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Archive for agosto \30\-03:00 2011

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Fr. Th. Deman, O. P.
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[…] Não há dúvida de que a obediência ocupa um lugar elevado entre as virtudes. No entanto, há uma forma de concebê-la que merece crítica.
A obediência absolutamente não existe para oprimir a inteligência. Ela suaviza a vontade do homem constituído em súdito de maneira que se adéque – sem reclamar, de bom grado e com diligência – às ordens de quem detém a autoridade. No entanto, deixa intacta a necessidade de julgar. Mesmo supondo que um homem esteja universalmente submetido à autoridade de outro e que seu chefe o tenha privado de toda iniciativa em qualquer terreno, ainda então, no interior mesmo de sua obediência, ele deve empreender o juízo. Sempre caberá a ele, o que obedece – e só caberá a ele –, discernir e apreciar a legitimidade do ato que lhe é ordenado. E, no caso de esse ato ser mau, contrário, por exemplo, a qualquer lei mais alta, ele estará obrigado a negar-se a obedecer e a fazer uso de sua liberdade nesse sentido. Nenhuma pretensão de dominação, da parte dos superiores, nem nenhum ideal de total e absoluta submissão, da parte dos súditos, pode eliminar esta parte sagrada do juízo pessoal, que intervém no próprio ato em que um homem se dispõe a obedecer. E, no caso de que, efetivamente, obedeça, definitivamente a razão dessa obediência será que o súdito o tenha julgado bom e decidiu fazê-lo. O que se chama obediência de juízo é uma ameaça de desnaturalização da obediência. O juízo é, precisamente, aquilo que um homem nunca tem o direito de alienar. Assim, a prudência se afirma até na própria submissão. Recubramos com a autoridade de Santo Tomás as afirmações que acabo de fazer: “O servo é movido por seu senhor pelo império, tal como o súdito pelo chefe, mas de modo diferente de como são movidos os animais irracionais e os seres inanimados por seus respectivos princípios motores. […] os servos e qualquer classe de súditos são regidos pelo comando de outro, mas movendo-se eles livremente. Por isso necessitam da retidão do governo para se regerem a si mesmos na obediência aos superiores” (Suma Teológica, II-II, q. 50, ad 2). Do mesmo modo, a Sagrada Escritura contém numerosos elogios ao conhecimento reto e ao bom juízo para que a recomendação da obediência possa aboli-los. Assumamos nossa parte: não há nenhum método que nos dispense de ser homens. A glória da prudência consiste em proclamar alto e bom som esta reivindicação.
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Carlos Nougué
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1) É verdade que ante qualquer proclamação do magistério da Igreja em que esteja comprometida sua infalibilidade, ou seja, em que haja assistência do Espírito Santo, todo e qualquer católico há de curvar a cerviz e, se necessário, pôr de lado um juízo seu anterior a tal proclamação. E isso é assim porque o magistério infalível da Igreja é a regra próxima da fé, e versa precisamente sobre mistérios sobrenaturais, que superam infranqueavelmente nosso intelecto. Mas atenção: nem esta verdade de fé contradiz o dito no texto de Fr. Th. Deman. Com efeito, para que possamos curvar a cerviz ante o magistério da Igreja, é preciso que reconheçamos estar ele atuando efetivamente de modo infalível sob a assistência do Espírito Santo; e de fato só o reconhecemos se estiverem presentes para nosso intelecto, de algum modo, as chamadas “quatro condições vaticanas” (para isto, cf. especialmente o livro do Padre Álvaro Calderón A Candeia Debaixo do Alqueire). Ora, tal reconhecimento é ainda resultado de um juízo. Logo…
2) Diz Fr. Th. Deman: “E, no caso de esse ato ser mau, contrário, por exemplo, a qualquer lei mais alta, ele estaria obrigado a negar-se a obedecer e a fazer uso de sua liberdade nesse sentido”. Mas não há lei mais alta que a que manda defender a Fé. Por conseguinte, a obediência a um ditame contrário de qualquer modo à Fé é não só imoral, mas faz parte da classe dos pecados mais graves, porque, com efeito, não há pior pecado que aquele que se comete contra a Verdade.
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Fonte: SPES

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Frederico de Castro
(Extraído e adaptado do Missal Romano – D. Gaspar Lefebvre)
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Rei de França desde os 12 anos, Luís IX tinha sido educado piedosamente por sua mãe, Branca de Castela.
Conservou toda sua vida uma profunda piedade, e no seu ofício de rei conduziu-se sempre como um verdadeiro santo. Foi, diz Bossuet, “o rei mais justo e mais santo que jamais possuiu uma coroa”. Todo entregue aos negócios do reino como aos do mundo cristão, foi um grande fautor da paz: reis e príncipes recorriam constantemente à sua arbitragem. Humilde e reto, compassivo com os desgraçados, tratando por suas próprias mãos os leprosos e os doentes, São Luís dava a todos o exemplo de uma caridade transbordante e de uma equidade soberana. Era terceiro franciscano.
Por causa de uma doença, fez voto de empreender uma cruzada para libertar os lugares santos; vitorioso a princípio, caiu depois nas mãos dos sarracenos. Alguns anos mais tarde retomou as armas, mas o tifo dizimou seu exército na África, sendo ele também atingido. Morreu diante de Tunes, deitado sobre cinza, em 25 de agosto de 1270.
Recomendamos aos leitores conhecer suas últimas palavras:
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Fonte: SPES

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Recebemos uma carta com grave denúncia. Reproduzimos a seguir uma parte da carta (e depois faremos algumas observações):
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“Caríssimos:
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[…]
Há mais ou menos dois anos fiquei sabendo de uma história estarrecedora: grande parte das vacinas atualmente são feitas com tecidos de bebês abortados (vide texto abaixo *Vacinas de aborto). […] Eis links da Fiocruz que comprovam a informação:
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http://www.bio.fiocruz.br/index.php/produtos/vacinas/virais/triplice-viral.

