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A origem da devoção à Senhora das Candeias tem o seu começo na festa da Apresentação do Menino Jesus no Templo e da Purificação de Nossa Senhora, quarenta dias após o seu nascimento (sendo celebrada, portanto, no dia 2 de Fevereiro). No Templo de Jerusalém, Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda tenra criança, foi apresentado pela primeira vez. Ali, deveriam depois passar-se outros episódios memoráveis de Sua vida. Ofereceu-se Ele, no início de sua existência terrena, a Seu divino Pai, sem a menor reserva, aceitando já os sofrimentos futuros de sua Paixão. Ao mesmo tempo, vinha Ele substituir os antigos sacrifícios de animais da lei antiga, realizados aos milhares, em certos dias, naquele local.
Nossa Senhora da Luz era tradicionalmente invocada pelos cegos (como afirma o padre António Vieira no seu “Sermão do Nascimento da Mãe de Deus”: “Perguntai aos cegos para que nasce esta celestial Menina, dir-vos-ão que nasce para Senhora da Luz […]”), e tornou-se particularmente venerada em Portugal a partir do início do século XV; segundo a tradição, deve-se a um português, Pedro Martins, muito devoto de Nossa Senhora, que teria descoberto uma imagem da Mãe de Deus por entre uma estranha luz, no sítio de Carnide, no termo de Lisboa. Aí, se fundou, de imediato, um convento e Igreja a ela dedicada.A partir daí, a devoção à Senhora da Luz cresceu e, com a expansão do Império Português, também se dilatou pelas regiões colonizadas, com especial destaque para o Brasil, onde é a santa padroeira da cidade de Curitiba, capital do Paraná (Haveria uma imagem de Nossa Senhora da Luz, localizada na capela do primeiro vilarejo da região, a Vilinha, ainda às margens do Rio Atuba (Curitiba).Todas as manhãs esta imagem estava voltada para uma dada direção. Interpretando como uma vontade da Santa, foi feito um contato com o cacique dos índios tingüi, o cacique “Tindiquera”.
Este teria localizado o novo local e colocado uma vara no chão, dizendo “Coré Etuba“, com o significado de “muito pinhão”.
Desta vara teria brotado uma frondosa árvore, sendo este o marco zero da cidade de Curitiba), Guarabira/Paraíba, Pinheiro Machado/Rio Grande do Sul, Itu/São Paulo, Indaiatuba/São Paulo e Corumbá/Mato Grosso do Sul. Em Juazeiro do Norte, no Ceará, ocorre, todos os anos, uma grande romaria em sua homenagem.
Segundo a legislação estabelecida pelo grande profeta bíblico Moisés –– a lei mosáica –– todo o primeiro filho de um casal pertencia ao Senhor. Podia, entretanto, ser resgatado mediante a oferta de certa quantia em dinheiro que era depositada no tesouro da família sacerdotal encarregada do culto no Templo, a dos levitas. Por outra lei, as mães que acabavam de dar à luz seus filhos deveriam apresentar-se no Templo de Jerusalém para um ato de purificação, mediante a oferta de um sacrifício: os ricos, um cordeiro de um ano e um pombo ou rolinha; e os pobres, dois pombos ou duas rolinhas.
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Comentaristas dos textos sagrados observam que nem Jesus nem Maria estavam obrigados a esses preceitos. Pois, Jesus é Deus, infinitamente superior a qualquer lei. E Maria, tendo se conservado Virgem antes, durante e depois do parto, estava acima dessa lei comum. Entretanto, a obediência e a humildade foram sempre suas virtudes características. Por isso, submeteram-se eles, sem vacilação, a essas prescrições legais.
A maternidade da  Virgem, em tudo diferente das outras mulheres, isentava-a mui legalmente das obrigações de  uma lei,  como foi a da purificação.  Davi enche-se de vergonha, quando se lembra da sua origem:  “Em pecados minha mãe concebeu-me”.  O Anjo tinha disse à Maria Santíssima :  “O Espírito virá sobre ti , e a virtude do  Altíssimo te cobrirá com sua sombra”.  São José recebeu do céu a  comunicação consoladora: “O que dela (de Maria) nascerá, é do Espírito Santo”.  Virgem  antes,  durante e  depois do parto, seu lugar não era entre as outras filhas hebréias que no templo se apresentavam para fazer penitência e  procurar perdão do pecado.    Maria, porém,  prefere obedecer à lei e parecer com a pecha comum a  todas. Além disto, sendo de origem nobre, descendente direta de Davi, oferece o sacrifício dos pobres, isto é,  dois pombinhos. Que humildade!
Nesta sua humildade é acompanhada pelo Filho. Ele é Filho do  Altíssimo,  autor e Senhor das leis, não admite para si motivos  que das mesmas o isentem. Ele que  quis ser nosso  semelhante em tudo, exceto o pecado, sujeita-se à Lei da circuncisão, triste lembrança da grande queda dos primeiros pais no paraíso, de que resultou o pecado original. Por ocasião da apresentação de Maria Santíssima  no templo, se deu um fato que merece toda a atenção nossa. Vivia em Jerusalém um santo homem chamado Simeão, provecto em  idade, que com muito fervor anelava pela  vinda do Messias. De Deus  tinha recebido a  promessa  de  não sair desta vida sem ter visto, com os próprios  olhos,  o Salvador do mundo.  Guiado por inspiração divina, viera ao templo no momento em que os pais de Jesus  entraram, em cumprimento das prescrições legais.  Como os  magos conheceram o Salvador, este se fez conhecido a  Simeão, o qual o  tomou nos braços e bendisse a Deus, dizendo:  “Agora, Senhor, deixa partir o vosso servo em paz, conforme vossa palavra. Pois meus olhos  viram a vossa salvação que preparastes  diante dos olhos das nações:  Luz para aclarar os gentios, e glória de Israel, vosso povo!”São José e Maria Santíssima ficaram admirados  do que  dizia do Menino. Simeão abençoou-os e  disse a Maria, sua Mãe:  “Este Menino veio ao mundo para ruína e ressurreição de muitos em Israel e  para ser um sinal de contradição. Vós mesma  tereis a  alma varada por uma aguda espada e  assim serão patenteados os pensamentos ocultos no coração de muitos”.  – Havia também uma profetisa, de nome Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, atraída por um movimento do Espírito Santo, a venerável profetisal, ilustre por sua piedade. Vivera 7 anos casada,  enviuvara e  já estava com 84 anos. Não deixava o templo e  servia a Deus dia e noite, jejuando e rezando. Tendo vindo ao templo na mesma ocasião, deixou-se derramar em louvores ao Senhor e falava do Menino a  todos  que esperavam a  Redenção de  Israel. Cumpridas  todas as  prescrições da lei, José e Maria voltaram para casa.
Os dois anciãos, representantes da sociedade antiga, unem suas vozes e celebram a afortunada vinda do Menino que vem renovar a face da terra.
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Epístola
Malaquias 3,1-4
Vou mandar o meu mensageiro para preparar o meu caminho. E imediatamente virá ao seu templo o Senhor que buscais, o anjo da aliança que desejais. Ei-lo que vem – diz o Senhor dos exércitos. 2Quem estará seguro no dia de sua vinda? Quem poderá resistir quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do fundidor, como a lixívia dos lavadeiros. Sentar-se-á para fundir e purificar a prata; purificará os filhos de Levi e os refinará, como se refinam o ouro e a prata; então eles serão para o Senhor aqueles que apresentarão as ofertas como convêm. E a oblação de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor, como nos dias antigos, como nos anos de outrora.
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Evangelho
Lucas 2, 22,32.
22 Concluídos os dias da sua purificação segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentar ao Senhor, 23 conforme o que está escrito na lei do Senhor: Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor (Ex 13,2); 24 e para oferecerem o sacrifício prescrito pela lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos. 25 Ora, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem, justo e piedoso, esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele.26 Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não morreria sem primeiro ver o Cristo do Senhor. 27Impelido pelo Espírito Santo, foi ao templo. E tendo os pais apresentado o menino Jesus, para cumprirem a respeito dele os preceitos da lei, 28 tomou-o em seus braços e louvou a Deus nestes termos: 29 Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra. 30 Porque os meus olhos viram a vossa salvação 31 que preparastes diante de todos os povos, 32 como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel.
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Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo Rosário.

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No século XIII, o Papa Gregório X exortou os bispos do mundo e seus sacerdotes a pronunciar muitas vezes o Nome de Jesus e incentivar o povo a colocar toda sua confiança neste nome todo poderoso, como um remédio contra os males que ameaçavam a sociedade de então. O Papa confiou particularmente aos dominicanos a tarefa de pregar as maravilhas do Santo Nome, obra que eles realizaram com zelo, obtendo grandes sucessos e vitórias para a Santa Igreja.
A Santa Igreja, mãe próvida e solícita, concede indulgências a quem invocá-lo com reverência, inclusive põe à disposição de seus filhos a Ladainha do Santíssimo Nome de Jesus, incentivando-os a rezá-la com frequência.
Em Lisboa em 1432. Todos os que podiam, fugiam aterrorizados da cidade, levando assim a doença para todos os recantos de Portugal. Milhares de pessoas morreram. Entre os heróicos membros do clero que davam assistência aos agonizantes estava um venerável bispo dominicano, Dom André Dias, o qual incentivava a população a invocar o Santo Nome de Jesus.
Ele percorria incansavelmente o país, recomendando a todos, inclusive aos que ainda não tinham sido atingidos pela terrível enfermidade, a repetir: Jesus, Jesus! “Escrevam este Santo Nome em cartões, mantenham esses cartões sobre seus corpos; coloquem-nos, à noite, sob o travesseiro; pendurem-nos em suas portas; mas, acima de tudo, constantemente invoquem com seus lábios e em seus corações este Santo Nome poderosíssimo”. Num prazo incrivelmente curto o país inteiro foi libertado da epidemia, e as pessoas agradecidas continuaram a confiar com amor no Santo Nome de nosso Salvador. De Portugal, essa confiança espalhou-se para a Espanha, França e o resto do mundo.
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(Atos dos Apostolos) Não tenho prata nem ouro, mas dou-te o que tenho: em nome de Jesus de Nazaré, levanta-te e anda. – Dando um salto, o aleijado pôsse de pé e entrou com eles no Templo, saltando e louvando a Deus. E de tal forma agarrou-se aos dois Apóstolos que em torno destes juntou-se uma multidão estupefata.
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(Isaías 9,5-6)porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz. Seu império será grande e a paz sem fim sobre o trono de Davi e em seu reino. Ele o firmará e o manterá pelo direito e pela justiça, desde agora e para sempre. Eis o que fará o zelo do Senhor dos exércitos.   
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Ladainha do Santíssimo Nome de Jesus
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Kyrie, eleison.
Christe, eleison.
Kyrie, eleison.
Iesu, audi nos.
Iesu, exaudi nos.
Pater de caelis, Deus, miserere nobis.
Fili, Redemptor mundi, Deus,
Spiritus Sancte, Deus,
Sancta Trinitas, unus Deus,
Iesu, Fili Dei vivi
Iesu, splendor Patris,
Iesu, candor lucis aeternae,
Iesu, rex gloriae,
Iesu, sol iustitiae,
Iesu, Fili Mariae Virginis,
Iesu, amabilis,
Iesu, admirabilis,
Iesu, Deus fortis,
Iesu, pater futuri saeculi,
Iesu, magni consilii angele,
Iesu potentissime,
Iesu patientissime,
Iesu obedientissime,
Iesu, mitis et humilis corde,
Iesu, amator castitatis,
Iesu, amator noster,
Iesu, Deus pacis,
Iesu, auctor vitae,
Iesu, exemplar virtutum,
Iesu, zelator animarum,
Iesu, Deus noster,
Iesu, refugium nostrum,
Iesu, pater pauperum,
Iesu, thesaure fidelium,
Iesu, bone pastor,
Iesu, lux vera,
Iesu, sapientia aeternae,
Iesu, bonitas infinita,
Iesu, via et vita nostra,
Iesu, gaudium Angelorum,
Iesu, rex Patriarcharum,
Iesu, magister Apostolorum,
Iesu, doctor Evangelistarum,
Iesu, fortitudo Martyrum,
Iesu, lumen Confessorum,
Iesu, puritas Virginum,
Iesu, corona Sanctorum omnium,
Propitius esto, parce nobis, Iesu.
Propitius esto, exaudi nos, Iesu.
Ab omni malo, libera nos, Iesu.
Ab omni peccato,
Ab ira tua,
Ab insidias diaboli,
A spiritu fornicationis,
A morte perpetua,
A neglectu inspirationeum tuarum,
Per mysterium sanctae Incarnationis tuae,
Per nativitatem tuam,
Per infantiam tuam,
Per divinissimam vitam tuam,
Per labores tuos,
Per agoniam et passionem tuam,
Per crucem et derelictionem tuam,
Per languores tuos,
Per mortem et sepulturam tuam,
Per resurrectionem tuam,
Per ascensionem tuam,
Per sanctissimae Eucharistiae institutionem tuam,
Per gaudia tua,
Per gloriam tuam,
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi,
parce nobis, Domine.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi,
exaudi nos, Iesu.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi,
miserere nobis, Iesu.
Iesu, audi nos.
Iesu, exaudi nos.
Oremus: Domine Iesu Chiristi, qui dixisti: Petite, et accipietis; quaeriti, et invenietis; pulsate et aperietur vobis; quesumus da nobis, petentibus,divinissimi tui amoris affectum, ut te todo corde, ore et opere diligamus et a tua nunquam laude cessemus. Sancti nominis tui, Domine, timorem pariter et amorem facnos habere perpetuum. quia nunquan tua gubernatione destituis,quos in soliditare tuae dilectionis instituis. Qui vivis et regnas in saecula saeculorum. Amén.

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Oh, Nome de Jesus exaltado acima de todo o nome! Oh, gozo dos Anjos! Oh, alegria dos justos! Oh, pavor dos condenados: em Vós está a esperança de qualquer perdão, em Vós, toda a esperança da indulgência, em Vós, toda a expectativa de glória. Oh, Nome dulcíssimo, Vós dais o perdão aos pecadores, renovais os costumes, encheis os corações de doçura divina. Oh, Nome desejável, Nome admirável, Nome venerável, Vós, Nome do Rei Jesus, assim levantais ao mais alto dos Céus os espíritos! Todos os que principam a ter devoção a este Nome, graças a Ele encontram a glória e a salvação, por Jesus Cristo nosso Senhor.
(Homilia de S.Bernardino de Sena, o grande promotor da devoção ao SS. Nome de Jesus)
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Epístola

Atos dos Apóstolos 4,8-12

Então Pedro, cheio do Espírito Santo, respondeu-lhes: Chefes do povo e anciãos, ouvi-me: se hoje somos interrogados a respeito do benefício feito a um enfermo, e em que nome foi ele curado, 10 ficai sabendo todos vós e todo o povo de Israel: foi em nome de Jesus Cristo Nazareno, que vós crucificastes, mas que Deus ressuscitou dos mortos. Por ele é que esse homem se acha são, em pé, diante de vós. 11 Esse Jesus, pedra que foi desprezada por vós, edificadores, tornou-se a pedra angular. 12 Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos.  
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Evangelho
São Lucas 2,21
21 Completados que foram os oito dias para ser circuncidado o menino, foi-lhe posto o nome de Jesus, como lhe tinha chamado o anjo, antes de ser concebido no seio materno.
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Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dia Santo Rosário
NSAparecida

Obrigado Mãe por tudo! E por todos os milagres que por Vossa Poderosíssima Intercessão aconteceram e acontecem em minha vida!

 
 
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Festa de Segunda Classe
Paramentos Brancos
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O Primeiro Concílio de Éfeso foi realizado em 431 na Igreja de Maria em Éfeso, na Ásia Menor o primeiro dos quatro dogmas marianos é o da Maternidade Divina da Santíssima Virgem  Maria. Foi convocado pelo imperador Teodósio II e debateu sobre os ensinamentos cristológicos e mariológicos de Nestório, patriarca de Constantinopla. Cerca de 250 bispos nele estiveram presentes. O concílio foi conduzido em uma atmosfera de confronto aquecido e recriminações, e condenou o nestorianismo como heresia, assim como o arianismo e o sabelianismo ório, patriarca de Constantinopla, defendia que Cristo não seria uma pessoa única, mas que Nele haveria uma natureza humana e outra divina, distintas uma da outra e, por consequência, negava o ensinamento tradicional que a Santíssima Virgem Maria pudesse ser a “Mãe de Deus” (em grego Theotokos), portanto ela seria somente a “Mãe de Cristo” (em grego Cristokos), para restringir o seu papel como mãe apenas da natureza humana de Cristo e não da sua natureza divina. Os adversários de Nestório, liderados por São Cirilo, Patriarca de Alexandria, consideravam isto inaceitável, pois Nestório estava destruindo a união perfeita e inseparável da natureza divina e humana em Jesus Cristo e acusavam Nestório de heresia, para condená-lo, São Cirilo apelou ao Papa Celestino I, o papa concordou e concedeu à Cirilo sua autoridade para depor Nestório e excomungá-lo. Porém, antes da intimação chegar, Nestório convenceu o imperador Teodósio II para convocar um Concílio ecumênico, para que os bispos defendessem os seus pontos de vista opostos. Assim que foi aberto, o Concílio denunciou os ensinamentos Nestório como errôneos e decretou que Jesus era uma apenas pessoa, e não duas pessoas distintas, Deus completo e homem completo, e declarou como dogma, que a Santíssima Virgem Maria devia ser chamada de Theotokos, porque ela concebeu e deu à luz Deus como um homem. Os eventos do concílio criaram um cisma importante, provocando a separação da região da Síria, formando a Igreja Assíria do Oriente.
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Aos 22 de junho de 431, Este dogma foi solenemente definido pelo Concílio de Éfeso  explicitamente a Maternidade Divina de Nossa Senhora. Assim, o Concílio de Éfeso, do ano 431, sendo Papa São Clementino I (422-432) definiu se expressou: “Que seja excomungado quem não professar que Emanuel (Cristo) é verdadeiramente Deus e, portanto, que a Santíssima Virgem Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, pois deu à luz segundo a carne aquele que é o Verbo de Deus”.

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São Bernardo, num de seus sermões sobre a Anunciação, demora-se em observar Maria no exato momento de seu sim à Maternidade Divina, um sim que mudaria os rumos da história, que recriaria o mundo, que possibilitaria uma nova e eterna comunhão entre Deus e as criaturas. “Ó Virgem piedosa, o pobre Adão, expulso do paraíso com sua mísera descendência, implora a tua resposta. Implora-a Abraão, implora-a Davi; e os outros patriarcas, teus antepassados… suplicam esta resposta. Toda a humanidade, prostrada a teus pés, a aguarda. E não é sem razão, pois do teu consentimento depende o alívio dos infelizes, a redenção dos cativos, a libertação dos condenados, a salvação de todos os filhos e filhas de Adão, de toda a tua raça. Responde depressa, ó Virgem! Pronuncia, ó Senhora, a palavra esperada pela terra, pelos infernos e pelos céus. O próprio Rei e Senhor de todos, tanto quanto cobiçou a tua beleza, deseja agora a tua resposta afirmativa, porque por ela decidiu salvar o mundo. Agradaste a ele pelo silêncio, muito mais lhe agradarás pela palavra … Se tu lhe fizeres ouvir a tua voz, ele te fará ver a nossa salvação”.

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São Boaventura (+1274):”Os coros dos anjos, com vozes incessantes, te proclamam: santa, santa, santa, ó Maria, Mãe de Deus, mãe e virgem ao mesmo tempo! Os céus e a terra estão cheios da majestade vitoriosa do Fruto do teu ventre! O glorioso coro dos apóstolos te aclama Mãe do Criador! Celebram-te todos os profetas, porque deste à luz o próprio Deus! A imensa assembléia dos santos mártires te glorifica como Mãe do Cristo. A multidão triunfante dos confessores prostra-se diante de ti, porque és o Templo da Trindade!”.

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Epistola                
Eclesiástico 24, 23-31   
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23.Cresci como a vinha de frutos de agradável odor, e minhas flores são frutos de glória e abundância.24.Sou a mãe do puro amor, do temor (de Deus), da ciência e da santa esperança,25.em mim se acha toda a graça do caminho e da verdade, em mim toda a esperança da vida e da virtude.26.Vinde a mim todos os que me desejais com ardor, e enchei-vos de meus frutos;27.pois meu espírito é mais doce do que o mel, e minha posse mais suave que o favo de mel.28.A memória de meu nome durará por toda a série dos séculos.29.Aqueles que me comem terão ainda fome, e aqueles que me bebem terão ainda sede.30.Aquele que me ouve não será humilhado, e os que agem por mim não pecarão.31.Aqueles que me tornam conhecida terão a vida eterna.
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Evangelho
São Lucas 2,43-51    
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43.Acabados os dias da festa, quando voltavam, ficou o menino Jesus em Jerusalém, sem que os seus pais o percebessem.44.Pensando que ele estivesse com os seus companheiros de comitiva, andaram caminho de um dia e o buscaram entre os parentes e conhecidos.45.Mas não o encontrando, voltaram a Jerusalém, à procura dele.46.Três dias depois o acharam no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os.47.Todos os que o ouviam estavam maravilhados da sabedoria de suas respostas.48.Quando eles o viram, ficaram admirados. E sua mãe disse-lhe: Meu filho, que nos fizeste?! Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição. 49.Respondeu-lhes ele: Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?50.Eles, porém, não compreenderam o que ele lhes dissera.51.Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração.
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Viva Cristo Rei e Maria Rainha.

Rezem todos os dia Santo Rosário
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0710
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Nossa  Senhora do Santo Rosário ou Nossa Senhora do Santíssimo Rosário) é o título recebido pela aparição mariana a São Domingos de Gusmão em 1208 na igreja de Prouille, em que Maria dá o rosário a ele.                                                               .
Em agradecimento pela vitória da Batalha de Muret, Simon de Montfort construiu o primeiro santuário dedicado a Nossa Senhora da Vitória. Em 1572 Papa Pio V instituiu “Nossa Senhora da Vitória” como uma festa litúrgica para comemorar a vitória da Batalha de Lepanto. A vitória foi atribuída a Nossa Senhora por ter sido feita uma procissão do rosário naquele dia na Praça de São Pedro, em Roma, para o sucesso da missão da Liga Santa contra os turcos otomanos no oeste da Europa. Em 1573, Papa Gregório XIII mudou o título da comemoração para “Festa do Santo Rosário” e esta festa foi estendida pelo Papa Clemente XII à Igreja Universal. A festa tem a classificação litúrgica de memória universal e é comemorada dia 7 de outubro, aniversário da batalha de Lepanto.
Nossa Senhora de Fátima (ou Nossa Senhora do Rosário de Fátima) é uma das designações atribuídas à Virgem Maria que, segundo os relatos da época e da Igreja Católica, apareceu repetidamente a três pastores, crianças na altura das aparições, no lugar de Fátima, tendo a primeira aparição acontecido no dia 13 de Maio de 1917. Estas aparições continuaram durante seis meses seguidos, sempre no mesmo dia (excetuando em Agosto). A aparição é associada também a Nossa Senhora do Santo Rosário, sendo portanto aceito a combinação dos dois nomes – dando origem a “Nossa Senhora do Santo Rosário de Fátima” – pois, segundo os relatos, “Nossa Senhora do Santo Rosário” teria sido o nome pelo qual a Virgem Maria se haveria identificado, dado que a mensagem que trazia consigo era um pedido de oração, nomeadamente, a oração do Santo Rosário.
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Epístola
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Provérbios 8,22-24,32-35

22 O Senhor me criou, como primícia de suas obras, desde o princípio, antes do começo da terra. 23 Desde a eternidade fui formada, antes de suas obras dos tempos antigos. 24 Ainda não havia abismo quando fui concebida, e ainda as fontes das águas não tinham brotado.32 E agora, meus filhos, escutai-me: felizes aqueles que guardam os meus caminhos. 33 Ouvi minha instrução para serdes sábios, não a rejeiteis. 34 Feliz o homem que me ouve e que vela todos os dias à minha porta e guarda os umbrais de minha casa! 35 Pois quem me acha encontra a vida e alcança o favor do Senhor.

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Evangelho
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São Lucas 1,26,38

26 No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, 27 a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria. 28 Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo. 29 Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. 30 O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. 31 Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. 32 Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, 33 e o seu reino não terá fim. 34 Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem? 35 Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. 36 Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, 37 porque a Deus nenhuma coisa é impossível. 38 Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela.

