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Archive for março \25\-03:00 2011

Fonte: Mulher Católica

Por São Pio X

147. Que se celebra na festa da Anunciação da Santíssima Virgem Maria?

Na festa da Anunciação da Santíssima Virgem Maria celebra-se o anúncio, que Lhe transmitiu o Anjo São Gabriel, de que estava escolhida para ser a Mãe de Deus.

148. Onde se encontrava a Santíssima Virgem quando Lhe apareceu o Anjo São Gabriel?

Maria, quando Lhe apareceu o Anjo São Gabriel, encontrava-se em Nazaré, cidade da Galiléia.

149. De que maneira o Anjo São Gabriel saudou a Virgem Maria, quando Lhe apareceu?

Quando o Anjo São Gabriel apareceu à Virgem Maria, dirigiu-Lhe aquelas palavras com que nós A saudamos todos os dias: “Ave, ó cheia de graça; o Senhor é conVosco, bendita sois Vós entre as mulheres”.

150. Qual foi a atitude da Santíssima Virgem ao ouvir as palavras do Anjo São Gabriel?

Ao ouvir as palavras do Anjo São Gabriel, a Santíssima Virgem perturbou-Se, verificando que A saudavam com títulos novos e gloriosos dos quais se julgava indigna.

151. Quais são as virtudes que a Santíssima Virgem mostrou, de modo especial, ao receber a mensagem do Anjo São Gabriel?

Ao receber a mensagem do Anjo São Gabriel, a Santíssima Virgem mostrou, de modo especial: pureza admirável, humildade profunda, fé e obediência perfeita.

152. Ao receber a mensagem como é que Maria deu a conhecer o seu grande amor à pureza?

Ao receber a mensagem do Anjo São Gabriel, a Santíssima Virgem Maria deu a conhecer o seu grande amor à pureza com a solicitude em conservar a virgindade, solicitude manifestada por Ela precisamente na ocasião em que ouvia dizer que estava destinada para a dignidade de Mãe de Deus.

153. Ao receber a mensagem do Anjo São Gabriel, como deu Maria Santíssima a conhecer a sua profunda humildade?

Ao receber a mensagem do Anjo São Gabriel, Maria Santíssima deu a conhecer a sua profunda humildade com as palavras: “Eis aqui a escrava do Senhor”. Ela disse precisamente no instante em que se tornava Mãe de Deus.

154. Ao receber a mensagem do Anjo São Gabriel, como mostrou Maria Santíssima a sua fé e obediência?

Ao receber a mensagem do Anjo São Gabriel, Maria Santíssima mostrou a sua fé e obediência dizendo: “Faça-se em Mim segundo a vossa palavra”.

155. Que sucedeu no momento em que a Virgem Maria consentiu em ser Mãe de Deus?

No próprio momento em que Maria Santíssima consentiu em ser Mãe de Deus, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade encarnou-se no seu seio, tomando corpo e alma como os nossos, por obra do Espírito Santo.

156. Que nos ensina a Santíssima Virgem na sua Anunciação?

A Santíssima Virgem na sua Anunciação: 1º. ensina em particular às virgens o altíssimo apreço em que devem ter o tesouro da virgindade; 2º. ensina-nos a nós todos a dispor-nos com grande pureza e humildade para receber dentro de nós a Jesus Cristo na Sagrada Comunhão; 3º. ensina-nos a submeter-nos prontamente à vontade divina.

157. Que devemos fazer na solenidade da Anunciação de Maria?

Na solenidade da Anunciação de Maria devemos fazer três coisas: 1º. adorar profundamente o Verbo Encarnado para nossa salvação, e agradecer-Lhe tão grande benefício; 2º. congratular-nos com a Santíssima Virgem pela dignidade de Mãe de Deus, a que foi elevada, e honrá-La como nossa Senhora e nossa advogada; 3º. tomar a resolução de rezar sempre com grande devoção e respeito a saudação angélica chamada comumente Ave-Maria.

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São Pio X. Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã: Catecismo Maior de São Pio X. Edições Santo Tomás, 2005, p. 272-275.

 

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Fonte: Tradição em Foco


A Mortificação contribui, com a penitência, para purificar das faltas passadas; mas o seu fim principal é premunir-nos contra as do presente e do futuro, diminuindo o amor do prazer, fonte dos nossos pecados.

O corpo chagado de Jesus é um autêntico retábulo de dores… Por contraste, vêm à memória tanto comodismo, tanto capricho, tanta negligência, tanta mesquinhez… E essa falsa compaixão com que trato a minha carne. Senhor!, pela Tua Paixão e pela Tua Cruz, dá-me forças para viver a mortificação dos sentidos e arrancar tudo o que me afaste de Ti. (Via Sacra)

I. Natureza da Mortificação

Expressões bíblicas: para designar a mortificação. Encontramos sete expressões principais nos Livros Santos, para designar a mortificação sob os seus diversos aspectos.
1 – A palavra renúncia: «qui non renuntiat omnibus quae possidet non potest meus esse discipulus» apresenta-nos a mortificação como um ato de desprendimento dos bens exteriores, para seguirmos a Cristo. Assim fizeram os Apóstolos:«relictis omnibus, secuti sunt eum»

2 – É também uma abnegação ou renúncia a si mesmo: «Si quis vuli post me venire, abneget semetipsum» E na verdade, o mais terrível dos nossos inimigos é o amor próprio desordenado; eis o motivo por que é forçoso desapegar-nos de nós mesmos.