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Outro link: informe técnico Ministério da Saúde vacinação 2011:
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[…]
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Outros links de onde retirei informações sobre as vacinas:
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E eis uma tradução do texto que se encontra neste último link.
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*VACINAS DE ABORTO
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A VERDADE ESCONDIDA
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Por mais de trinta anos, as indústrias farmacêuticas vêm produzindo vacinas derivadas de tecidos de bebês abortados, um fato que foi revelado quando vários artigos em prestigiados periódicos Católicos foram publicados sobre a moralidade de se usar essas vacinas. À medida que essas informações se tornaram amplamente conhecidas, um número crescente de médicos e pais muito preocupados com as questões éticas envolvidas escolheu se abster de usá-las ou dispensá-las. Os fatos são tanto assustadores quanto inquietantes.
Durante a epidemia de rubéola de 1964, alguns médicos aconselharam mães grávidas infectadas pela rubéola a abortar seus filhos, assustando-as com a possibilidade de que eles pudessem nascer com defeitos congênitos. Os pesquisadores começaram a colher o tecido fetal vivo, e no 27º bebê abortado eles acharam o vírus ativo. O vírus foi extraído do rim e classificado como RA/27/3, onde R significa Rubéola, A significa Aborto, 27 significa 27º feto abortado para o estudo deles, 3 significa terceiro tecido retirado de feto abortado e colocado numa cultura. Esse vírus foi então cultivado no tecido pulmonar de outro bebê abortado, WI-38. Extraiu-se o WI-38 (que significa Wistar Institute 38) do tecido pulmonar de uma menina intencionalmente abortada na Suécia no terceiro mês de gestação. Antes de se aperfeiçoar o uso de WI-38, houve pelo menos 19 outros abortos registrados usados nessas pesquisas.
Depois da liderança dos EUA, 10 anos mais tarde cientistas da Grã-Bretanha desenvolveram a MRC-5, extraída do tecido pulmonar de um menino abortado com três meses e meio de gestação. Essas duas linhas de células fetais são utilizadas continuamente para cultivar as variantes enfraquecidas do vírus de várias doenças para se produzir vacinas.
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Tendências atuais
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Pelo fato de que recebem aceitação pública pelas atuais vacinas, as indústrias farmacêuticas utilizam fontes existentes e novas de bebês abortados para o desenvolvimento de vacinas. A fonte mais recente é a nova linha de células fetais PER C6, criada pela indústria farmacêutica holandesa Crucell. Essa linha de células usa o tecido da retina de um bebê de 4 meses e meio de gestação, criado especificamente para o desenvolvimento de vacinas.
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Uma escolha e uma obrigação moral
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É importante lembrar que, exatamente como as terapias de células-tronco adultas (que são uma alternativa viável ao uso de embriões humanos destruídos), pode-se fazer vacinas a partir de fontes éticas. Contudo, o uso das atuais vacinas contaminadas é justificado para a realização de mais pesquisas imorais. Até mesmo importantes autoridades justificam o financiamento de pesquisas de células tronco embrionárias usando a vacina de catapora como precedente, alegando que os embriões, como os bebês abortados, já haviam sido destruídos. Mas em ambos os casos, seres humanos foram insensivelmente mortos para propósitos de pesquisas. A menos que demonstremos que não toleraremos tal exploração de bebês em gestação, a exploração irá piorar.
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Vacinas americanas de linhas de células de bebês abortados
e alternativas éticas
Doença
Nome da vacina
Fabricante
Linha de célula (Fetal)
Versão Ética
Fabricante
Linha de célula (Não fetal)
Catapora
Varivax
Merck & Co.
WI-38, MRC-5
Não há
Não disponível
Não disponível
Hepatite A
Vaqta
Havrix
Merck & Co
GSK
MRC-5
MRC-5
Aimmungen
Não disponível nos EUA
Kaketsuken
(Japão & Europa)
Vero (macaco)
Hepatite A & B
Twinrix
GSK
MRC-5
Engerix (somente Hepatite B)
Comvax (somente Hepatite B)
GSK
Merck
Levedura
Levedura
Tríplice: Sarampo, Caxumba, Rubéola
MMR II
Merck & Co
RA273, WI-38
Não há
Não disponível
Não disponível
Sarampo-Rubéola
MR VAX
Merck & Co.
RA273, WI-38
Attenuvax – Sarampo
Merck
Embrião de pintinho
Caxumba-Rubéola
Biavax II
Merck & Co.
RA273, WI-38
Mumpsvax – Caxumba
Merck
Embrião de pintinho
Rubéola
Meruvax II
Merck & Co.
RA273, WI-38
Takahashi
Não disponível nos EUA
Kitasato Institute
(Japão & Europa)
Coelho
Tríplice + Sarampo
ProQuad
Merck & Co.
RA273, WI-38, MRC-5
Não há
Não disponível
Não disponível
Pólio
Poliovax
Sanofi Pasteur
MRC-5
IPOL
Sanofi Pasteur
Vero (macaco)
Raiva
Imovax
Sanofi Pasteur
MRC-5
RabAvert
Chiron
Embrião de pintinho
Artrite Ósteo-Reumatóide
Enbrel
Immunex
WI-26 VA4
Synvisc
Genzyme Bio.
Não há
Sepsia
Xigris
Eli Lilly
HEK-293
Pergunte a seu médico
Não disponível
Não disponível
Herpes-zóster
Zostavax
Merck & Co.
WI-38, MRC-5
Não há
Não disponível
Não disponível
Sob desenvolvimento: Ébola
TBA
Crucell/NIH
PER C6
Não há
Não disponível
Não disponível
Sob desenvolvimento: Gripe,
Gripe Aviária
TBA
MedImmune
Vaxin, Sanofi
PER C6,
HEK-293
FluVirin, Flu Shield
Flu Zone, Flu Blok
Chiron, Wyeth
Sanofi ,Protein Sci
Embrião de pintinho Lagarta
Nova: HIV
TBA
Merck
PER C6
Não há
Não disponível
Não disponível
Nova: Varíola
Acambis 1000
Acambis
MRC-5
ACAM2000
MVA3000
Acambis/Baxter
Vero (macaco)
Embrião de pintinho
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Nota: Se a vacina que você está questionando não está nessa lista, provavelmente não utiliza linhas de células de bebês abortados.
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Como você pode ajudar?
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Peça que seu médico só encomende vacinas de alternativas éticas, que não estejam contaminadas com células de bebês abortados.”
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Feita pois a denúncia, cabem agora as seguintes e importantes observações:
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• Todas as vacinas de cultivo em célula diploide humana são produzidas de fetos abortados.
• São elas para caxumba, rubéola e sarampo (tríplice viral), catapora (varicela), pólio, hepatite A e raiva.
• Dão-se abaixo outras direções de páginas com informação científica, para que se possam verificar os dados. Mas ressalte-se desde já que a página da Rede Nacional de Informação sobre Imunização, do Governo dos Estados Unidos:
* tenta justificar que as células foram retiradas de fetos abortados, e portanto mortos;
* defende que não foram os pesquisadores que induziram ao aborto;
* alega que as duas linhagens de células vêm sendo reproduzidas em laboratório por 35 anos;
* promove as vacinas de fetos como seguras e eficazes;
* rejeita as vacinas produzidas de animais como caras e inseguras;
* afirma ora que um menino foi abortado por rubéola e que esta vacina tem evitado novos abortos por rubéola;
* depois se contradiz nos artigos (ex.: John D. Grabenstein) afirmando que as linhagens WI e MRC foram retiradas de um menino abortado por “razões psiquiátricas”, de aborto terapêutico, aborto intencional da mãe… e por aí vai.
Eis os links:
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• A própria página da FioCruz descreve as vacinas produzidas por cultivo em células diploide humanas (entenda-se: de fetos abortados), como se pode ver nos links incluídos na carta transcrita acima.
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Estamos pois diante de um quadro de horror, que não pode dar-se senão num mundo quase totalmente descristianizado. Num mundo apóstata.

