
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II. Dizem os santos Padres que a Bem-Aventurada Virgem, pelos merecimentos que adquiriu oferecendo a Deus o grande sacrifício da vida de seu Filho, deve com razão ser chamada: Reparadora do gênero humano; restauradora das nossas misérias, Mãe de todos os fiéis cristãos, nova Eva que nos gerou para a vida, dissemelhante da outra Eva que foi a causa primeira da nossa perdição. ― Por isso o Bem-aventurado Alberto Magno afirma que, assim como somos obrigados a Jesus Cristo pela paixão a que se submeteu por nosso amor, somos obrigados igualmente a Maria pelo martírio que na ocasião da morte do Filho quis sofrer espontaneamente pela nossa salvação.
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Infelizmente, porém, quantos cristãos, em vez de se mostrarem agradecidos, pagam à nossa boa Mãe com a mais monstruosa ingratidão! ― Disto exatamente se queixou a mesma Santíssima Virgem com a Bem-aventurada Colleta, franciscana. Aparecendo-lhe um dia e mostrando-lhe Jesus Cristo, todo desfigurado pelas chagas: «Filha», disse-lhe, «eis aí como os pecadores tratam continuamente a meu Filho, renovando-lhe a morte e a mim as dores».
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Ó minha bendita Mãe! é assim que os homens respondem ao amor que lhes mostrastes, consentindo em que vosso Jesus morresse pela nossa salvação. Ingratos como são, nem depois de o haverem crucificado, deixam de persegui-lo com os seus pecados, e assim continuam também a afligir-vos, ó grande Rainha dos Mártires. Eu também fui um daqueles infelizes. Ah! minha Mãe dulcíssima, alcançai-me lágrimas para chorar tamanha ingratidão. Pela dor que sentistes, quando vosso Filho se despediu de vós para ir de encontro à morte, obtende-me a graça de contemplar sempre com fruto os mistérios dolorosos da sua Paixão, especialmente nestes dias em que a Igreja faz dela recordação especial. Esta graça eu vo-la peço pelo amor do mesmo Jesus Cristo; de vós a espero. (*I 241.)
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Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 372-374.

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São João Crisóstomo (c. 345-407), Bispo de Antioquia e, mais tarde, de Constantinopla, Doutor da Igreja.

Catequeses baptismais, n° 3, 16ss. (a partir da trad. bréviaire rev.; cf SC 50 bis, pp. 160ss.)

 

«Quando tiverdes erguido ao alto o Filho do Homem, então ficareis a saber que Eu sou»

Queres saber que força se esconde no sangue de Cristo? Vê de onde foi que ele começou a correr e qual é a sua origem: vem da cruz, do lado do Senhor. Estando Jesus já morto, diz o evangelho, mas ainda suspenso da cruz, veio um soldado «e abriu-Lhe o lado com um golpe de lança, e dele saiu sangue e água» (Jo 19, 33-34). Esta água era o símbolo do baptismo, e o sangue o símbolo dos mistérios eucarísticos. […] Foi, pois, um soldado que Lhe abriu o lado, perfurando a muralha do templo santo; e eu encontrei este tesouro, e fiz dele a minha fortuna. […]

«E dele saiu sangue e água». Não passes com indiferença por este mistério. […] Já te disse que esta água e este sangue são símbolo do baptismo e dos mistérios eucarísticos. Ora, a Igreja nasceu destes dois sacramentos: deste banho do renascimento e da renovação no Espírito, ou seja, do baptismo, e dos mistérios. Mas os sinais do baptismo e dos mistérios saíram do lado de Cristo; consequentemente, Cristo constituiu a Igreja a partir do Seu lado, tal como formara Eva a partir do lado de Adão (Gn 2, 22).

É por isso que Paulo afirma: Somos da Sua carne e dos Seus ossos (cf Act 17, 29; Gn 2, 23), designando desse modo o lado do Senhor. Com efeito, assim como o Senhor tomou carne do lado de Adão para formar a mulher, assim também Cristo nos deu o sangue e a água do Seu lado para formar a Igreja. E, assim como retirou a carne do lado de Adão enquanto este dormia, assim também nos deu o sangue e a água depois da Sua morte […], porque desde agora a morte é um simples sono. Vistes como foi que Cristo Se uniu à Sua esposa? Vistes que alimento nos dá a todos? Foi deste alimento que nascemos, é com ele que nos alimentamos. Assim como a mulher gera os filhos do seu próprio sangue e os alimenta com o seu leite, assim também Cristo alimenta constantemente com o Seu sangue aqueles que gerou.