3 – Mas a mortificação tem um lado positivo: é um ato que fere e atrofia as más tendências da natureza: «Mortifica te ergo membra vestra .. Si autem Spiritu facta carnis mortíficaveritis, vivetis »

4 – Mais ainda é uma crucificação da carne e das suas concupiscências, pela qual cravamos, por assim dizer, as nossas faculdades à lei evangélica aplicando-as à oração, ao trabalho: «Qui sunt Christ, carnem suam crucifixerunt cum vitiis et concupiscentiis»

5 – Esta crucifixão, quando persevera, produz uma espécie de morte e de enterramento, pelo qual parecemos morrer completamente a nós mesmos e sepultar-nos com Jesus Cristo, para vivermos com Ele uma vida nova «Mortui enim estis vos et vita vestra est abscondita cum Cristo in Deo … Consepulti enim sumus cum illo per baptismum in mortem».

6 – Para exprimir esta morte espiritual. São Paulo serve-se doutra expressão: como, depois do batismo, há em nós dois homens, o homem velho que fica, ou a tríplice concupiscência, e o homem novo ou o homem regenerado, declara o Apóstolo que é nosso dever «despojar-nos do homem velho, para nos revestirmos do novo: expoliantes vos veterem hominem … et induentes novum».

7 – E, como isto se não faz sem combater, declara ainda que a vida é combate «bonum certamen celta vi», que os cristãos são lutadores ou atletas que castigam o seu corpo e reduzem a servidão.

De todas estas expressões e outras análogas, resulta que a mortificação compreende um duplo elemento: um negativo, o desprendimento, a renúncia, o despojamento; e outro positivo, a luta contra as más tendências, o esforço para as mortificar ou atrofiar, a crucificação, a morte da carne, do homem velho e das concupiscências, a fim de vivermos da vida de Cristo.

Expressões modernas: Hoje vai-se preferindo o uso de expressões mitigadas, que indicam o fim que se pretende atingir, antes que o esforço que para isso se tem de empregar. Diz-se que é mister reformar-se a si mesmo, governar-se a si mesmo, fazer a educação da vontade, orientar a sua alma para Deus. Estas expressões são exatas, contanto que se saiba mostrar que ninguém pode reformar-se e governar-se a si mesmo, sem combater e mortificar as más tendências que em nós existem; que não se faz a educação da vontade, senão mortificando, disciplinando as faculdades inferiores, e que não há possibilidade de alguém se orientar para Deus se não desapegando-se das criaturas e despojando-se dos próprios vícios. Por outros termos, é necessário saber, como faz a Sagrada Escritura, reunir os dois aspectos da mortificação, mostrar o fim, para consolar, mas não dissimular o esforço necessário para o atingir.

Definição: Pode-se, pois, definir a mortificação: a luta contra as más inclinações, para as submeter à vontade, e esta a Deus. É menos virtude que um complexo de virtudes, o primeiro grau de todas as virtudes, que consiste em vencer os obstáculos, no intuito de restabelecer o equilíbrio das faculdades, a sua ordem hierárquica. Assim se vê melhor que a mortificação não é um fim, senão um meio; o homem não se mortifica senão para viver uma vida superior, não se despoja dos bens exteriores senão para melhor conseguir os bens espirituais, não se renuncia a si mesmo senão para possuir a Deus, não luta senão para gozar da paz, não morre a si mesmo senão para viver da vida de Cristo, da vida de Deus. A união com Deus, é, pois, o fim da mortificação. Assim, melhor se compreende a sua necessidade.

[…]

Fonte: A vida espiritual comentada e explicada, Adolph Tanquerey; ed. Aliança Missionária Eucarística Mariana.

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Fonte: Fratres in Unum

Um grupo de 600 indivíduos de alta periculosidade moveu o senhor bispo de Carcassone, Dom Alain Planet, a fechar as portas da Basílica de Notre Dame de Marceille. E não é só: qualificados por Sua Excelência como “membros da extrema direita” que “antes de ser um grupo religioso, é um movimento político”, tão grande ameaça fez com que o senhor bispo aventasse usar a força pública caso ousassem  ingressar nas imediações do santuário — propriedade particular a ele confiada, como Sua Excelência fez questão de enfatizar.

Abaixo, publicamos imagens dos meliantes:

Milícia em ordem de batalha ameaça propriedade particular confiada ao senhor bispo de Carcassone. À direita, grupo carrega arma poderosíssima e talvez desconhecida pelo senhor bispo: a Cruz!

Os jovens guerreiros são provenientes do colégio Saint-Joseph-des-Carmes, da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Desde 1995, a entidade organiza uma peregrinação anual àquele santuário mariano. Neste ano, no entanto, não puderam adentrar a Basílica, como se deu até o ano passado e ao contrário do que vem ocorrendo em diversos outros lugares de peregrinação por toda a França (e até numa tal diocese de Roma, no ano do Jubileu…). A justificativa do senhor bispo: aguardar o resultado das conversações entre a FSSPX e a Santa Sé. Todavia, o mesmo não faz questão de exigir tantas formalidades em suas conhecidas andanças ecumênicas com muçulmanos, anglicanos e até maçons… sinais dos tempos!