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Fonte: FSSPX

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Extraído de: Permanência

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Garrigou-Lagrange, Réginald , O.P.

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Sabemos que o Salvador é o Padre principal do sacrifício da Missa, e que a oblação interior que foi a alma do sacrifício da Cruz, dura para sempre no Coração do Cristo que quer nossa salvação. É assim que Ele se oferece a si mesmo em todas as missas que, em cada dia, são celebradas. Qual é o valor de cada uma dessas? É preciso que se tenha uma idéia justa para se unir mais intimamente cada dia ao santo sacrifício e receber seus frutos mais abundantemente.

Ensina-se comumente na Igreja que o Sacrifício da Missa, considerado em si mesmo, tem um valor infinito, mas que o efeito que produz em nós, por mais elevado que seja, é proporcionado às nossas disposições interiores. São estes os dois pontos de doutrina que convém explicar.

O sacrifício da Missa considerado em si mesmo tem um valor infinito.

A razão é que o sacrifício da missa é o mesmo em substância que o sacrifício da Cruz, que tem um valor infinito, por causa da vítima oferecida e do padre que a oferece, já que é o Verbo feito carne que, sobre a Cruz, era, ao mesmo tempo, padre e vítima[1]. É Ele que continua na Missa, como padre principal e a vítima realmente presente e realmente oferecida e sacramentalmente imolada.

Mas enquanto que os efeitos da Missa imediatamente relativos a Deus, como a adoração reparadora e a ação de graças, se produzem sempre infalivelmente em sua plenitude infinita, mesmo sem o nosso concurso, seus efeitos relativos a nós só se espalham na medida de nossas disposições interiores.

Em cada Missa são oferecidas a Deus, e infalivelmente, uma adoração, uma reparação, e uma ação de graças de um valor sem limites; isto é, em razão da vítima oferecida e do Padre principal, independentemente mesmo das orações da Igreja universal e do fervor do celebrante.

É impossível adorar melhor a Deus, reconhecer melhor seu domínio soberano sobre todas as coisas, sobre todas as almas, do que pela imolação sacramental do Salvador morto por nós na Cruz. É esta a adoração que o Glória exprime. “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade… Nós vos louvamos. Nós vos bendizemos. Nós vos adoramos. Nós vos glorificamos”. É esta a adoração que o Sanctus exprime novamente e ainda a dupla Consagração.

É a realização perfeita do preceito: “Tu adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás” (Dt 6, 13). Foi com estas palavras que Nosso Senhor respondeu a Satanás que lhe dizia: “Eu lhe darei todos os reinos do mundo, se te prostrares a meus pés e me adorares, si cadens adoraveis me” [2]. Somente a infinita grandeza de Deus merece este culto de latria. Aqui, na Missa, lhe é oferecida uma adoração em espírito e em verdade de um valor sem medida.

Do mesmo modo, é impossível oferecer a Deus uma reparação mais perfeita pelas faltas que se cometem todos os dias, como diz o Concílio de Trento. sess. XXII, c.I. Não é uma reparação distinta daquela da Cruz, o Cristo ressuscitado não morre mais e não sofre mais; mas, segundo o mesmo Concílio [3], o sacrifício do altar, sendo substancialmente o mesmo que o sacrifício do Calvário, agrada mais a Deus do que lhe desgostam todos os pecados reunidos [4]. Assim como a humanidade do Salvador, que era passível ou sujeita à dor e à morte, e que já não o é mais, continua substancialmente a mesma, assim também o sacrifício do Cristo é assim também perpetuado em substância. O direito imprescritível de Deus, Soberano Bem, de ser amado sobre todas as coisas, não poderia ser melhor reconhecido do que pela oblação do Cordeiro que apaga os pecados do mundo.

Enfim, é impossível agradecer melhor os benefícios recebidos: “Quid retribuam Domino pro omnibus quæ retribuit mihi? Calicem salutaris accipiam, et nomen Domini invocabo”; Como retribuirei a Deus todos os benefícios recebidos? Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor” (Sl 65, 12). Muitas vezes esquecemos de agradecer a Deus suas graças, como aqueles leprosos curados por Jesus; dos dez, um só veio agradecer. É conveniente oferecer sempre missas de ação de graças. Um costume piedoso começa a se espalhar atualmente, o de celebrar missas de ação de graças na segunda sexta-feira de cada mês, para reparar nossas ingratidões.

A adoração, a reparação e ação de graças são efeitos do Sacrifício da missa em relação a Deus mesmo e são infalíveis. Em cada missa celebrada, pela oblação e imolação sacramental do Salvador sobre o altar, Deus obtém infalivelmente uma adoração infinita, uma reparação e uma ação de graças sem limites. Isto é assim devido à dignidade da Vítima e à dignidade do Padre principal; a oblação interior que dura para sempre no coração do Cristo, é um ato teândrico, ato humano de sua vontade humana, que tira da pessoa do Verbo um valor propriamente infinito.