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Fonte: FSSPX

pelo Rev. Pe. Fabrice Delestre, FSSPX
retirado e traduzido de fbmv.wordpress.com

Xilogravura do século XVI representando os 15 mistérios do Rosário


1 – O Rosário, tal como ele foi recitado desde a época de São Domingos (entre 1170 e 1221), ou seja, desde oito séculos, deu inumeráveis provas de sua eficácia sobrenatural, tanto no plano individual (é um instrumento poderoso de santificação, graças ao qual o Céu se povoou e se povoará até o fim do mundo de inumeráveis eleitos), como no plano social e político, assegurando a vitória da Cristandade sobre os inimigos da verdadeira Fé (cátaros, muçulmanos e protestantes em particular: toda a história da Igreja desde o século XIII testemunha isto). Portanto, já que o Santo Rosário mostrou sua perfeita eficácia durante oito séculos, assegurando a salvação das almas e da Igreja militante, não há nenhuma razão para modificá-lo substancialmente. Além disto, nas últimas aparições de Fátima, reconhecidas pela Igreja, às quais o Papa (João Paulo II, n.d.t.), se refere na sua carta apostólica (Rosarium Virginis Mariae, §7), a Santíssima Virgem pede, em cada uma de suas aparições, a recitação quotidiana do Rosário tal como sempre se praticou.

2 – O Antigo Testamento contêm 150 Salmos, que formam a trama do Ofício Divino ou breviário, ao qual são obrigados à recitação diária todos os padres, em honra da Santíssima Trindade e de Nosso Senhor Jesus Cristo. Este Ofício Divino é concebido de tal forma que, a cada semana, o padre recita ao menos uma vez cada Salmo. O Rosário, com as suas 150 Ave Marias, recitadas em honra de Nossa Senhora, sempre foi considerado, dentro do espírito da Igreja, como algo semelhante ao Ofício Divino; por causa disto, ele foi chamado “o Saltério de Nossa Senhora”, o que tinha a vantagem de sublinhar o lugar especial e único ocupado por Nossa Senhora na devoção da Igreja, e por consequência o culto particular que se deve render à Santíssima Virgem Maria: o culto de hiperdulia.

Mesmo o Papa sublinha esta correspondência entre as 150 Ave Marias do Rosário e os 150 Salmos do Antigo Testamento (Ibid. §19). Porque então acrescentar 5 novos mistérios, fazendo assim o Rosário passar a 200 Ave Marias, o que vem a provocar confusão, e rompe a bela simetria que exprimia tão bem a verdadeira devoção da Igreja em toda a sua riqueza tão perfeitamente ordenada?

3 – Assim também, existe uma eloquente correspondência entre os quinze mistérios do Rosário e os tempos mais importantes do ano litúrgico:

– Os cinco mistérios gozosos, quem têm por centro a encarnação e natividade de Nosso Senhor, fazem eco aos tempos litúrgicos do Advento e do Natal.

– Os cinco mistérios dolorosos nos fazem mergulhar no espirito do tempo da Quaresma, que é toda orientada para a paixão de Nosso Senhor e sua morte na Cruz.

– Finalmente, os cinco mistérios gloriosos lembram a nossas almas o tempo Pascal  e seu espírito cheio de alegria e de esperança sobrenatural[1].

No entanto, enquanto que o ano litúrgico tem por fim “fazer que o cristão compartilhe, estação por estação e quase dia a dia, os sentimentos de Cristo em seus diferentes mistérios, fazendo assim o homem viver da vida em Deus[2], o Rosário considera os principais mistérios da vida de Nosso Senhor de uma outra maneira: “Dando uma atenção bem explícita ao lugar que Nossa Senhora aí ocupa[3].” Em consequência, o ano litúrgico e o Santo Rosário, complementares um do outro, têm um lugar bem definido na vida cristâ: (…) A liturgia não suprime o Rosário, que tem um caráter próprio e irredutível[4].” Propor cinco novos mistérios, que giram em torno de Nosso Senhor e nos quais Maria está quase ausente[5], “ a fim de dar uma consistência claramente mais cristológica ao Rosário[6], leva a desnaturar este último porque não respeita a sua especificidade, e isto é muito grave. Existe aí um perigo muito real que pode conduzir a um novo desprezo do Rosário e a novos ataques contra sua utilidade na vida cristâ: se se tira do Rosário seu “caráter próprio e irredutível”, ele se tornará inútil para muitos, pois ele será considerado como uma duplicação da liturgia.