Mais de 400 pessoas uniram-se aos 600 pais e alunos do colégio pelo percurso. Ao fim da peregrinação, uma missa foi rezada em um espaço reservado pelas autoridades públicas nos arredores da Basílica. Embora as portas da Basílica e os braços do senhor bispo estivessem fechados, decerto a Virgem Santíssima e São José não deixaram de acolher estes seus valorosos filhos. A segunda epístola de São Paulo aos Coríntios, em seu sexto capítulo, parece, de fato, ter sido redigida pelos pequenos peregrinos àquele que deveria acolhê-los:

Tidos por impostores, somos, no entanto, sinceros; por desconhecidos, somos bem conhecidos; por agonizantes, estamos com vida; por condenados e, no entanto, estamos livres da morte. Somos julgados tristes, nós que estamos sempre contentes; indigentes, porém enriquecendo a muitos; sem posses, nós que tudo possuímos! Ó coríntios, acabamos de vos falar com toda a franqueza. O nosso coração está todo ele aberto. Não é estreito o lugar que nele ocupais. Estreito, isso sim, é vosso íntimo. Correspondei-me com igual ternura…

Com informações de La Porte Latine.

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Fonte: FSSPX

A Sociedade Cardeal Newman apresenta um vídeo promocional sobre o Santíssimo Sacramento do Altar, solução para a juventude desorientada dos dias de hoje.

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Fonte: Fratres in Unum

Nos passos do Doutor Angélico, repetimos a plenos pulmões: “Firmamos, pois, que a todos, santos ou não, convém dizer o Pai Nosso, com o pedido: Perdoai as nossas dívidas”.

Santo Tomás de Aquino

64. — Encontramos homens de grande sabedoria e força, mas quem confia em sua própria força não trabalha com sabedoria nem conduz até o final aquilo que se propusera fazer. Parecem ignorar que os conselhos dão força às reflexões. Como ensinam os Provérbios (20, 18).

Mas notemos que o Espírito Santo que dá a força, dá também o conselho; pois qualquer bom conselho relativo à salvação do homem só pode vir do Espírito Santo.

O conselho é necessário ao homem, quando este sofre tribulações, assim como o conselho do médico, quando se está doente. Quando um homem está espiritualmente doente pelo pecado, deve pedir conselho. E Daniel mostra que o conselho é necessário ao pecador, quando diz ao rei Nabucodonosor (Dn 4, 24): Segue, ó rei, o conselho que te dou, redime os teus pecados com esmolas.

O conselho de dar esmolas e ser misericordioso é excelente para apagar os pecados. Por isso o Espírito Santo ensina aos pecadores esta oração pedindo: Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores.

Além disso devemos verdadeiramente a Deus aquilo a que Ele tem direito e que nós lhe recusamos. Ora, o direito de Deus exige que façamos Sua vontade, preferindo-a à nossa vontade. Ofendemos, portanto, seu direito, quando preferimos nossa vontade à sua, e isto é o pecado. Assim os pecados são nossas dívidas para com Deus. E o Espírito Santo nos aconselha que peçamos a Deus o perdão de nossos pecados e por isso dizemos: Perdoai as nossas dívidas.

65. — Sobre estas palavras podemos fazer três considerações:

a) Primeiro, por que fazemos este pedido?

b) Segundo, quando será realizado?

c) Terceiro, que devemos fazer para que Deus realize nosso pedido?

a) Da primeira, tiramos dois ensinamentos necessários ao homem, nesta vida.

Um, que o homem deve sempre temer a Deus e ser humilde. Há quem seja bastante presunçoso para dizer que podemos viver neste mundo de modo a evitar o pecado. Mas isto a ninguém foi dado, a não ser ao Cristo que possui o Espírito em toda a plenitude; e à Bem-aventurada Virgem, cheia de graça e imaculada, da qual dizia Santo Agostinho: «Desta (Virgem) não quero fazer a menor menção, quando falo do pecado». Mas a nenhum outro santo foi concedido não cair em pecado ou, ao menos, não incorrer em algum pecado venial. Diz, em sua Epístola, São João: Se dissermos que estamos sem pecado, nós mesmos nos enganamos, e não há verdade em nós. (I, 1,8).

E isto tudo é provado pelo próprio pedido. Firmamos, pois, que a todos, santos ou não, convém dizer o Pai Nosso, com o pedido: Perdoai as nossas dívidas. Portanto, cada homem se reconhece e se confessa pecador e indubitavelmente devedor. Se, pois, sois pecador, deveis temer e vos humilhar.

O outro ensinamento é que vivamos sempre na esperança. Ainda que sejamos pecadores, não devemos desesperar. O desespero nos leva a outros e mais graves pecados, como nos diz o Apóstolo (Ef 4, 19): Desesperando, entregaram-se à dissolução e a toda sorte de impurezas.

É, pois, muito útil que sempre esperemos. O homem, por mais pecador que seja, deve esperar sempre o perdão de Deus, se seu arrependimento é verdadeiro, se se converteu perfeitamente.

Ora, esta esperança se fortifica em nós, quando pedimos: Pai nosso, perdoai as nossas dívidas.

67. — Os hereges Navatini negavam essa esperança, dizendo que aquele que peca, depois do batismo, não alcança a misericórdia. Ora, isto não é verdade, se é verdade o que Cristo diz (Mt 18,32): Perdoei-te a dívida toda, porque me pediste.

Assim, em qualquer dia em que pedirdes, podereis obter a misericórdia, se rogardes arrependidos por terdes pecado.

Se, portanto, por esse pedido, nasce o temor e a esperança e todo pecador contrito alcança a misericórdia, concluímos o quanto é necessário fazê-lo.