No momento da consagração, na paz do santuário, há como um grande arroubo de adoração que sobe para Deus. O prelúdio está no Glória e no Sanctus, cuja beleza é sublinhada pelo canto gregoriano, o mais elevado, o mais simples e o mais puro de todos os cânticos religiosos, ou às vezes pela magnificência da música polifônica; mas quando chega o momento da dupla consagração, tudo se cala: o silêncio exprime à sua maneira o que o canto não pode dizer.

Este silêncio é a imagem daquele que, segundo o Apocalipse (8, 1), se produziu no céu, quando o Cordeiro abriu o livro fechado por sete selos, o livro dos decretos de Deus relativos a seu reino[5]. Que este silêncio da consagração seja nosso repouso e nossa força [6].

Assim é perpetuada em substância a adoração, a reparação e o Consumatum est do sacrifício da Cruz. E esta adoração que sobe assim para Deus de todas as missas quotidianas, recai de algum modo como orvalho fecundo sobre nossa pobre terra, para fertilizá-la espiritualmente.

Não esqueçamos que o fim mais alto do santo Sacrifício é a Glória de Deus, a manifestação de sua bondade, e este é o próprio fim do universo. Assim, por uma missa, é de alguma maneira toda a criação que, em uma prece de adoração e reparação e de ação de graças, sobe de volta para seu Criador.

Se estes efeitos são relativos ao próprio Deus, outros são relativos a nós. A Missa pode nos obter todas as graças necessárias à nossa salvação. “O Cristo sempre vivo, não cessa de interceder por nós” (Heb 7, 25), e a sua intercessão não tem menor valor do que sua adoração.

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(De “Le Sauveur et son amour por nous”, Les Editions du Cedre, Paris. Tradução: PERMANÊNCIA)

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1. O valor da vítima dá a este sacrifício um valor objetivo infinito, e a dignidade da pessoa do Cristo, um valor pessoal infinito, que é o principal. Quando Maria apresenta seu filho no templo, esta oblação tinha um valor objetivo infinito, mas não um valor pessoal infinito; muito superior é a oblação feita pelo próprio Cristo.

2. Mt 4, 9.

3. Sess. XXII, cap. 2 “initio” et can. 3 (Denzinger, 940 e 950).

4. Cf. S. Tomás, IIIª., q. 48, a.2.

5. “Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, fez-se no céu um silêncio de uma meia hora” (Ap 7, 1).

6. “In silentio et in spe erit fortitudo vestra” (Is 30, 15).

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Por Santo Afonso Maria de Ligório

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Deinde dicit discipulo: Ecce mater tua — «Depois diz ao discípulo: Eis aí tua mãe» (Jo 19, 27)
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Sumário. Se Jesus Cristo é o Pai de nossas almas, porque as regenerou à vida da graça, Maria, que é a Mãe verdadeira de Jesus, deve igualmente ser chamada nossa Mãe espiritual, porque pelas suas dores cooperou para nossa redenção. Ponhamos, pois, nela a nossa confiança e sejamos quais crianças que têm sempre o nome de mãe na boca e em qualquer perigo levantam a voz e chamam sua mãe em socorro. Para sermos, porém, facilmente atendidos, imitemos as suas virtudes, especialmente as que são próprias do nosso estado.
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I. Não é por acaso, nem debalde, que os devotos de Maria a chamam Mãe, e parece que não sabem invocá-la com outro nome, nem se fartam de chamá-la Mãe. Mãe, sim, porque se Jesus Cristo, reconciliando-nos com Deus, se fez Pai de nossas almas, conforme a predição do Profeta: Pater futuri saeculi (Is 9, 6) — «Pai do século futuro», Maria deve ser chamada e é verdadeiramente nossa Mãe espiritual.
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Segundo a explicação dos Doutores, esta grande Mãe pelo seu amor gerou-nos à graça, quando consentiu em que o Verbo Eterno se fizesse seu filho, porque, no dizer de São Bernardino de Sena, ela desde então pediu a Deus com afeto imenso a nossa salvação, e de tal sorte a procurou, que bem se pode dizer que desde então nos trouxe em suas entranhas como mãe amorosíssima. Pelo que Santo Ambrósio aplica à Virgem as palavras dos sagrados Cânticos: Venter tuus sicut acervus tritici, vallatus liliis (Cant 7, 2) — «Teu seio é como um monte de trigo, cercado de açucenas».
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O tempo em que Maria nos deu à luz, foi quando (vendo o amor do Eterno Pai para com os homens, em querer seu Filho morto pela nossa salvação, e o amor do Filho em querer morrer por nós), afim de conformar-se com este amor excessivo do Pai e do Filho para com o gênero humano, ela também consentiu com toda a sua vontade, que seu Filho morresse, e fez o doloroso sacrifício dele no Calvário. — E isto quis exatamente dizer nosso Salvador, quando, antes de expirar, olhando para sua Mãe e acenando para o discípulo predileto, lhe disse: Mulier, ecce filius tuus (Jo 19, 26) — «Mulher, eis aí teu filho». Como se lhe dissesse: Eis aí o homem que em consequência da oferta que tu fazes de minha vida pela sua salvação, já nasce para a graça; eu te declaro sua mãe.
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II. Alegrai-vos todos os que sois filhos de Maria; e que temor tendes de vos perder, quando esta Mãe vos defende e protege? Eis que ela nos chama e nos convida para junto de si: Si quis est parvulus, veniat ad me (Prov 9, 4) — «Todo o que é pequeno, venha a mim». — As crianças têm sempre na boca o nome da mãe; em qualquer perigo que se vejam, logo se lhes ouve levantar a voz e dizer: Mãe, Mãe! É isto exatamente o que a Virgem deseja de nós. Ela nos quer salvar, como já tem salvado tantos filhos seus; por isso quer que, quais crianças, nunca nos afastemos do seu lado e a invoquemos em todos os perigos: Todo o que é pequeno, venha a mim.
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Ó minha Mãe Santíssima, como é possível que, tendo mãe tão santa, seja eu tão perverso; tendo mãe tão abrasada no amor de Deus, tenha eu de amar as criaturas; tendo mãe tão rica de virtudes, seja eu tão pobre? Ó Mãe amabilíssima, não mereço mais, é verdade, ser vosso filho; indigníssimo de tal me fiz por minha vida desregrada. Basta-me ser admitido no número de vossos servos. Sim, isto me basta; entretanto não me proibais de vos chamar também minha Mãe.
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O vosso nome de Mãe me consola, enternece o meu coração, e me recorda a obrigação que tenho de vos amar. Este nome me inspira grande confiança em vós. Quando a lembrança dos meus pecados e da justiça divina me enchem de terror, sinto-me todo confortado ao pensar que sois minha Mãe. Permiti, pois, que vos diga: Minha Mãe, minha Mãe amabilíssima! Assim vos chamo e vos quero sempre chamar. Depois de Deus, vós deveis ser sempre minha esperança, meu refúgio e meu amor, enquanto estiver neste vale de lágrimas. Assim é que espero morrer, entregando, ao dar o último suspiro, a minha alma entre vossas mãos benditas, e dizendo-vos: Ó minha Mãe, ó Maria, minha Mãe, ajudai-me, tende compaixão de mim! (*I 17.)
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LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Segundo: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 265-267.
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Hoje começa a Quaresma de São Miguel!