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14 de Setembro – Exaltação da Santa Cruz
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Allelúja, alellúja.
Dulce lígnum, dulces clavos, dúlcia ferens póndera: quae sola fuísti digna sustinére Regem caelórum et Dóminum. Allelúja.
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Aleluia, aleluia.
Ó bendito lenho e benditos cravos que tão suave peso sustentastes, só vós fostes dignos de sustentar o Rei e Senhor dos Céus. Aleluia..
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Beijar a Cruz
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O sofrimento que, na intenção de Deus, se destina a purificar-nos, a santificar-nos, a aproximar-nos Dele, a levar-nos ao Céu, produz infelizmente, muitas vezes, efeito todo contrário. É que não sabemos sofrer.
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Quando a cruz vier abater-se sobre nós, quando os espinhos nos ferirem a testa, não devemos morder nem a cruz nem os espinhos, mas beijá-los, pois trazem a Jesus Cristo, nosso divino Mestre. É preciso saber elevar-se acima das tempestades e da tormenta, submeter-se a Deus humildemente, confiar-se a Ele; é preciso ter paciência e esperar o Sol de Justiça, porquanto a vida do homem é uma vida passageira, cheia de provações e de mudanças; feliz de quem coloca a virtude acima das tempestades e das tormentas que lhe irrompem aos pés.
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É preciso sobretudo descansar a sombra da árvore de vida do Calvário, sobre o Peito ardente do Salvador, e procurar viver mais Dele, para Ele e só Nele. É preciso conservar-se ainda mais unido a Deus, à sua Santa Cruz, e aguardar amorosamente a hora divina. Bem sei que, quando estamos sobre a cruz, no meio das dores da crucificação, fica-nos apenas um pensamento, um sentimento, o pensamento e o sentimento de sacrifício; tudo sofre então, tudo se torna em sofrimento, tudo aumenta as provações. Coragem! É mister amar a Jesus Cristo até a morte, até a sepultura, até a ressurreição, até a ascensão triunfante.
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(São Pedro Julião Eymard – pág. 236 e 237 – Volume V)
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12/09
Festa de Terceira Classe 
Paramentos Brancos
1
Lúcifer, não suporta nem a Cruz, nem o nome de Maria.
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“Teu nome, ó Maria, diz Santo Ambrósio, é um bálsamo delicioso que se espalha o cheiro de Graças! ”
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“Ao pronunciar devotamente o Nome de Maria, diz São Bernardo, afasta todos os demônios …” Este é apenas um eco distante da glorificação do Nome de Maria, feita pelos santos.
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Oração.
Sim, ó Maria! Seu nome sublime e admirável saiu do Tesouro da Divindade, pois é toda a Santíssima Trindade lhe deu o nome acima de todos os nomes, depois que seu Divino Filho, e que enriqueceu tanto de majestade e poder, ele deve, por respeito para o nome do santo, quando é proferida, se dobre todo joelho no céu, na terra e do submundo.
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O venerável Marco d’Aviano.
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2O Rei da Polônia, John Sobieski, respondendo às solicitações do Papa, mas também ao seu próprio sentimento, um exército dedicado e altamente ordenada muito forte, apareceu em 10 e 11 de setembro, em colinas ao norte de Viena.Este sacerdote italiano, enviado pelo Papa para o Imperador, um pregador incansável, que continuaram a pregar a cruzada contra os turcos, aconselhou o militar imperial colocar a imagem da Mãe de Deus sobre as insígnias dos exércitos do Sacro Império Romano. O braço estendido, Jean Sobieski Communia muito piedosamente, depois abençoar todo o exército e todo o exército gritou: “Anda vamos vencer  o inimigo com plena confiança na proteção do Céu e com a assistência da Sempre Virgem Maria! “Assim veio a vitória na manhã de 12 de Setembro, 1683. O Venerável Marco d’Aviano em ação de graças pelo auxílio de Nossa Senhora celebrou a Santa Missa e o rei da Polônia havia função acólito. Orações não foram em vão de vitoria.
Após a batalha o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santíssimo nome de Maria, no dia 12 de setembro homenageia Maria, estendeu a festa para toda a Santa Igreja.
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3A vitória dos cristãos, conduzida pelo rei Jan III Sobieski da Polônia, sobre os turcos na Batalha de Viena. Antes da batalha, o rei Jan Sobieski colocou suas tropas sob a proteção da Sempre Virgem Maria. Em 1683, os turcos atacaram Viena, procurando atingir a Europa cristã. Novamente o exército dos países cristãos vence os agressores com a bravura do rei da Polônia, João Sobieski. Logo em seguida a Hungria se liberta de 150  anos de dominação muçulmana.
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4Na manhã do dia da batalha, Sobieski colocou-se, bem como a todo seu exército, sob a proteção de Maria Santíssima. E assistiu à Santa Missa, durante a qual permaneceu rezando com os braços em forma de cruz. Ao sair da igreja, ordenou o ataque. Os turcos fugiram cheios de terror e abandonaram tudo, até o grande estandarte de Maomé, que o vitorioso rei católico enviou ao Soberano Pontífice como homenagem a Maria. Pronunciar o nome de Maria é encanto especial. Em Maria tudo lembra Deus: seu amor, sua bondade, sua misericórdia, sua lealdade, sua disponibilidade. Nela tudo se refere a Cristo: sua simplicidade, sua humildade, o acolhimento da sua Palavra. Celebrar o nome de Maria é beber da água pura da fonte, é abrir o coração para a ternura de Deus e para os nobres sentimentos da fé. Lembrar Maria e seu nome bendito, é penetrar na história do novo Povo de Deus. A festa exemplifica o foco na Mariologia e na veneração da Bem-aventurada Virgem Maria. Em Roma uma das duas igrejas gêmeas no Fórum de Trajano é dedicada ao nome de Maria.
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5Santíssimo Nome de Maria, Festa do Santo Nome de Maria, ou simplesmente Santo Nome de Maria. A festa celebra o nome de Maria, mãe de Jesus. A festa era celebrada apenas em Cuenca, Espanha, quando foi instituída em 1513. Era inicialmente comemorada em 15 de setembro. Em 1587, o Papa Sisto V mudou o dia da celebração para 17 de setembro. O Papa Gregório XV estendeu a festa para a Arquidiocese de Toledo em 1622. Em 1666 os Carmelitas Descalços receberam a permissão para recitar o Ofício do Nome de Maria quatro vezes por ano (dúplice). Em 1671, a festa foi estendida para toda a Espanha. A Festa do Santo Nome de Maria foi fundada pelo Beato Inocêncio XI em ação de graças pela vitória dos exércitos cristãos sobre os turcos em Viena, em 1683. Foi criado para o domingo, que se seguiu à Natividade da Virgem Maria.
Ela foi colocada pelo Papa Pio X em 12 de setembro, durante a grande reforma do Breviário Romano (Constituição Apostólica Divino afflatu 01 de novembro de 1911).
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Leitura da Epístola  
Eclesiástico  24,23-31
23.Cresci como a vinha de frutos de agradável odor, e minhas flores são frutos de glória e abundância.24.Sou a mãe do puro amor, do temor (de Deus), da ciência e da santa esperança,25.em mim se acha toda a graça do caminho e da verdade, em mim toda a esperança da vida e da virtude.26.Vinde a mim todos os que me desejais com ardor, e enchei-vos de meus frutos;27.pois meu espírito é mais doce do que o mel, e minha posse mais suave que o favo de mel.28.A memória de meu nome durará por toda a série dos séculos.29.Aqueles que me comem terão ainda fome, e aqueles que me bebem terão ainda sede.30.Aquele que me ouve não será humilhado, e os que agem por mim não pecarão.31. Aqueles que me tornam conhecida terão a vida eterna.
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Sequência do Santo Evangelho
São Lucas 1, 26,38
26.No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré,27.a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria.28.Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo.29.Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação.30.O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus.31.Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus.32.Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó,33.e o seu reino não terá fim.34.Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem?35.Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus.36.Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril,37.porque a Deus nenhuma coisa é impossível.38.Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela.
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Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo Rosário

Natividade da Virgem by B.E.Murillo

Natividade da Virgem by B.E.Murillo

Festa da Natividade de Nossa Senhora desde muito cedo que foi celebrada no Oriente, e muitos textos dos Padres o atestam; este, que traduzimos, foi pronunciado em Jerusalém, na Igreja situada sobre o local da Piscina Probática, onde Jesus tinha curado o paralítico, e onde a tradição – atestada por alguns apócrifos – situava a casa de Joaquim e de Ana, o que vem a explicar certas alusões feitas ao longo do texto.

É um grande texto panegírico da glória de Maria, por dela ter nascido o Salvador, com expressões que chegam a parecer ter sido produzidas em estado de êxtase. Usando dados do Antigo Testamento, dos Evangelhos e das Cartas, da tradição oral, de outros teólogos e da própria liturgia bizantina, o nosso Doutor passa em revista a importância para a salvação e para a Igreja do nascimento de Maria, louvando «en passant» os seus pais, Joaquim e Ana. Um ponto muito importante: chama e afirma – é dos primeiros a fazê-lo – Imaculada a Maria.

Sem deixar de fazer também todo o desfiar das tipologias de Maria presentes no Antigo Testamento, S. João Damasceno consegue louvar Nossa Senhora como poucos o fizeram, fornecendo a base patrística para muitas das afirmações acerca de Maria e do seu lugar no mistério da Redenção do homem que mais tarde vieram a efetuar-se. A sua influência na Idade Média foi enorme, e pode mesmo dizer-se que a intuição de base do Dogma da Assunção Corporal de Nossa Senhora ao céu está já presente na obra do Damasceno.

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«Do humilde monge e presbítero João Damasceno, Homilia para o nascimento de Nossa Senhora Santíssima, a Mãe de Deus e sempre Virgem Maria».

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natividade de maria (5)

Natividade de Maria – Antonio Zanchi – 1671 – Santuario della Natività di S. Maria em Sombreno – Itália

1. Vinde, todas as nações, vinde, homens de todas as raças, línguas e idades, de todas as condições: com alegria celebremos a natividade da alegria do mundo inteiro! Se os gregos destacavam com todo o tipo de honras – com os dons que cada um podia oferecer – o aniversário das divindades, impostos aos espíritos por mitos mentirosos que obscureciam a verdade, e também o dos reis, mesmo se eles fossem o flagelo de toda a existência, que deveríamos nós fazer para honrar o aniversário da Mãe de Deus, por quem toda a raça mortal foi transformada, por quem o castigo de Eva, nossa primeira mãe, foi mudada em alegria? Com efeito, uma ouviu a sentença divina: «Darás à luz no meio de penas»; a outra ouviu, por seu turno: «Alegra-te, oh Cheia de Graça». À primeira disse-se: «Inclinar-te-ás para o teu marido», mas à segunda: «O Senhor está contigo». Que homenagem ofereceremos então nós à Mãe do Verbo, senão outra palavra? Que a criação inteira se alegre e festeje, e cante a natividade de uma santa mulher, porque ela gerou para o mundo um tesouro imperecível de bondade, e porque por ela o Criador mudou toda a natureza num estado melhor, pela mediação da humanidade. Porque se o homem, que ocupa o meio entre o espírito e a matéria, é o laço de toda a criação, visível e invisível, o Verbo criador de Deus, ao se unir à natureza humana, uniu-se através dela a toda a criação. Festejemos assim o desaparecimento da humana esterilidade, pois cessou para nós a enfermidade que nos impedia a posse dos bens.

2. Mas porque nasceu a Virgem Maria de uma mulher estéril? Àquele que é o único verdadeiramente novo debaixo do sol, como coroamento das Suas maravilhas, deviam ser preparados os caminhos por maravilhas, para que lentamente as realidades mais baixas se elevassem de modo a serem as mais altas. E eis uma outra razão, mais alta e mais divina: a natureza cedeu o lugar à graça, pois ao vê-la tremeu, e não quis mais ter o primeiro lugar. Como a Virgem Mãe de Deus devia nascer de Ana, a natureza não ousou prevenir o fruto da graça, mas permaneceu ela própria sem fruto, até que a graça trouxesse o seu. Era necessário que fosse primogênita aquela que deveria gerar «o Primogênito de toda a criação, no Qual tudo subsiste». Oh Joaquim e Ana, casal venturoso! Toda a criação está em dívida para convosco, porque através de vós ela pôde oferecer ao Criador o dom – entre todos o mais excelso – de uma Mãe venerável, a única digna d’Aquele que a criou. Ditosos os rins de Joaquim, de onde saiu uma semente totalmente imaculada, e admirável o seio de Ana, graças ao qual se desenvolveu lentamente, onde se formou e de onde nasceu uma tão santa criança! Oh entranhas que levastes um céu vivo, mais vasto que a imensidade dos céus! Oh moinho onde foi amassado o Pão vivificante, segundo as próprias palavras de Cristo: «Se o grão de trigo não cair na terra e morrer, ficará só». Oh seio que aleitaste aquela que alimentou o Aquele que alimenta o mundo! Maravilha das maravilhas, paradoxo dos paradoxos! Sim, a inexprimível Encarnação de Deus, cheia de condescendência, devia ser precedida por estas maravilhas. Mas como prosseguirei? O meu espírito está fora de si, dividido que estou entre o temor e o amor; o meu coração bate e a minha língua move-se: não posso suportar a alegria, as maravilhas deitam-me por terra, o ardor apaixonado aprisionou-me num arrebatamento divino. Que o amor vença, que o temor desapareça e que cante a cítara do Espírito: «Alegrem-se os céus, exulte a terra»!

3. Hoje as portas da esterilidade abrem-se, e uma porta virginal e divina avança: a partir dela, por ela, o Deus que está acima de todos os seres deve «vir ao mundo» «corporalmente», segundo a expressão de Paulo, ouvinte dos segredos inefáveis. Hoje, da raiz de Jessé saiu uma vergôntea, de onde surgirá para o mundo uma flor substancialmente unida à divindade.

Hoje, a partir da natureza terrena, um céu foi formado sobre a terra por Aquele que outrora o tornara sólido separando-o das águas, elevando o firmamento nas alturas. É um céu verdadeiramente mais divino e mais elevado que o primeiro, porque Aquele que no primeiro céu criara o sol Se elevou a Si próprio neste novo como um sol de justiça. Sim, há n’Ele duas Naturezas, apesar da loucura dos Acéfalos, e uma só Pessoa, mesmo que os Nestorianos se encolerizem! A Luz eterna, proveniente da Luz eterna antes de todos os séculos, o Ser, imaterial e incorpóreo, tomou um corpo desta mulher, e como um esposo que sai para fora de seu tálamo, assim fez Deus, tornando-se como tal filho da raça terrena. Como um gigante Ele alegra-Se de percorrer os caminhos da nossa natureza, de Se encaminhar, pelos Seus sofrimentos, para a morte, de atar o homem forte e lhe arrancar os seus bens, isto é, a nossa natureza, e de reunir na terra celeste a ovelha errante.

Hoje, o «Filho do Carpinteiro», O Verbo universalmente ativo d’Aquele que tudo construiu por Ele, o Braço Poderoso do Deus Altíssimo, querendo afiar pelo Espírito – que é como o seu dedo – a lâmina embotada da natureza, construiu para Si uma escada viva, cuja base está firmada na terra, com o cimo a tocar os céus: Deus repousa sobre ela. É dela a figura que Jacob contemplou, e por ela Deus desceu da Sua imobilidade, ou melhor, inclinou-Se com condescendência, tornando-Se assim «visível sobre a terra, e conversando com os homens». Estes símbolos representam a Sua vinda ao meio de nós, o seu abaixamento condescendente, a sua existência terrena, o verdadeiro conhecimento d’Ele próprio, dado a todos aqueles que estão sobre a terra. A escada espiritual, a Virgem, está fixa na terra, pois na terra ela tem a sua origem, mas a sua cabeça eleva-se até ao céu. A cabeça de toda a mulher é o homem, mas para ela, que não conheceu homem, Deus Pai ocupa o lugar de sua cabeça: pelo Espírito Santo, Ele concluiu uma aliança e, como semente divina e espiritual, enviou o Seu Filho e Verbo, força omnipotente. Em virtude do beneplácito do Pai, não é por uma união natural, mas é superando as leis da natureza, pelo Espírito Santo e pela Virgem Maria, que o Verbo Se fez carne e habitou entre nós. É por aqui que se vê que a união de Deus com os homens se cumpre pelo Espírito Santo.

«Quem puder entender, que entenda»; «Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça». Descartemos as representações corporais: a divindade jamais sofreu mudança, oh homens! Aquele que sem alteração gerou Seu Filho a primeira vez segundo a natureza, sem alteração O gera agora de novo segundo a economia. Disto é testemunha a palavra de David, antepassado de Deus: «O Senhor disse-me: “Tu és Meu Filho, Eu hoje te gerei”». Ora este «hoje» não tem cabimento na geração antes de todos os séculos, pois esta deu-se fora do tempo.

4. Hoje é edificada a Porta do Oriente, que dará a Cristo «entrada e saída», e «essa porta estará fechada». Nela está Cristo, «a Porta das Ovelhas», e «o Seu nome é Oriente»: por Ele obtivemos acesso ao Pai das Luzes. Hoje sopraram as brisas anunciadoras duma alegria universal. Alegre-se o céu nas alturas, que debaixo dele «exulte a terra», que os mares do mundo bramam, porque no mundo acaba de ser concebida uma concha, a qual pelo clarão celeste da divindade conceberá em seu seio, gerando a pérola inestimável, Cristo. Dela sairá o «Rei da Glória», revestido da púrpura de sua carne, para «visitar os cativos», e «proclamar a libertação». Que a natureza transborde de alegria: a cordeirinha vem ao mundo, graças à qual o Pastor revestirá a ovelha, tirando-lhe as túnicas da antiga mortalidade. Que a virgindade forme os seus coros de dança, pois nasceu a Virgem que, segundo Isaías, «conceberá e dará à luz um filho, que será chamado Emmanuel, o que quer dizer “Deus conosco”». Aprendei, oh Nestorianos, e fugi à vossa derrota: «Deus conosco»! Não é nem só um homem, nem um mensageiro, mas o Senhor em Pessoa que virá e nos salvará.

«Bendito o que vem em nome do Senhor», «o Senhor é Deus, e iluminou-nos»; «Celebremos uma festa» para o nascimento da Mãe de Deus. Rejubila, Ana, «estéril que não davas à luz; ri de alegria e de júbilo, tu que não tiveste as dores de parto»! Rejubila, Joaquim: de tua filha «um menino nos nasceu, um filho nos foi dado (…) e ser-lhe-á dado este nome: Anjo do grande Conselho (quer dizer, Salvação do Universo) Deus Forte». Que Nestório fique vermelho e meta a mão sobre a boca. A criança é Deus; portanto, como não seria ela a Mãe de Deus, ela que O colocou no mundo? «Se alguém não reconhece por Mãe de Deus a Santa Virgem, está separado da divindade». A frase não é minha, mas no entanto pertence-me: recebi-a como precioso tesouro e herança teológica do meu pai Gregório, o Teólogo.

5. Oh Joaquim e Ana, casal bem-aventurado e verdadeiramente sem mancha! Pelo fruto do vosso seio fostes reconhecidos, segundo a palavra do Senhor: «Pelos seus frutos os reconhecereis». A vossa conduta foi agradável a Deus e digna daquela que nasceu de vós. Tendo levado uma vida casta e santa, engendrastes a jóia da virgindade, aquela que deveria permanecer Virgem antes, durante e depois do parto, a única sempre Virgem de espírito, de alma e de corpo. Convinha, de fato, que a virgindade saída da castidade produzisse a Luz única e monógena, corporalmente, pela benevolência d’Aquele que A gerou sem corpo – o Ser que não gera, mas que é eternamente gerado, para Quem ser gerado é a única qualidade própria da Sua Pessoa. Oh que maravilhas, e que alianças estão neste menino! Oh Filha da esterilidade, virgindade que engravida, nela se unirão divindade e humanidade, sofrimento e impassibilidade, vida e morte, para que em todas as coisas o menos perfeito seja vencido pelo melhor! E tudo isto para minha salvação, oh Mestre! Amas-me tanto que não realizaste esta salvação nem pelos anjos, nem por nenhuma outra criatura, mas tal como já a minha criação, também a minha regeneração foi Tua obra pessoal. Assim, eu exulto, faço despertar a minha alegria e o meu júbilo, volto à fonte das maravilhas, e embriagado de uma torrente de alegria, toco de novo a cítara do espírito e canto o hino divino da natividade.

6. Oh Joaquim e Ana, casal castíssimo, «par de rolas» no sentido místico! Observando a lei da natureza, a castidade, merecestes os dons que ultrapassam a natureza: gerastes no mundo uma Mãe de Deus sem esposo. Depois de uma existência santa e piedosa numa natureza humana, gerastes uma filha superior aos anjos e que agora reina sobre eles. Oh Filha graciosíssima e dulcíssima, oh lírio nascido entre os espinhos, da descendência nobilíssima e real de David! Por ti a realeza encheu-se com o sacerdócio; por ti foi cumprida «a mudança da Lei», e revelado o espírito escondido sob a letra, pois que a dignidade sacerdotal passou da tribo de Levi à de David. Oh Rosa nascida dos espinhos do judaísmo, que enche o universo de um perfume divino! Oh filha de Adão e Mãe de Deus! Ditosos os rins e o seio de onde surgistes! Ditosos os braços que te levaram, os lábios que experimentaram os teus castos beijos, os lábios de teus pais, para que em tudo tu fosses eternamente virgem. Hoje é para o mundo o início da salvação. «Aclamai o Senhor, terra inteira, cantai, exultai, tocai instrumentos». Elevai a vossa voz, «fazei-a escutar sem temor», porque na Santa Probática nos nasceu uma Mãe de Deus, de quem quis nascer o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.

Tremei de alegria, oh montanhas, naturezas racionais, voltadas para o cume da contemplação espiritual: a montanha do Senhor, refulgente, vem ao mundo, ultrapassando todas as montanhas e todas as colinas, isto é, os anjos e os homens; dela, sem intervenção da mão do homem, Cristo quis desprender-Se, Ele que é a Pedra Angular, Pessoa Una, que aproxima em Si aquilo que está distante: a divindade e a humanidade, os anjos e os homens, os gentios e o Israel carnal num só Israel espiritual. «Montanha de Deus, montanha de abundância, montanha que Deus escolheu para Seu repouso. Os carros de Deus vêm aos milhares, com seres refulgentes» da graça divina, querubins e serafins. Oh cume mais santo que o Sinai, não coberto nem por fumo, nem por trevas, nem por tempestades, nem sequer por fogo perecível, mas pelo esplendor que ilumina do Santíssimo Espírito. No Sinai, o Verbo de Deus tinha gravado a Lei sobre tábuas de pedra, pelo Espírito, dedo divino; aqui, pela ação do Espírito Santo e pelo sangue de Maria, o próprio Verbo encarnou, dando-se á nossa natureza como um remédio de salvação mais eficaz. Antes, era o maná; aqui, está Aquele que deu o maná e a sua doçura.

Que a morada célebre que Moisés construiu no deserto com matérias preciosas de todo o tipo, e ainda antes dela a morada do nosso pai Abraão, se apaguem diante da morada de Deus, viva e espiritual. Ela foi o repouso, não só da energia divina, mas da Pessoa do Filho, que é Deus, presente substancialmente. Que a arca recoberta de ouro reconheça que não tem nada de comparável com Maria, e da mesma forma a urna de ouro com o maná, o candelabro, a mesa e todos os objetos do culto antigo: eles foram honrados porque todos a prefiguravam, como sombras do verdadeiro protótipo.

7. Hoje, o Criador de todas as coisas, Deus Verbo, fez um livro novo, saído do coração do Pai para ser escrito, como se fosse por uma cana, pelo Espírito, que é a língua de Deus. Esse livro foi dado a um homem que conhecia as letras, mas que não o lia. José, com efeito, não conheceu Maria, nem a significação do mistério em si. Oh filha toda santa de Joaquim e de Ana, que escapaste aos olhares dos Principados e das Potestades e aos «assédios inflamados do maligno», e que viveste no tálamo do Espírito, para seres guardada intacta e te tornares esposa de Deus e Mãe de Deus por natureza! Oh filha toda santa, que apareceste nos braços de tua mãe, tu és o terror das potências de rebelião! Oh filha toda santa, alimentada do leite maternal, e rodeada das legiões angélicas! Oh filha amada de Deus, honra de teus pais, gerações de gerações te proclamam bem aventurada, como tu própria o afirmaste com verdade! Oh filha digna de Deus, beleza da natureza humana, reabilitação de Eva, nossa primeira mãe! Por teu nascimento, aquela que tombara foi redimida. Oh filha toda santa, esplendor do sexo feminino! Se a primeira Eva, com efeito, foi culpada de transgressão, e se por sua causa «a morte fez a sua entrada no mundo» (porque ela se colocou ao serviço da serpente contra o nosso primeiro pai), Maria, que se fez a serva da vontade divina, enganou a serpente enganadora e introduziu no mundo a imortalidade.

Oh filha sempre Virgem, que pode conceber sem intervenção humana, porque Aquele que concebeste tem um Pai Eterno! Oh filha da raça terrena, que levas em teus braços divinamente maternais o Criador! Os séculos rivalizavam entre si para saber qual deles se honraria de te ver nascer, mas o desígnio fixado antecipadamente de Deus, «que fez os séculos» colocou fim a essa rivalidade, e os últimos tornaram-se os primeiros, eles a quem foi atribuída a felicidade da tua Natividade. Na verdade, tu és mais preciosa que toda a criação, pois só de ti o Criador recebeu em partilha as primícias da nossa matéria humana. A Sua Carne foi feita da tua carne, o Seu Sangue do teu sangue; Deus alimentou-Se do teu leite, e os teus lábios tocaram os lábios de Deus. Oh maravilhas incompreensíveis e inefáveis! Na presciência da tua dignidade, amou-te o Deus do universo; porque te amou, predestinou-te, e nos «últimos tempos», chamou-te à existência, e constituiu-te Mãe para gerar um Deus e alimentar o Seu próprio Filho e Verbo.

8. Diz-se que os contrários servem de remédio contra os contrários, mas os contrários não nascem uns dos outros. Mesmo se cada ser é na sua natureza um tecido de contrários, ele próprio provém da predominância da causa que o fez nascer. De fato, da mesma forma que o pecado, ao operar para mim a morte por meio do bem, mostra em extremo a sua natureza pecaminosa, da mesma forma o Autor dos bens, pelo meio dos contrários desses bens, opera para nós o bem que Lhe é natural, porque «onde abundou o pecado, superabundou a graça». Se tivéssemos conservado a nossa primeira comunidade com Deus, não teríamos merecido a Segunda, maior e mais extraordinária. De fato, pelo pecado, fomos julgados indignos da primeira união, porque não conservamos o dom recebido. Mas pela compaixão de Deus fomos perdoados e tomados sob a Sua guarda, para que a comunhão fosse assegurada, porque nos quer conservar unidos a Ele, sem nenhuma beliscadura, Aquele que nos recebeu sob a Sua proteção.

Sim, toda a terra pejava de fornicações, e o povo do Senhor, possuído «pelo espírito de fornicação», errava longe do Senhor seu Deus, longe d’Aquele que o tinha adquirido «com mão forte e braço poderoso», que com sinais e prodígios o tinha feito sair da «casa da escravidão» do Faraó, o tinha conduzido através do Mar Vermelho e guiado «por uma nuvem de dia, e noite inteira por um luzeiro de fogo». O seu coração voltava-se para o Egito, e o povo do Senhor tornou-se «aquele que não é o povo do Senhor»; aquele que obtinha misericórdia, tornou-se aquele que não a merecia, e aquele que era amado, tornou-se aquele que não era amado.

Eis então a razão pela qual uma Virgem vem agora ao mundo, como adversária da ancestral fornicação; ela foi dada como esposa ao próprio Deus, e gerou a misericórdia de Deus. Assim foi estabelecido como povo de Deus aquele que até aí não era o Seu povo; excluído da Sua misericórdia, obteve misericórdia; não amado, é agora amado. Dela nasce o Filho Bem-Amado de Deus, no Qual Ele colocou as Suas complacências.

9. «Uma vinha de belos sarmentos» foi gerada no seio de Ana, e ela produziu um fruto cheio de doçura, fonte de um néctar abundante de vida eterna para os habitantes da terra. Joaquim e Ana fizeram-se semeadores de justiça, e recolheram um fruto de vida. Eles foram iluminados pela luz do conhecimento, procuraram o Senhor, e daí lhes veio um fruto de justiça. Que a terra tenha confiança! «Filhos de Sião, alegrai-vos no Senhor vosso Deus, porque o deserto ficou verdejante»: aquela que era estéril deu o seu fruto; Joaquim e Ana, como montanhas místicas, fizeram brotar vinho doce. Permanece na alegria, oh Ana venturosa, por teres dado à luz uma mulher, porque essa mulher será a Mãe de Deus, porta da luz, fonte de vida, e reduzirá nada a acusação que pesava sobre a mulher.

Os homens nobres do povo desejarão vê-la, e diante dessa mulher os reis das nações prostrar-se-ão, oferecendo-lhe presentes. Entrega-la-ás a Deus, rei universal, adornada da beleza das suas virtudes como de «brocados de ouro», ornada da graça do Espírito, de cuja glória ela se reveste. A glória da mulher é o homem, e é-lhe dada a partir de fora; mas a glória da Mãe de Deus é interior, e é fruto do seu seio.

Oh mulher amabilíssima, três vezes bem-aventurada! «Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre»! Oh mulher, filha do Rei David e Mãe de Deus, Rei do Universo! Oh divina e vivente obra-prima, na qual Deus Criador Se alegrou, de quem o espírito é governado por Deus e atento somente a Ele, e de quem todo o desejo se eleva apenas Àquele que é o único amável e desejável, que não te encolerizas senão contra o pecado e contra aquele que o fez nascer! Terás uma vida superior à natureza, porque não é para ti que a terás, já que também não é para ti que tu nasceste. Terás antes a tua vida para Deus, e é por causa d’Ele que vieste à vida, por causa de Quem servirás à salvação universal, para que o antigo desígnio de Deus, a Encarnação do Verbo e a nossa divinização, se cumpra através de ti. A tua vontade é alimentares-te das palavras divinas e fortificares-te com a sua seiva, como «oliveira fecunda na casa de Deus», como «árvore plantada à beira das águas» do Espírito, como árvore da vida, que deu o seu fruto no tempo que lhe foi destinado: o fruto que é o Deus Encarnado, Vida eterna de todos os seres. Guardas todos os pensamento gostoso e útil para a alma, mas todo aquele que é supérfluo e que seria um perigo para a alma tu o rejeitas ainda antes de o provar. Os teus olhos «estão sempre voltados para o Senhor», olhando a luz eterna e inacessível. Teus ouvidos escutam a palavra de Deus e deleitam-se com a cítara do Espírito; foi por eles que o Verbo entrou para Se fazer Carne. Tuas narinas respiram deliciadas o aroma dos perfumes do Esposo, que é Ele próprio um perfume, espontaneamente derramado para perfumar a Sua humanidade: «O teu nome é um perfume que se espalha», diz a Escritura. Os teus lábios louvam o Senhor, e estão ligados aos Seus lábios. A tua língua e o teu palato discernem as palavras de Deus e saciam-se com a suavidade divina. Oh coração puro e sem mácula, que vê e deseja o Deus imaculado!