4 – Estes novos mistérios com uma “consistência cristológica” diminuem o caráter mariano do Rosário, obscurecendo com um só golpe o lugar único que ocupa Maria no plano da Redenção: o papel de mediadora universal de todas as graças, em virtude de sua Corredenção ao pé da Cruz. De fato, no texto da carta apostólica do Papa, não encontramos nem uma só vez mencionados os termos de “Maternidade Divina e Virginal”, “Imaculada Conceição”, “Corredenção”, “Mediadora Universal de todas as Graças”, que se referem aos privilégios únicos que recebeu a Santíssima Virgem, dos quais os dois primeiros são dogmas de fé definidos, um deles desde o ano 431 no Concílio de Éfeso, e o outro em 1854 pelo Papa Pio IX. Somente o privilégio da Assunção é mencionado uma só vez, no número 23 da carta apostólica.. Tem-se a clara impressão de que o Papa procura evitar o emprego de termos que desagradem aos protestantes,  e que possam criar novos obstáculos ao ecumenismo conciliar, ao mesmo tempo tentando tornar aceitável a esses mesmos protestantes um Rosário revisto e corrigido que permite “aprofundar a implicação antropológica do Rosário, uma implicação mais radical do que parece à primeira vista. Quem quer que se ponha a contemplar Cristo, fazendo memória das etapas de sua vida, não pode deixar de descobrir também nele a verdade sobre o homem. É a grande afirmação do concílio Vaticano II, que frequentemente foi objeto de meu magistério, desde a encíclica Redemptor Hominis: “Na realidade, o mistério do homem só se esclarece verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado” (…). Pode-se assim dizer que cada mistério do Rosário, bem meditado, esclarece o mistério do homem[7]”. Convenhamos, numa tal perspectiva, não resta muita coisa da devoção mariana tradicional tal como a Igreja  sempre compreendeu e encorajou!


[1] – O pe. Pius Parch, na introdução de seu livro O Guia do Ano Litúrgico, faz esta bela comparação: “A viagem através do ano eclesiástico assemellha-se a uma excursão nas montanhas. Devemos escalar duas montanhas: a primeira é a do Natal. E depois a montanha principal da Páscoa. Nos dois casos, existem:

– Uma subida: é o tempo da preparação; O Advento, preparação para o Natal; a Quaresma, preparação para a Páscoa.

– Um caminho nas alturas, de uma cume a outro: do Natal até a Epifania; da Páscoa até Pentecostes.

– E uma descida na planície: os domingos depois da Epifania; os domingos depois de Pentecostes.

Pode-se constatar que onze dos quinze mistérios tradicionais do Rosário nos permitem subir ou estacionar sobre as alturas das quais nos fala o pe. Pius Parch, enquanto que os novos mistérios luminosos não se encontram, afora o quinto, nos tempos litúrgicos nos quais culmina o ano eclesiático, e não retomam um tempo litúrgico preciso, destruindo assim a correspondência entre o Rosário e o ano litúrgico.

[2] – Citação de D. Festugière, tirada de seu livro La Liturgie Catholique.

[3] – Citações tiradas do artigo do pe. Calmel OP intitulado : « Dignité du Rosaire », publicado no nº 62 da revista Itinéraires, abril 1962, pág.142.

[4] – Pe. Calmel, ibid.