Como surgiu a Quaresma de São Miguel?

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 Quando São Francisco começou
a Quaresma de São Miguel Arcanjo
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Uma tradição franciscana, a Quaresma a São Miguel Arcanjo é um tempo especial de oração e penitência. Tem início, com a Festa da Assunção de Nossa Senhora 15 de agosto, e termina no dia 28 de setembro, véspera da festa aos Arcanjos Miguel.
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São Francisco foi um santo que, na sua vida mortal procurava nutrir muito sua alma, para não esfriar o seu amor por Jesus, com um espírito de oração e sacrifício muito grande. Para tanto, ele realizava, por ano, três quaresmas, além de outro período de jejum e oração em honra da Mãe de Deus, pela qual tinha um doce e especial amor, que ia da festa de São Pedro e São Paulo Apóstolos à festa daAssunção de Nossa Senhora. Foi de um modo muito especial que, na Quaresma de São Miguel Arcanjo, Deus coroou Francisco de graças abundantes, dentre elas a de marcá-lo em seu corpo, pelo profundo desejo de imitar ao seu Filho Jesus Cristo, com os sinais de sua Paixão. Todas essas quaresmas eram realizadas no Monte Alverne. (Alverne: “verna” vem de “vernare”, verbo utilizado por Dante e que significa “fazer frio”; gela.)
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São Miguel, sobretudo, a quem cabe o papel de introduzir as almas no paraíso, era objetivo de uma devoção especial, em razão do desejo que tinha o santo de salvar a todos os homens. Era do conhecimento de Francisco a autoridade e o auxílio que o Arcanjo Miguel tem em exercício das almas, em salvá-las no último instante da vida e o poder de ir ao purgatório retirá-las de lá.
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Esse era o principal motivo pelo qual Francisco realizava sua quaresma e isso nos é relatado na legenda Terusiana no número 93 de sua biografia, na qual o santo vai dizer no ano de 1224, ano em visita ao eremitério: “Para honra de Deus, da bem-aventurada Virgem Maria e de São Miguel, Príncipe dos Anjos e das almas, quero fazer aqui uma quaresma”.
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A Quaresma de São Miguel começou com São Francisco que era devoto do Arcanjo, São Francisco sentia o desejo de experimentar no corpo e na alma a Paixão de Cristo sua dor e também o imenso amor por se entregar ao imenso sofrimento por nós.No ano de 1224, realizou a primeira quaresma de jejum e oração no Monte Alverne, local deserto, distante, próprio para oração. São Francisco disse: “Para honra de Deus, da bem-aventurada Virgem Maria e de São Miguel, príncipe dos anjos e das almas, quero fazer aqui uma quaresma”. No dia 17 de setembro, durante a quaresma, enquanto estava em oração, teve a visão de um serafim, o qual logo se aproximou, este tinha seis asas de fogo, e também estava crucificado, mãos e pés estendidos e amarrados numa cruz. Duas asas elevavam-se por cima de sua cabeça, duas outras estavam abertas para o vôo, as dua últimas cobriam-lhe o corpo. E através desta visão Francisco pode comprrender melhor o verdadeiro sentido da Paixão.Quando chegou a Festa em honra a São Miguel, Francisco desceu o Monte Alverner, este trazia nos pés e mãos os estigmas de Jesus, e como achava-se indigno de se tornar igual a Jesus que ficou em total jejum, no final daqueles dias bebeu água e comeu um pedaço de pão.
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Como fazer a Quaresma?
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Quaresma de São Miguel
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Início da Quaresma: 15 de agosto a 29 de setembro (Festa de São Miguel).
No dia 20 de setembro pode-se iniciar a novena em honra à São Miguel Arcanjo juntamente com as outras orações.
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Oração Inicial
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São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, cobri-nos com o vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantemene o pedimos. E vós, príncipe da milícia celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno a Satanás e a todos os espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.

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Sacratíssimo Coração de Jesus! Tende Piedade de nós.

Repetir três vezes.

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Todos os dias da quaresma de São Miguel:

Acender uma vela benta;
Oferecer uma penitência;
Fazer o sinal da cruz.
Rezar a oração inicial;
Rezar a ladainha de São Miguel
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Oração Inicial:

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, cobri-nos com o vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantemene o pedimos. E vós, príncipe da milícia celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno a Satanás e a todos os espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.

Sacratíssimo Coração de Jesus! Tende Piedade de nós.

Repetir três vezes.