É neste seio que o Ser ilimitado veio habitar; do seu leite se alimentou Deus, o Menino Jesus. Oh porta de Deus, sempre virginal! Eis as mãos que suportam Deus, e esses joelhos que são um trono mais elevado que os querubins: por eles «as mãos fracas e os joelhos trêmulos» foram fortalecidos. Os seus pés são guiados pela lei de Deus como por uma lâmpada que brilha, e correm após Ele sem se voltarem, até que tenham feito chegar aquela que ama junto do Bem-Amado. Em todo o seu ser ela é o tálamo do Espírito, a Cidade de Deus Vivo, que «alegra os canais do rio», isto é, as correntes dos carismas do Espírito: «Toda bela, toda próxima de Deus». Dominando os querubins, mais alta que os serafins, próxima de Deus: é a ela que esta palavra se aplica!

10. Oh maravilha que ultrapassa todas as maravilhas: uma mulher é colocada mais alto que os serafins, porque Deus surgiu abaixado «um pouco inferior aos anjos»! Que o sapientíssimo Salomão se cale, e não torne a dizer: «Nada de novo debaixo do sol». Oh Virgem cheia da graça divina, templo santo de Deus, que o Salomão espiritual, o Príncipe da Paz, construiu e habita, o ouro e as pedrarias não te dão mais beleza, mas mais que o ouro, é o Espírito que te dá o teu esplendor. Por pedrarias, tens a pérola preciosíssima, Cristo, a Brasa da divindade. Suplica-Lhe que toque os nossos lábios, para que, purificados, Lhe cantemos, com o Pai e o Espírito, a natureza única da Divindade em três Pessoas: «Santo, Santo, Santo, Senhor Deus dos Exércitos».

Santo é o Pai, que quis que em ti e por ti se cumprisse o mistério que predeterminara antes de todos os séculos. Santo é o Forte, o Filho de Deus, e Deus Monógeno, que hoje te faz nascer, primogênita de uma mãe estéril, para que, sendo Ele próprio Filho Único do Pai e «Primogênito de toda a criatura», possa nascer de ti, como Filho único de uma Virgem-Mãe, «Primogênito de uma multidão de irmãos», semelhante a nós e por ti participante da nossa carne e do nosso sangue. Apesar disso, não te fez nascer de um só pai ou de uma só mãe, para que ao único Monógeno fosse reservado em perfeição o privilégio de Filho Único: Ele é, com efeito, Filho Único, somente Ele de um Pai só, somente Ele de uma Mãe só.

Santo é o Imortal, o Espírito de toda a santidade, que pelo orvalho da Sua Divindade te guardou intocada pelo fogo divino: é isto que significou antecipadamente a sarça ardente.

Eu te saúdo, oh Porta das Ovelhas, morada santíssima da Mãe de Deus. Eu te saúdo, oh Porta da Ovelhas, domicílio ancestral da tua rainha, antigamente redil das ovelhas de Joaquim, mas hoje tornada Igreja do rebanho espiritual de Cristo e imitação do céu. Outrora recebias uma vez por ano um anjo de Deus, que agitava as águas e devolvia a saúde a um só homem, livrando-o do mal que o paralisava; agora recebes multidões de potências celestes que celebram conosco a Mãe de Deus, Abismo de Maravilhas, fonte da cura universal. Tu recebeste, não um anjo servidor, mas o «Anjo do Grande Conselho», descido sem ruído algum sobre o velo de lã como uma chuva de bondade, Aquele que renovou toda a natureza, doente e a ponto de se perder, com uma saúde inalterável e uma vida sem velhice: por Ele, o paralítico que em ti jazia saltou como um veado. Eu te saúdo, oh preciosa Porta das Ovelhas, e que se multiplique a tua graça!

Eu te saúdo, Maria, filha dulcíssima de Ana. De novo para ti o amor me impele. Como descrever o teu caminhar cheio de seriedade, os teus vestidos, a graça de teu rosto, a maturidade do discernimento num corpo juvenil? A tua forma de estar foi modesta, distante de todo o luxo e de toda a indolência; o teu caminhar era grave, sem precipitação, sem preguiça; o teu caráter era sério, temperado de júbilo, de uma perfeita reserva a propósito dos homens – disto é testemunho a inquietação que te surgiu aquando da proposta inesperada do anjo. A teus pais dócil e obediente, tinhas humildes sentimentos nas mais altas contemplações, palavra amável, provinda de uma alma pacífica. Em resumo: que outra digna morada senão tu para Deus? Com razão todas as gerações te proclamam bem-aventurada, oh glória insigne da humanidade! Tu és a honra do sacerdócio, a esperança dos cristãos, a planta fecunda da virgindade, porque é através de ti que o renome da virgindade se estendeu aos confins do mundo. «Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o Fruto do teu ventre». Aqueles que confessam a tua maternidade divina são benditos, e malditos aqueles que a negam.

12. Joaquim e Ana, casal abençoado, recebei de mim estas palavras de aniversário. Oh filha de Joaquim e de Ana, oh Soberana, acolhe a palavra deste teu servo pecador, mas inflamada pelo amor, e para quem tu és a única esperança de alegria, a protetora da vida e, junto de teu Filho, a reconciliadora e firme garantia da salvação. Possa tu aliviar-me do fardo dos meus pecados, dissipar a névoa que obscurece o meu espírito e o peso que me agarra à matéria. Possas tu deter as tentações, governar felizmente a minha vida e conduzir-me pela mão até à felicidade do Alto. Concede ao mundo a paz, e a todos os habitantes ortodoxos desta cidade uma alegria perfeita e a salvação eterna, pelas orações de teus pais e de todo o Corpo da Igreja. Assim seja, assim seja! «Salve, oh cheia de graça, o Senhor está contigo! Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto de teu ventre», Jesus Cristo, o Filho de Deus. A Ele a Glória, com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.

Tradução: Seminário de Sintra (Portugal)

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Visto em: http://farfalline.blogspot.com.br/2013/09/8-de-setembro-natividade-da-virgem.html

Visto em: http://vashonorabile.blogspot.com.br/2013/09/homilia-sobre-natividade-de-maria.html

02/09 Sexta-feira 
Festa de Terceira Classe
Paramentos Brancos

0209-1

O Rei Estêvão, o Grande, ou Santo Estêvão da Hungria (Szent István király em húngaro), c. 975 – 15/08/1038, foi o primeiro rei da Hungria. Seu pai foi o chefe tribal magiar Géza; sua mãe chamava-se Sarolt, e Estêvão recebeu ao nascer o nome de Vajk (que significa “herói”). Nascido na cidade de Esztergom, Vajk foi batizado aos 10 anos de idade juntamente com seu pai por Santo Adalberto de Praga, como pré-condição para receber de Roma a coroa da Hungria, e então renomeado Estêvão, em homenagem ao mártir da igreja primitiva, Santo Estêvão protomártir. Desde este momento o cristianismo firmou e cresceu entre o povo magyar e pouco depois sucedeu a seu pai no governo de seu povo Estêvão. No ano de 995, aos vinte anos de idade, recebeu por esposa Gisela, irmã do santo imperador Henrique II, tiveram três filhos, cujos nomes a história registrou: os varões Américo (Imre) e Otão (Ottó) e a filha Edviges (Hedvig).

Em momento tão decisivo, certamente experimentou os atrativos de uma vida de liberdade e independência de todo jugo religioso, conforme os antecedentes de seu povo nômade e guerreiro; porém, preparado já pelo batismo e  pela primeira educação recebida de seu pai e  atraído depois pelo afeto e pelas razões de sua esposa cristã, Gisela, decidiu-se pelo cristianismo e se propôs desde o início fazer de seu povo um povo profundamente cristão. Nos primeiros anos de seu governo deu as mais claras provas de seu espírito guerreiro e do indomável valor de seu braço, pois em uma série de guerras com rivais de sua própria tribo e com alguns povos vizinhos, assegurou definitivamente sua posição e sua independência. Isto foi de extraordinária importância em todos os passos que foi dando sucessivamente,  asegurando-lhe o prestígio militar que necessitava, cortando pela raiz todo princípio de rebelião contra a evidente superioridade que todos lhe reconheceram.

Uma vez assegurada sua posição, dedicou-se plenamente à consolidação do cristianismo em seus territórios, para o qual lhe serviu de  instrumento o monge Ascherik ou Astrik. Nomeado primeiro arcebispo dos magyares com o nome de Anastácio, Astrick se dirigiu a Roma, com a dupla comissão de Santo Estevão, de obter do Papa São Silvestre II (999-1003), antes de tudo, a  organização de uma hierarquia completa na Hungria e, em segundo lugar, a concessão do título de rei para Estevão, segundo lhe instava a nobreza e a parte mais saudável de seu povo.

O Papa São Silvestre II viu claramente a importância de ambas comissões, destinadas à consolidação definitiva do cristianismo em um grande povo e, assim, com entendimentos com o jovem imperador Otão III, que se encontrava então em Roma,  redigiu uma bula, na qual aprovava os bispos propostos por Estevão e lhe concedia com toda solenidade o título de rei,  enviando para ele uma corôa real juntamente com sua bênção apostólica. Santo Estevão saiu ao encontro do embaixador de Roma, escutou de pé e com grande respeito a leitura da bula pontifícia, e no Natal do ano 1000 foi solenemente coroado rei.

Desde este momento se pode dizer que o novo rei Santo Estevão da Hungria entregou-se totalmente à rude tarefa de converter o povo dos magyares em um dos povos mais profundamente cristãos da Europa medieval. Antes de tudo, era necessário instruir convenientemente a maior parte de seus súditos, que não conheciam o Evangelho e que, pelo contrário, estavam imbuídos nas práticas pagãs.  Para este trabalho de  evangelização de seu povo, Estevão pediu ajuda aos monges cluniacenses, então em grande fervor e  apogeu, e, efetivamente, seu célebre abade Santo Odilon, que lhe concedeu grande quantidade de missionários.

Por outro lado, organizou o rei uma série de novas dioceses. Seu primeiro plano foi estabelecer os doze projetos, porém,  logo viu que devia proceder gradualmente, à medida que o clero ia capacitando-se para isso e  as circunstâncias o permitiam. A primeira foi a de Vesprem. Não muito depois da Esztergom, que foi constituída em sede primada, e assim foram seguindo outras.  Paralelamente, Santo Estevão foi o grande construtor de igrejas. Assim, construiu a catedral metropolitana de Esztergom, outra em honra à Santíssima Virgem em Szekesfehervar, onde posteriormente eram coroados e enterrados os reis da Hungria. Santo Estevão estabeleceu neste lugar sua residência, pelo qual foi denominado Alba Regalis.

Desta forma continuou avançando rapidamente a cristianização da Hungria, que constitui a grande obra de Santo Estevão. Os principais instrumentos foram os monges de São Bento. Estevão completou a construção do grande mosteiro de São Martinho, começado por seu pai. Este mosteiro, existente todavia em nossos dias, conhecido com os nomes de Martinsberg ou Pannonhalma, foi sempre o centro da Congregação beneditina na Hungria.

Em seu empenho, de cristianizar seu reino, protegeu a vida de piedade do povo em todas suas manifestações. Por isto, além de construir igrejas e mosteiros, organizou santuários dedicados à Santíssima Virgem, cuja devoção favoreceu e fomentou, ajudou e protegeu as peregrinações a Jerusalém e a Roma e, em geral, tudo o que significava fervor e vida cristã.  Ao contrário, perseguiu e procurou abolir, às vezes com excessivo rigor os costumes bárbaros ou supersticiosos do povo: reprimiu com severos castigos a blasfêmia, o adultério, o assassinato e  outros crimes ou pecados públicos. Enquanto por um lado se mostrava humilde, simples e acessível aos pobres e necessitados, era intransigente com os degenerados  e rebeldes para com a religião.

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Após derrotar os nobres pagãos que se lhe opunham e unificar as tribos magiares, reza a tradição que Estêvão recebeu do Papa Silvestre II uma coroa de ouro e pedras preciosas (a qual, denominada “Santa Coroa”, tornou-se o símbolo do país), juntamente com uma cruz apostólica e uma carta de bênção em janeiro de 1001, com o que o papado o reconhecia como um rei cristão na Europa.

Uma de suas ocupações favoritas era distribuir esmolas aos pobres, com os que se mostrava indulgente e paternal.  Refere-se que, em certa ocasião, um grupo de mendigos caíram sobre ele, o maltrataram e roubaram o dinheiro que tinha destinado para os demais. O rei tomou com mansidão e  bom humor este atropelo,  porém,  os nobres trataram de impedir que se expusesse de novo sua pessoa a  outro ato semelhante. Sem embargo, a despeito de todos, ele renovou sua promessa de não negar nunca esmola a quem se lhe pedisse. Precisamente, este insigne exemplo de virtude, era o que mais influxo exercia sobre todos os que entravam em contato com ele.

Sobre esta base da mais profunda religiosidade, Santo Estevão deu uma nova legislação e organizou definitivamente a seu povo. Com o objeto de obter a mais perfeita unidade, aboliu as divisões de tribos e dividiu o reino em trinta e nove condados, correspondentes às divisões eclesiásticas. Além disso, introduzindo com algumas limitações o sistema feudal, uniu fortemente a sua causa à nobreza.  Por isto, Santo Estevão deve ser considerado como o fundador da verdadeira unidade da Hungria.

Certamente teve opositores e descontentes dentro e fora de seu território.  Por isso, ainda que tão decidido amigo da paz, teve que fechar mão de seus extraordinários dotes de guerreiro para manter a unidade e defender seus direitos. Assim, venceu a Gyula de Transilvânia, e quando em 1030 o imperador Cornado II da Alemanha invadiu a Hungria, Santo Estevão ordenou penitências e orações em todo o reino e com tanto valor se opôs com seu exército às forças invasoras, que Conrado II teve que abandonar todo o território com incalculáveis perdas.  Por outro lado, teve que manter seus direitos frente à Polônia, ajudou nos Balcanes aos bizantinos e  realizou constantemente uma política de defesa dos interesses de seu território.

Os últimos anos de sua vida foram perturbados por infelicidades domésticas e  dificuldades internas. Seu filho e sucessor, Santo Emerico, a quem Estevão tratava já de  entregar parte do governo, morreu inesperadamente em  1031.  As crônicas referem que,  ao ter notícia desta tragédia, o santo rei exclamou: “Deus o amava muito, e por isto o levou consigo”, porém, de fato, caiu em grande desalento. Mas as consequências desta tragédia foram sumamente lamentáveis. Os últimos anos de vida de Santo Estevão foram uma verdadeira teia de intrigas com relação à sucessão, que foram constantemente crescendo à medida que piorava a saúde de Estevão pois seus filhos já haviam morrido.

Entre os quatro pretendentes que se apresentaram o que mais distúrbios ocasionou foi o filho de Gisela, irmã do rei, mulher ambiciosa e cruel, que vivia na corte húngara e se propôs a todo custo apoderar-se do trono da Hungria. As constantes tristezas que todas estas coisas ocasionavam ao santo rei foram minando sua saúde, até que,  no ano de 1038, na festa da Assunção, entregou sua alma a Deus. foi enterrado em Szekesfehervar, ao lado de seu filho Emerico, enquanto sua esposa, Gisela,  se retirava para o convento das beneditinas de Passau.

Rapidamente Estevão foi objeto da mais entusiasta veneração, pois o povo cristão mantinha a mais viva recordação de suas extraordinárias qualidades como guerreiro, como governante, como pai de seus súditos e  como rei ideal cristão, mas sobretudo, estimava e  louvava sua extraordinária piedade e espírito religioso, sua submissão à hierarquia e, particularmente ao Romano Pontífice, a quem se declarava devedor da coroa e de quem se declarou súdito feudal, e  seu entranhável amor aos pobres.  Já no ano 1083, suas relíquias, juntamente com as de seu filho Emerico, foram postas à veneração pública durante o governo de São Gregório VII, o qual equivalia à canonização dos nossos tempos. Rapidamente Santo estevão se  fez popular em toda a  Europa cristã. Na Alemanha mantiveram-se verdadeiras correntes de devoção até às peregrinações húngaras, que ao longo da Idade Média acorriam grandes massas à Colônia ou ao Aquisgrão. Em territórios sumamente distantes se encontram pegadas desta veneração crescente por Santo Estevão da Hungria. Assim, se encontrou na Bélgica,  na região de Namur, na Itália, em Montecassino e na própria Rússia. Este fenômeno se deve, indubitavelmente, à predileção que Santo estevão mostrou sempre pelas peregrinações e o favor que sempre prestou aos peregrinos. Assim se explica quão salutar a Igreja lhe dedicar um ofício litúrgico na Hungria, que Inocêncio XI (1676-1689) estendeu à toda Igreja.

É curioso o antigo costume de apresentar a Santo Estevão extremamente ancião, sendo assim que morreu contando somente uns sessenta e três anos e com um manto de coroação, na forma de casula, de que ele mesmo havia feito donativo à igreja de Alba Regalis (Szekesfehervar).

Tendo presente, por um lado, como favoreceu constantemente á obra dos beneditinos e, por outro, como seu espírito profundamente religioso, sua piedade eminentemente litúrgica, sua hospitalidade e amor aos pobres o assemelham tanto ao espírito de São Bento, observa-se que Santo Estevão da Hungria foi um rei beneditino e levou ao trono o espírito da regra beneditina. Mais ainda. De certa maneira, se chegou a dizer, é mais beneditino que São Bento e seus filhos. Pois é conhecido que ele tinha o piedoso costume de entregar cada ano seu cargo na igreja de São Martinho. de fato, a regra de São Bento, não pede tanto de seus abades.

Por Bernardirno Llorca, S.I. (Vide referência na base)

Casou-se, ao que parece em 995, com a beata Gisela da Baviera, filha do Henrique II da Baviera e de Gisela da Borgonha.

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Epístola

Eclesiástico 31,8-11

8 Bem-aventurado o rico que foi achado sem mácula, que não correu atrás do ouro, que não colocou sua esperança no dinheiro e nos tesouros! 9 Quem é esse homem para que o felicitemos? Ele fez prodígios durante sua vida. 10 Àquele que foi tentado pelo ouro e foi encontrado perfeito, está reservada uma glória eterna: ele podia transgredir a lei e não a violou; ele podia fazer o mal e não o fez. 11 Por isso seus bens serão fortalecidos no Senhor, e toda a assembléia dos santos louvará suas esmolas.

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Sequência do Santo Evangelho

São Lucas 19,12-26  

12 Um homem ilustre foi para um país distante, a fim de ser investido da realeza e depois regressar. 13 Chamou dez dos seus servos e deu-lhes dez minas, dizendo-lhes: Negociai até eu voltar. 14 Mas os homens daquela região odiavam-no e enviaram atrás dele embaixadores, para protestarem: Não queremos que ele reine sobre nós. 15 Quando, investido da dignidade real, voltou, mandou chamar os servos a quem confiara o dinheiro, a fim de saber quanto cada um tinha lucrado. 16 Veio o primeiro: Senhor, a tua mina rendeu dez outras minas. 17 Ele lhe disse: Muito bem, servo bom; porque foste fiel nas coisas pequenas, receberás o governo de dez cidades. 18 Veio o segundo: Senhor, a tua mina rendeu cinco outras minas. 19 Disse a este: Sê também tu governador de cinco cidades. 20 Veio também o outro: Senhor, aqui tens a tua mina, que guardei embrulhada num lenço; 21 pois tive medo de ti, por seres homem rigoroso, que tiras o que não puseste e ceifas o que não semeaste. 22 Replicou-lhe ele: Servo mau, pelas tuas palavras te julgo. Sabias que sou rigoroso, que tiro o que não depositei e ceifo o que não semeei… 23 Por que, pois, não puseste o meu dinheiro num banco? Na minha volta, eu o teria retirado com juros. 24 E disse aos que estavam presentes: Tirai-lhe a mina, e dai-a ao que tem dez minas. 25 Replicaram-lhe: Senhor, este já tem dez minas!… 26 Eu vos declaro: a todo aquele que tiver, dar-se-lhe-á; mas, ao que não tiver, ser-lhe-á tirado até o que tem.

25/08 quinta-feira

Festa de Terceira Classe

Paramentos Brancos

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 Tornou-se rei, quis estabelecer primeiro o Reino Social de Nosso Senhor Jesus Cristo, convicto de que essa é a melhor maneira de fortalecer o reino sendo cristão. Por está fé católica São Luís foi frequentemente considerado o modelo  ideal do monarca cristão.

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2508São Luís nasceu no castelo de Poissy, a 30 quilômetros de Paris, a 25 de Abril de 1214 ou 1215, dia de procissões solenes do dia de São Marcos. A sua infância terá sido influenciada pela figura do seu pai que, unindo o zelo pela religião à bravura marcial que lhe valeu o cognome de o Leão, subjugou os cátaros do sul da França.
Particularmente zelosos da sua educação, os pais de Luís IX deram-lhe bons preceptores: Mateus II de Montmorency, Guilherme des Barres, conde de Rochefort, e Clemente de Metz, marechal da França, inspiraram-lhe os sentimentos de um rei cristianíssimo e filho da Igreja. Com a morte do seu pai em 8 de Novembro de 1226, Luís IX subiu ao trono aos 12 anos de idade. Foi sagrado na catedral de Reims por Jacques de Bazoches, bispo de Soissons, em 30 de Novembro do mesmo ano. No dia 27 de maio de 1235, pouco depois de completar 20 anos, casou-se com Margarida, filha mais velha de Raimundo Béranger, Conde de Provence e de Forcalquier, e de Beatriz de Sabóia.
A educação dos filhos, ou os deixam, sem maior preocupação, aos cuidados de governantes, São Luís chamava pessoalmente a si o cuidado de instruí-los, imprimindo-lhes na alma o desprezo pelos prazeres e vaidades do mundo e o amor pelo soberano Criador. Ele os exercitava normalmente à noite, após as horas Completas, quando os fazia vir a seu quarto a fim de ouvir as suas piedosas exortações. Ensinava-lhes, além disso, a rezar diariamente o Pequeno Ofício de Nossa Senhora, obrigava-os a assistir às Missas de preceito, e  incutia-lhes a necessidade da mortificação e da penitência. Às sextas-feiras, por exemplo, não permitia que portassem qualquer ornamento na cabeça, porque foi o dia da coroação de espinhos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ainda hoje existem os manuscritos das instruções por ele deixadas à sua filha Isabel, Rainha da Navarra: são tão santas e cheias do espírito de Nosso Senhor, que nenhum diretor espiritual, por mais esclarecido que seja, seria capaz de apresentar outras mais excelentes.
Notório seu zelo em extirpar a libertinagem no reino de França, o que dizer de seu empenho em relação ao extermínio da heresia e ao estabelecimento da Fé e da disciplina cristã? Para isso tomou-se de grande afeição pelos religiosos de São Domingos e de São Francisco, a quem ele via como instrumentos sagrados dos quais a Providência queria se servir para a salvação de uma infinidade de almas resgatadas pelo precioso Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele os convidava com certa freqüência para jantar, sobretudo São Tomás de Aquino e São Boaventura, dois luzeiros a iluminar o firmamento da Santa Igreja a partir da Idade Média.
Zelo religioso Franciscano Secular, de vida e coração, soube ensinar às gerações vindouras a arte de bem governa em seu reinado foi um período de paz e prosperidade para a França, mas também de excepcionais zelo religioso com a intenção de conduzir o povo francês à salvação da alma.
São Luís não negligenciava o cuidado dos pobres, proibiu o jogo e a prostituição e punia a blasfêmia.
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19 de agosto de 1239, a procissão chegou em Paris, o rei abandonou sua vestimenta real, assume uma túnica simples e descalço, assistido pelo seu irmão, o porta Santa Cruz para Notre-Dame de Paris. Ele, então, construir um santuário para a extensão destas relíquias: a Sainte-Chapelle.

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A Santa Cruz é, sem dúvida, as relíquias mais valiosas e plusvénérée preservadas na Catedral de Notre-Dame de Paris: ela carrega mais de dezesseis séculos de oração fervorosa do cristianismo. Trata-se de um círculo de juncos agrupados e mantidos pelo filho de ouro, com um diâmetro de 21 centímetros, em que eram os espinhos. Estes foram espalhados ao longo dos séculos por doações de Byzance imperadores e reis da França. Consideramos setenta, e da natureza, que se originam no Estado. Desde 1896, ela é mantida em um tubo de ouro e cristal, coberto com uma estrutura perfurada continha um ramo ou Zizyphus Spina Christi – arbusto que tem servido a coroação de espinhos. Este relicário doado por fiéis da diocese de Paris, é o trabalho do ourives Mr. Poussielgue Rusand (1861-1933) após desenhos de arquiteto JG Astruc (1862-1950) .

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Participou da Sétima Cruzada e da Oitava Cruzada, tendo morrido no decurso desta última, o que influenciou em grande medida a sua posterior canonização no reinado do seu neto Filipe o Belo. Poitiers e a sua esposa Joana de Toulouse morreriam no intervalo de três dias, na Itália.

O corpo do rei foi levado para França pelo seu filho e sucessor Filipe, com excepção das entranhas: algumas destas foram enterradas na atual Tunísia, onde ainda é possível hoje em dia visitar um túmulo de São Luís; outras foram destinadas à abadia de Monreale, na Sicília, a pedido do seu irmão Carlos I da Sicília.
O culto deste santo foi juridicamente examinado e aprovado pelo papa Bonifácio VIII, que o canonizou em 1297 com o nome de São Luís da França.
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Leitura da Epístola dos 

Sabedoria 10,10-14 

10.foi ela que guiou por caminhos retos o justo que fugia à ira de seu irmão; mostrou-lhe o reino de Deus, e deu-lhe o conhecimento das coisas santas; ajudou-o nos seus trabalhos, e fez frutificar seus esforços;11.cuidou dele contra ávidos opressores e o fez conquistar riquezas;12.ela o protegeu contra seus inimigos e o defendeu dos que lhe armavam ciladas; e no duro combate, deu-lhe vitória, a fim de que ele soubesse quanto a piedade é mais forte que tudo.13.Ela não abandonou o justo vendido, mas preservou-o do pecado.14.Desceu com ele à prisão, e não o abandonou nas suas cadeias, até que lhe trouxe o cetro do reino e o poder sobre os que o tinham oprimido; revelou-lhe a mentira de seus acusadores, e conferiu-lhe uma glória eterna.

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Sequência do Santo Evangelho
São Lucas 19,12-26                                                                    

12.Um homem ilustre foi para um país distante, a fim de ser investido da realeza e depois regressar.13.Chamou dez dos seus servos e deu-lhes dez minas, dizendo-lhes: Negociai até eu voltar.14.Mas os homens daquela região odiavam-no e enviaram atrás dele embaixadores, para protestarem: Não queremos que ele reine sobre nós.15.Quando, investido da dignidade real, voltou, mandou chamar os servos a quem confiara o dinheiro, a fim de saber quanto cada um tinha lucrado.16.Veio o primeiro: Senhor, a tua mina rendeu dez outras minas.17.Ele lhe disse: Muito bem, servo bom; porque foste fiel nas coisas pequenas, receberás o governo de dez cidades.18.Veio o segundo: Senhor, a tua mina rendeu cinco outras minas.19.Disse a este: Sê também tu governador de cinco cidades.20.Veio também o outro: Senhor, aqui tens a tua mina, que guardei embrulhada num lenço;21.pois tive medo de ti, por seres homem rigoroso, que tiras o que não puseste e ceifas o que não semeaste.22.Replicou-lhe ele: Servo mau, pelas tuas palavras te julgo. Sabias que sou rigoroso, que tiro o que não depositei e ceifo o que não semeei…23.Por que, pois, não puseste o meu dinheiro num banco? Na minha volta, eu o teria retirado com juros.24.E disse aos que estavam presentes: Tirai-lhe a mina, e dai-a ao que tem dez minas.25.Replicaram-lhe: Senhor, este já tem dez minas!…26.Eu vos declaro: a todo aquele que tiver, dar-se-lhe-á; mas, ao que não tiver, ser-lhe-á tirado até o que tem.

Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dia Santo Rosário

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CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA DO PAPA PIO XII

MUNIFICENTISSIMUS DEUS

DEFINIÇÃO DO DOGMA DA ASSUNÇÃO
DE NOSSA SENHORA
EM CORPO E ALMA AO CÉU

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Introdução 

1. Deus munificentíssimo, que tudo pode, e cujos planos de providência são cheios de sabedoria e de amor, nos seus imperscrutáveis desígnios, entremeia na vida os povos e dos indivíduos as dores com as alegrias, para que por diversos caminhos e de várias maneiras tudo coopere para o bem dos que o amam (cf. Rm 8,28).

2. o nosso pontificado, assim como os tempos atuais, tem sido assediado por inúmeros cuidados, preocupações e angústias, devido às grandes calamidades e por muitos que andam afastados da verdade e da virtude. Mas é para nós de grande conforto ver como, à medida que a fé católica se manifesta publicamente cada vez mais ativa, aumenta também cada dia o amor e a devoção para com a Mãe de Deus, e quase por toda parte isso é estímulo e auspício de uma vida melhor e mais santa. E assim sucede que, por um lado, a santíssima Virgem desempenha amorosamente a sua missão de mãe para com os que foram remidos pelo sangue de Cristo, e por outro, as inteligências e os corações dos filhos são estimulados a uma mais profunda e diligente contemplação dos seus privilégios.

3. De fato, Deus, que desde toda a eternidade olhou para a virgem Maria com particular e pleníssima complacência, quando chegou a plenitude dos tempos (Gl 4,4) atuou o plano da sua providência de forma que refulgissem com perfeitíssima harmonia os privilégios e prerrogativas que lhe concedera com sua liberalidade. A Igreja sempre reconheceu esta grande liberalidade e a perfeita harmonia de graças, e durante o decurso dos séculos sempre procurou estudá-la melhor. Nestes nossos tempos refulgiu com luz mais clara o privilégio da assunção corpórea da Mãe de Deus.

4. Esse privilégio brilhou com novo fulgor quando o nosso predecessor de imortal memória, Pio IX, definiu solenemente o dogma da Imaculada Conceição. De fato esses dois dogmas estão estreitamente conexos entre si. Cristo com a própria morte venceu a morte e o pecado, e todo aquele que pelo batismo de novo é gerado, sobrenaturalmente, pela graça, vence também o pecado e a morte. Porém Deus, por lei ordinária, só concederá aos justos o pleno efeito desta vitória sobre a morte, quando chegar o fim dos tempos. Por esse motivo, os corpos dos justos corrompem-se depois da morte, e só no último dia se juntarão com a própria alma gloriosa.

5. Mas Deus quis excetuar dessa lei geral a bem-aventurada virgem Maria. Por um privilégio inteiramente singular ela venceu o pecado com a sua concepção imaculada; e por esse motivo não foi sujeita à lei de permanecer na corrupção do sepulcro, nem teve de esperar a redenção do corpo até ao fim dos tempos.

6. Quando se definiu solenemente que a virgem Maria, Mãe de Deus, foi imune desde a sua concepção de toda a mancha, logo os corações dos fiéis conceberam uma mais viva esperança de que em breve o supremo magistério da Igreja definiria também o dogma da assunção corpórea da virgem Maria ao céu.

Petições para a definição dogmática

7. De fato, sucedeu que não só os simples fiéis, mas até aqueles que, em certo modo, personificam as nações ou as províncias eclesiásticas, e mesmo não poucos Padres do concílio Vaticano pediram instantemente à Sé Apostólica esta definição.

8. Com o decurso do tempo essas petições e votos não diminuíram, antes foram aumentando de dia para dia em número e insistência. Com esse fim fizeram-se cruzadas de orações; muitos e exímios teólogos intensificaram com ardor os seus estudos sobre este ponto, quer em privado, quer nas universidades eclesiásticas ou nas outras escolas de disciplinas sagradas; celebraram-se em muitas partes congressos marianos nacionais e internacionais. Todos esses estudos e investigações mostraram com maior realce que no depósito da fé cristã, confiado à Igreja, tatmbém se encontrava a assunção da virgem Maria ao céu. E de ordinário a conseqüência foi enviarem súplicas em que se pedia instantemente a definição solene desta verdade.

9. Acompanhavam os fiéis nessa piedosa insistência os seus sagrados pastores, os quais dirigiram a esta cadeira de S. Pedro semelhantes petições em número muito considerável. Quando fomos elevado ao sumo pontificado, já tinham sido apresentadas a esta Sé Apostólica muitos milhares dessas súplicas, vindas de todas as partes do mundo e de todas as classes de pessoas: dos nossos amados filhos cardeais do Sacro Colégio, dos nossos veneráveis irmãos arcebispos e bispos, das dioceses e das paróquias.

10. Por esse motivo, ao mesmo tempo que dirigíamos a Deus intensas súplicas, para que concedesse à nossa mente a luz do Espírito Santo para decidirmos tão importante causa, estabelecemos normas especiais em que determinamos que se procedesse com todo o cuidado a um estudo mais rigoroso da matéria, e se reunissem e examinassem todas as petições relativas à assunção da santíssima virgem, enviadas à Sé Apostólica desde o tempo do nosso predecessor de feliz memória, Pio IX, até ao presente.(1)

Consulta ao episcopado

11. Mas como se tratava de assunto de tanta importância e transcendência, julgamos oportuno rogar direta e oficialmente a todos os nossos veneráveis irmãos no episcopado, que nos quisessem manifestar explicitamente a sua opinião. Para tal fim, no dia 1° de maio de 1946, dirigimos-lhes a carta encíclica “Deiparae Virginis Mariae” em que fazíamos esta pergunta: “Se vós, veneráveis irmãos, na vossa exímia sabedoria e prudência, julgais que a assunção corpórea da santíssima Virgem pode ser proposta e definida como dogma de fé, e se desejais que o seja, tanto vós como o vosso clero e fiéis”.

Doutrina concorde do magistério da Igreja

12. E aqueles que “o Espírito Santo colocou como bispos para reger a Igreja de Deus” (At 20, 28) quase unanimemente deram resposta afirmativa a ambas as perguntas. Essa “singular concordância dos bispos e fiéis” (2) em julgar que a assunção corpórea ao céu da Mãe de Deus podia ser definida como dogma de fé, mostra-nos a doutrina concorde do magistério ordinário da Igreja, e a fé igualmente concorde do povo cristão – que aquele magistério sustenta e dirige – e por isso mesmo manifesta, de modo certo e imune de erro, que tal privilégio é verdade revelada por Deus e contida no depósito divino que Jesus Cristo confiou a sua esposa para o guardar fielmente e infalivelmente o declarar. (3) De fato, esse magistério da Igreja, não por estudo meramente humano, mas pela assistência do Espírito de verdade (cf. Jo 14,26), e portanto absolutamente sem nenhum erro, desempenha a missão que lhe foi confiada de conservar sempre puras e íntegras as verdades reveladas; e pelo mesmo motivo transmite-as sem contaminação e sem lhes ajuntar nem subtrair nada. “Pois – como ensina o concílio Vaticano – o Espírito Santo foi prometido aos sucessores de Pedro não para que, por sua revelação, expressem doutrinas novas, mas para que, com sua assistência, guardassem com cuidado e expusessem fielmente a revelação transmitida pelos apóstolos, ou seja o depósito da fé”. (4) Por essa razão, do consenso universal do magistério da Igreja, deduz-se um argumento certo e seguro para demonstrar a assunção corpórea da bem-aventurada virgem Maria. Esse mistério, pelo que respeita à glorificação celestial do corpo da augusta Mãe de Deus, não podia ser conhecido por nenhuma faculdade da inteligência humana só com as forças naturais. É, portanto, verdade revelada por Deus, e por essa razão todos os filhos da Igreja têm obrigação de a crer firme e fielmente. Pois, como afirma o mesmo concílio Vaticano, “temos obrigação de crer com fé divina e católica, todas as coisas que se contêm na palavra de Deus escrita ou transmitida oralmente, e que a Igreja, com solene definição ou com o seu magistério ordinário e universal, nos propõe para crer, como reveladas por Deus”.(5)

Testemunhos da crença na assunção

13. Desde tempos remotíssimos, pelo decurso dos séculos, aparecem-nos testemunhos, indícios e vestígios desta fé comum da Igreja; fé que se manifesta cada vez mais claramente.

14. Os fiéis, guiados e instruídos pelos pastores, souberam por meio da Sagrada Escritura que a virgem Maria, durante a sua peregrinação terrestre, levou vida cheia de cuidados, angústias e sofrimentos; e que, segundo a profecia do santo velho Simeão, uma espada de dor lhe traspassou o coração, junto da cruz do seu divino Filho e nosso Redentor. E do mesmo modo, não tiveram dificuldade em admitir que, à semelhança do seu unigênito Filho, também a excelsa Mãe de Deus morreu. Mas essa persuasão não os impediu de crer expressa e firmemente que o seu sagrado corpo não sofreu a corrupção do sepulcro, nem foi reduzido à podridão e cinzas aquele tabernáculo do Verbo divino. Pelo contrário, os fiéis iluminados pela graça e abrasados de amor para com aquela que é Mãe de Deus e nossa Mãe dulcíssima, compreenderam cada vez com maior clareza a maravilhosa harmonia existente entre os privilégios concedidos por Deus àquela que o mesmo Deus quis associar ao nosso Redentor. Esses privilégios elevaram-na a uma altura tão grande, que não foi atingida por nenhum ser criado, excetuada somente a natureza humana de Cristo.

15. Patenteiam inequivocamente esta mesma fé os inumeráveis templos consagrados a Deus em honra da assunção de nossa Senhora, e as imagens neles expostas à veneração dos fiéis, que mostram aos olhos de todos este singular triunfo da santíssima Virgem. Muitas cidades, dioceses e regiões foram consagradas ao especial patrocínio e proteção da assunção da Mãe de Deus. Do mesmo modo, com aprovação da Igreja, fundaram-se Institutos religiosos com o nome deste privilégio. Nem se deve passar em silêncio que no rosário de nossa Senhora, cuja reza tanto recomenda esta Sé Apostólica, há um mistério proposto à nossa meditação, que, como todos sabem, é consagrado à assunção da santíssima Virgem ao céu.

Testemunho da liturgia

16. De modo ainda mais universal e esplendoroso se manifesta esta fé dos pastores e dos fiéis, com a festa litúrgica da assunção celebrada desde tempos antiquíssimos no Oriente e no Ocidente. Nunca os santos padres e doutores da Igreja deixaram de haurir luz nesta solenidade, pois, como todos sabem, a sagrada liturgia, “sendo também profissão das verdades católicas, e estando sujeita ao supremo magistério da Igreja, pode fornecer argumentos e testemunhos de não pequeno valor para determinar algum ponto da doutrina cristã”.(6)

17. Nos livros litúrgicos em que aparece a festa da Dormição ou da Assunção de santa Maria, encontram-se expressões que de uma ou outra maneira concordam em referir que, quando a virgem Mãe de Deus passou deste exílio para o céu, por uma especial providência divina, sucedeu ao seu corpo algo de consentâneo com a dignidade de Mãe do Verbo encarnado e com os outros privilégios que lhe foram concedidos. É o que se afirma, para apresentarmos um exemplo elucidativo, no Sacramentário enviado pelo nosso predecessor de imortal memória Adriano I, ao imperador Carlos Magno. Nele se diz: “É digna de veneração, Senhor, a festividade deste dia, em que a santa Mãe de Deus sofreu a morte temporal; mas não pode ficar presa com as algemas da morte aquela que gerou no seu seio o Verbo de Deus encarnado, vosso Filho, nosso Senhor”.(7)

18. Aquilo que aqui se refere com a sobriedade de palavras costumeiras na Liturgia romana, exprime-se mais difusamente nos outros livros das antigas liturgias orientais e ocidentais. O Sacramentário Galicano, por exemplo, chama a esse privilégio de Maria, “inexplicável mistério, tanto mais digno de ser proclamado, quanto é único entre os homens, pela assunção da virgem”. E na liturgia bizantina a assunção corporal da virgem Maria é relacionada diversas vezes não só com a dignidade de Mãe de Deus, mas também com os outros privilégios, especialmente com a sua maternidade virginal, decretada por um singular desígnio da Providência divina: “Deus, Rei do universo, concedeu-vos privilégios que superam a natureza; assim como no parto vos conservou a virgindade, assim no sepulcro vos preservou o corpo da corrupção e o conglorificou pela divina translação”.(8)

A festa da Assunção

19. A Sé Apostólica, herdeira do múnus confiado ao Príncipe dos apóstolos de confirmar na fé os irmãos (cf. Lc 22,32), com sua autoridade foi tornando cada vez mais solene esta celebração. Esse fato estimulou eficazmente os fiéis a irem-se apercebendo mais e mais da importância deste mistério. E assim, a festa da assunção, que ao princípio tinha o mesmo grau de solenidade que as restantes festas marianas, foi elevada ao rito das festas mais solenes do ciclo litúrgico. O nosso predecessor S. Sérgio I, ao prescrever as ladainhas, ou a chamada procissão estacional, nas festas de nossa Senhora, enumera simultaneamente a Natividade, a Anunciação, a Purificação e a Dormição.(9) A festa já se celebrava com o nome de assunção da bem-aventurada Mãe de Deus, no tempo de S. Leão IV Esse papa procurou que se revestisse de maior esplendor, mandando ajuntar-lhe a vigília e a oitava. E o próprio pontífice quis participar nessas solenidades, acompanhado de imensa multidão. (10) Na vigília já de há muito se guardava o jejum, como se prova com evidência do que afirma o nosso predecessor S. Nicolau I, ao tratar dos principais jejuns “que… desde os tempos antigos observava e ainda observa a santa Igreja romana”.(11)

20. A Liturgia da Igreja não cria a fé católica, mas supõe-na; e é dessa fé que brotam os ritos sagrados, como da árvore os frutos. Por isso os santos Padres e doutores nas homilias e sermões que nesse dia fizeram ao povo, não foram buscar essa doutrina à liturgia, como a fonte primária; mas falaram dela aos fiéis como de coisa sabida e admitida por todos. Declararam-na melhor, explicaram o seu significado e o fato com razões mais profundas, destacando e amplificando aquilo a que muitas vezes os livros litúrgicos apenas aludiam em poucas palavras, a saber, que com esta festa não se comemora somente a incorrupção do corpo morto da santíssima Virgem, mas principalmente o triunfo por ela alcançado sobre a morte e a sua celeste glorificação à semelhança do seu Filho unigênito, Jesus Cristo.

Testemunho dos santos Padres

21. S. João Damasceno, que entre todos se distingue como pregoeiro dessa tradição, ao comparar a assunção gloriosa da Mãe de Deus com as suas outras prerrogativas e privilégios, exclama com veemente eloqüência: “Convinha que aquela que no parto manteve ilibada virgindade conservasse o corpo incorrupto mesmo depois da morte. Convinha que aquela que trouxe no seio o Criador encarnado, habitasse entre os divinos tabernáculos. Convinha que morasse no tálamo celestial aquela que o Eterno Pai desposara. Convinha que aquela que viu o seu Filho na cruz, com o coração traspassado por uma espada de dor de que tinha sido imune no parto, contemplasse assentada à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse o que era do Filho, e que fosse venerada por todas as criaturas como Mãe e Serva do mesmo Deus”.(12)

22. Condizem com essas palavras de s. João Damasceno as de muitos outros que afirmam a mesma doutrina. E não são menos expressivas, nem menos exatas, as palavras que se encontram nos sermões proferidos pelos santos Padres mais antigos ou da mesma época, ordinariamente por ocasião dessa festividade. Assim, para citar outro exemplo, s. Germano de Constantinopla julgava que a incorrupção do corpo da virgem Maria Mãe de Deus, e a sua assunção ao céu são corolários não só da sua maternidade divina, mas até da santidade singular daquele corpo virginal: “Vós, como está escrito, aparecestes ‘em beleza’; o vosso corpo virginal é totalmente santo, totalmente casto, totalmente domicílio de Deus de forma que até por este motivo foi isento de desfazer-se em pó; foi, sim, transformado, enquanto era humano, para viver a vida altíssima da incorruptibilidade; mas agora está vivo, gloriosíssimo, incólume e participante da vida perfeita”.(13) Outro escritor antiquíssimo assevera por sua vez: “A gloriosíssima Mãe de Cristo, Deus e Salvador nosso, dador da vida e da imortalidade, foi glorificada e revestida do corpo na eterna incorruptibilidade, por aquele mesmo que a ressuscitou do sepulcro e a chamou a si duma forma que só ele sabe”.(14)

23. À medida que a festa litúrgica se foi espalhando, e celebrando mais devotamente, maior foi o número de bispos e oradores sagrados que julgaram de seu dever explicar com toda a clareza o mistério que se venerava nesta solenidade e mostrar como ela estava intimamente relacionada com as outras verdades reveladas.

Testemunho dos teólogos

24. Entre os teólogos escolásticos, não faltaram alguns, que, pretendendo penetrar mais profundamente nas verdades reveladas, e mostrar o acordo entre a chamada razão teológica e a fé católica, notaram a estreita conexão existente entre este privilégio da assunção da santíssima Virgem e as demais verdades contidas na Sagrada Escritura.

25. Partindo desse pressuposto, apresentam diversas razões para corroborar esse privilégio mariano. A razão primária e fundamental diziam ser o amor filial de Cristo para o levar a querer a assunção de sua Mãe ao céu. E advertiam mais, que a força dos argumentos se baseava na incomparável dignidade da sua maternidade divina e em todas as graças que dela derivam: a santidade altíssima que excede a santidade de todos os homens e anjos, a íntima união de Maria com o seu Filho, e sobretudo o amor que o Filho consagrava a sua Mãe digníssima.

26. Muitas vezes os teólogos e oradores sagrados, seguindo os passos dos santos Padres,(15) para explicarem a sua fé na assunção, serviram-se com certa liberdade de fatos e textos da Sagrada Escritura. E assim, para mencionar só alguns mais empregados, houve quem citasse a este propósito as palavras do Salmista: “Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca de vossa santificação” (Sl 131, 8); e na Arca da Aliança, feita de madeira incorruptível e colocada no templo de Deus, viam como que uma imagem do corpo puríssimo da virgem Maria, preservado da corrupção do sepulcro, e elevado a tamanha glória no céu. Do mesmo modo, ao tratar desta matéria, descrevem a entrada triunfal da Rainha na corte celeste, e como se vai sentar a direita do divino Redentor (Sl 44,10.14-16); e recordam a propósito a esposa dos Cantares “que sobe pelo deserto, como uma coluna de mirra e de incenso” para ser coroada (Ct 3,6; cf. 4,8; 6,9). Ambas são propostas como imagens daquela Rainha e Esposa celestial, que sobe ao céu com o seu divino Esposo.

27. Os doutores escolásticos vislumbram igualmente a assunção da Mãe de Deus não só em várias figuras do Antigo Testamento, mas também naquela mulher, revestida de sol, que o apóstolo s. João contemplou na ilha de Patmos (Ap 12, ls.). Porém, entre os textos do Novo Testamento, consideraram e examinaram com particular cuidado aquelas palavras: “Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres” (Lc 1,28), pois viram no mistério da assunção o complemento daquela plenitude de graça, concedida à santíssima Virgem, e uma singular bênção contraposta à maldição de Eva.

Na teologia escolástica

28. Por esse motivo, nos primórdios da teologia escolástica, o piedosíssimo varão Amadeu, bispo de Lausana, afirmava que a carne da virgem Maria permaneceu incorrupta – nem se pode crer que o seu corpo padecesse a corrupção -, porque se uniu de novo à alma, e juntamente com ela penetrou na corte celestial. “Pois ela era cheia de graça e bendita entre as mulheres (Lc 1,28). Só ela mereceu conceber o Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, e sendo virgem deu-o à luz, amamentou-o, trouxe-o no regaço, e prestou-lhe todos os cuidados maternos”.(16)

29. Entre os escritores sagrados que naquele tempo com vários textos, comparações e analogias tiradas das divinas Letras, ilustraram e confirmaram a doutrina da assunção em que piamente acreditavam, ocupa lugar primordial o doutor evangélico s. Antônio de Pádua. Na festa da assunção, ao comentar aquelas palavras de Isaías: “glorificarei o lugar dos meus pés” (Is 60,13), afirmou com segurança que o divino Redentor glorificou de modo mais perfeito a sua Mãe amantíssima, da qual tomara carne humana. “Daqui, vê-se claramente”, diz, “que o corpo da santíssima Virgem foi assunto ao céu, pois era o lugar dos pés do Senhor”. Pelo que, escreve o Salmista: “Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca da vossa santificação”. E assim como, acrescenta ainda, Jesus Cristo ressuscitou triunfante da morte e subiu para a direita do Pai, assim também “ressuscitou a Arca da sua santificação, quando neste dia a virgem Mãe foi assunta ao tálamo celestial”.(17)

No período áureo

30. Quando, na Idade Média, a teologia escolástica atingiu o maior esplendor, s. Alberto Magno, para demonstrar essa verdade, apresenta vários argumentos fundados na Sagrada Escritura, na tradição, na liturgia e em razões teológicas, e conclui: “Por estas e outras muitas razões e autoridades, é evidente que a bem-aventurada Mãe de Deus foi assunta ao céu em corpo e alma sobre os coros dos anjos. E cremos que isto é absolutamente verdadeiro”.(18) E num sermão pregado em dia da Anunciação de nossa Senhora, ao explicar aquelas palavras do anjo: “Ave, cheia de graça…”, o doutor universal compara a santíssima Virgem com Eva, e afirma clara e terminantemente que Maria foi livre das quatro maldições que caíram sobre Eva.(19)

31. O Doutor Angélico, seguindo as pisadas do mestre, ainda que nunca trate expressamente do assunto, no entanto sempre que se oferece a ocasião fala dele, e com a Igreja católica afirma que o corpo de Maria juntamente com a alma foi levado ao céu.(20)

32. É da mesma opinião, entre outros muitos, o Doutor Seráfico, o qual tem como certo que, assim como Deus preservou Maria santíssima da violação do pudor e da integridade virginal ao conceber e dar à luz o seu Filho, assim não permitiu que o seu corpo se desfizesse em podridão e cinzas.(21) Aplica a santíssima Virgem, em sentido acomodatício, aquelas palavras da Sagrada Escritura: “Quem é esta que sobe do deserto, cheia de gozo, e apoiada no seu amado?” (Ct 8,5), e raciocina desta forma: “Daqui pode concluir-se que ela está ali corporalmente (na glória celeste)… Porque… a sua felicidade não seria plena se ali não estivesse em pessoa; ora a pessoa não é só a alma, mas o composto; logo é claro que está ali segundo o composto, isto é, em corpo e alma; de outro modo não gozaria de felicidade plena”.(22)

Na escolástica posterior

33. Na escolástica posterior, ou seja no século XV, são Bernardino de Sena, resumindo e ponderando cuidadosamente tudo quanto os teólogos medievais tinham escrito a esse propósito, não julgou suficiente referir as principais considerações que os antigos doutores tinham proposto, mas acrescentou outras novas. Por exemplo, a semelhança entre a divina Mãe e o divino Filho, no que respeita à perfeição e dignidade de alma e corpo – semelhança que nem sequer nos permite pensar que a Rainha celestial possa estar separada do Rei dos céus – exige absolutamente que Maria “só deva estar onde está Cristo”.(23) Portanto, é muito conveniente e conforme à razão que tanto o corpo como a alma do homem e da mulher tenham alcançado já a glória no céu; e, finalmente, o fato de nunca a Igreja ter procurado as relíquias da santíssima Virgem, nem as ter exposto à veneração dos fiéis, constitui um argumento que é “como que uma experiência sensível” da assunção.(24)

Nos tempos modernos

34. Em tempos mais recentes, as razões dos santos Padres e doutores, acima aduzidas, foram usadas comumente. Seguindo o comum sentir dos cristãos, recebido dos tempos antigos s. Roberto Belarmino exclamava: “Quem há, pergunto, que possa pensar que a arca da santidade, o domicílio do Verbo, o templo do Espírito Santo tenha caído em ruínas? Horroriza-se o espírito só com pensar que aquela carne que gerou, deu a luz, alimentou e transportou a Deus, se tivesse convertido em cinza ou fosse alimento dos vermes”.(25)

35. De igual forma s. Francisco de Sales afirma que não se pode duvidar que Jesus Cristo cumpriu do modo mais perfeito o divino mandamento que obriga os filhos a honrar os pais. E a seguir faz esta pergunta: “Que filho haveria, que, se pudesse, não ressuscitava a sua mãe e não a levava para o céu?”(26) E s. Afonso escreve por sua vez: “Jesus não quis que o corpo de Maria se corrompesse depois da morte, pois redundaria em seu desdouro que se transformasse em podridão aquela carne virginal de que ele mesmo tomara a própria carne”.(27)

36. Quando já tinha aparecido em toda a sua luz o mistério que se celebra nesta festa, não faltaram doutores que, em vez de tratar das razões teológicas pelas quais se demonstrasse a absoluta conveniência de crença na assunção corpórea da Virgem santíssima, voltaram o pensamento para a fé da Igreja, mística esposa de Cristo, sem mancha nem ruga (cf. Ef 5,27), que o Apóstolo chama “coluna e sustentáculo da verdade” ( 1Tm 3,15). E apoiados nesta fé comum pensaram que seria temerária, para não dizer herética, a opinião contrária. S. Pedro Canísio, como outros muitos, depois de declarar que o termo assunção se referia à glorificação não só da alma mas também do corpo, e que a Igreja há muitos séculos venerava e celebrava solenemente este mistério mariano, observa: “Esta opinião é admitida há vários séculos e tão impressa na alma dos fiéis, é tão recomendada pela Igreja, que quem negasse a assunção ao céu do corpo de Maria santíssima nem sequer seria ouvido com paciência, mas seria vaiado como pertinaz, ou mesmo temerário, e imbuído mais de espírito herético do que católico”.(28)

37. Pela mesma época, o Doutor Exímio estabelecia esta regra para a mariologia: “Os mistérios da graça que Deus operou na virgem Maria não se devem medir pelas leis ordinárias, senão pela onipotência divina, suposta a conveniência do fato e a não contradição ou repugnância com as Escrituras”.(29) E apoiado na fé de toda a Igreja, podia concluir que o mistério da assunção devia crer-se com a mesma firmeza que o da imaculada conceição, e já então julgava que ambas as verdades podiam ser definidas.

Fundamento escriturístico

38. Todos esses argumentos e razões dos santos Padres e teólogos apóiam-se, em último fundamento, na Sagrada Escritura. Esta nos apresenta a Mãe de Deus extremamente unida ao seu Filho, e sempre participante da sua sorte. Pelo que parece quase que impossível contemplar aquela que concebeu, deu à luz, alimentou com o seu leite, a Cristo, e o teve nos braços e apertou contra o peito, estivesse agora, depois da vida terrestre, separada dele, se não quanto à alma, ao menos quanto ao corpo. O nosso Redentor é também filho de Maria; e como observador perfeitíssimo da lei divina não podia deixar de honrar a sua Mãe amantíssima logo depois do Eterno Pai. E podendo ele adorná-la com tamanha honra, preservando-a da corrupção do sepulcro, deve crer-se que realmente o fez.

39. E convém sobretudo ter em vista que, já a partir do século II, os santos Padres apresentam a virgem Maria como nova Eva, sujeita sim, mas intimamente unida ao novo Adão na luta contra o inimigo infernal. E essa luta, como já se indicava no Protoevangelho, acabaria com a vitória completa sobre o pecado e sobre a morte, que sempre se encontram unidas nos escritos do apóstolo das gentes (cf. Rm 5; 6; lCor 15,21-26; 54-57). Assim como a ressurreição gloriosa de Cristo constituiu parte essencial e último troféu desta vitória, assim também a vitória de Maria santíssima, comum com a do seu Filho, devia terminar pela glorificação do seu corpo virginal. Pois, como diz ainda o apóstolo, “quando… este corpo mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá o que está escrito: a morte foi absorvida na vitória” (1Cor 15,14).