68. — b) Quanto à segunda consideração, é preciso lembrar que, no pecado, são dois os elementos presentes: a culpa, pela qual se ofende a Deus, e o castigo devido pela ofensa.

Ora, a falta é remida pela contrição, se esta é acompanhada do propósito de se confessar e de satisfazê-la. Declara o Salmista (Sl 31, 5): Eu disse: confessarei ao Senhor contra minha injustiça; e tu me perdoaste a impiedade de meu pecado.

Como dissemos, se a contrição dos pecados, com o propósito de confessá-los, basta para obter sua remissão, o pecador não deve desesperar.

69. — Mas alguém pode objetar: se a contrição do pecado redime a culpa, porque é necessário a confissão ao sacerdote?

A esta pergunta responderemos: Deus, pela contrição, redime o pecado, mudando o castigo eterno em castigo temporal; o pecador, contrito, fica submetido à pena temporal. Assim, se o pecador morre sem confissão, não por tê-la desprezado, mas porque a morte o surpreendeu, irá para o purgatório onde, segundo Santo Agostinho, sofrerá muitíssimo. No entanto, ao vos confessar, o sacerdote vos absolve da pena temporal pelo poder das chaves, ao qual vos submeteis na confissão; pois disse Cristo aos Apóstolos (Jo, 20,22,23): Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados e aos que os retiverdes, serão retidos. Assim, quando se confessa uma vez, alguma parte da pena é perdoada e do mesmo modo, quando se repete a confissão ou se confessa, tantas vezes, quanto necessário, será totalmente perdoada.

70. — Os sucessores dos Apóstolos acharam um outro modo de remir a pena temporal: pelo benefício das indulgências. Para quem vive na caridade, as indulgências têm o valor que o Papa lhes pode conferir.

Quando os santos fazem boas obras, sem terem pecado, ao menos mortalmente, essas obras são úteis para a Igreja. Do mesmo modo os méritos de Cristo e da bem-aventurada Virgem são reunidos como um tesouro. O Soberano Pontífice e aqueles a quem ele confiou tal cuidado, podem aplicar estes méritos, onde mais houver necessidade.

Assim, pois, os pecados são remidos, quanto à falta, pela contrição, e quanto à pena, pela confissão e pelas indulgências.

71. — c) Quanto à terceira consideração: que devemos fazer para que Deus realize nosso pedido, Deus requer, de nossa parte, que perdoemos ao próximo as ofensas que nos fez. É por isso que nos faz dizer: assim como nós perdoamos os nossos devedores. Se agirmos de outra maneira, Deus não nos perdoará.

Diz-nos o Eclesiástico (28, 2-5): Perdoa a teu próximo o mal que te fez e a seu pedido teus pecados ser-te-ão perdoados. O homem guarda sua ira para com outro homem e pede a Deus remédio? Não tem compaixão de um homem seu semelhante, e pede perdão de seus pecados? Sendo carne, conserva rancor e pede propiciação a Deus? Quem lha alcançará por seus delitos? Perdoai, (Lc 6, 37), e ser-vos-á perdoado.

É por isso que neste quinto pedido do Pai N’osso o Senhor nos põe uma única condição: perdoai o outro. Se assim não fazemos, não seremos perdoados.

72. — Mas poderíamos dizer: Direi as primeiras palavras do pedido a saber: perdoai as nossas dívidas, mas não as últimas: como nós perdoamos aos nossos devedores.

Quereis enganar a Cristo? Mas certamente não enganareis. Cristo compôs esta oração e dela se lembra bem; como podeis enganá-lo? Portanto, se dizeis com a boca, ratificai com o coração.

73. — Mas, perguntamos, aquele que não tem o propósito de perdoar seu próximo deve dizer: Assim como nós perdoamos os nossos devedores?

Parece que não, pois estaria mentindo.

Mas respondo que não estaria mentindo, porque não está rezando em seu nome, mas em nome da Igreja, que não se engana. É por isso que esse pedido foi posto no plural.

74. — Precisamos saber que há dois modos de perdoar o próximo. O primeiro é o dos perfeitos, que leva os ofendidos a procurarem os ofensores, como diz o Salmista: (Sl 33, 15): Procurai a paz.

O segundo modo de perdoar é comum a todos, é a obrigação de todos; nada mais é que perdoar os que pedem perdão, como diz o Eclesiástico; (28, 2) Perdoa teu próximo pelo mal que te fez e a seu pedido teus pecados ser-te-ão perdoados.

75. — Bem-aventurados os misericordiosos, é o fruto deste quinto pedido. Porque nos leva a ter misericórdia para com o próximo.

Fonte: Permanência

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Fonte: Mulher Católica

Vivia em Nápoles uma viúva que tinha uma filha de grande beleza, mas extremamente pobre, e não podia casá-la por falta de dinheiro para o dote.

Eram pessoas de boa origem, mas não tinham como viver decentemente.
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A mãe, oprimida pela pobreza e desejosa de recuperar o prestígio social, determinou prostituir a filha e fez a esta a seguinte proposta infame: “Menina, nada desonra tanto no mundo como a pobreza. De que nos servem nossos títulos de nobreza se nossa indigência nos sujeita ao desprezo da sociedade? Só a tua beleza nos pode livrar. Vai entregar-te aos rapazes ricos que te galanteiam, porque não há outro remédio”.

A pobre moça, que era de bom caráter, ficou estupefata diante do que a desavergonhada mãe lhe dizia.