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Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós. Jesus Cristo ouvi-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos. Pai Celeste, que sois Deus, tende piedade de nós.
Filho, Redentor do Mundo, que sois Deus, tende piedade de nós.
Espírito Santo, que sois Deus, tende piedade de nós.
Trindade Santa, que sois um único Deus, tende piedade de nós.
Santa Maria, Rainha dos Anjos, rogai por nós.
São Miguel, rogai por nós.
São Miguel, cheio da graça de Deus, rogai por nós.
São Miguel, perfeito adorador do Verbo Divino, rogai por nós.
São Miguel, coroado de honra e de glória, rogai por nós.
São Miguel, poderosíssimo Príncipe dos exércitos do Senhor, rogai por nós.
São Miguel, porta-estandarte da Santíssima Trindade, rogai por nós.
São Miguel, guardião do Paraíso, rogai por nós.
São Miguel, guia e consolador do povo israelita, rogai por nós.
São Miguel, esplendor e fortaleza da Igreja militante, rogai por nós.
São Miguel, honra e alegria da Igreja triunfante, rogai por nós.
São Miguel, Luz dos Anjos, rogai por nós.
São Miguel, baluarte dos Cristãos, rogai por nós.
São Miguel, força daqueles que combatem pelo estandarte da Cruz, rogai por nós.
São Miguel, luz e confiança das almas no último momento da vida, rogai por nós.
São Miguel, socorro muito certo, rogai por nós.
São Miguel, nosso auxílio em todas as adversidades, rogai por nós.
São Miguel, arauto da sentença eterna, rogai por nós.
São Miguel, consolador das almas que estão no Purgatório, rogai por nós.
São Miguel, a quem o Senhor incumbiu de receber as almas que estão no Purgatório,
São Miguel, nosso Príncipe, rogai por nós.
São Miguel, nosso Advogado, rogai por nós.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, atendei-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós.
Rogai por nós, ó glorioso São Miguel, Príncipe da Igreja de Cristo, para que sejamos dignos de Suas promessas.
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Oração: 
Senhor Jesus, santificai-nos, por uma bênção sempre nova, e concedei-nos, pela intercessão de São Miguel, esta sabedoria que nos ensina a ajuntar riquezas do Céu e a trocar os bens do tempo pelos da eternidade. Vós que viveis e reinais em todos os séculos dos séculos
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Ao final, reza-se:
Um Pai Nosso em honra de São Miguel Arcanjo.
Um Pai Nosso em honra de São Gabriel.
Um Pai Nosso em honra de São Rafael.
Gloriosíssimo São Miguel, chefe e príncipe dos exércitos celestes, fiel guardião das almas, vencedor dos espíritos rebeldes, amado da casa de Deus, nosso admirável guia depois de Cristo; vós, cuja excelência e virtudes são eminentíssimas, dignai-vos livrar-nos de todos os males, nós todos que recorremos a vós com confiança, e fazei pela vossa incomparável proteção, que adiantemos cada dia mais na fidelidade em servir a Deus.
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V. Rogai por nós, ó bem-aventurado São Miguel, príncipe da Igreja de Cristo.
R. Para que sejamos dignos de suas promessas.
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Oração: 
Deus, todo poderoso e eterno, que por um prodígio de bondade e misericórdia para a salvação dos homens, escolhestes para príncipe de Vossa Igreja o gloriosíssimo Arcanjo São Miguel, tornai-nos dignos, nós vo-lo pedimos, de sermos preservados de todos os nossos inimigos, a fim de que na hora da nossa morte nenhum deles nos possa inquietar, mas que nos seja dado de sermos introduzidos por ele na presença da Vossa poderosa e augusta Majestade, pelos merecimentos de Jesus Cristo, Nosso Senhor.
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Consagração a São Miguel Arcanjo
Ó Príncipe nobilíssimo dos Anjos, valoroso guerreiro do Altíssimo, zeloso defensor da glória do Senhor, terror dos espíritos rebeldes, amor e delícia de todos os Anjos justos, meu diletíssimo Arcanjo São Miguel, desejando eu fazer parte do número dos vossos devotos e servos, a vós hoje me consagro, me dou e me ofereço e ponho-me a mim próprio, a minha família e tudo o que me pertence, debaixo da vossa poderosíssima proteção. É pequena a oferta do meu serviço, sendo como sou um miserável pecador, mas vós engrandecereis o afeto do meu coração; recordai-vos que de hoje em diante estou debaixo do vosso sustento e deveis assistir-me em toda a minha vida e obter-me o perdão dos meus muitos e graves pecados, a graça da amar a Deus de todo coração, ao meu querido Salvador Jesus Cristo e a minha Mãe Maria Santíssima, obtende-me aqueles auxílios que me são necessários para obter a coroa da eterna glória. Defendei-me dos inimigos da alma, especialmente na hora da morte. Vinde, ó príncipe gloriosíssimo, assistir-me na última luta e com a vossa alma poderosa lançai para longe, precipitando nos abismos do inferno, aquele anjo quebrador de promessas e soberbo que um dia prostrastes no combate no Céu.
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São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate para que não pereçamos no supremo juízo.
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Assunção de Nossa Senhora, (Museu de Cluny, Paris)

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CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA DO PAPA PIO XII

MUNIFICENTISSIMUS DEUS

DEFINIÇÃO DO DOGMA DA ASSUNÇÃO
DE NOSSA SENHORA
EM CORPO E ALMA AO CÉU

Introdução 

1. Deus munificentíssimo, que tudo pode, e cujos planos de providência são cheios de sabedoria e de amor, nos seus imperscrutáveis desígnios, entremeia na vida os povos e dos indivíduos as dores com as alegrias, para que por diversos caminhos e de várias maneiras tudo coopere para o bem dos que o amam (cf. Rm 8,28).

2. o nosso pontificado, assim como os tempos atuais, tem sido assediado por inúmeros cuidados, preocupações e angústias, devido às grandes calamidades e por muitos que andam afastados da verdade e da virtude. Mas é para nós de grande conforto ver como, à medida que a fé católica se manifesta publicamente cada vez mais ativa, aumenta também cada dia o amor e a devoção para com a Mãe de Deus, e quase por toda parte isso é estímulo e auspício de uma vida melhor e mais santa. E assim sucede que, por um lado, a santíssima Virgem desempenha amorosamente a sua missão de mãe para com os que foram remidos pelo sangue de Cristo, e por outro, as inteligências e os corações dos filhos são estimulados a uma mais profunda e diligente contemplação dos seus privilégios.

3. De fato, Deus, que desde toda a eternidade olhou para a virgem Maria com particular e pleníssima complacência, quando chegou a plenitude dos tempos (Gl 4,4) atuou o plano da sua providência de forma que refulgissem com perfeitíssima harmonia os privilégios e prerrogativas que lhe concedera com sua liberalidade. A Igreja sempre reconheceu esta grande liberalidade e a perfeita harmonia de graças, e durante o decurso dos séculos sempre procurou estudá-la melhor. Nestes nossos tempos refulgiu com luz mais clara o privilégio da assunção corpórea da Mãe de Deus.

4. Esse privilégio brilhou com novo fulgor quando o nosso predecessor de imortal memória, Pio IX, definiu solenemente o dogma da Imaculada Conceição. De fato esses dois dogmas estão estreitamente conexos entre si. Cristo com a própria morte venceu a morte e o pecado, e todo aquele que pelo batismo de novo é gerado, sobrenaturalmente, pela graça, vence também o pecado e a morte. Porém Deus, por lei ordinária, só concederá aos justos o pleno efeito desta vitória sobre a morte, quando chegar o fim dos tempos. Por esse motivo, os corpos dos justos corrompem-se depois da morte, e só no último dia se juntarão com a própria alma gloriosa.