40. Deste modo, a augustíssima Mãe de Deus, associada a Jesus Cristo de modo insondável desde toda a eternidade “com um único decreto” (30) de predestinação, imaculada na sua concepção, sempre virgem, na sua maternidade divina, generosa companheira do divino Redentor que obteve triunfo completo sobre o pecado e suas conseqüências, alcançou por fim, como suprema coroa dos seus privilégios, que fosse preservada da corrupção do sepulcro, e que, à semelhança do seu divino Filho, vencida a morte, fosse levada em corpo e alma ao céu, onde refulge como Rainha à direita do seu Filho, Rei imortal dos séculos (cf. 1Tm 1,17).

Oportunidade da definição

41. Considerando que a Igreja universal – que é assistida pelo Espírito de verdade, que a dirige infalivelmente para o conhecimento das verdades reveladas – no decurso dos séculos manifestou de tantas formas a sua fé; considerando que os bispos de todo o mundo quase unanimemente pedem que seja definida como dogma de fé divina e católica a verdade da assunção corpórea da santíssima Virgem ao céu; considerando que esta verdade se funda na Sagrada Escritura, está profundamente gravada na alma dos fiéis, e desde tempos antiquíssimos é comprovada pelo culto litúrgico, e concorda, inteiramente, com as outras verdades reveladas, e tem sido esplendidamente explicada e declarada pelos estudos, sabedoria e prudência dos teólogos – julgamos chegado o momento estabelecido pela providência de Deus, para proclamarmos solenemente este privilégio insigne da virgem Maria. (42). Nós, que colocamos o nosso pontificado sob o especial patrocínio da santíssima Virgem, à qual recorremos em tantas circunstâncias tristes, nós, que consagramos publicamente todo o gênero humano ao seu imaculado Coração, e que experimentamos muitas vezes o seu poderoso patrocínio, confiamos firmemente que esta solene proclamação e definição será de grande proveito para a humanidade inteira, porque reverte em glória da Santíssima Trindade, a qual a virgem Mãe de Deus está ligada com laços muito especiais. É de esperar também que todos os fiéis cresçam em amor para com a Mãe celeste, e que os corações de todos os que se gloriam do nome de cristãos se movam a desejar a união com o corpo místico de Jesus Cristo, e que aumentem no amor para com aquela que tem amor de Mãe para com os membros do mesmo augusto corpo. E também é lícito esperar que, ao meditarem nos exemplos gloriosos de Maria, mais e mais se persuadam todos do valor da vida humana, se for consagrada ao cumprimento integral da vontade do Pai celeste e a procurar o bem do próximo. Enquanto o materialismo e a corrupção de costumes que dele se origina ameaçam subverter a luz da virtude, e destruir vidas humanas, suscitando guerras, é de esperar ainda que este luminoso e incomparável exemplo, posto diante dos olhos de todos, mostre com plena luz qual o fim a que se destinam a nossa alma e o nosso corpo. E, finalmente, esperamos que a fé na assunção corpórea de Maria ao céu torne mais firme e operativa a fé na nossa própria ressurreição.

43. E é para nós motivo de imenso regozijo que este fato, por providência de Deus, se realize neste Ano santo que está a decorrer, e que assim possamos, enquanto se celebra este jubileu maior, adornar com esta pedra preciosa a fronte da Virgem santíssima, e deixar um monumento, mais perene que o bronze, da nossa ardente devoção para com a Mãe de Deus.

Definição solene do dogma

44. “Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus onipotente que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos s. Pedro e s. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”.

45. Pelo que, se alguém, o que Deus não permita, ousar, voluntariamente, negar ou pôr em dúvida esta nossa definição, saiba que naufraga na fé divina e católica.

46. Para que chegue ao conhecimento de toda a Igreja esta nossa definição da assunção corpórea da virgem Maria ao céu, queremos que se conservem esta carta para perpétua memória; mandamos também que, aos seus transuntos ou cópias, mesmo impressas, desde que sejam subscritas pela mão de algum notário público, e munidas com o selo de alguma pessoa constituída em dignidade eclesiástica, se lhes dê o mesmo crédito que à presente, se fosse apresentada e mostrada.

47. A ninguém, pois, seja lícito infringir esta nossa declaração, proclamação e definição, ou temerariamente opor-se-lhe e contrariá-la. Se alguém presumir intentá-lo, saiba que incorre na indignação de Deus onipotente e dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo.

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Dado em Roma, junto de São Pedro, no ano do jubileu maior, de 1950, no dia 1 ° de novembro, festa de todos os santos, no ano XII do nosso pontificado.

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Eu PIO, Bispo da Igreja Católica assim definindo, subscrevi.

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Notas

1. Petitiones de Assumptione corporea B. Virginis Mariae in caelum definienda ad S. Sedem delatae, 2 vol. Typis Polyglottis Vaticanis,1942.

2. Bula Ineffabilis Deus, Acta Pii IX, parte I, vol. 1, p. 615.

3. Cf. Conc. Vat. I, Const. dogm. Dei Filius de fide catholica, cap. 4.

4. Conc. Vat. I, Const. dogm. Pastor aeternus de Ecclesia Christi, cap. 4.

5. Conv Vat. I, Const. dogm. Dei Filius de feide catholica. cap. 3.

6. Carta Encíclica Mediator Dei, AAS 39( 1947), p. 541.

7. Sacramentário gregoriano.

8. Menaei totius anni..

9. Liber Pontificalis. 

10. Ibid.

11. Responsa Nicolai Papae 1 ad Consulta Bulgarorum, 13 nov. 866.

12. S. João Damasc., Encomium in Dormitionem Dei Genetricis semperque Virginis Mariae, hom. II, 14; cf. também ibid. n. 3).

13. S. Germ. Const., In Sanctae Dei Genitricis Dormitionem, sermo 1.

14. Encomium in Dormitionem Sanctissimae Dominae nostrae Deiparae semperque Virginis Mariae [atribuído a S. Modesto de Jerusalém] n. 14.

15. Cf. S. João Damasc., Encomium in Dormitionem Dei Genetricis semperque Virginis Mariae, hom. II, 2, 11; Encomium in Dormitionem… [atribuído a S. Modesto de Jerusalém].

16. Amadeu de Lausana, De Beatae Virginis obitu, Assumptione in Caelum, exaltatione ad Filii dexteram.

17. S. Antônio de Pádua, Sermones dominicales et in solemnitatibus. In Assumptione S. Mariae Virginis Sermo.

18. S. Alberto Magno, Mariale sive quaestiones super Evang. “Missus est”, q. 132.

19. Idem, Sermones de Sanctis, sermo XV: In Annuntiatione B. Mariae; cf. também Mariale, q.132.

20. Cf. Summa Theol. III, q. 27, a. 1. c.; ibid. q. 83, a. 5 ad 8; Expositio salutationis angelicae; In symb. Apostolorum expositio, art. 5; in IV Sent. D. 12, q. l, art. 3, sol. 3; D. 43, q. l, art. 3, sol. I e 2.

21. Cf. S. Boaventura, De Nativitate B. Mariae Virginis, sermo 5.

22. S. Boaventura, De Assumptione B. Mariae Virginis, sermo 1.

23. S. Bernardino de Sena, In Assumptione B. M. Virginis, sermo 2.

24. Idem, l.c.

25. S. Roberto Belarmino, Conciones habitae Lovanii, concio 40: De Assumptione B. Mariae Virginis.

26. Oeuvres de S. François de Sales, Sermon autographe pour la fête de l’Assomption.

27. S. Afonso Maria de Ligório, As glórias de Maria, parte II, disc. 1.

28. S. Pedro Canísio, De Maria Virgine.

29. E Suárez, In tertiam partem D. Thomae, q. 27, art. 2, disp. 3, sect. 5, n. 31.

30. Bula Ineffabilis Deus, l.c, p. 599.

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O Meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.

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Escritores sacros se referem ao Coração de Maria: Santo Éfrem, São Jerônimo, Santo Agostinho, Santo Anselmo, Santo Tomás de Aquino, São Boaventura, São Francisco de Sales e tantos outros. Na Companhia de Jesus se encontram diversos sacerdotes abalizados que foram apóstolos desta devoção, seguindo o exemplo de Santo Inácio de Loiola. São José de Anchieta, “Apóstolo do Brasil”, com seu poema “De Beata Virgine”, foi o autor do primeiro cântico ao Coração de Maria, nas Américas.
Após o século XVII este culto torna-se público. Cabe a São João Eudes a glória de ser o principal arauto, apóstolo e teólogo, legando-nos sua obra clássica:
“O Coração Admirável da Santíssima Mãe de Deus“, onde estuda os fundamentos desta invocação.
Surgiram em seguida várias ordens religiosas, masculinas e femininas, sob a proteção Cordimariana, entre elas a dos Filhos do Imaculado Coração de Maria, fundados por Santo Antônio Maria Claret, em 1849.
Em conseqüência do grande incremento do culto ao Puríssimo Coração de Maria, no século XIX, Pio VII e, depois, Pio IX, concederam uma festa e Ele dedicada, em diversas igrejas particulares. Em 1887 a Companhia de Jesus também se consagrou ao Imaculado Coração da Mãe de Deus.
No Brasil, o culto ao Imaculado Coração de Maria, divulgado inicialmente pelos jesuítas e depois por outros religiosos, está difundido em todos os Estados. Existem 36 paróquias a ele dedicado. Na capital paulista a devoção Cordimariana está ligada à primitiva igreja do Colégio, que assistiu ao nascimento de São Paulo. Em 1896, o então bispo D. Joaquim Arcoverde, em comum acordo com o governo estadual, permitiu a demolição do velho templo. No ano seguinte resolveu fundar a igreja do Imaculado Coração de Maria , lançando a pedra fundamental durante as comemorações do Centenário Anchietano, a 13 de março de 1897. A igreja, à rua Jaguaribe, entregue aos cuidados dos Padres Claretianos, foi construída na forma tradicional dos templos católicos, em formato de cruz, cujo corpo central é ocupado pela nave maior e os braços, por capelas. Ela foi aberta ao público em 1899. Do antigo Colégio herdou o altar-mor de talha, que se encontra na capela do Santíssimo Sacramento.
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 Padre José de Anchieta
 De compassione et planctu virginis in morte filii

A compaixão e o pranto da Virgem na morte do Filho

Mens mea, quid tanto torpes absorpta sopore?
Quid stertis somno desidiosa gravi?
Nec te cura movet lacrimabilis ulIa parentis,
Funera quæ nati flet truculenta sui?
Minha alma, por que tu te abandonas ao profundo sono?
Por que no pesado sono, tão fundo ressonas?
Não te move à aflição dessa Mãe toda em pranto,
Que a morte tão cruel do Filho chora tanto?
Viscera cui duro tabescunt ægra dolore,
Vulnera dum præsens, quæ tulit ilIe, videt.
En, quocunque oculos converteris, omnia lesu
Occurrent oculis sanguine plena tuis.
E cujas entranhas sofre e se consome de dor,
Ao ver, ali presente, as chagas que Ele padece?
Em qualquer parte que olha, vê Jesus,
Apresentando aos teus olhos cheios de sangue.
Respice ut, æterni prostrato ante ora Parentis,
Sanguineus toto corpore sudor abit.
Respice ut immanis captum quasi turba latronem
Proterit, et laqueis colla manusque ligat.
Olha como está prostrado diante da Face do Pai,
Todo o suor de sangue do seu corpo se esvai.
Olha a multidão se comporta como Ele se ladrão fosse,
Pisam-NO e amarram as mãos presas ao pescoço.
Respice ut ante Annam sævus divina satelles
Duriter armata percutit ora manu.
Cernis ut in Caiphae conspectu mille superbi
Probra humilis, colaphos sputaque foeda tulit.
Olha, diante de Anás, como um cruel soldado
O esbofeteia forte, com punho bem cerrado.
Vê como diante Caifás, em humildes meneios,
Aguenta mil opróbrios, socos e escarros feios.
Nec faciem avertit, cum percuteretur; et hosti
Vellendam barbam cæsariemque dedit.
Adspice quam diro crudelis verbere tortor
Dilaniet Domini mitia membra tui.
Não afasta o rosto ao que bate, e do perverso
Que arranca Tua barba com golpes violento.
Olha com que chicote o carrasco sombrio
Dilacera do Senhor a meiga carne a frio.
Adspice quam duri lacerent sacra tempora vepres,
Diffluat et purus pulchra per ora cruor.
Nonne vides, totos lacerum crudeliter artus,
Grandia vix umeris pondera ferre suis?
Olha como lhe rasgou a sagrada cabeça os espinhos,
E o sangue corre pela Face pura e bela.
Pois não vês que seu corpo, grosseiramente ferido
Mal susterá ao ombro o desumano peso?
Cernis ut innocuas peracuta cuspide ligno
Dextera tortoris figit iniqua manus.
Cernis ut innocuas peracuta cuspide plantas
Tortoris figit dextera sæva cruce.
Vê como os carrascos pregaram no lenho
As inocentes mãos atravessadas por cravos.
Olha como na Cruz o algoz cruel prega
Os inocentes pés o cravo atravessa.
Adspicis ut dura laceratus in arbore pendet,
Et tua divino sanguine furta luit.
Adspice: quam dirum transfosso in pectore vulnus,
Unde immixta fluit sanguine lympha, patet!
Eis o Senhor, grosseiramente dilacerado pendurado no tronco,
Pagando com Teu Divino Sangue o antigo crime!
Vê: quão grande e funesta ferida transpassa o peito, aberto
Donde corre mistura de sangue e água.
Omnia si nescis, mater sibi vindicat ægra
Vulnera, quae natum sustinuisse vides.
Namque quot innocuo tulit ille in corpore poenas,
Pectore tot mater fert miseranda pio.
Se o não sabes, a Mãe dolorosa reclama
Para si, as chagas que vê suportar o Filho que ama.
Pois quanto sofreu aquele corpo inocente em reparação,
Tanto suporta o Coração compassivo da Mãe, em expiação.
Surge, age, et infensæ per moenia iniqua Sionis
Sollicito matrem pectore quaere Dei.
Signa tibi passim notissima liquit uterque,
Clara tibi certis est via facta notis.
Ergue-te, pois e, embora irritado com os injustos judeus
Procura o Coração da Mãe de Deus.
Um e outro deixaram sinais bem marcados
Do caminho claro e certo feito para todos nós.
Ille viam multo raptatus sanguine tinxit,
Illa piis lacrimis moesta rigavit humum.
Quaere piam matrem, forsan solabere flentem.
Indulget lacrimis sicubi mæsta piis.
Ele aos rastros tingiu com seu sangue tais sendas,
Ela o solo regou com lágrimas tremendas.
A boa Mãe procura, talvez chorando se consolar,
Se as vezes triste e piedosa as lágrimas se entregar.
Si tanto admittit solatia nulla dolori,
Quod vitam vitæ mors tulit atra suæ,
At saltem effundes lacrimas, tua crimina plangens,
Crimina, quæ diræ causa fuere necis.
Mas se tanta dor não admite consolação
É porque a cruel morte levou a vida de sua vida,
Ao menos chorarás lastimando a injúria,
Injúria, que causou a morte violenta.
Sed quo te, Mater, turbo tulit iste doloris?
Quæ te plangentem funera terra tenet?
Num capit ille tuos gemitus lamentaque collis,
Putris ubi humanis ossibus albet humus?
Mas onde te levou Mãe, o tormento dessa dor?
Que região te guardou a prantear tal morte?
Acaso as montanhas ouvirão Teus lamentos?
Onde está a terra podre dos ossos humanos?
Numquid odoriferæ cruciaris in arboris umbra,
Unde tuus lesus, unde pependit amor?
Acaso está nas trevas a árvore da Cruz,
Onde o Teu JESUS foi pregado por Amor?
Hic lacrimosa sedes, et primæ noxia matris
Gaudia, crudeli fixa dolore, Luis
Illa fuit vetita corrupta sub arbore, fructum
Dum legit audaci, stulta loquaxque, manu.
Esta tristeza é a primeira punição da Mãe,
No lugar da alegria, segura uma dor cruel,
Enquanto a turba gozava de insensata ousadia,
Impedindo Aquele que foi destruído na Cruz.
Iste tui ventris pretiosus ab arbore fructus
Dat vitam matri tempus in omne piæ,
Quæque malo primi succo periere veneni
Suscitat et tradit pignora cara tibi.
Mãe, mas este precioso fruto de Teu ventre
Deu vida eterna a todos os fieis que O amam,
E prefere a magia do nascer à força da morte,
Ressurgindo, deixou a ti como penhor e herança.
Sed periit tua vita, tui peramabile cordis
Delicium, vires occubuere tuæ.
Raptus ab infesto crudeliter occidit hoste,
Qui tibi de mammis dulce pependit onus.
Mas finda Tua vida, Teu Coração perseverou no amor,
Foi para o Teu repouso com um amor muito forte!
O inimigo Te arrastou a esta cruz amarga,
Que pesou incomodo em Teu doce seio.
Occubuit diris plagis confossus lesus,
Ille decor mentis, gloria luxque, tuæ;
Quotque illum plagæ, tot te affixere dolores:
Una etenim vobis vita duobus erat.
Morreu Jesus traspassado com terríveis chagas
Ele, formoso espírito, glória e luz do mundo;
Quanta chaga sofreu e tantas Lhe causaram dores;
Efetivamente, uma vida em vós era duas! 
Scilicet hunc medio cum serves corde, nec unquam
Liquerit hospitium pectoris ille tui,
Ut sic discerptus letum crudele subiret,
Scindendum rigido cor fuit ense tibi.
Todavia conserva o Amor em Teu Coração, e jamais
Evidentemente deixou de o hospedar no Coração,
Feito em pedaços pela morte cruel que suportou
Pois à lança rasgou o Teu Coração enrijecido.
Cor tibi dira pium misere rupere flagella,
Spina cruentavit cor tibi dira pium.
In te cum clavis coniuravere cruentis
Omnia, quæ in ligno natus acerba tulit.
O Teu Espírito piedoso e comovido quebrou na flagelação,
A coroa de espinhos ensanguentou o Teu Coração fiel.
Contra Ti conspirou os terríveis cravos sangrentos,
Tudo que é amargo e cruel o Teu Filho suportou na Cruz.
Sed cur vivis adhuc, vita moriente Deoque?
Cur non es simili tu quoque rapta nece,
Quando non illo est animam exhalante revulsum
Cor tibi, si vinctos mens tenet una duos?
Morto Deus, então porque vives Tu a Tua vida?
Porque não foste arrastada em morte parecida?
E como é que, ao morrer, não levou o Teu espírito,
Se o Teu Coração sempre uniu os dois espíritos?
Non posset, fateor, tantos tua vita dolores
Ferre, nec id nimius sustinuisset amor,
Ni te divino firmaret robore natus,
Linqueret ut cordi plura ferenda tuo.
Admito, não pode tantas dores em Tua vida
Suportar, aguentando se não com um amor imenso;
Se não Te alentar a força do nascimento Divino
Deixará o Teu Coração sofrendo muito mais.
Vivis adhuc, Mater, plures passura labores;
Ultima te in sævo iam petet unda mari.
Sed tege maternum vultum, pia lumina conde,
Ecce furens auras verberat hasta leves:
Et sacra defuncti discindit pectora nati
Insuper in medio lancea corde tremens.
Vives ainda, Mãe, sofrendo muitos trabalhos,
Já te assalta no mar onda maior e cruel.
Mas cobre Tua Face Mãe, ocultando o piedoso olhar:
Eis que a lança em fúria ataca pelo espaço leve,
Rasga o sagrado peito ao teu Filho já morto,
Tremendo a lança indiferente no Teu Coração.
Scilicet hæc etiam tantorum summa dolorum
Defuerat plagis adicienda tuis.
Hoc te supplicium, vulnus crudele manebat,
Hæc tibi servata est poena gravisque dolor.
Sem dúvida tão grande sofrimento foi à síntese,
Faltava acrescentá-lo a Tuas chagas!
Esta ferida cruel permaneceu com o suplício!
Tão penoso sofrimento este castigo guardava!
In cruce cum dulci figi tibi prole volebas
Virgineasque manus virgineosque pedes.
Ille sibi accepit rigidos cum stipite clavos,
Servata est cordi lancea dira tuo.
Com O querido Filho pregado a Cruz Tu querias
Que também pregassem Teus pés e mãos virginais.
Ele tomou para Si a dura Cruz e os cravos,
E deu-Te a lança para guardar no Coração.
Iam potes, o Mater, compos requiescere voti,
Hic tibi totus abit cordis in ima dolor.
Quod gelida excepit corpus iam morte solutum,
Sola pio crudum pectore vulnus habes.
Agora podes, ó Mãe, descansar, que possui o desejado,
A dor mudou para o fundo do Teu Coração.
Este golpe deixou o Teu corpo frio e desligado,
Só Tu compassiva guarda a cruel chaga no peito.
O sacrum vulnus, quod non tam ferrea cuspis,
Quam nimius nostri fecit amoris amor!
O flumen, medio paradisi e fonte refusum,
Cuius ab uberibus terra tumescit aquis!
Ó chaga sagrada feita pelo ferro da lança,
Que imensamente nos faz amar o Amor!
Ó rio, fonte que transborda do Paraíso,
Que intumesce com água fartamente a terra!
O via regalis, gemmataque ianua cæli,
Præsidi turris, confugiique locus!
O rosa, divinae spirans virtutis odorem!
Gemma, poli solium qua sibi paupar emit!
Ó caminho real com pedras preciosas, porta do Céu,
Torre de abrigo, lugar de refúgio da alma pura!
Ó rosa que exala o perfume da virtude Divina!
Jóia lapidada que no Céu o pobre um trono tem!
Nidus, ubi puræ sua ponunt ova columbæ,
Castus ubi tenere pignora turtur alit!
O plaga, immensi splendoris honore rubescens,
Quæ pia divino pectora amore feris!
Doce ninho onde as puras pombas põem ovinhos,
E as castas rolas têm garantia de suster os filhotinhos!
Ó chaga, que és um adorno vermelho e esplendor,
Feres os piedosos peitos com divinal amor!
O vulnus, dulci præcordia vulnere findens,
Qua patet ad Christi cor via lata pium!
Testis inauditi, quo nos sibi iunxit, amoris!
Portus, ab æquoribus quo fugit icta ratis!
Ó doce chaga, que repara os corações feridos,
Abrindo larga estrada para o Coração de Cristo.
Prova do novo amor que nos conduz a união!
Porto do mar que protege o barco de afundar!
Ad te confugiunt, hostis quibus instat iniquus;
Tu præsens morbis es medicina malis.
ln te, tristitia pressus, solamina carpit,
Et grave de mæsto pectore ponit onus.
Em Ti todos se refugiam dos inimigos que ameaçam:
Tu, Senhor, és medicina presente a todo mal!
Quem se acabrunha em tristeza, em consolo se alegra:
A dor da tristeza coloca um fardo no coração!
Per te reiecto, spe non fallente, timore,
Ingreditur cæli tecta beata reus.
O pacis sedes! o vivæ vena perennis,
Aeternam in vitam subsilientis, aquæ!
Por Ti Mãe, o pecador está firme na esperança,
Caminhar para o Céu, lar da bem-aventurança!
Ó Morada de Paz! Canal de água sempre vivo,
Jorrando água para a vida eterna!
Hoc est, o Mater, soli tibi vulnus apertum,
Tu sola hoc pateris, tu dare sola potes.
Da mihi, ut ingrediar per apertum cuspide pectus,
Ut possim in Domini vivere corde mei.
Esta ferida do peito, ó Mãe, é só Tua,
Somente Tu sofres com ela, só Tu a podes dar.
Dá-me acalentar neste peito aberto pela lança,
Para que possa viver no Coração do meu Senhor!
Hac pia divini penetrabo ad viscera amoris,
Hic mihi erit requies, hic mihi certa domus.
Hic mea sanguineo redimam delicta liquore,
Hic animi sordes munda lavabit aqua.
Entrando no âmago amoroso da piedade Divina,
Este será meu repouso, a minha casa preferida.
No sangue jorrado redimi meus delitos,
E purifiquei com água a sujeira espiritual!
His mihi sub tectis erit, his in sedibus omnes
Vivere dulce dies, hic mihi dulce mori!
Embaixo deste teto que é morada de todos,
Viver e morrer com prazer, este é o meu grande desejo.

 Viva Cristo Rei e Maria Rainha.