Começou a invocar Santo Antônio com fé e confiança. Uma tarde, quando entrou no convento de São Lourenço, onde se venera uma imagem milagrosa do Santo, ajoelhou-se e, em lágrimas, suplicou: “Meu bom Santo Antônio, eu de nenhum modo quero perder a pérola da virgindade com ofensa a Deus. É minha desalmada mãe que me arrasta para o caminho da perdição e da desonra. Socorrei-me! Coloco-me sob vossa proteção, ó puríssimo defensor da virtude da castidade”.
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Mal acabara de formular essa prece quando o Santo lhe estendeu o braço e lhe entregou um papel, dizendo: “Vai à casa do Sr. X e entrega-lhe este bilhete”. Tratava-se de um rico negociante, muito conhecido na cidade.
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O bilhete continha estas palavras: “Dareis à mulher que vos apresentar este papel, para o seu dote, o peso deste mesmo papel em moedas de prata. Saudações. Santo Antônio”.
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A jovem, cheia de esperança e reconhecimento, correu a entregar o bilhete de Santo Antônio ao rico negociante. Este se pôs a zombar dela, dizendo: “Só o peso desta folhinha de papel?! Por certo vosso noivo se contenta com bem pouco. Vamos já satisfazê-lo”.
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E colocou o papel num dos pratos da balança, pondo no outro uma pequenina moeda de prata, certo de que já pesaria mais do que o papel. Como o outro prato nem se moveu, colocou uma segunda moeda, e mais outra, e mais outra…

Para sua grande confusão, somente quando tinha colocado 400 escudos de prata a balança se equilibrou.

Foi nesse momento que o negociante se recordou de que havia outrora prometido a Santo Antônio dar-lhe 400 escudos de prata, e nunca havia cumprido a promessa. O Santo viera fazer a cobrança daquele modo maravilhoso.
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A feliz jovem pode então casar-se honestamente, de acordo com a sua condição social.
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BRITO, Pe. Fernando Tomás de. Vida e milagres de Santo Antônio. 3ª. Edição. São Paulo: Artpress, 2007, p.92-94.

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A Cruz

*Fonte: Contra Impugnantes

Sidney Silveira
A efusão do sangue de Cristo na Cruz é a causa meritória da nossa saúde eterna. É da Cruz que nos vem todo e qualquer benefício espiritual. Toda a espiritualidade católica baseia-se na Cruz e dela se nutre. Retire-se a Cruz, e haverá uma queda contínua até o seu abismal avesso: o prazer hedônico, doentio, fetichizado, cego, pervertido, invertido, insaciável, utilitarista. A Cruz é o sofrimento com um sentido — um sentido divino, transcendente. Afastar-se da Cruz é perder o significado da dor de amor** e, portanto, da própria vida humana. Aproximar-se da Cruz é tornar sagrado o sofrimento. É sacrum facere. A Cruz é o amor em seu ápice pletórico insuperável.
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Sem a Cruz, só nos resta cair na depressão psicológica — ou, como diziam os latinos, no pecado da acídia —, pois como suportar as dores, os males, as doenças, as traições, a morte, as faltas e as incompletudes que parecem constituir toda a nossa existência, sem acabar por descrer da excelência a que estamos destinados? Só a Cruz pode dar sentido a tudo isso. A Cruz dá perfeito sentido à vida e à morte.
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Sem a Cruz, só nos resta cair na languidez de uma feérica atividade da imaginação, pois, quem não consegue encontrar nenhum sentido para a inevitável dor de viver, há de viver imaginando como fugir da dor. E dar asas à imaginação, como diziam os Padres do Deserto, é dar armas para o demônio.
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Sem a Cruz, só nos resta sucumbir às atitudes mais antiéticas possíveis. Sempre que se apresentar a ocasião, o homem para quem a dor e os males não têm sentido fará de tudo para minimizar os seus problemas, a qualquer custo. Só na Cruz pode haver verdadeira ética; as demais éticas estão, em relação à da Cruz, como o imperfeito está para o que é perfeito.
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Sem a Cruz, só nos resta cair no individualismo, esse vício mental terrível. Para o individualista (sempre uma pessoa sumamente problemática), não existe verdadeira doação de amor, mas apenas ações torpemente interesseiras, movidas ou pelo desejo de auto-satisfação ou pela inveja — como no caso da anticatólica teoria de René Girard, uma “diabolice” de péssimo gosto. Se essa teoria satânica fosse correta, não haveria boas ações, em sentido próprio, mas as haveria apenas por analogia de atribuição extrínseca. Um católico que acreditasse nisso seria um católico, literalmente, sem Cruz.
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Sem a Cruz, só nos resta perder o sentido espiritual da beleza, mais cedo ou mais tarde. A beleza, sem a Cruz, é a beleza física, a beleza emparedada na imanência, num plano meramente sensível, limitado e limitante. A beleza, com a Cruz, é a beleza da vontade que escolheu o bem do próximo — por amor a Deus —, e também da inteligência que assimilou as verdades fundamentais.
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Tudo isso (e muito mais) veio-me à mente hoje, ao reler o belíssimo texto intentio cordis, do Nougué, onde se reafirma a eterna verdade do pó que somos e do pó que havemos de ser — os quais só alcançam sentido humano na Cruz.
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Amar a Cruz, no entanto, é uma meta, um desafio. Algo que só se consegue com o auxílio da Graça. Senti-o eu mesmo, quanto extraí um câncer, há três anos, e agora, quando um insidioso problema de saúde me acomete. É difícil, sim, mas não há outro caminho para o cristão.
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** Dizia o Padre Pio: “A verdadeira dor é a que nos causam as pessoas que amamos”.
Em tempo: Agradeço a todos os que têm rezado pelo meu pleno restabelecimento, que, se for da vontade de Deus, virá. Em caso contrário, rogo-Lhe que me ajude a carregar essa Cruz.
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* texto originalmente publicado em 6/4/2009.