5. Mas Deus quis excetuar dessa lei geral a bem-aventurada virgem Maria. Por um privilégio inteiramente singular ela venceu o pecado com a sua concepção imaculada; e por esse motivo não foi sujeita à lei de permanecer na corrupção do sepulcro, nem teve de esperar a redenção do corpo até ao fim dos tempos.

6. Quando se definiu solenemente que a virgem Maria, Mãe de Deus, foi imune desde a sua concepção de toda a mancha, logo os corações dos fiéis conceberam uma mais viva esperança de que em breve o supremo magistério da Igreja definiria também o dogma da assunção corpórea da virgem Maria ao céu.

Petições para a definição dogmática

7. De fato, sucedeu que não só os simples fiéis, mas até aqueles que, em certo modo, personificam as nações ou as províncias eclesiásticas, e mesmo não poucos Padres do concílio Vaticano pediram instantemente à Sé Apostólica esta definição.

8. Com o decurso do tempo essas petições e votos não diminuíram, antes foram aumentando de dia para dia em número e insistência. Com esse fim fizeram-se cruzadas de orações; muitos e exímios teólogos intensificaram com ardor os seus estudos sobre este ponto, quer em privado, quer nas universidades eclesiásticas ou nas outras escolas de disciplinas sagradas; celebraram-se em muitas partes congressos marianos nacionais e internacionais. Todos esses estudos e investigações mostraram com maior realce que no depósito da fé cristã, confiado à Igreja, tatmbém se encontrava a assunção da virgem Maria ao céu. E de ordinário a conseqüência foi enviarem súplicas em que se pedia instantemente a definição solene desta verdade.

9. Acompanhavam os fiéis nessa piedosa insistência os seus sagrados pastores, os quais dirigiram a esta cadeira de S. Pedro semelhantes petições em número muito considerável. Quando fomos elevado ao sumo pontificado, já tinham sido apresentadas a esta Sé Apostólica muitos milhares dessas súplicas, vindas de todas as partes do mundo e de todas as classes de pessoas: dos nossos amados filhos cardeais do Sacro Colégio, dos nossos veneráveis irmãos arcebispos e bispos, das dioceses e das paróquias.

10. Por esse motivo, ao mesmo tempo que dirigíamos a Deus intensas súplicas, para que concedesse à nossa mente a luz do Espírito Santo para decidirmos tão importante causa, estabelecemos normas especiais em que determinamos que se procedesse com todo o cuidado a um estudo mais rigoroso da matéria, e se reunissem e examinassem todas as petições relativas à assunção da santíssima virgem, enviadas à Sé Apostólica desde o tempo do nosso predecessor de feliz memória, Pio IX, até ao presente.(1)

Consulta ao episcopado

11. Mas como se tratava de assunto de tanta importância e transcendência, julgamos oportuno rogar direta e oficialmente a todos os nossos veneráveis irmãos no episcopado, que nos quisessem manifestar explicitamente a sua opinião. Para tal fim, no dia 1° de maio de 1946, dirigimos-lhes a carta encíclica “Deiparae Virginis Mariae” em que fazíamos esta pergunta: “Se vós, veneráveis irmãos, na vossa exímia sabedoria e prudência, julgais que a assunção corpórea da santíssima Virgem pode ser proposta e definida como dogma de fé, e se desejais que o seja, tanto vós como o vosso clero e fiéis”.

Doutrina concorde do magistério da Igreja

12. E aqueles que “o Espírito Santo colocou como bispos para reger a Igreja de Deus” (At 20, 28) quase unanimemente deram resposta afirmativa a ambas as perguntas. Essa “singular concordância dos bispos e fiéis” (2) em julgar que a assunção corpórea ao céu da Mãe de Deus podia ser definida como dogma de fé, mostra-nos a doutrina concorde do magistério ordinário da Igreja, e a fé igualmente concorde do povo cristão – que aquele magistério sustenta e dirige – e por isso mesmo manifesta, de modo certo e imune de erro, que tal privilégio é verdade revelada por Deus e contida no depósito divino que Jesus Cristo confiou a sua esposa para o guardar fielmente e infalivelmente o declarar. (3) De fato, esse magistério da Igreja, não por estudo meramente humano, mas pela assistência do Espírito de verdade (cf. Jo 14,26), e portanto absolutamente sem nenhum erro, desempenha a missão que lhe foi confiada de conservar sempre puras e íntegras as verdades reveladas; e pelo mesmo motivo transmite-as sem contaminação e sem lhes ajuntar nem subtrair nada. “Pois – como ensina o concílio Vaticano – o Espírito Santo foi prometido aos sucessores de Pedro não para que, por sua revelação, expressem doutrinas novas, mas para que, com sua assistência, guardassem com cuidado e expusessem fielmente a revelação transmitida pelos apóstolos, ou seja o depósito da fé”. (4) Por essa razão, do consenso universal do magistério da Igreja, deduz-se um argumento certo e seguro para demonstrar a assunção corpórea da bem-aventurada virgem Maria. Esse mistério, pelo que respeita à glorificação celestial do corpo da augusta Mãe de Deus, não podia ser conhecido por nenhuma faculdade da inteligência humana só com as forças naturais. É, portanto, verdade revelada por Deus, e por essa razão todos os filhos da Igreja têm obrigação de a crer firme e fielmente. Pois, como afirma o mesmo concílio Vaticano, “temos obrigação de crer com fé divina e católica, todas as coisas que se contêm na palavra de Deus escrita ou transmitida oralmente, e que a Igreja, com solene definição ou com o seu magistério ordinário e universal, nos propõe para crer, como reveladas por Deus”.(5)

Testemunhos da crença na assunção

13. Desde tempos remotíssimos, pelo decurso dos séculos, aparecem-nos testemunhos, indícios e vestígios desta fé comum da Igreja; fé que se manifesta cada vez mais claramente.