Rezem todos os dia Santo Rosário

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Sao Tiago
Diz à tradição que Nosso Senhor Jesus Cristo escolheu doze companheiros para serem seus discípulos mais próximos e segui-lo… Estes companheiros foram, após a morte de Cristo, chamados de apóstolos, palavra que em grego significa “enviado”. Pois os doze foram enviados aos quatro cantos do mundo para transmitir os ensinamentos cristãos. Entre estes doze apóstolos, havia dois com o nome Tiago. Um deles, filho de Zebedeu, é também chamado Tiago Maior (para distingui-lo do outro, filho de Alfeu, o Tiago Menor). Seis anos após a morte de Cristo, este Tiago, o Maior, viajou para a península Ibérica, onde passou vários anos divulgando sua mensagem, na região que hoje é a Galícia, talvez chegando até Zaragoza. Embora muito poucos dos habitantes locais tenham se convertido ao Cristianismo, Tiago deixou plantada nestas terras distantes a primeira semente, que viria a florescer pelos séculos futuros. Retornando a Palestina, o apóstolo morreu como mártir no ano 44, decapitado, por ordem do rei Herodes Agripa. Seu corpo insepulto, jogado aos cães por ordem do rei, foi recolhido por seus discípulos Teodoro e Atanásio.Tiago havia manifestado o desejo de ser enterrado em terras ibéricas, e diz a lenda que seu corpo foi transportado por seus discípulos para a Espanha em uma nau de pedra guiada por anjos. É mais provável que tenha sido levado em um navio mercante comum, porém já em seu ataúde de pedra, daí ter nascido esta antiga crença. O apóstolo foi então sepultado na cidade de Iria Flavia (assim denominada em homenagem ao imperador romano Flávio Vespasiano), atualmente nos arredores da cidade de Padrón., próximo à costa ocidental da Galícia. Esta região era chamada pelos romanos de Finis Terrae, isto é, os confins da Terra, por ser o ponto mais ocidental da Europa, além do qual nada mais há que o Oceano. Há evidências que sugerem ter havido peregrinações esparsas ao local desde os primeiros séculos da era cristã. Porém com as invasões bárbaras, a queda do Império Romano e, posteriormente, com as invasões muçulmanas, o túmulo acabou sendo “esquecido”, ou perdido. Do Século VI ao Século X. No ano 813, um monge chamado Pelayo, retirou-se para viver como eremita no bosque de Libredón na colina circundada pelos rios Sar e Sarela. Neste local havia duas antigas necrópoles (cemitérios) abandonadas, uma romana e outra visigótica. Avistando uma chuva de estrelas que parecia cair sobre um determinado ponto, e interpretando esta visão como um sinal divino, Pelayo foi examinar o local e ali encontrou o velho sepulcro. Informou então ao bispo galego Teodomiro o que havia achado em um “campo de estrelas”, isto é, em um campus stellae, em latim, origem da palavra Compostela. O bispo, pelas inscrições no sepulcro, confirmou que se tratava do túmulo do apóstolo Tiago que, segundo a secular tradição havia sido sepultado naquele local, a beira do rio Ulla, próximo a uma antiga estrada romana. Foram também identificados os túmulos de Teodoro e Atanásio, os dois discípulos, que estavam sepultados ao lado do mestre. O rei de Astúrias, Alfonso II, o Casto, (791 – 842), ao tomar conhecimento da descoberta, nomeou São Tiago como patrono oficial da Espanha e ordenou a construção de uma capela de pedra sobre o sepulcro, o que foi realizado no ano 829. Os primeiros documentos históricos que relatam a existência de peregrinações ao “campo de estrelas” datam do ano 840, e o local aos poucos tornou-se um centro de devoção reconhecido pela Igreja.
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Na batalha de Clavijo, no ano 842, as tropas cristãs de Astúrias e León, apesar de sua grande inferioridade numérica, derrotaram os árabes do reino da Andaluzia. Nasceu então a tradição de que São Tiago, montado em um cavalo branco, lutando bravamente, havia participado pessoalmente da batalha. O santo foi visto por muita gente, e a fama de Santiago Matamoros (“mata mouros”), com sua espada invencível, espalhou-se rapidamente por toda a Europa. O culto ao apóstolo passou a ser a partir de então o foco espiritual e o símbolo de resistência que deu energia à Reconquista (a luta contra os muçulmanos). Desde então, e até hoje, a espada com o punho em forma de cruz é um dos símbolos do apóstolo Tiago. No ano 950 Gotescalco, bispo de Le Puy (na França), tornou-se a primeira grande autoridade a visitar Compostela como peregrino, dando um exemplo que foi seguido inúmeras vezes pelos séculos futuros. O rei de Astúrias, Alfonso III, o Grande, (866 – 910), ordenou então que fosse construída no local uma igreja maior que a anterior. No ano 997 o antigo templo sobre o túmulo foi destruído e incendiado pelos mouros sob o comando de Abu Amir al-Mansur, conhecido pelos espanhóis como Almanzor, primeiro-ministro do Califado de Córdoba. A partir do século X, com o progresso da Reconquista, e o crescimento dos territórios cristãos na península Ibérica dando origem a novos reinos que se unem em torno da causa comum, a peregrinação tornou-se mais segura e o número de estrangeiros dirigindo-se a Santiago gradualmente cresce. Sancho III, o Grande, rei de Navarra (992 – 1035), trouxe para a Espanha a ordem de Cluny, e com ela a arte românica. Este estilo arquitetônico, com construções gigantescas representando o ideal cristão, está presente em numerosas igrejas do Caminho. Os monges ocuparam todo este território devastado por séculos de guerra, construindo mosteiros e hospitales (albergues) ao redor dos quais nasceram novos burgos. Ramiro I, o primeiro rei de Aragão (1035 – 1066), filho de Sancho III da Navarra, criou a infra-estrutura para a rota que vinha de Somport, denominado Caminho Aragonês. Alfonso VI, o Bravo, rei de Castela e León (1065 – 1109), forneceu também proteção real ao Caminho, dando todo apoio a Santo Domingo para conservar as estradas no território castelhano. No ano 1064 Don Rodrigo Díaz de Vivar, El Cid, o herói da luta contra os mouros, chega a Compostela como peregrino. Onze anos depois iniciam-se as obras para a construção da atual catedral compostelana, terminada em 1128. Em 1119 o papa Calixto reconheceu Compostela como um dos três centros cristãos de peregrinação. O primeiro Ano Santo, em que foi dado o perdão aos peregrinos, foi 1126. Os fiéis que iam a Roma eram denominados “romeiros” (de onde nasceu a palavra “romaria”, o ato de ir a Roma), os que iam a Jerusalém eram os “palmeiros” por levarem uma folha de palma, símbolo de sua caminhada, e os que iam a Compostela eram chamados de “peregrinos”, isto é, os que atravessam o campo (per + agro). Em 1179 o papa Alexandre III tornou permanente o Ano Santo. O sacerdote Aymeric Picaud, de Poitou peregrinou a Santiago em 1139, e com base em suas observações escreveu o primeiro guia do Caminho, conhecido como o “Codex Calixtinus”, que foi, por muitos séculos e até hoje, a base de todos os outros guias.. Com o aumento no número de peregrinos, junto com os fiéis vieram também ladrões, salteadores de estradas e todos os tipos que, com sua esperteza, abusavam da boa fé dos andarilhos. Para manter a segurança do Caminho, criou-se em 1170, em Cáceres, a Ordem dos Cavaleiros de Santiago cujos cavaleiros eram encarregados da vigilância da rota através da Espanha Nos séculos XIII, XIV e XV o fluxo de peregrinos chegou a atingir cerca de quinhentos mil caminhantes por ano. Entre estes vieram São Francisco de Assis em 1213, a princesa Ingrid da Suécia em 1270, Santa Isabel de Portugal em 1326, Alfonso XI de León e Castela em 1332, Santa Brígida da Suécia em 1340, o pintor holandês Jean Van Eyck em 1430, os reis católicos Fernando de Aragão e Isabel de Castela em 1488, Hugo IV duque de Borgonha, Eduardo I da Inglaterra, Carlos I e Felipe II em 1554. Foi nesta época que a rota principal a partir de Puente la Reina, pelo grande número de estrangeiros (franceses ou vindo até este caminho através da França), passou a ser conhecida como Caminho Francês. Ainda hoje, dezenas de milhares de peregrinos se dirigem anualmente a Santiago de Compostela, considerada a terceira cidade mais sagrada no cristianismo depois de Jerusalém e Roma . No entanto não é de descorar a chamada de atenção de que a primeira fica no Oriente, a segunda ao centro, e esta fica muito perto ao “extremo” mais ocidental da terra cristã então conhecida (Finisterra).
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Epístola
I Coríntios 4,9-15
9.Porque, ao que parece, Deus nos tem posto a nós, apóstolos, na última classe dos homens, por assim dizer sentenciados à morte, visto que fomos entregues em espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens.10.Nós, estultos por causa de Cristo; e vós, sábios em Cristo! Nós, fracos; e vós, fortes! Vós, honrados; e nós, desprezados!11.Até esta hora padecemos fome, sede e nudez. Somos esbofeteados, somos errantes,12.fatigamo-nos, trabalhando com as nossas próprias mãos. Insultados, abençoamos; perseguidos, suportamos; caluniados, consolamos!13.Chegamos a ser como que o lixo do mundo, a escória de todos até agora…14.Não vos escrevo estas coisas para vos envergonhar, mas admoesto-vos como meus filhos muitos amados. 15. Com efeito, ainda que tivésseis dez mil mestres em Cristo, não tendes muitos pais; ora, fui eu que vos gerei em Cristo Jesus pelo Evangelho.
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Sequência do Santo Evangelho
São Mateus 20,20-23
20.Nisso aproximou-se a mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos e prostrou-se diante de Jesus para lhe fazer uma súplica.21.Perguntou-lhe ele: Que queres? Ela respondeu: Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda.22.Jesus disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu devo beber? Sim, disseram-lhe.23.De fato, bebereis meu cálice. Quanto, porém, ao sentar-vos à minha direita ou à minha esquerda, isto não depende de mim vo-lo conceder. Esses lugares cabem àqueles aos quais meu Pai os reservou.
Viva Cristo Rei e Maria Rainha.

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I DE JULHO.

Festa do preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.

 

Redemisti nos Deo in sanguine tuo… et fecisti nos Deo nostro regnum—«Remiste-nos para Deus com o teu sangue… e fizeste-nos para nosso Deus reino» (Apoc. 5, 9).

Sumário. O Senhor podia obter-nos a salvação sem sofrer; pois que uma só lagrima, uma só oração teria sido bastante para salvar uma infinidade de mundos. A fim de nos patentear, porém, o seu amor, quis derramar o seu Sangue até à ultima gota, no meio das mais atrozes dores. Como é que os homens respondem a um tão grande amor?… Mostremo-nos ao menos nós gratos para com esse Coração amabilíssimo, e para reparar as ofensas que lhe tenhamos feito habituemo-nos a oferecer muitas vezes ao Eterno Pai este preço da nossa Redenção.

I. Considera o imenso amor que o Filho de Deus nos mostrou, remindo-nos ao preço de seu divino Sangue. Podia salvar-nos sem sofrer; pois que uma só lagrima, um só suspiro, até uma só oração, sendo de valor infinito, teria sido o suficiente para salvar o mundo e até mil mundos. Mas o que bastava para a Redenção, diz São João Crisóstomo, não bastava para patentear o amor que Deus nos tinha; tanto mais que ele quis fazer-se ao mesmo tempo o nosso guia e o nosso mestre: Remiste-nos para Deus com o teu sangue.

Para nos ensinar pelo seu exemplo a obediência às ordens do Pai, também a custo de sacrifícios, Jesus começou a derramar o seu precioso sangue, quando tinha oito dias apenas, sob o cutelo da circuncisão.—Além disso, para nos ensinar a domarmos as nossas paixões rebeldes, e ao mesmo tempo a nos conformarmos em tudo com a vontade divina, mesmo com sacrifício da vida, continuou a derramá-lo no horto das oliveiras, numa agonia mortal e com tamanha abundância que corria sobre a terra: Factus est sudor eius sicut guttai sanguinis decurrentis in terram  — «Veio-lhe um suor, como de gotas de sangue que corria sobre a terra».—Para reparar a delicadeza com que tratamos o nosso corpo, e mais ainda as nossas satisfações indignas, os nossos pensamentos de soberba e luxúria, Jesus Cristo quis derramar seu sangue no pretório de Pilatos sob os golpes de uma cruel flagelação e de uma bárbara coroação de espinhos.

Finalmente, depois de haver tinto com o seu sangue o caminho do Calvário, para nos ensinar que o caminho do céu é o dos sofrimentos; depois de o haver derramado ainda copiosissimamente pelas mãos e pés, deixando-se crucificar a fim de reparar o abuso da nossa liberdade; vendo por um lado que o coração humano é a raiz viciada de todos os males, e por outro, que no seu coração restavam ainda poucas gotas de seu precioso sangue, quis derrama-las também, permitindo que o seu lado sacrossanto fosse aberto por uma lançada: Unus militum lancea tatus eius aperuit — «Um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança».

Ainda não satisfeito com, tudo isso, quis o Senhor, mesmo depois da sua morte e até à consumação dos séculos, preparar-nos com o seu Sangue um banho para as nossas almas no sacramento da Penitência, e no da Eucaristia dar-no-lo como bebida para refazer as nossas forças. — Ó invenções admiráveis do amor de um Deus para com os homens! Mas de que modo respondemos nós a tão grande amor?

II. Para mostrares a tua gratidão para com Jesus, e também para desagravá-lo de tantas ofensas que recebe, nutre uma devoção particular pelo seu precioso Sangue. Quando meditares na Paixão do Senhor, chega-te em espírito a ele e pede-lhe que te tinja com o seu Sangue divino. No tribunal da penitência, imagina ver na pessoa do Confessor a pessoa mesma do Redentor, que, dando-te a absolvição, derrama esse sangue sobre a tua alma, e na recepção da comunhão ou na celebração da missa, afigura-te que chegas teus lábios ao lado sagrado de Jesus. Habitua-te sobretudo a oferecer frequentes vezes ao Padre Eterno o Sangue preciosíssimo de Jesus Cristo, em desconto de teus pecados, pelas necessidades da santa Igreja, pela conversão dos pecadores e em sufrágio das almas do purgatório.

+ Ó Sangue preciosíssimo de vida eterna, preço e resgate do mundo inteiro, bebida e banho salutar das nossas almas, que continuamente defendeis a causa dos homens, junto do trono da suprema misericórdia, eu vos adoro profundamente e quereria, quanto me é possível, compensar-vos das injurias e dos ultrajes que recebeis constantemente dos homens e principalmente daqueles que levam a audácia até de proferir blasfêmias contra vós. E quem não bendirá este Sangue de um valor infinito? Quem se não sentirá inflamar de amor por Jesus que o derramou? Que seria de mim, se não fosse resgatado por este Sangue divino? Quem o tirou das veias do meu Senhor até à ultima gota? Ah, que foi sem duvida o amor. Ó amor imenso, que nos destes um bálsamo tão salutar! Ó bálsamo inestimável, brotado da fonte de um amor infinito, fazei que todos os corações e todas as línguas vos louvem, glorifiquem e agradeçam agora e sempre e por toda a eternidade.

«E Vós, ó Padre Eterno, que estabelecestes o vosso Filho Unigênito como Redentor do mundo, e quisestes ser aplacado pelo seu sangue, concedei-nos propicio que, durante a minha vida terrestre, eu venere solenemente este preço da nossa salvação, e seja por ele livrado de todo o mal da vida presente, de tal modo que eu mereça gozar no céu o seu fruto perpetuo.» 2 Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo e de Maria Santíssima.

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Fonte: Meditações para Todos os Dias do Ano, de Santo Afonso Maria de Ligório, Tomo II, p. 351.

Petrus_Paulus.

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Santo Afonso Maria de Ligório

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XXIX DE JUNHO.

Festa dos santos Apóstolos Pedro e Paulo.

Constitues eos príncipes «super omnem terram— «Estabelecei-os príncipes sobre toda a terra» (Ps. 44, 17).

Sumário. A eleição destes dois varões para príncipes dos apóstolos foi um dom todo gratuito de Deus e um puro rasgo da misericórdia divina. Mas eles corresponderam perfeitamente a um favor tão assinalado pela prática de todas as virtudes e especialmente pelo zelo da glória divina e da salvação das almas. Nós também, apesar da nossa indignidade, recebemos de Deus grandes favores. Mas como lhes temos correspondido?… Sejamos para o futuro mais diligentes e imitemos estes nossos grandes protetores.

I. Considera que a eleição destes dois varões para príncipes dos apóstolos foi um dom todo gratuito de Deus e um puro rasgo da misericórdia divina. Mas eles também corresponderam perfeitamente a um favor tão assinalado pela prática de todas as virtudes, especialmente pelo zelo da glória divina e da salvação das almas.

Já antes da sua queda se mostrara São Pedro sempre apóstolo zelosíssimo, muito mais porém depois da queda, que ele chorou com lágrimas tão abundantes, até lhe gravarem sulcos nas faces. — Depois de Pentecostes começou ele logo, o primeiro dos apóstolos, a desempenhar a sua missão, e com resultado tal, que com um só sermão converteu cerca de três mil pessoas; compensando com este número a tríplice negação do seu divino Mestre. E daquele dia em diante trabalhou incansavelmente durante mais de trinta anos, e sempre com a mesma abundância de frutos. — Continuou o seu apostolado mesmo na prisão Mamertina, onde converteu os guardas, continuou-o ainda sobre a cruz, tendo a sorte feliz de morrer como Jesus Cristo.

A vida de São Paulo, depois da sua conversão prodigiosa, pode igualmente chamar-se um apostolado contínuo, e portanto um contínuo martírio. Pelo que ele mesmo, constrangido a dar uma resenha das suas missões, pôde atestar na presença de Deus, que trabalhara mais do que todos os outros apóstolos, que suportara cárceres e açoites, e para “a glória de Deus fora exposto a toda a espécie de perigos”.

Numa palavra, destes dois apóstolos, mais do que dos outros, se pode dizer que o Senhor, na sua bondade, os estabeleceu príncipes sobre toda a terra e que eles, pela sua fiel cooperação, se fizerem pregoeiros dos louvores de Deus: Constitues eos príncipes super omnem terram. …In fines orais terrae verba eorum *. — Alegra-te com estes teus grandes Protetores, e dá graças a Deus pelos favores a eles concedidos.

II. Se examinares a tua consciência, verás que também tu, apesar de teus deméritos, tens recebido de Deus grandes favores. Mas como lhes correspondeste?… Como desagravaste a Deus de teus pecados?… Que fizeste até agora pela salvação do próximo? — Eis-aí o fruto que deves colher da solenidade de hoje. Esforça-te por imitar as virtudes destes dois apóstolos, e em particular o seu zelo pela glória divina e pela salvação das almas.

+ Ó santos apóstolos Pedro e Paulo, eu vos escolho hoje e para sempre para meus especiais protetores e advogados; e humildemente me alegro, assim convosco, ó glorioso São Pedro, Príncipe dos apóstolos, por serdes aquela pedra sobre a qual Deus edificou a sua Igreja; como convosco, ó Bem-aventurado São Paulo, escolhido por Deus para vaso de eleição e pregador da verdade em todo o mundo. Eu vos rogo que me alcanceis viva fé, firme esperança e caridade perfeita, total desapego de mim mesmo, desprezo do mundo, paciência nas adversidades e humildade nas prosperidades, atenção na oração, pureza de coração, reta intenção nas obras, diligência no cumprimento das obrigações do próprio estado, constância nos propósitos, resignação na vontade de Deus, e perseverança na divina graça até à morte, para que, mediante vossa intercessão e gloriosos merecimentos, vencidas as tentações do demônio, do mundo e da carne, eu me torne digno de aparecer na presença do supremo e eterno Pastor das almas Jesus Cristo, que com o Padre e com o Espírito Santo vive e reina por séculos de séculos, para o gozar e amar eternamente.

«E Vós, ó Senhor, que santificastes o dia presente com o martírio dos vossos apóstolos Pedro e Paulo: fazei que a vossa Igreja siga em tudo os preceitos daqueles que foram os seus primeiros ministros.» Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo, vosso divino Filho, e pela intercessão de Maria Santíssima, nossa querida Mãe.

24/06 Sexta-feira
Festa de Primeira Classe 
Paramentos Brancos
Vitral-Sagrado-Coracao

Na sexta-feira depois da oitava da festa do Corpo de Deus, a Igreja celebra a festa do Sagrado Coração de Jesus. De acordo com os desejos de Nosso Senhor, manifestados a Santa Margarida Maria Alacoque, deve ser dia de reparação, pela ingratidão, frieza, desprezo e sacrilégios que muitas vezes sofreu na Eucaristia, por parte de maus cristãos, e às vezes até por parte de pessoas que se presumem piedosas. Em todas as igrejas se fazem neste dia, solenes atos coletivos de reparação. Para estimular os cristãos e retribuir com amor tantas e tão grandes provas de amor do Divino Coração de Jesus, dedicou à sua veneração, não só a primeira sexta-feira de cada mês, mas também um mês inteiro, o mês de junho.

No dia 16 de junho de 1675, durante uma exposição do Santíssimo Sacramento, Nosso Senhor apareceu a Santa Margarida Maria Alacoque e, descobrindo seu Coração, disse-lhe: “Eis o coração que tanto tem amado aos homens e em recompensa não recebe, da maior parte deles, senão ingratidões pelas irreverências e sacrilégios, friezas e desprezos que tem por Mim neste Sacramento de Amor”.

Quem é devoto do Sagrado Coração de Jesus?

Tem devoção ao Sagrado Coração de Jesus, quem considera o amor que Jesus Cristo patenteou na sua vida, na morte e no Santíssimo Sacramento, quem considera os afetos, os sofrimentos da alma de Jesus Cristo. É devoto do Sagrado Coração de Jesus, quem ama a Jesus Cristo, imita suas virtudes; quem Lhe faz reparação honorífica dos ultrajes que recebe e tudo isto, para corresponder ao amor que Ele nos vota”.

O Sagrado Coração de Jesus, na “GRANDE PROMESSA”, concedeu a inestimável graça da perseverança final aos que comungarem na primeira sexta-feira de nove meses seguidos. Pelo que se introduziu o exercício de devoções em honra do Sagrado Coração, na primeira sexta-feira de cada mês. Além da graça prometida, ganha-se uma indulgência plenária (Comunhão, reparação, oração e meditação por algum tempo sobre a infinita bondade do Sagrado Coração). (Pe. Réus: “Orai”)Jesus, portanto, quer que Lhe demos amor e reparação das ofensas contra a Eucaristia, honrando e venerando o seu divino Coração. E como para nos obrigar a isto, fez as seguintes magníficas promessas, em que fala a misericórdia do seu Sagrado Coração:

AS PROMESSAS

<> Dar-lhes-ei todas as graças necessárias ao seu estado.

<> Porei paz em suas famílias.

<> Consolá-los-ei em todas as suas aflições.

<> Serei o seu refúgio na vida e principalmente na morte.

<> Derramarei abundantes bênçãos sobre todas as suas empresas.

<> Os pecadores acharão no meu Coração o manancial e o oceano infinito de misericórdia.

<> As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas.

<> As almas fervorosas| altear-se-ão, rapidamente, às eminências da perfeição.

<> Abençoarei as casas, onde se expuser e venerar a imagem do meu Sagrado Coração.

<> Darei aos sacerdotes o dom de abrandarem os corações mais endurecidos.

<> As pessoas que propagarem esta devoção, terão os seus nomes escritos no meu Coração, para nunca dele serem apagados.

<> A GRANDE PROMESSA: Prometo-te, pela excessiva misericórdia e pelo amor todo-poderoso do meu Coração, conceder a todos que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, a graça da penitência final, que não morrerão em minha inimizade, nem sem receberem os seus sacramentos, e que o meu Divino Coração lhes será seguro asilo nesta última hora.

Segue abaixo, a ficha de controle para as pessoas que se dispuserem a fazer as Comunhões Reparadoras ao Sagrado Coração de Jesus:

MINHAS COMUNHÕES REPARADORAS:

EU, ___________________________________________________, eu fiz a Comunhão Reparadora nas primeiras sextas-feiras dos seguintes meses:

1. No mês de ____________________ de 20___

2. No mês de ____________________ de 20___

3. No mês de ____________________ de 20___

4. No mês de ____________________ de 20___

5. No mês de ____________________ de 20___

6. No mês de ____________________ de 20___

7. No mês de ____________________ de 20___

8. No mês de ____________________ de 20___

9. No mês de ____________________ de 20___

E PROMETO ao Sagrado Coração de Jesus em levar uma vida digna de católico (a) praticante e fervoroso (a).

MINHA CONSAGRAÇÃO

Divino Salvador que, perseguido pelos inimigos e ferido no Coração pela tibieza de tantos amigos, Vos queixastes a Santa Margarida: “Tenho procurado consoladores e não os tenho encontrado…”.

Aqui estou, Senhor, para Vos consolar: Quero adorar vossa Majestade escondida, quero reparar as ofensas minhas e dos outros, quero amar o vosso amor desprezado e abandonado. Consagro-me inteiramente ao vosso Divino Coração. Sede Vós somente o meu Rei. Ajudai-me, Senhor a difundir nas almas o reino do vosso Coração. Acendei a chama do Vosso Amor no coração dos vossos sacerdotes, para que se tornem apóstolos infatigáveis e portadores das bênçãos do Vosso Divino Coração.

Fazei que compreendam, finalmente, a honra e a obrigação que têm de Vos amar, para que, unidos entre si com os laços da vossa caridade, glorifiquem todos o vosso Divino Coração, que é para nós, fonte de vida e salvação.

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Divino Coração de Jesus reine em meu coração”!

Imaculado Coração de Maria defenda e dilate nele o Reino de vosso Filho. Amém!”

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ENTRONIZAI O CORAÇÃO DE JESUS EM VOSSO CORAÇÃO!

Divino Amigo, perseguido pelos inimigos e ferido no Coração pela tibieza de tantos amigos, vos queixastes a Santa Margarida: “Não acho, quem me ofereça um lugar de repouso… quero que teu Coração me sirva de asilo…”, eu quero aliviar vossa queixa e dar ao Vosso Coração o asilo, que tantas almas lhe negam, quando dizem, ao menos com as suas obras: “Não queremos que Ele reine sobre nós”. De minha parte, pelo contrário, só Vós haveis de ser o meu Rei. Vivei em mim que já não quero outra vida senão a vossa, outros interesses senão o da vossa glória esvazia inteiramente meu coração e de par em par vo-lo abro. Entrai Senhor! Dai-me o vosso Coração. Ele será o meu Rei muito amado. A Ele consagro e abandono meus interesses espirituais e temporais, meus sentidos e potências, minha vontade e todo o meu ser. Divino Coração de Jesus reine no meu coração! Imaculado Coração de Maria defenda e dilate nele o Reino de vosso Filho. Amém.

Jaculatórias: Coração Eucarístico de Jesus, Modelo do coração sacerdotal,

Tende piedade de nós! (300 dias)

Enviai Senhor, à vossa Igreja, Santos sacerdotes e fervorosos religiosos! (300 dias)

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Ato de Consagração aos Sagrados Coração de Jesus e de Maria da Família.

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“Sacratíssimos Corações de Jesus e de Maria, a vós me consagro, assim como toda minha família. Consagramos a vós nosso próprio ser, toda nossa vida, tudo o que somos, tudo o que temos, e tudo o que amamos. A vós damos nossos corações e nossas almas. A vós dedicamos nosso lar e nosso país. Conscientes de que, através desta consagração nós, agora, vos prometemos viver cristãmente praticando as virtudes de nossa religião, sem nos envergonharmos de testemunhar a fé.”

Ó Sacratíssimos Corações de Jesus e de Maria, aceitai esta humilde oferta de entrega de cada um de nós, através deste ato de consagração.

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Epístola 

São Paulo ao Efesios 3, 8-12 e 14-19

8.A mim, o mais insignificante dentre todos os santos, coube-me a graça de anunciar entre os pagãos a inexplorável riqueza de Cristo,9.e a todos manifestar o desígnio salvador de Deus, mistério oculto desde a eternidade em Deus, que tudo criou.10.Assim, de ora em diante, as dominações e as potestades celestes podem conhecer, pela Igreja, a infinita diversidade da sabedoria divina,11.de acordo com o desígnio eterno que Deus realizou em Jesus Cristo, nosso Senhor.12.Pela fé que nele depositamos, temos plena confiança de aproximar-nos junto de Deus. 14. Por esta causa dobro os joelhos em presença do Pai,15.ao qual deve a sua existência toda família no céu e na terra,16.para que vos conceda, segundo seu glorioso tesouro, que sejais poderosamente robustecidos pelo seu Espírito em vista do crescimento do vosso homem interior.17.Que Cristo habite pela fé em vossos corações, arraigados e consolidados na caridade,18.a fim de que possais, com todos os cristãos, compreender qual seja a largura, o comprimento, a altura e a profundidade,19.isto é, conhecer a caridade de Cristo, que desafia todo o conhecimento, e sejais cheios de toda a plenitude de Deus.

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Evangelho 

São João 19, 31-37

31.Os judeus temeram que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque já era a Preparação e esse sábado era particularmente solene. Rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados.32.Vieram os soldados e quebraram as pernas do primeiro e do outro, que com ele foram crucificados.33.Chegando, porém, a Jesus, como o vissem já morto, não lhe quebraram as pernas,34.mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água.35.O que foi testemunha desse fato o atesta (e o seu testemunho é digno de fé, e ele sabe que diz a verdade), a fim de que vós creiais.36.Assim se cumpriu a Escritura: Nenhum dos seus ossos será quebrado (Ex 12,46).37.E diz em outra parte a Escritura: Olharão para aquele que transpassaram (Zc 12,10).

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Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo Rosário

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CARTA ENCÍCLICA DO PAPA PIO XII

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AD CAELI REGINAM

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SOBRE A REALEZA DE MARIA
E A INSTITUIÇÃO DA SUA FESTA

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Aos veneráveis irmãos Patriarcas, Primazes,
Arcebispos e bispos e outros Ordinários do lugar,
em paz e comunhão com a Sé Apostólica

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INTRODUÇÃO

1. Desde os primeiros séculos da Igreja católica, elevou o povo cristão orações e cânticos de louvor e de devoção à Rainha do céu tanto nos momentos de alegria, como sobretudo quando se via ameaçado por graves perigos; e nunca foi frustrada a esperança posta na Mãe do Rei divino, Jesus Cristo, nem se enfraqueceu a fé, que nos ensina reinar com materno coração no universo inteiro a Virgem Maria, Mãe de Deus, assim como está coroada de glória na bem-aventurança celeste.

2. Ora, depois das grandes calamidades que, mesmo à nossa vista, destruíram horrivelmente florescentes cidades, vilas e aldeias; diante do doloroso espetáculo de tantos e tão grandes males morais, que transbordam em temeroso aluvião; quando vacila às vezes a justiça e triunfa com freqüência a corrupção; neste incerto e temeroso estado de coisas, sentimos nós a maior dor; mas ao mesmo tempo recorremos confiantes à nossa rainha, Maria santíssima, e patenteamos-lhe não só os nossos devotos sentimentos mas também os de todos os fiéis cristãos.