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Fonte: Mulher Católica

Por Santo Afonso Maria de Ligório
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Consummabuntur omnia, quae scripta sunt per prophetas de filio hominis ― «Será cumprido tudo o que está escrito pelos profetas, tocante ao Filho do homem» (Luc 18, 31).
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Sumário. Não é sem uma razão mística que a Igreja propõe hoje à nossa meditação Jesus Cristo predizendo a sua dolorosa Paixão. A nossa boa Mãe deseja que nós, seus filhos, nos unamos a ela, para compadecermos do seu divino Esposo, e o consolarmos com os nossos obséquios, ao passo que os pecadores, nestes dias mais do que em outros tempos, lhe renovam todos os ultrajes descritos no Evangelho. Quer ela também que roguemos pela conversão de tantos infelizes, nossos irmãos. Não temos por ventura bastantes motivos para isso?
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I. Não é sem razão mística que a Igreja propõe hoje à nossa meditação Jesus Cristo predizendo a sua dolorosa Paixão. Deseja a nossa boa Mãe que nós, seus filhos, nos unamos a ela na compaixão de seu divino Esposo, e o consolemos com os nossos obséquios; porquanto os pecadores, nestes dias mais do que em outros tempos, lhe renovam os ultrajes descritos no Evangelho.
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Tradetur gentibus ― «Ele vai ser entregue aos gentios». Nestes tristes dias os cristãos, e quiçá entre eles alguns dos mais favorecidos, trairão, como Judas, o seu divino Mestre e o entregarão nas mãos do demônio. Eles o trairão, já não às ocultas, senão nas praças e vias públicas, fazendo ostentação de sua traição! Eles o trairão, não por trinta dinheiros, mas por coisas mais vis ainda: pela satisfação de uma paixão, por um torpe prazer, por um divertimento momentâneo!
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Illudetur, flagellabitur et conspuetur ― «Ele será motejado, flagelado e coberto de escarros». Uma das baixezas mais infames que Jesus Cristo sofreu em sua Paixão foi que os soldados lhe vendaram os olhos e, como se ele nada visse, o cobriram de escarros, e lhe deram bofetadas dizendo: Profetiza agora, Cristo, quem te bateu? Ah, meu Senhor! quantas vezes esses mesmos ignominiosos tormentos não Vos são de novo infligidos nestes dias de extravagância diabólica? Pessoas que se cobrem o rosto com uma máscara, como se Deus assim não pudesse reconhecê-las, não têm pejo de vomitar em qualquer parte palavras obscenas, cantigas licenciosas, até blasfêmias execráveis contra o santo Nome de Deus! ― Et postquam flagellaverint, occident eum ― «Depois de o terem açoitado, o farão morrer». Sim, pois se, segundo a palavra do Apóstolo, cada pecado é uma renovação da crucifixão do Filho de Deus, ah! nestes dias Jesus será crucificado centenas e milhares de vezes.
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É exatamente isto que Jesus Cristo quis dizer a Santa Gertrudes aparecendo-lhe num domingo de Qüinquagésima, todo coberto de sangue, com as carnes rasgadas, na atitude do Ecce Homo, e com dois algozes ao lado, os quais lhe apertavam a coroa de espinhos e o batiam sem piedade. Ah! meu pobre Senhor!
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II. Refere o Evangelho em seguida, que, aproximando-se Jesus de Jericó, um cego estava sentado à beira da estrada e pedia esmolas. Ouvindo passar a multidão, perguntou o que era. Sabendo que passava Jesus de Nazaré, apesar de a gente o ralhar, afim de que se calasse, não cessava de gritar: Jesus, Filho de Davi, tende piedade de mim (Luc 18, 38). Por isso mereceu que, em recompensa da sua fé, o Senhor lhe restituísse a vista: Fides tua te salvum fecit ― «A tua fé te valeu».

Se quisermos agradar ao Senhor, eis aí o que também nós devemos fazer. Imitemos a fé daquele pobre cego, e neste tempo de desenfreada licença, enquanto os outros só pensam em se divertir com prazeres mundanos, procuremos estar, mais que de ordinário, diante do Santíssimo Sacramento. Não nos importemos com os escárnios do mundo, lembrando-nos do que diz São Pedro Crisólogo: Qui iocari voluerit cum diabolo, non poterit gaudere cum Christo ― «Quem quiser brincar com o demônio, não poderá gozar com Cristo». Quando nos acharmos em presença de Jesus no tabernáculo, peçamos-lhe luz para detestarmos as ofensas que o magoam tão profundamente. Peçamos-lh’a não somente para nós mesmos, senão também para tantos irmãos nossos desviados: Domine, ut videam ― «Senhor, fazei-me ver».