[5] – Nossa Senhora está totalmente ausente de quatro dos cinco mistérios luminosos, e mesmo que ela esteja presente às bodas de Caná, nós não somos convidados explicitamente a contemplar o papel que ela exerce neste episódio, mas tão somente Jesus Cristo na sua auto-revelação. O Papa aliás viu bem esta dificuldade e tentou responder à objeção no fim do número 21 da carta apostólica, explicando que se “nos mistérios [luminosos], com exceção de Caná, Maria só está presente em segundo plano, (…) a função que ela exerce em Caná acompanha, de uma certa maneira, todo o percurso de Cristo”. Mas toda esta explicação é pouco convincente! Alguns poderiam objetar que Maria não está ao lado de seu Filho nos três primeiros mistérios dolorosos. A este respeito, convêm compreender que na mediação do conjunto dos mistérios dolorosos, nós somos convidados a contemplar a Virgem das dores, Corredentora do gênero humano ao pé da cruz; esta Corredenção de Nossa Senhora tinha sido profetizada pelo velho Simeão no episódio da apresentação do Menino Jesus no templo (quarto mistério gozoso), quando ele diz a Maria “e a vós, uma espada transpassará a vossa alma, e assim serão revelados os pensamentos ocultos no coração de um grande número” (Lc. 2, 35). Assim a continuidade entre os mistérios gozosos e os mistérios dolorosos é bem destacada, e esta continuidade se encontra rompida se se intercala os mistérios luminosos, já que Maria, por uma disposição da providência divina, é quase ausente da vida pública de Nosso Senhor, a fim de bem significar que sua missão não era a mesma que a dos apóstolos. O pe. Calmel, concluíndo seu artigo “Dignidade do Rosário”, já citado,  assinala muito bem a importância capital da corredenção de Maria na meditação dos mistérios dolorosos: “O Rosário é uma oração de compaixão porque ele se dirige à Virgem Dolorosa que sofreu infinitamente ao pé da Cruz pela redenção da humanidade.”

[6] – Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae § 19

[7] – Rosarium Virginis Mariae §24. A citação do Concílio Vaticano II é extraída da constituição pastoral sobre a Igreja no Mundo Moderno Gaudium et Spes, nº 22.

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Fonte: Fratres in Unum

Trailer do filme Cristiada, que relata o combate dos Cristeros contra a perseguição maçônica promovida pelo governo mexicano na segunda metade da década de 20. Aguardamos informações sobre a estréia do filme no Brasil.