3. É grato e útil recordar que nós próprios – no dia 1° de novembro do ano santo de 1950, diante de grande multidão formada de cardeais, bispos, sacerdotes e simples cristãos, vindos de toda a parte do mundo – definimos o dogma da assunção da bem-aventurada virgem Maria ao céu(1), a qual presente em alma e corpo, reina entre os coros dos anjos e santos, juntamente com o seu unigênito Filho. Além disso – ocorrendo o primeiro centenário da definição dogmática do nosso predecessor de imortal memória Pio IX, que proclamou ter sido a Mãe de Deus concebida sem qualquer mancha do pecado original – promulgamos,(2) com grande alegria do nosso coração paterno, o presente ano mariano; e vemos com satisfação que não só nesta augusta cidade – especialmente na Basílica Liberiana, onde inumeráveis multidões vão testemunhando bem claramente a sua fé e ardente amor a Mãe do céu – mas em todas as partes do mundo a devoção à virgem Mãe de Deus refloresce cada vez mais, ocorrendo grandes peregrinações aos principais santuários de Maria.

4. Todos sabem que nós, na medida do possível – quando em audiências falamos aos nossos filhos, ou quando, por meio das ondas radiofônicas, dirigimos mensagens ao longe – não deixamos de recomendar, a quantos nos ouviam que amassem, com amor terno e filial, tão boa e poderosa Mãe. A esse propósito, recordamos em especial a radiomensagem que endereçamos ao povo português, por motivo da coroação da prodigiosa imagem de nossa Senhora de Fátima (3), que chamamos radiomensagem da “realeza” de Maria.(4)

5. Portanto, como coroamento de tantos testemunhos deste nosso amor filial, a que o povo cristão correspondeu com tanto ardor, para encerrar com alegria e fruto o ano mariano que se aproxima do fim, e para satisfazer aos insistentes pedidos, que nos chegaram de toda a parte, resolvemos instituir a festa litúrgica da bem-aventurada rainha virgem Maria.

6. Não é verdade nova que propomos à crença do povo cristão, porque o fundamento e as razões da dignidade régia de Maria encontram-se bem expressos em todas as idades, e constam dos documentos antigos da Igreja e dos livros da sagrada liturgia.

7. Queremos recordá-los na presente encíclica, para renovar os louvores da nossa Mãe do céu e avivar proveitosamente na alma de todos a devoção para com ela.

I
A REALEZA DE MARIA NOS TEXTOS DA TRADIÇÃO… 

8. Com razão acreditou sempre o povo fiel, já nos séculos passados, que a mulher, de quem nasceu o Filho do Altíssimo – o qual “reinará eternamente na casa de Jacó”(5), (será) “Príncipe da Paz”(6) , “Rei dos Reis e Senhor dos senhores”(7)-, recebeu mais que todas as outras criaturas singulares privilégios de graça. E considerando que há estreita relação entre uma mãe e o seu filho, sem dificuldade reconheceu na Mãe de Deus a dignidade real sobre todas as coisas.

9. Assim, baseando-se nas palavras do arcanjo Gabriel, que predisse o reino eterno do Filho de Maria,(8) e nas de Isabel, que se inclinou diante dela e a saudou como “Mãe do meu Senhor”,(9) compreende-se que já os antigos escritores eclesiásticos chamassem a Maria “mãe do Rei” e “Mãe do Senhor”, dando claramente a entender que da realeza do Filho derivara para a Mãe certa elevação e preeminência.

10. Santo Efrém, com grande inspiração poética, põe estas palavras na boca de Maria: “Erga-me o firmamento nos seus braços, porque eu estou mais honrada do que ele. O céu não foi tua mãe, e fizeste dele teu trono. Ora, quanto mais se deve honrar e venerar a mãe do Rei, do que o seu trono!”(10) Em outro passo, assim invoca a Maria santíssima: “…Virgem augusta e protetora, rainha e senhora, protege-me à tua sombra, guarda-me, para que Satanás, que semeia ruínas, não me ataque, nem triunfe de mim o iníquo adversário”.(11)

11. A Maria chama s. Gregório Nazianzeno “Mãe do Rei de todo o universo”, “Mãe virgem, [que] deu à luz o Rei do todo o mundo”.(12) Prudêncio diz que a Mãe se maravilha “de ter gerado a Deus não só como homem mas também como sumo rei”.(13)

12. E afirmam claramente a dignidade real de Maria aqueles que a chamam “senhora”, “dominadora” e “rainha”.

13. Já numa homilia atribuída a Orígenes, Maria é chamada por Isabel não só “Mãe do meu Senhor” mas também “Tu, minha Senhora”.(14)

14. O mesmo conceito se pode deduzir dum texto de s. Jerônimo, que expõe o próprio parecer acerca das várias interpretações do nome de Maria: “Saiba-se que Maria, na língua siríaca, significa Senhora”.(15) Igualmente e com mais decisão, se exprime depois s. Pedro Crisólogo: “O nome hebraico Maria traduz-se por “Domina” em latim: “portanto o anjo chama-lhe Senhora para livrar do temor de escrava a mãe do Dominador, a qual nasce e se chama Senhora pelo poder do Filho”.(16)

15. Santo Epifânio, bispo de Constantinopla, escreve ao papa Hormisdas pedindo a conservação da unidade da Igreja “mediante a graça da Trindade una e santa e por intercessão de nossa Senhora, a santa e gloriosa virgem Maria, Mãe de Deus”.(17)

16. Um autor do mesmo tempo dirige-se a Maria santíssima, sentada à direita de Deus, invocando-a solenemente como “Senhora dos mortais, santíssima Mãe de Deus”.(18)

17. Santo André Cretense atribui muitas vezes a dignidade real à virgem Maria; escreve, por exemplo: “Leva [Jesus Cristo] neste dia da morada terrestre [para o céu], como rainha do gênero humano, a sua Mãe sempre virgem, em cujo seio, permanecendo Deus, tomou a carne humana”.(19) E noutro lugar: “Rainha de todo o gênero humano, porque, fiel à significação do seu nome, se encontra acima de tudo quanto não é Deus”.(20)

18. Do mesmo modo se dirige s. Germano à humildade da Virgem: “Senta-te, ó Senhora; sendo tu Rainha e mais eminente que todos os reis, pertence-te estar sentada no lugar mais nobre”(21); e chama-lhe: “Senhora de todos aqueles que habitam a terra”.(22)

19. São João Damasceno proclama-a “rainha, protetora e senhora”(23) e também: “senhora de todas as criaturas”(24); e um antigo escritor da Igreja ocidental chama-lhe: “ditosa rainha”, “rainha eterna junto do Filho Rei”, e diz que ela tem a “nívea cabeça ornada com um diadema de ouro”.(25)

20. Finalmente, s. Ildefonso de Toledo resume-lhe quase todos os títulos de honra nesta saudação: “Ó minha senhora, minha dominadora: tu dominas em mim, ó mãe do meu Senhor… Senhora entre as escravas, rainha entre as irmãs”.(26)

21. Recolhendo a lição desses e outros inumeráveis testemunhos antigos, chamaram os teólogos a santíssima Virgem, rainha de todas as coisas criadas, rainha do mundo e senhora do universo.

22. Por sua vez, os sumos pastores da Igreja julgavam obrigação sua aprovar e promover a devoção à celeste Mãe e Rainha com exortação e louvores. Pondo de parte os documentos dos papas recentes, recordamos que já no século VII o nosso predecessor s. Martinho I chamou a Maria “gloriosa Senhora nossa, sempre virgem”;(27) s. Agatão, na carta sinodal enviada aos padres do sexto concílio ecumênico, chamou-a “Senhora nossa, verdadeiramente e com propriedade Mãe de Deus”;(28) e no século VIII, Gregório II, em carta ao patriarca s. Germano, que foi lida entre as aclamações dos padres do sétimo concílio ecumênico, proclamava Maria “Senhora de todos e verdadeira Mãe de Deus” e “Senhora de todos os cristãos”.(29)

23. Apraz-nos recordar também que o nosso predecessor de imortal memória Sixto IV, querendo favorecer a doutrina da imaculada conceição da santíssima Virgem, começa a carta apostólica Cum praeexcelsa (30) chamando precisamente a Maria “rainha sempre vigilante, a interceder junto ao Rei, que ela gerou”. Do mesmo modo Bento XIV, na carta apostólica Gloriosae Dominae (31), chama a Maria “rainha do céu e da terra”, afirmando que o sumo Rei lhe contou, em certo modo, o seu próprio império.

24. Por isso, s. Afonso de Ligório, tendo presente todos os testemunhos dos séculos precedentes, pôde escrever com a maior devoção: “Porque a virgem Maria foi elevada até ser Mãe do Rei dos reis, com justa razão a distingue a Igreja com o título de Rainha”.(32)

II
NA LITURGIA E NA ARTE

25. A sagrada liturgia, espelho fel da doutrina transmitida pelos santos padres e da crença do povo cristão, cantou por todo o decurso dos séculos e canta ainda sem cessar, tanto no oriente como no ocidente, as glórias da celestial Rainha.

26. Vozes entusiásticas ressoam do oriente: “Ó Mãe de Deus, hoje és transferida para o céu sobre os carros dos querubins, os serafins estão às tuas ordens, e os exércitos da milícia celeste prostram-se diante de ti”.(33)

27. E mais ainda: “Ó justo, felicíssimo [José], pela tua origem real foste escolhido entre todos para esposo da Rainha imaculada, que dará à luz de modo inefável a Jesus Rei”.(34) E depois: “Vou elevar um hino à rainha e Mãe de quem, ao celebrar, me aproximarei com alegria, para cantar com exultação alegremente as suas glórias… Ó Senhora, nossa língua não te pode louvar dignamente, porque tu, que deste à luz a Cristo nosso Rei, foste exaltada acima dos serafins… Salve, rainha do mundo, salve, ó Maria, senhora de todos nós”.(35)

28. Lê-se no Missal etíope: “Ó Maria, centro do mundo todo,… Tu és maior que os querubins de olhar penetrante, e que os serafins de seis asas… O céu e a terra estão cheios da santidade da tua glória”.(36)

29. O mesmo canta a liturgia da Igreja latina com a antiga e dulcíssima oração “Salve, rainha”, as alegres antífonas “Ave, ó rainha dos céus”, “Rainha do céu, alegrai-vos, aleluia”, e outras que se costumam rezar em várias festas de nossa Senhora: “Colocou-se como rainha à tua direita, com vestido dourado e circundada de vários ornamentos”(37); “A terra e o povo cantam o teu poder, ó rainha”(38); “Hoje a virgem Maria sobe ao céu: alegrai-vos, porque reina com Cristo para sempre”.(39)

30. A esse e outros cânticos devem juntar-se as Ladainhas lauretanas, que levam o povo cristão a invocar todos os dias nossa Senhora como rainha; e no santo rosário, que se pode chamar coroa mística da celeste rainha, já há muitos séculos os fiéis contemplam, do quinto mistério glorioso, o reino de Maria, que abraça o céu e a terra.

31. Finalmente a arte cristã, intérprete natural da espontânea e pura devoção do povo, desde o concílio de Éfeso que representa Maria como rainha e imperatriz, sentada num trono e adornada com as insígnias reais, de coroa na cabeça, rodeada da corte dos anjos e santos, como quem domina não só as forças da natureza, mas também os malignos assaltos de Satanás. A iconografia da virgem Maria como rainha enriqueceu-se em todos os séculos com obras de arte de alto mérito, chegando até a figurar o divino Redentor no ato de cingir com brilhante coroa a cabeça da própria Mãe.

32. Os pontífices romanos não deixaram de favorecer esta devoção coroando pessoalmente ou por meio de legados as imagens da virgem Mãe de Deus, que eram objeto de especial veneração.

III
OS ARGUMENTOS TEOLÓGICOS 

A maternidade divina de Maria

33. Como acima apontamos, veneráveis irmãos, segundo a tradição e a sagrada liturgia, o principal argumento em que se funda a dignidade régia de Maria é sem dúvida a maternidade divina. Na verdade, do Filho que será dado à luz pela Virgem, afirma-se na Sagrada Escritura: “chamar-se-á Filho do Altíssimo e o Senhor Deus dar-lhe-á o trono de Davi, seu pai; reinará na casa de Jacó eternamente, e o seu reino não terá fim”(40); ao mesmo tempo que Maria é proclamada “a Mãe do Senhor”.(41) Daqui se segue logicamente que Maria é rainha, por ter dado a vida a um Filho, que no próprio instante da sua concepção, mesmo como homem, era rei e senhor de todas as coisas, pela união hipostática da natureza humana com o Verbo. Por isso muito bem escreveu s. João Damasceno: “Tornou-se verdadeiramente senhora de toda a criação, no momento em que se tornou Mãe do Criador”.(42) E assim o arcanjo Gabriel pode ser chamado o primeiro arauto da dignidade real de Maria.

34. Contudo, nossa Senhora deve proclamar-se Rainha, não só pela sua maternidade divina, mas ainda pela parte singular que Deus queria ter na obra da salvação. “Que pode haver – escrevia nosso predecessor de feliz memória, Pio XI – mais doce e suave do que pensar que Cristo é nosso Rei, não só por direito de natureza, mas ainda por direito adquirido, isto é, pela redenção? Repensem todos os homens, esquecidos do quanto custamos ao nosso Redentor e recordem todos: ‘Não fostes remidos com ouro ou prata, bens corruptíveis…, mas pelo precioso sangue de Cristo, cordeiro imaculado e incontaminado’.(43) ‘Não pertencemos portanto a nós mesmos, pois Cristo ‘a alto preço’,(44) ‘nos comprou’.(45)

Sua cooperação na redenção

35. Ora, ao realizar-se a obra da redenção, Maria santíssima foi intimamente associada a Cristo, e por isso justamente se canta na sagrada liturgia: “Santa Maria, rainha do céu e senhora do mundo, estava traspassada de dor, ao pé da cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”.(46) E um piedosíssimo discípulo de s. Anselmo podia escrever na Idade Média: “Como… Deus, criando todas as coisas pelo seu poder, é Pai e Senhor de tudo, assim Maria, reparando todas as coisas com os seus méritos, é mãe e senhora de tudo: Deus é senhor de todas as coisas, constituindo cada uma delas na sua própria natureza pela voz do seu poder, e Maria é Senhora de todas as coisas, reconstituindo-as na sua dignidade primitiva pela graça, que lhes mereceu”.(47) De fato “como Cristo, pelo título particular da redenção, é nosso senhor e nosso rei, assim a bem-aventurada Virgem [é senhora nossa] pelo singular concurso, prestado à nossa redenção, subministrando a sua substância e oferecendo voluntariamente por nós o Filho Jesus, desejando, pedindo e procurando de modo singular a nossa salvação”.(48)

36. Dessas premissas se pode argumentar: Se Maria, na obra da salvação espiritual, foi associada por vontade de Deus a Jesus Cristo, princípio de salvação, e o foi quase como Eva foi associada a Adão, princípio de morte, podendo-se afirmar que a nossa redenção se realizou segundo uma certa “recapitulação”,(49) pela qual o gênero humano, sujeito à morte por causa duma virgem, salva-se também por meio duma virgem; se, além disso, pode-se dizer igualmente que esta gloriosíssima Senhora foi escolhida para Mãe de Cristo “para lhe ser associada na redenção do gênero humano”,(50) e se realmente “foi ela que – isenta de qualquer culpa pessoal ou hereditária, e sempre estreitamente unida a seu Filho – o ofereceu no Gólgota ao eterno Pai, sacrificando juntamente, qual nova Eva, os direitos e o amor de mãe em benefício de toda a posteridade de Adão, manchada pela sua desventurada queda”(51) poder-se-á legitimamente concluir que, assim como Cristo, o novo Adão, deve-se chamar rei não só porque é Filho de Deus mas também porque é nosso redentor, assim, segundo certa analogia, pode-se afirmar também que a bem-aventurada virgem Maria é rainha, não só porque é Mãe de Deus mas ainda porque, como nova Eva, foi associada ao novo Adão.

Sua sublime dignidade

37. E certo que no sentido pleno, próprio e absoluto, somente Jesus Cristo, Deus e homem, é rei; mas também Maria – de maneira limitada e analógica, como Mãe de Cristo-Deus e como associada à obra do divino Redentor, à sua luta contra os inimigos e ao triunfo deles obtido participa da dignidade real. De fato, dessa união com Cristo-Rei deriva para ela tão esplendente sublimidade, que supera a excelência de todas as coisas criadas: dessa mesma união com Cristo nasce aquele poder real, pelo qual ela pode dispensar os tesouros do reino do Redentor divino; finalmente, da mesma união com Cristo se origina a inexaurível eficácia da sua intercessão junto do Filho e do Pai.

38. Portanto, não há dúvida alguma que Maria santíssima se avantaja em dignidade a todas as coisas criadas e tem sobre todas o primado, a seguir ao seu Filho. “Tu finalmente, canta s. Sofrônio, superaste em muito todas as criaturas… Que poderá existir mais sublime que tal alegria, ó Virgem Mãe? Que pode existir mais elevado que tal graça, a qual por divina vontade só tu tiveste em sorte?”(52) “A esses louvores acrescenta s. Germano: “A tua honra e dignidade colocam-te acima de toda a criação: a tua sublimidade faz-te superior aos anjos”.(53) João Damasceno chega a escrever o seguinte: “É infinita a diferença entre os servos de Deus e a sua Mãe”.(54)

39. Para melhor compreendermos a sublime dignidade, que a Mãe de Deus atingiu acima de todas as criaturas, podemos considerar que a santíssima Virgem, desde o primeiro instante da sua conceição, foi enriquecida de tal abundância de graças, que supera a graça de todos os santos. Por isso, como escreveu na carta apostólica Ineffabilis Deus o nosso predecessor, de feliz memória, Pio IX, Deus “fez a maravilha de a enriquecer, acima de todos os anjos e santos, de tal abundância de todas as graças celestiais hauridas dos tesouros da divindade, que ela – imune de toda a mancha do pecado, e toda bela apresenta tal plenitude de inocência e santidade, que não se pode conceber maior abaixo de Deus, nem ninguém a pode compreender plenamente senão Deus”.(55)

Com Cristo, ela reina nas mentes e vontades dos homens 

40. Nem a bem-aventurada virgem Maria teve apenas, ao seguir a Cristo, o supremo grau de excelência e perfeição, mas também participou ainda daquela eficácia pela qual justamente se afirma que o seu divino Filho e nosso Redentor reina na mente e na vontade dos homens. Se, de fato, o Verbo de Deus opera milagres e infunde a graça por meio da humanidade que assumiu – e se utiliza dos sacramentos e dos seus santos, como instrumentos, para salvar as almas; por que não há de servir-se do múnus e ação de sua Mãe santíssima para nos distribuir os frutos da redenção? “Com ânimo verdadeiramente materno para conosco – como diz o mesmo predecessor nosso, de feliz memória, Pio IX – e ocupando-se da nossa salvação, ela, que pelo Senhor foi constituída rainha do céu e da terra, toma cuidado de todo o gênero humano, e – tendo sido exaltada sobre todos os coros dos anjos e as hierarquias dos santos do céu, e estando à direita do seu unigênito Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor – com as suas súplicas maternas impetra com eficácia, obtém quanto pede, nem pode deixar de ser ouvida”.(56) A esse propósito, outro nosso predecessor, de feliz memória, Leão XIII, declarou que foi concedido à bem-aventurada virgem Maria um poder “quase ilimitado”(57) na distribuição das graças; s. Pio X acrescenta que Maria desempenha esta missão “como por direito materno”.(58)

Duplo erro a ser evitado

41. Gloriem-se, portanto, todos os féis cristãos de estar submetidos ao império da virgem Mãe de Deus, que tem poder régio e se abrasa de amor materno.

42. Porém, nessas e noutras questões que dizem respeito à bem-aventurada virgem Maria, procurem os teólogos e pregadores evitar certos desvios, para não caírem em duplo erro: acautelem-se de opiniões sem fundamento e que ultrapassam com exageros os limites da verdade; e evitem, por outro lado, a excessiva estreiteza ao considerarem a singular, sublime, e mesmo quase divina dignidade da Mãe de Deus, que o doutor angélico nos ensina a atribuir-lhe “em razão do bem infinito, que é Deus”.(59)

43. Mas, nesse, como em todos os outros capítulos da doutrina cristã, “a norma próxima e universal” é para todos o magistério vivo da Igreja, instituído por Cristo “também para esclarecer e explicar aquelas coisas que só de modo obscuro e como que implícito estão contidas no depósito da fé”.(60)

IV
A FESTA DE MARIA RAINHA

44. Dos testemunhos da antiguidade cristã, das orações da liturgia, da inata devoção do povo cristão, das obras artísticas, de toda a parte recolhemos expressões que nos mostram que a virgem Mãe de Deus se distingue pela sua dignidade real; mostramos também que as razões, deduzidas pela sagrada teologia do tesouro da fé divina, confirmam plenamente essa verdade. De tantos testemunhos referidos forma-se uma espécie de concerto harmonioso que exalta a incomparável dignidade real da Mãe de Deus e dos homens, a qual domina todas as coisas criadas e foi elevada aos reinos celestes, acima dos coros dos anjos”.(61)

45. Depois de atentas e ponderadas reflexões, tendo chegado à convicção de que seriam grandes as vantagens para a Igreja, se essa verdade solidamente demonstrada resplandecesse com maior evidência diante de todos como luz que brilha mais, quando posta no candelabro, – com a nossa autoridade apostólica decretamos e instituímos a festa de Maria rainha, para ser celebrada cada ano em todo o mundo no dia 31 de maio. Ordenamos igualmente que no mesmo dia se renove a consagração do gênero humano ao seu coração imaculado. Tudo isso nos incute grande esperança de que há de surgir nova era, iluminada pela paz cristã e pelo triunfo da religião.

Exortação à devoção mariana

46. Procurem pois todos, e agora com mais confiança, aproximar-se do trono da misericórdia e da graça, para pedir à nossa Rainha e Mãe socorro na adversidade, luz nas trevas, conforto na dor e no pranto; e, o que é mais, esforcem-se por se libertar da escravidão do pecado, e prestem ao cetro régio de tão poderosa Mãe a homenagem duradoura da devoção dial. Freqüentem as multidões de fiéis os seus templos e celebrem-lhe as festas; ande nas mãos de todos a piedosa coroa do terço; e reúna a recitação dele – nas igrejas, nas casas, nos hospitais e nas prisões – ora pequenos grupos, ora grandes assembléias, para cantarem as glórias de Maria. Honra-se o mais possível o seu nome, mais doce do que o néctar e mais valioso que toda a pedra preciosa; ninguém ouse o que seria prova de alma vil – pronunciar ímpias blasfêmias contra este nome santíssimo, ornado de tanta majestade e venerável pelo carinho próprio de mãe; nem se atreva ninguém a dizer nada que seja irreverente.

47. Com vivo e diligente cuidado todos se esforcem por copiar nos sentimentos e nos atos, segundo a própria condição, as altas virtudes da Rainha do céu e nossa Mãe amantíssima. Donde resultará que os féis, venerando e imitando tão grande Rainha e Mãe, virão se sentir verdadeiros irmãos entre si, desprezarão a inveja e a cobiça das riquezas, e hão de promover a caridade social, respeitar os direitos dos fracos e fomentar a paz. Nem presuma alguém ser filho de Maria, digno de se acolher à sua poderosíssima proteção, se à exemplo dela não é justo, manso e casto, e não mostra verdadeira fraternidade, evitando ferir e prejudicar, e procurando socorrer e dar ânimo.

A Igreja do silêncio

48. Em algumas regiões da terra, não falta quem seja injustamente perseguido por causa do nome cristão e se veja privado dos direitos divinos e humanos da liberdade. Para afastar tais males, nada conseguiram até hoje justificados pedidos e reiterados protestos. A esses filhos inocentes e atormentados volva os seus olhos de misericórdia, cuja luz dissipa nuvens e serena tempestades, a poderosa Senhora dos acontecimentos e dos tempos, que sabe vencer a maldade com o seu pé virginal. Conceda-lhes poderem em breve gozar a devida liberdade e cumprir publicamente os deveres religiosos. E, servindo a causa do Evangelho – com o seu esforço concorde e egrégias virtudes, de que no meio de tantas dificuldades dão exemplo – concorram para o fortalecimento e progresso das sociedades terrestres.

Maria, Rainha e Medianeira da paz

49. A festa – instituída pela presente carta encíclica, a fim de que todos reconheçam mais claramente e melhor honrem o clemente e materno império da Mãe de Deus pensamos que poderá contribuir para que se conserve, consolide e torne perene a paz dos povos, ameaçada quase todos os dias por acontecimentos que enchem de ansiedade. Não é ela acaso o arco-íris que se eleva para Deus, como sinal de pacífica aliança?(62) “Contempla o arco-íris e bendize aquele que o fez; é muito belo no seu esplendor; abraça o céu na sua órbita radiosa, e foram as mãos do Altíssimo que o traçaram”.(63) Todo aquele que honra a Senhora dos anjos e dos homens – e ninguém se julgue isento deste tributo de reconhecimento e amor – invoque esta rainha, medianeira da paz; respeite e defenda a paz, que não é maldade impune nem liberdade desenfreada, mas concórdia bem ordenada sob o signo e comando da divina vontade: tendem a protegê-la e aumentá-la as maternas exortações e ordens de Maria.

50. Desejando ardentemente que a Rainha e Mãe do povo cristão acolha estes nossos votos, alegre com a sua paz as terras sacudidas pelo ódio, e a todos nós, depois deste exílio, mostre a Jesus, que será na eternidade a nossa paz e alegria; a vós, veneráveis irmãos, e aos vossos rebanhos, concedemos de todo o coração a bênção apostólica, como penhor do auxílio de Deus onipotente e testemunho do nosso paternal afeto.

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Dado em Roma, junto de São Pedro, na festa da maternidade de Nossa Senhora, no dia 11 de outubro do ano de 1954, XVI do nosso pontificado.

PIO PP. XII

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Notas

(1) Cf. Const. apostólica Munificentissimus Deus: AAS 42(1950), p. 753ss.

(2) Cf. Carta enc. Fulgens corona.: AAS 45(1953), p. 577ss.

(3) Cf. AAS 38(1946), p. 264ss.

(4) Cf. L’Osservatore Romano, de 19 de maio, de 1946.

(5) Lc 1,32.

(6) Is 9,6.

(7) Ap 19,16.

(8) Cf. Lc 1,32-33.

(9) Lc 1,43.

(10) S. Ephraem. Hymni de B. Maria, ed. Th. J. Lamy, t. II, Mechiniae,1886 Hymn. XIX p. 624.

(11) Idem, Oratio and Ss.mam Dei Matrem; Opera omnia, Ed. Assemani, t. III (graece), Romae,1747, p. 546.

(12) S. Gregorio Naz., Poemata dogmatica, XVIII, v. 58: P G. XXXVII, 485.

(13) Prudêncio, Dittochoeum, XVII; PL 60,102A.

(14) Hom. ins. Lucam, hom. VII; ed. Rauer, Origenes Werke, t. IX, p. 48 (ex catem Macarii Chrysocephali). Cf. PG 13,1902 D.

(15) S. Jeronimo, Liber de nominibus hebraeis: PL 23, 886.

(16) S. Pedro Chrisólogo, Sermo 142, De Annuntiatlone B.M.V.: PL 52, 579 C; cf. também 582B; 584A: “Regina totius exstitit castitatis”.

(17) Relatio Epiphanii Ep. Constantin.PL 63, 498D.

(18) Encomium in Dormitionem Ss.mae Deiparae (inter opera s. Modesti): PG 86, 3306B.

(19) s. Andreas Cretensis, Homilia II  in Dormitionem Ss.mae DeiparaePG 97, 1079B.

(20) Id., Homilla III  in Dormitionem Ss.mae Deiparae: I PG 98, 303A.

(21) S. Germano, In Praesentationem Ss.mae Deiparae, I: PG 98 303A.

(22) Id., In Praesentationem Ss.mae Deiparae, II: PG 98, 315C.

(23) S. João Damasceno, Homilia I in Dormitionem B.M.V: PG 96, 719A.