Amabilíssimo Jesus, Vós que sobre a cruz perdoastes aos que Vos crucificaram, e desculpastes o seu horrendo pecado perante o vosso Pai, tende piedade de tantos infelizes que, seduzidos pelo espírito da mentira, e com o riso nos lábios, vão neste tempo de falso prazer e de dissipação escandalosa, correndo para a sua perdição. Ah! pelos merecimentos de vosso divino sangue, não os abandoneis, assim como mereceriam. Reservai-lhes um dia de misericórdia, em que cheguem a reconhecer o mal que fazem e a converter-se. ― Protegei-me sempre com a vossa poderosa mão, afim de que não me deixe seduzir no meio de tantos escândalos e não venha a ofender-Vos novamente. Fazei que eu me aplique tanto mais aos exercícios de devoção, quanto estes são mais esquecidos pelos iludidos filhos do mundo. «Atendei, Senhor, benigno às minhas preces, e soltando-me das cadeias do pecado, preservai-me de toda a adversidade»[1]. + Doce Coração de Maria, sede minha salvação.

[1] Or. Dom. curr.
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Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 279-282.

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EXÓRDIO – O DESERTO DE ENGADI

1. “Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo”, etc. (Mt 4, 1).

Lemos no primeiro livro dos Reis que Davi demorou-se no deserto de Engadi (cf. 1Re 24, 1-2). Davi quer dizer “de mão forte” e indica Jesus Cristo, que, com as mãos pregadas na cruz, destruiu as potências dos ares (diabólicas). Ó maravilhoso poder: vencer o próprio inimigo com as mãos presas! Cristo demorou-se no deserto de Engadi, nome que se interpreta como “olho da tentação”.

Observa que o olho da tentação é tríplice. O primeiro é o da gula, do qual se lê no Gênesis: “E a mulher viu que [o fruto] da árvore era bom para comer, belo aos olhos e de aspecto agradável; tomou do seu fruto, comeu dele e deu-o ao seu marido” (Gn 3, 6). O segundo é o da soberba e da vanglória, do qual Jó, falando do diabo, diz: “Olha tudo o que é alto: ele é o rei de todos os filhos da soberba” (Jó 41, 25). O terceiro é o da avareza, do qual fala o profeta Zacarias: “Este é o seu olho em toda a terra” (Zc 5, 6). Cristo, então, permaneceu no deserto de Engadi por quarenta dias e quarenta noites; durante eles, sofreu do diabo as tentações da gula, da vanglória e da avareza.

2. É dito, por isso, no evangelho de hoje: “Jesus foi conduzido ao deserto”. Observa que os desertos são três, e em cada um desses foi conduzido Jesus: o primeiro é o seio da Virgem, o segundo é aquele do evangelho de hoje, o terceiro é o patíbulo da cruz. Ao primeiro, foi conduzido só pela misericórdia, ao segundo, para dar-nos o exemplo, ao terceiro, para obedecer o Pai.

Do primeiro diz Isaías: “Mandai, Senhor, o cordeiro dominador da terra, da pedra do deserto até o monte da filha de Sião” (Is 16, 1). Ó Senhor, Pai, mandai o cordeiro, não o leão, o dominador, não o destruidor, da pedra do deserto, isto é, da bem-aventurada Virgem que é chamada “pedra do deserto”: “pedra”, pelo firme propósito da virgindade, pelo qual respondeu ao anjo: “Como pode acontecer isso, pois não conheço homem?” (Lc 1, 34), vale dizer: fiz o firme propósito de não conhecê-lo; “do deserto”, porque não arável [lat. inarabilis]: permaneceu, de fato, intacta, virgem antes do parto, no parto e depois do parto. Mandai-o ao monte da filha de Sião, isto é, à santa Igreja, que é filha da celeste Jerusalém.

Do segundo deserto diz Mateus: “Jesus foi conduzido ao deserto, para ser tentado pelo diabo”, etc.

Do terceiro fala João Batista: “Eu sou a voz daquele que clama no deserto” (Jo 1, 23). João Batista é dito “voz” porque, como a voz precede a palavra, assim ele precedeu o Filho de Deus. Eu, disse, dou a voz de Cristo, que clama no deserto, isto é, sobre o patíbulo da cruz: “Pai, nas vossas mãos eu entrego o meu espírito” (Lc 23, 46). Nesse deserto tudo foi cheio de espinhos e ele foi privado de toda forma de humano socorro.

A TRÍPLICE TENTAÇÃO DE ADÃO E DE JESUS CRISTO

3. “Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto”. Freqüentemente se pergunta por quem Jesus foi conduzido ao deserto. Lucas o diz claramente: “Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-se do Jordão e foi conduzido pelo Espírito ao deserto” (Lc 4, 1). Foi conduzido por aquele mesmo Espírito do qual estava cheio, e do qual ele mesmo diz, pela boca de Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me consagrou com a unção” (Is 61, 1). Por aquele Espírito, pelo qual foi “ungido” (consagrado) mais que os seus companheiros (cf. Hb 1, 9), foi conduzido ao deserto, para ser tentado pelo diabo.

Como o Filho de Deus, o nosso Zorobabel, nome que se interpreta como “mestre da Babilônia”, viera reconstruir o mundo arruinado pelo pecado, e, como médico, para curar os doentes, foi necessário que ele curasse os maus com os remédios opostos: como na arte médica as coisas quentes se curam com o frio, e as coisas frias com o calor.