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Fonte: Mulher Católica

Por Padre Jaime Tovar Patrón
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1ª RECORDAÇÃO CONSTANTE DO SACERDOTE
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Certamente que, uma vez recebida a ordem sacerdotal, não se esquece facilmente. Porém um lembrete nunca faz mal: algo visível, um símbolo constante, um despertador sem ruído, um sinal ou bandeira. O que vai à paisana é um entre muitos, o que vai de batina, não. É um sacerdote e ele é o primeiro persuadido. Não pode permanecer neutro, o traje o denuncia. Ou se faz um mártir ou um traidor, se chega a tal ocasião. O que não pode é ficar no anonimato, como um qualquer. E logo quando tanto se fala de compromisso! Não há compromisso quando exteriormente nada diz do que se é. Quando se despreza o uniforme, se despreza a categoria ou classe que este representa.
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2ª PRESENÇA DO SOBRENATURAL NO MUNDO
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Não resta dúvida de que os símbolos nos rodeiam por todas as partes: sinais, bandeiras, insígnias, uniformes… Um dos que mais influencia é o uniforme. Um policial, um guardião, é necessário que atue, detenha, dê multas, etc. Sua simples presença influi nos demais: conforta, dá segurança, irrita ou deixa nervoso, segundo sejam as intenções e conduta dos cidadãos. Uma batina sempre suscita algo nos que nos rodeiam. Desperta o sentido do sobrenatural. Não faz falta pregar, nem sequer abrir os lábios. Ao que está de bem com Deus dá ânimo, ao que tem a consciência pesada avisa, ao que vive longe de Deus produz arrependimento. As relações da alma com Deus não são exclusivas do templo. Muita, muitíssima gente não pisa na Igreja. Para estas pessoas, que melhor maneira de lhes levar a mensagem de Cristo do que deixar-lhes ver um sacerdote consagrado vestindo sua batina? Os fiéis tem lamentado a dessacralização e seus devastadores efeitos. Os modernistas clamam contra o suposto triunfalismo, tiram os hábitos, rechaçam a coroa pontifícia, as tradições de sempre e depois se queixam de seminários vazios; de falta de vocações. Apagam o fogo e se queixam de frio. Não há dúvidas: o “desbatinamento” ou “desembatinação” leva à dessacralização.
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3ª É DE GRANDE UTILIDADE PARA OS FIÉIS
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O sacerdote o é não só quando está no templo administrando os sacramentos, mas nas vinte e quatro horas do dia. O sacerdócio não é uma profissão, com um horário marcado; é uma vida, uma entrega total e sem reservas a Deus. O povo de Deus tem direito a que o auxilie o sacerdote. Isto se facilita se podem reconhecer o sacerdote entre as demais pessoas, se este leva um sinal externo. Aquele que deseja trabalhar como sacerdote de Cristo deve poder ser identificado como tal para o benefício dos fiéis e melhor desempenho de sua missão.
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4ª SERVE PARA PRESERVAR DE MUITOS PERIGOS
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A quantas coisas se atreveriam os clérigos e religiosos se não fosse pelo hábito! Esta advertência, que era somente teórica quando a escrevia o exemplar religioso Pe. Eduardo F. Regatillo, S.I., é hoje uma terrível realidade. Primeiro, foram coisas de pouca monta: entrar em bares, lugares de recreio, diversão, conviver com os seculares, porém pouco a pouco se tem ido cada vez a mais. Os modernistas querem nos fazer crer que a batina é um obstáculo para que a mensagem de Cristo entre no mundo. Porém, suprimindo-a, desapareceram as credenciais e a mesma mensagem. De tal modo, que já muitos pensam que o primeiro que se deve salvar é o mesmo sacerdote que se despojou da batina supostamente para salvar os outros. Deve-se reconhecer que a batina fortalece a vocação e diminui as ocasiões de pecar para aquele que a veste e para os que o rodeiam. Dos milhares que abandonaram o sacerdócio depois do Concílio Vaticano II, praticamente nenhum abandonou a batina no dia anterior ao de ir embora: tinham-no feito muito antes.
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5ª AJUDA DESINTERESSADA AOS DEMAIS
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O povo cristão vê no sacerdote o homem de Deus, que não busca seu bem particular se não o de seus paroquianos. O povo escancara as portas do coração para escutar o padre que é o mesmo para o pobre e para o poderoso. As portas das repartições, dos departamentos, dos escritórios, por mais altas que sejam, se abrem diante das batinas e dos hábitos religiosos. Quem nega a uma monja o pão que pede para seus pobres ou idosos? Tudo isto está tradicionalmente ligado a alguns hábitos. Este prestígio da batina se tem acumulado à base de tempo, de sacrifícios, de abnegação. E agora, se desprendem dela como se se tratasse de um estorvo?
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6ª IMPÕE A MODERAÇÃO NO VESTIR
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A Igreja preservou sempre seus sacerdotes do vício de aparentar mais do que se é e da ostentação dando-lhes um hábito singelo em que não cabem os luxos. A batina é de uma peça (desde o pescoço até os pés), de uma cor (preta) e de uma forma (saco). Os arminhos e ornamentos ricos se deixam para o templo, pois essas distinções não adornam a pessoa se não o ministro de Deus para que dê realce às cerimônias sagradas da Igreja. Porém, vestindo-se à paisana, a vaidade persegue o sacerdote como a qualquer mortal: as marcas, qualidades do pano, dos tecidos, cores, etc. Já não está todo coberto e justificado pelo humilde hábito religioso. Ao se colocar no nível do mundo, este o sacudirá, à mercê de seus gostos e caprichos. Haverá de ir com a moda e sua voz já não se deixará ouvir como a do que clamava no deserto coberto pela veste do profeta vestido com pêlos de camelo.
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7ª EXEMPLO DE OBEDIÊNCIA AO ESPÍRITO E LEGISLAÇÃO DA IGREJA
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Como alguém que tem parte no Santo Sacerdócio de Cristo, o sacerdote deve ser exemplo da humildade, da obediência e da abnegação do Salvador. A batina o ajuda a praticar a pobreza, a humildade no vestiário, a obediência à disciplina da Igreja e o desprezo das coisas do mundo. Vestindo a batina, dificilmente se esquecerá o sacerdote de seu importante papel e sua missão sagrada ou confundirá seu traje e sua vida com a do mundo.
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O autor: Padre Jaime Tovar Patrón, coronel capelão, ocupou importantes responsabilidades no Vicariato Castrense. Oriundo de Extremadura, Espanha, foi grande orador sacro. Autor do livro Los curas de la Cruzada, autêntica enciclopédia dos heróicos sacerdote que desenvolveram seu trabalho pastoral entre os combatentes da gloriosa Cruzada de 1936. É, ademais, uma história do sacerdócio castrense. Faleceu em janeiro de 2004.
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Fonte: São Pio V

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