(24) Id., De fide orthodoxa, I, IV, c.14: PG 44,1158B.

(25) De laudibus Mariae (inter opera Venantii Fortunati): PL 88 282B e 283A.

(26) Ildefonso Toledano, De virginitate perpetua B.M.V.: PL 96, 58AD.

(27) S. Martinho I, Epist. XIV PL 87,199-200A.

(28) S. Agatão: PL 87,1221A.

(29) Hardouin, Acta Conciliorum, IV, 234 e 238: PL LXXXIX89 508B.

(30) Xisto IV, Bulla Cum praeexcelsa, de 28 de Fevereiro de 1476.

(31) Bento XIV, Bulla Gloriosae Dominae, de 27 de setembro de 1748.

(32) S. Afonso, Le glorie di Maria, p. I, c. I, § 1.

(33) Da liturgia dos Armenos: na festa da Assunção, hino do Matutino.

(34) Ex Menaeo (bizantino): Domingo depois do Natal, no Cânon, no Matutino.

(35) Offício, hino Akátistos (no rito bizantino).

(36) Missale Aethiopicum, Anáfora Dominae noetrae Mariae, Matris Dei.

(37) Brev. Rom., Versículo do sesto Respons.

(38) Festa da Assunção; hino ad Laudes.

(39) Ibidem, ao Magnificat, II Vésp.

(40) Lc 1, 32, 33.

(41) Ibid.1,43.

(42) S.  João Damas., De fide orthodoxa, 1. IV, c.14, PG 94,1158s.B.

(43) 1Pd 1,18,19.

(44) 1Cor 6,20.

(45) Pio XI, Carta enc. Quas primas: AAS 17(1925), p.599.

(46) Festa aeptem dolorum B. Mariae Virg., Tractus.

(47) Eadmero, De excellentia Virginis Mariae, c. 11: PL 159, 308AB.

(48) E Suárez, De mysteriis vitae Christi, disp. XXII, sect. II (ed. Vivès. XIX, 327).

(49) S. Ireneu, Adv. haer., V,19,1: PG 9,1175B.

(50) Pio XI, Epist. Auspicatus profecto: AAS 25(1933), p. 80.

(51). Pio XII, Carta enc. Mystici Corporis: AAS 35(1943), p. 247.

(52) S. Sofrônio, In Annuntiationem Beatae Mariae Virg.: PG 87, 3238D e 3242A.

(53) S. Germano, Hom. II in Dormitionem Beatae Mariae Virginis: PG 98, 354B.

(54) S. João Damas. Hom. I. in Dormitionem Beatae Mariae Virginis: PG 96, 715A.

(55) Pio IX, Bula Ineffabilis Deus: Acta Pii IX, I, p. 597-598.

(56) Ibid., p. 618.

(57) Leão XIII, Carta enc. Adiutricem populi: AAS 28(1895-96), p.130.

(58) Pio X, Carta enc. Ad diem illum: AAS 36(1903-1904), p. 455.

(59) S. Tomás, Summa Theol., I, q. 25, a. 6, ad 4.

(60) Pio XII, Carta enc. Humani generis: AAS, 42(1950), p. 569.

(61) Do Brev. Rom.: Festa da Assunção de Maria virgem

(62)Cf. Gn 9,13.

(63) Eccl. 43,12-13.

Santa Joana

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Gálatas, 1,6-12 – Se eu ainda estivesse preocupado em agradar aos homens, não seria servo de Cristo..

Filha de Jaques d’Arc e Isabel, camponeses muito pobres, Joana nasceu em Domrémy, na região francesa de Lorena, em 6 de janeiro de 1412. Cresceu no meio rural, piedosa, devota e analfabeta, assinava seu nome utilizando uma simples, mas significativa, cruz. Significativa porque já aos treze anos começou a viver experiências místicas.
Ouvia as “vozes” do arcanjo Miguel, das santas Catarina de Alexandria e Margarida de Antioquia, avisando que ela teria uma importante missão pela frente e deveria preparar-se para ela. Os pais, no início, não deram importância, depois acharam que estava louca e por fim acreditaram, mas temeram por Joana.
A França vivia a Guerra dos Cem Anos com a Inglaterra, governada por Henrique VI. Os franceses estavam enfraquecidos com o rei deposto e os ingleses tentando firmar seus exércitos para tomar de vez o trono. As mensagens que Joana recebia exigiam que ela expulsasse os invasores, reconquistasse a cidade de Orleans e reconduzisse ao trono o rei Carlos VII, para ser coroado na catedral de Reims, novamente como legítimo rei da França. A ordem para ela não parecia impossível, bastava cumpri-la, pois tinha certeza de que Deus estava a seu lado. O problema maior era conseguir falar pessoalmente com o rei deposto.
Conseguiu aos dezoito anos de idade. Carlos VII só concordou em seguir seus conselhos quando percebeu que ela realmente tinha por trás de si o sinal de Deus. Isso porque Joana falou com o rei sobre assuntos que na verdade eram segredos militares e de Estado, que ninguém conhecia, a não ser ele. Deu-lhe, então, a chefia de seus exércitos. Joana vestiu armadura de aço, empunhou como única arma uma bandeira com a cruz e os nomes de Jesus e Maria nela bordados, chamando os comandantes à luta pela pátria e por Deus.
E o que aconteceu na batalha que teve aquela figura feminina, jovem e mística, que nada entendia de táticas ou estratégias militares, à frente dos soldados, foi inenarrável. Os franceses sitiados reagiram e venceram os invasores ingleses, livrando o país da submissão.
Carlos VII foi, então, coroado na catedral de Reims, como era tradição na realeza francesa.
A luta pela reconquista demorara cerca de um ano e ela desejava voltar para sua vida simples no campo. Mas o rei exigiu que ela continuasse comandando os exércitos na reconquista de Paris. Ela obedeceu, mas foi ferida e também traída, sendo vendida para os ingleses, que decidiram julgá-la por heresia. Num processo religioso grotesco, completamente ilegal, foi condenada à fogueira como “feiticeira, blasfema e herética”. Tinha dezenove anos e morreu murmurando os nomes de Jesus e Maria, em 30 de maio de 1431, diante da comoção popular na praça do Mercado Vermelho, em Rouen.
Não fossem os fatos devidamente conhecidos e comprovados, seria difícil crer na existência dessa jovem mártir, que sacrificou sua vida pela libertação de sua pátria e de seu povo. Vinte anos depois, o processo foi revisto pelo papa Calisto III, que constatou a injustiça e a reabilitou. Joana d’Arc foi canonizada em 1920 pelo papa Bento XV, sendo proclamada padroeira da França. O dia de hoje é comemorado na França como data nacional, em memória de santa Joana d’Arc, mártir da pátria e da fé..

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Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dia Santo Rosário.
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Nossa Senhora Auxiliadora

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[nota do tradutor: mantivemos o termo “Maria” do original francês porque nos trabalhos teológicos, diferentemente dos textos espirituais e piedosos, é comum encontrarmos esta expressão. Que o leitor não veja nisso semelhança com a falta de respeito, hoje generalizada, dos escritos e ditos do progressismo.]

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Consideremos primeiramente esse título em si mesmo, depois em suas principais manifestações que são como a radiação da doutrina revelada sobre Maria e que a torna accessível a todos.
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Artigo I
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Grandeza e força dessa maternidade
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Mãe de misericórdia é um dos maiores títulos de Maria. Nós nos damos conta se consideramos a diferença da misericórdia, que é uma virtude da vontade, e a piedade sensível, que não passa de uma louvável inclinação da sensibilidade. Essa piedade sensível, que não existe em Deus, já que é um espírito puro, nos leva a nos compadecer dos sofrimentos do próximo, como se nós o sentíssemos em nós mesmos e de fato eles podem nos atingir. È uma louvável inclinação, mas é geralmente tímida, está acompanhada do temor do mal que nos ameaça também, e é muitas vezes incapaz de trazer um socorro efetivo.
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Ao contrário, a misericórdia é uma virtude que se acha, não na sensibilidade, mas na vontade espiritual; e como nota santo Tomás[1], se a piedade sensível se encontra sobretudo entres os seres fracos e tímidos que se sentem logo ameaçados pelo mal que vêem no próximo, a virtude da misericórdia é própria dos seres fortes e bons, capazes realmente de prestar socorro. Por isso se encontra sobretudo em Deus, e como diz a oração do Missal, é uma das maiores manifestações de seu poder e de sua bondade[2]. Santo Agostinho observa que é mais glorioso para Deus tirar o bem do mal do que criar alguma coisa do nada; é maior converter um pecador lhe dando a vida da graça, do que criar do nada todo o universo físico, o céu e a terra[3].
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Maria participa eminentemente dessa perfeição divina, e nela a misericórdia se une a piedade sensível que lhe é perfeitamente subordinada e que a torna mais acessível a nós pois só atingimos as coisas espirituais pelas coisas sensíveis.
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A Santa Virgem é Mãe de misericórdia, porque é a Mãe da divina graça. Mater divinae gratiae, e esse título lhe convém porque é Mãe de Deus, autor da graça, Mãe do Redentor, e está associada mais intimamente do que ninguém ao Calvário, à obra da redenção.
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* * *
Como Mãe de misericórdia, nos lembra que se Deus é o Ser, a Verdade e a Sabedoria, é também a Bondade e o Amor, e que sua Misericórdia infinita que é a difusão de sua Bondade, deriva de seu Amor antes da justiça vingadora, que proclama os direitos imprescritíveis  do Soberano Bem de ser amado acima de tudo. É o que leva o apóstolo Tiago a dizer (ep. II,13): “A misericórdia se eleva acima da justiça”.
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Maria nos faz compreender que a misericórdia, longe se ser contrária a justiça, como a injustiça, se une a justiça ultrapassando-a sobretudo no perdão, pois perdoar é dar acima do que é devido, perdoando uma ofensa[4].
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Percebemos então que toda obra de justiça divina supõe uma obra de misericórdia ou de bondade inteiramente gratuita[5]. Se, com efeito, Deus deve alguma coisa a criatura, é em virtude de um dom precedente puramente gratuito; se ele deve recompensar nossos méritos, é porque, antes, ele nos deu a graça para merecer; se ele pune, é depois de nos ter dado um socorro para tornar realmente possível a realização de seus preceitos, pois ele não manda nunca o impossível.
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A Santíssima Virgem nos faz compreender que Deus por pura misericórdia nos dá muitas vezes alem do necessário do que seria de justiça nos conceder; nos mostra que ele nos dá muitas vezes alem dos nossos mérito, como por exemplo, a graça da comunhão que não é merecida.
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Ela nos faz perceber que a misericórdia se une a justiça nas penas dessa vida, que são como um remédio para nos curar, nos corrigir se nos trazer de volta para o bem.
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Enfim nos faz compreender que muitas vezes a misericórdia compensa as desigualdades das condições naturais pela graças concedidas, como dizem as bem-aventuranças evangélicas, aos pobres, aos que são mansos, aos que choram, aos que têm fome de justiça, aos misericordiosos, aos que têm o coração puro, aos pacíficos e aos que sofrem perseguições pela justiça.
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Artigo II
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Principais manifestações de sua misericórdia
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Maria se mostra como Mãe de misericórdia no que diz respeito à “saúde os enfermos, refugio dos pecadores, consoladora dos aflitos, socorro dos cristãos”. Essa gradação exprimida na ladainha, e muito bonita; Mostra que Maria exerce a misericórdia em relação aqueles que sofrem em seus corpos para curar a alma, e que em seguida os consola nas aflições e os fortifica no meio das dificuldade que têm para superar. Nada nas criaturas é ao mesmo tempo mais elevado e mais acessível a todos, mais prático e mais doce para nos reerguer[6].
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Saúde dos enfermos
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A Santíssima Virgem é a saúde dos enfermos pela suas inúmeras curas providenciais ou mesmo verdadeiramente milagrosas, obtidas por sua interseção em tantos santuários da cristandade ao curso dos séculos e de nossos dias. O número incalculável dessas curas é tal que se pode dizer que Maria é um mar insondável de curas milagrosas. Mas ela só cura o corpo para trazer remédio as enfermidades da alma.
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Cura principalmente as quatro feridas espirituais, que são as conseqüências do pecado original e de nossos pecados pessoais, feridas da concupiscência, imperfeições, ignorância e malícia[7].
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Cura a concupiscência ou a cobiça que está na sensibilidade, amortecendo o ardor das paixões, quebrando os hábitos criminosos. Faz com que o homem comece a queres mais fortemente o bem para afastar os maus desejos e também  fique insensível a embriagues das honras e o atrativo das riquezas. Assim ela cura “a concupiscência da carne e a dos olhos”.
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Traz remédio às feridas das imperfeições que é a fraqueza em relação ao bem, a preguiça  espiritual. Ela dá a vontade a constância para aplicar a virtude, e desprezar os atrativos do mundo para se lançar nos braços de Deus. Fortalece os que titubeiam, reergue os que caem.
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Dissipa as trevas da ignorância, fornece os meios para abandonar o erro. Lembra as verdades religiosas, ao mesmo tempo, tão simples e tão profundas exprimidas no Padre Nosso. Com isso esclarece a inteligência e a eleva a Deus. Santo Alberto o Grande que dela recebera a luz para perseverar em sua vocação e superar as armadilhas do demônio, disse muitas vezes que ela nos preserva dos desvios que tira a retidão e a firmeza do julgamento, que nos cura da lassidão na procura da verdade, e que nos leva a um conhecimento saboroso das coisa divinas. Ele mesmo, em seu Mariale, fala de Maria com uma espontaneidade, uma admiração, um frescor, uma abundância que raramente se encontra em um homem de estudo.
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Enfim ela cura a ferida espiritual da malicia, compelindo para Deus as vontades rebeldes, tanto com ternos avisos, como com repreensões severas. Por sua doçura detém os desatinos da cólera, por sua humildade abafa o orgulho e afasta as tentações do demônio. Inspira os homens para que renunciem a vingança e se reconciliem com seus irmãos, fazendo-os entrever a paz que se encontra na casa de Deus.
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Em uma palavra, ela cura o homem das feridas do pecado original agravadas pelos nossos pecados pessoais.
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Algumas vezes, essas curas espirituais são milagrosas por serem imediatas como aconteceu com o jovem Afonso Ratisbonne, israelita, muito afastado da fé católica, que por curiosidade visitava a igreja de Santo André delle Frate em Roma, e a quem a Santa Virgem apareceu como está representada na medalha milagrosa, com os raios de luz que saiam de suas mãos. Com bondade lhe fez sinal para que se ajoelhasse. Ele se ajoelhou, perdeu os sentidos e quando voltou a si, exprimiu o vivo desejo que sentia de receber o batismo o mais cedo possível. Mais tarde ele fundou com seu irmão que se convertera antes dele, os Padres de Sion e as Religiosas de Sion para rezarem, sofrerem  e trabalharem pela conversão dos judeus, dizendo todos os dias na missa: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem”.
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É aí que Maria se mostra esplendidamente saúde dos enfermos.
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Refúgio dos pecadores
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Maria é o refugio dos pecadores porque é a mãe dos pecadores e é santíssima. Justamente porque detesta o pecado que assola as almas, longe de abominar os próprios pecadores, os acolhe, os convida ao arrependimento. Livra-os das cadeias dos maus hábitos pelo poder de sua intercessão. Obtém sua reconciliação com Deus, pelos méritos de seu Filho lembrando-os em favor dos pecadores.
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Em seguida protege os pecadores convertidos dos demônios, contra tudo que pode leva-los a recaída. Exorta-os a penitência e faz-lhes encontrar a doçura.
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É a ela, depois de Nosso Senhor, que todos os pecadores que se salvam devem sua salvação. Ela já converteu inúmeros deles principalmente nos lugares de peregrinação, em Lourdes onde ela disse: “Rezai e façam penitência”; e mais recentemente em Fátima, em Portugal, onde o número de conversões, desde 1917, é incalculável.
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Muitos criminosos no momento do último suplício lhe devem a conversão in extremis.
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Suscitou as ordens  religiosa votadas à oração, à penitência e ao apostolado para a conversão dos pecadores, as ordens de são Domingos, de são Francisco, dos Redentoristas, dos Passionistas e muitas outras.
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Quais são os pecadores que ela não protege? Apenas aqueles que desprezam a misericórdia de Deus e atraem sua maldição. Ela não é o refugio de quem persevera no mal, o blasfemo, o perjúrio, a magia, a luxúria, a inveja, a ingratidão, a avareza, o orgulho do espírito. Mas como Mãe de misericórdia, lhes envia de tempos em tempos graças de luz e de atração e se não resistem, serão conduzidos de graça em graça até a graça da conversão. Sugere para alguns por sua mãe que está morrendo que digam ao menos todos os dias uma Ave Maria; muitos sem mudar suas vidas, disseram essa prece que exprimia neles uma fraca veleidade de conversão, e chegado o último momento foram recolhidos a um hospital onde lhes perguntaram se quereria ver um padre para receber a absolvição; recebem-na como os operários da última hora chamados e salvos por Maria[8]. Depois de quase dois mil anos, Maria é, assim, o refugio dos pecadores.
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Consoladora dos aflitos
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Maria foi consoladora dos aflitos, desde sua vida terrestre. Em relação a Jesus, sobretudo no Calvário. Depois da Ascensão, em  relação aos apóstolos, no meio das imensas dificuldades que encontraram para a conversão do mundo pagão, Maria lhes obtinha de Deus o espírito de força e uma santa alegria no sofrimento. Durante a lapidação de santo Estevão, primeiro mártir, ela devia assisti-lo espiritualmente por suas preces. Tirava os infelizes de seu abatimento, lhes obtinha a paciência para sofrer a perseguição. Vendo tudo o que ameaçava a Igreja nascente, resistia firme, guardando um rosto sereno, expressão da tranqüilidade de sua alma, de sua confiança em Deus. A tristeza nunca tomava conta de seu coração. O que conhecemos da força de seu amor a Deus faz pensar, dizem os autores piedosos, que ela permanecia alegre nas aflições,  que não se lamentava na indigência e na privação, que as injurias não podiam embaciar as graças de sua mansidão.Somente por seu exemplo confortava muitos infelizes acabrunhados de tristeza.  Suscitou muitos santos que foram como ela, consoladores dos aflitos, tais como santa Genoveva, santa Isabel, santa Catarina de Sena, santa Germana de Pibrac.
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O Espírito Santo é chamado consolador sobre tudo porque nos faz verter lágrimas de contrição que lavam nossos pecados e nos restitui a alegria da reconciliação com Deus. Pela mesma razão, a Santa Virgem é a consoladora dos aflitos, fazendo-os chorar santamente suas faltas.
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Não somente ela consola os pobres com o exemplo de sua pobreza e com seu socorro, mas  está particularmente atenta a nossa pobreza escondida,  compreende a privação secreta do coração e nela nos assiste. Maria tem a inteligência de todas as nossas necessidades e dá o alimento do corpo e da alma aos indigentes que a ela imploram.
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Quantos cristãos não consolou nas perseguições, quantos possessos ou almas tentadas  livrou, quantos náufragos não salvou da angustia; quantos moribundos assistiu e fortificou lhes lembrando os méritos infinitos de seu Filho.
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Ela vai também adiante da almas depois da morte. São João Damasceno diz em seu sermão sobre a Assunção: “Não foi a morte, ó Maria, que a tornou bem-aventurada, fostes vós que a embelezou e a tornou graciosa, desembaraçando-a do que tinha de lúgubre.”
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Ela ameniza os rigores do purgatório e providencia para os que sofrem as orações dos fieis a quem inspira para mandarem celebrar missas pelos defuntos.
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Enfim, como consoladora dos aflitos, Maria, soberana sem restrições, faz sentir de certo modo sua misericórdia até no inferno. Santo Tomás diz que os condenados são punidos menos do que merecem,“puniuntur citra condignum”[9], pois a misericórdia divina se une sempre à justiça mesmo em seus rigores. E esse alívio provem dos méritos do Salvador e os de sua santa Mãe. Segundo santo Odilon de Cluny[10], no dia da Assunção o inferno é menos penoso do que nos outros dias.
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Consoladora  dos aflitos, ela o é no curso dos séculos nas formas mais variadas segundo a extensão do conhecimento que tem da aflição das almas humanas em seus estados da vida.
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Socorro dos cristãos
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Maria é enfim o socorro dos cristãos porque o socorro é o efeito do amor e Maria é a plenitude da consumação da caridade, que ultrapassa a de todos os santos e anjos reunidos.
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Ela ama as almas resgatadas por seu Filho mais do que se poderia dizer, ela as assiste em sua penas e as ajuda na prática de todas as virtudes.
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Daí a exortação de são Bernardo em seu segundo sermão sobre o Missus est: “Se o vento da tentação se levanta contra ti, se a torrente das tribulações procura levar te, olhai a estrela, invocai Maria. Se as ondas do orgulho e da ambição, da maledicência e do ciúme te sacodem para tragar te em seus turbilhões, olhai a estrela, invocai a Mãe de Deus. Se a cólera, a avareza ou os furores da concupiscência zombam do frágil navio de teu espírito e ameaçam quebrá-lo, voltai teu olhar para Maria. Que a sua lembrança não se afaste jamais de teu coração e que seu nome se encontre sempre em tua boca… Mas para aproveitar do benefício de sua prece, não esqueça que deves andar sobre suas pegadas.”
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Ela sempre foi o socorro não só das almas individuais, como dos povos cristãos. Pelo testemunho de Baronius, Narses, o chefe dos exércitos do imperador Justiniano, com a ajuda da Mãe de Deus, livrou a Itália, em 553, de se subjugar aos Gotos de Totila. Segundo o mesmo testemunho, em 718, a cidade de Constantinopla foi livrada dos Sarracenos, que em diversas ocasiões semelhantes foram derrotados pelo socorro de Maria.
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Ainda no século XIII, Simão, conde de Monfort, abateu perto de Toulouse um considerável exército de albigenses enquanto que são Domingos rezava para a Mãe de Deus.
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A cidade de Dijon foi da mesma forma, miraculosamente libertada.
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Em 1571, a 7 de outubro, em Lepanto, na entrada do golfo de Corinto, com o socorro de Maria obtido pelo Rosário, uma frota turca bem mais numerosa e mais poderosa do que a dos cristãos foi completamente destruída.
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O título de Nossa Senhora das Vitórias nos lembra que muitas vezes nos campos de batalha sua intervenção foi decisiva para livrar os povos cristãos oprimidos.
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Nas ladainhas de Loreto, essas quatro invocações: saúde os enfermos, refúgio dos pecadores, consoladora dos aflitos, socorro dos cristãos lembram incessantemente aos fiéis que Maria é a Mãe da divina graça, e por isso Mãe de misericórdia.
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A Igreja canta que ela é também nossa esperança: “Salve Regina, Mater misericordiae, vita, dulcedo et spes nostra, salve.” Maria é nossa esperança, na medida do que mereceu com seu Filho e por ele o socorro de Deus, que nos adquire por sua interseção sempre atual e que nos transmite. É, assim, a expressão viva e o instrumento da Misericórdia auxiliadora que é o motivo formal de nossa esperança. A confiança ou a esperança apoiada a uma “certeza de tendência para a salvação”[11]que não cessa de aumentar, e que deriva de nossa fé na bondade de Deus todo poderoso, pronto para socorrer, na fidelidade de suas promessas; donde nos santos, o sentimento quase sempre atual de sua Paternidade que incessantemente vela por nós. A influência de Maria, sem ruído de palavras, nos incita progressivamente a essa confiança perfeita  nos manifestando cada vez melhor o motivo.
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A Santíssima Virgem é mesmo chamada “Mater sanctae laetitiae” e “causa nostrae laetitiae”, causa de nossa alegria. Ela obtém para as almas mais generosas esse tesouro escondido que é a alegria espiritual no meio dos próprios sofrimentos. Ela lhes obtém de vez em quanto levar suas cruzes com alegria seguindo o Senhor Jesus; ela as incita no amor a cruz, e sem fazê-las sentir sempre essa alegria, lhes proporciona comunica-la aos outros.
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Na festa do Santo Rosário da Santíssima Virgem.
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(Extraído do livro A Mãe Do Salvador e Nossa Vida Interior.)
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  1. Ia.,q.21,ª3; IIa. IIa,q.30,a.4.
  2. “Deus qui máxime parcendo  et miserando, potentiam tuam manifestas.”
  3. É o que demonstra santo Tomás também, Ia. IIae, q.113,a.9.
  4. Cf. Santo Tomás, Ia, q.21,a3,ad.2.
  5. Cf. santo Tomás ibid.,a.4: “Opus devinae justitiae semper praesupponit opus miseicordiae, et in eo fundatur.”
  6. Essa doutrina está bem desenvolvida pelo dominicano polonês Justino de Miechow, em sua obra Collationes in Litanias B. Mariae Virginis, traduzida para o francês pelo padre A.Richard com o título de Conférences sur les litanies de la Très Sainte Vierge, 3a. ed., Paris, 1870. Nós nos inspiramos aí nas páginas que se seguem.
  7. Cf. Santo Tomás, Ia,IIae, q.85,a.3.
  8. Foi o caso de um escritor francês licencioso chamado Armnd Silvestre.
  9. Ia.,q.21,a4,ad1.
  10. Sermão sobre a Assunção
  11. Cf.santo Tomas, IIa.,IIae, q.18,a.4: “Spes certitudinaliter tendit ad suum finem, quase participans certitudinem a fide.

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Festa de Primeira Classe
Paramentos Brancos
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Anunciação da Virgem Maria
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32_anunciacion_de_maria_misal_diario_dominicano_1958Oração (25 de março a 25 de dezembro)  Para ser rezada diariamente, durante 9 meses: de 25 de março até 25 de dezembro, ou seja, da Anunciação até o Natal do Senhor.   Ó Maria, virgem Imaculada, Porta do Céu e causa da Nossa Alegria, Respondendo com generosidade ao Anúncio do Arcanjo São Gabriel, Vós pudestes dar curso ao plano de Deus para nossa salvação. Vós fostes, pela Providência Santíssima desde toda a eternidade, constituída morada digna do Filho de Deus Encarnado. Pelo vosso “sim” e fidelidade ao Pai celeste, O Espírito Santo teceu em vosso ventre Jesus, nosso Senhor e Salvador. Eis que desejando que o Filho de Deus que quis nascer em Vós, nasça também em meu coração e conceda-me o perdão de meus pecados, prostro-me aos vossos pés e vos imploro, com todo o fervor de minha alma, que vos digneis alcançar-me, do vosso Filho, a graça que tanto necessito… (pedir a graça)
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Ouvi minha súplica, ó Virgem Santíssima, Vós que, perante o trono da Graça, sois a “Onipotência Suplicante”, enquanto vou meditando, com reverência e filial afeto, todos os momentos de dor e de alegria, de desolação e de providência, que vos acompanharam em vossa bendita e singular Gestação, na qual trouxestes em vosso ventre por nove meses o Filho do Deus Altíssimo.
Amém.
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Rezar 25 Ave-Marias, acompanhadas da jaculatória: Bendita seja a Imaculada Conceição da Virgem Maria, Mãe de Deus. 

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Leitura da Epístola do livro do profeta

Isaías 7,10-15
10O Senhor disse ainda a Acaz:11Pede ao Senhor teu Deus um sinal, seja do fundo da habitação dos mortos, seja lá do alto.12Acaz respondeu: De maneira alguma! Não quero pôr o Senhor à prova.13Isaías respondeu: Ouvi, casa de Davi: Não vos basta fatigar a paciência dos homens? Pretendeis cansar também o meu Deus?14Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco.15Ele será nutrido com manteiga e mel até que saiba rejeitar o mal e escolher o bem

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Sequência do Santo Evangelho 
São Lucas 1,26-38

26No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré,27a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria.28Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo.29Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação.30O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus.31Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus.32Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó,33e o seu reino não terá fim.34Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem?35Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus.36Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril,37porque a Deus nenhuma coisa é impossível.38Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela.
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Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dia Santo Rosário.