A ruína e a fragilidade do gênero humano foi o pecado de Adão, constituído de três paixões: a gula, a vanglória, a avareza. Diz, de fato, o verso: “A gula, a vanglória e a ganância venceram o velho Adão” (autor desconhecido). Esses três pecados os achas escritos no Gênesis: “Disse a serpente à mulher: No dia em que comerdes deste fruto, abrir-se-ão os vossos olhos”, eis a gula; “sereis como deuses”, eis a vanglória; “conhecereis o bem e o mal”, eis a avareza (Gn 3, 4-5). Esses foram as três lanças com as quais foi assassinado Adão junto com os seus filhos [com a sua descendência].

Lemos no segundo livro dos Reis: “Joab tomou na mão três lanças e as meteu no coração de Absalão” (2Re 18, 14). Joab quer dizer “inimigo” e justamente indica o diabo, que é o inimigo do gênero humano. Ele, com a mão da falsa promessa, “tomou três lanças”, isto é, a gula, a vanglória e a avareza, “e as meteu no coração”, no qual está a fonte do calor e da vida do homem – “dele, diz Salomão, procede a vida” (Pr 4, 23) -, para apagar o calor do amor divino e tirar completamente a vida; “no coração de Absalão”, nome que quer dizer “paz do pai”. E esse foi Adão, que foi posto num lugar de paz e de delícias a fim de que, obedecendo o Pai, conservasse eternamente a sua paz. Mas, já que não quis obedecer o Pai, perdeu a paz e, no seu coração, o diabo meteu as três lanças e o privou completamente da vida.

4. O Filho de Deus veio, portanto, no tempo favorável e, obedecendo a Deus Pai, reintegrou aquilo que estava perdido, curou os vícios com os remédios opostos. Adão foi posto no paraíso no qual, imerso nas delícias, caiu. Jesus, pelo contrário, foi conduzido ao deserto, no qual, persistindo no jejum, derrotou o diabo.

Observai como concordam entre si, no Gênesis e em Mateus, as três tentações: “Disse a serpente: No dia em que comerdes dele”; “e, aproximando-se, o tentador lhe disse: Se és o Filho de Deus, dize que estas pedras se tornem pães” (Mt 4, 3): eis a tentação da gula. Da mesma forma: “Sereis como deuses”; “então o diabo levou-o à cidade santa, e o pôs sobre o pináculo do templo” (Mt 4, 5), eis a vanglória. E enfim: “Conhecereis o bem e o mal”; “novamente, o diabo levou-o para sobre um monte altíssimo, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a sua glória, e lhe disse: Tudo isto eu te darei, se, prostrando-te, me adorares” (Mt 4, 8-9). O diabo, quanto é pérfido, tanto perfidamente fala: essa é a tentação da avareza.

Mas a Sabedoria, por sempre agir sabiamente, superou as três tentações do diabo com as três sentenças do Deuteronômio.

Jesus, quando o diabo o tentou pela gula, respondeu: “O homem não vive somente de pão” (Mt 4, 4; cf. Dt 8, 3), como se dissesse: Como o homem exterior vive de pão material, assim o homem interior vive do pão celeste, que é a palavra de Deus. A Palavra de Deus é o Filho, que é a Sabedoria que procede da boca do Altíssimo (cf. Eclo 24, 5). A sabedoria é chamada, assim, de sabor. Assim o pão da alma é o sabor da sabedoria, com o qual assabora os dons do Senhor e prova quão suave é o próprio Senhor (cf. Sl 33, 9). Desse pão é dito no livro da Sabedoria: “Preparaste-lhes um pão do céu, que contém toda delícia e todo suave sabor” (Sb 16, 20). E isso pretende quando diz: “Mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 4; cf. Dt 8, 3). “De toda palavra”, porque a palavra de Deus e a sabedoria têm todo sabor suave, que torna insípido todo prazer da gula. E, como Adão teve nojo desse pão, cedeu à tentação da gula. Justamente, então, é dito: Não só de pão, etc.

Da mesma forma, quando o diabo o tentou pela vanglória, Jesus respondeu: “Não tentarás o Senhor, teu Deus” (Mt 4, 7; cf. Dt 6, 16). Jesus Cristo é Senhor pela criação, é Deus pela eternidade. E esse Jesus o diabo tentou, quando exortou a atirar-se abaixo, do pináculo do templo, o próprio criador do templo, e prometeu a ajuda dos anjos ao Deus de todas as potências celestes. “Não tentarás, então, o Senhor, teu Deus!”. Também Adão tentou o Senhor Deus, quando não observou o mandamento do Senhor e Deus, mas prestou fé com leviandade à falsa promessa: “Sereis como deuses”. Que vanglória, crer poder tornar-se deuses! Ó miserável! Em vão te enalteces acima de ti mesmo, e, por isso, ainda mais miseravelmente cais abaixo de ti. Não tentes, então, o Senhor, teu Deus.

Enfim, quando o diabo o tentou pela avareza, Jesus respondeu: “Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a Ele servirás” (Mt 4, 10; cf. Dt 6, 13; 10, 20). Todos aqueles que amam o dinheiro ou a glória do mundo, ajoelham-se diante do diabo e o adoram.

Nós, pelo contrário, por quem o Senhor veio ao seio da Virgem e sofreu o patíbulo da cruz, instruídos pelo seu exemplo, caminhamos no deserto da penitência e, com a sua ajuda, reprimimos a concupiscência da gula, o vento da vanglória e o fogo da avareza.

Adoramos também nós aquele que os próprios arcanjos adoram, servimos aquele que os anjos servem, aquele que é bendito, glorioso, louvável e excelso pelos séculos eternos. E todo o criado diga: Amém!

Fonte: SantAntônio.org

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