14. Os fiéis, guiados e instruídos pelos pastores, souberam por meio da Sagrada Escritura que a virgem Maria, durante a sua peregrinação terrestre, levou vida cheia de cuidados, angústias e sofrimentos; e que, segundo a profecia do santo velho Simeão, uma espada de dor lhe traspassou o coração, junto da cruz do seu divino Filho e nosso Redentor. E do mesmo modo, não tiveram dificuldade em admitir que, à semelhança do seu unigênito Filho, também a excelsa Mãe de Deus morreu. Mas essa persuasão não os impediu de crer expressa e firmemente que o seu sagrado corpo não sofreu a corrupção do sepulcro, nem foi reduzido à podridão e cinzas aquele tabernáculo do Verbo divino. Pelo contrário, os fiéis iluminados pela graça e abrasados de amor para com aquela que é Mãe de Deus e nossa Mãe dulcíssima, compreenderam cada vez com maior clareza a maravilhosa harmonia existente entre os privilégios concedidos por Deus àquela que o mesmo Deus quis associar ao nosso Redentor. Esses privilégios elevaram-na a uma altura tão grande, que não foi atingida por nenhum ser criado, excetuada somente a natureza humana de Cristo.

15. Patenteiam inequivocamente esta mesma fé os inumeráveis templos consagrados a Deus em honra da assunção de nossa Senhora, e as imagens neles expostas à veneração dos fiéis, que mostram aos olhos de todos este singular triunfo da santíssima Virgem. Muitas cidades, dioceses e regiões foram consagradas ao especial patrocínio e proteção da assunção da Mãe de Deus. Do mesmo modo, com aprovação da Igreja, fundaram-se Institutos religiosos com o nome deste privilégio. Nem se deve passar em silêncio que no rosário de nossa Senhora, cuja reza tanto recomenda esta Sé Apostólica, há um mistério proposto à nossa meditação, que, como todos sabem, é consagrado à assunção da santíssima Virgem ao céu.

Testemunho da liturgia

16. De modo ainda mais universal e esplendoroso se manifesta esta fé dos pastores e dos fiéis, com a festa litúrgica da assunção celebrada desde tempos antiquíssimos no Oriente e no Ocidente. Nunca os santos padres e doutores da Igreja deixaram de haurir luz nesta solenidade, pois, como todos sabem, a sagrada liturgia, “sendo também profissão das verdades católicas, e estando sujeita ao supremo magistério da Igreja, pode fornecer argumentos e testemunhos de não pequeno valor para determinar algum ponto da doutrina cristã”.(6)

17. Nos livros litúrgicos em que aparece a festa da Dormição ou da Assunção de santa Maria, encontram-se expressões que de uma ou outra maneira concordam em referir que, quando a virgem Mãe de Deus passou deste exílio para o céu, por uma especial providência divina, sucedeu ao seu corpo algo de consentâneo com a dignidade de Mãe do Verbo encarnado e com os outros privilégios que lhe foram concedidos. É o que se afirma, para apresentarmos um exemplo elucidativo, no Sacramentário enviado pelo nosso predecessor de imortal memória Adriano I, ao imperador Carlos Magno. Nele se diz: “É digna de veneração, Senhor, a festividade deste dia, em que a santa Mãe de Deus sofreu a morte temporal; mas não pode ficar presa com as algemas da morte aquela que gerou no seu seio o Verbo de Deus encarnado, vosso Filho, nosso Senhor”.(7)

18. Aquilo que aqui se refere com a sobriedade de palavras costumeiras na Liturgia romana, exprime-se mais difusamente nos outros livros das antigas liturgias orientais e ocidentais. OSacramentário Galicano, por exemplo, chama a esse privilégio de Maria, “inexplicável mistério, tanto mais digno de ser proclamado, quanto é único entre os homens, pela assunção da virgem”. E na liturgia bizantina a assunção corporal da virgem Maria é relacionada diversas vezes não só com a dignidade de Mãe de Deus, mas também com os outros privilégios, especialmente com a sua maternidade virginal, decretada por um singular desígnio da Providência divina: “Deus, Rei do universo, concedeu-vos privilégios que superam a natureza; assim como no parto vos conservou a virgindade, assim no sepulcro vos preservou o corpo da corrupção e o conglorificou pela divina translação”.(8)

A festa da Assunção

19. A Sé Apostólica, herdeira do múnus confiado ao Príncipe dos apóstolos de confirmar na fé os irmãos (cf. Lc 22,32), com sua autoridade foi tornando cada vez mais solene esta celebração. Esse fato estimulou eficazmente os fiéis a irem-se apercebendo mais e mais da importância deste mistério. E assim, a festa da assunção, que ao princípio tinha o mesmo grau de solenidade que as restantes festas marianas, foi elevada ao rito das festas mais solenes do ciclo litúrgico. O nosso predecessor S. Sérgio I, ao prescrever as ladainhas, ou a chamada procissão estacional, nas festas de nossa Senhora, enumera simultaneamente a Natividade, a Anunciação, a Purificação e a Dormição.(9) A festa já se celebrava com o nome de assunção da bem-aventurada Mãe de Deus, no tempo de S. Leão IV Esse papa procurou que se revestisse de maior esplendor, mandando ajuntar-lhe a vigília e a oitava. E o próprio pontífice quis participar nessas solenidades, acompanhado de imensa multidão. (10) Na vigília já de há muito se guardava o jejum, como se prova com evidência do que afirma o nosso predecessor S. Nicolau I, ao tratar dos principais jejuns “que… desde os tempos antigos observava e ainda observa a santa Igreja romana”.(11)

20. A Liturgia da Igreja não cria a fé católica, mas supõe-na; e é dessa fé que brotam os ritos sagrados, como da árvore os frutos. Por isso os santos Padres e doutores nas homilias e sermões que nesse dia fizeram ao povo, não foram buscar essa doutrina à liturgia, como a fonte primária; mas falaram dela aos fiéis como de coisa sabida e admitida por todos. Declararam-na melhor, explicaram o seu significado e o fato com razões mais profundas, destacando e amplificando aquilo a que muitas vezes os livros litúrgicos apenas aludiam em poucas palavras, a saber, que com esta festa não se comemora somente a incorrupção do corpo morto da santíssima Virgem, mas principalmente o triunfo por ela alcançado sobre a morte e a sua celeste glorificação à semelhança do seu Filho unigênito, Jesus Cristo.

Testemunho dos santos Padres

21. S. João Damasceno, que entre todos se distingue como pregoeiro dessa tradição, ao comparar a assunção gloriosa da Mãe de Deus com as suas outras prerrogativas e privilégios, exclama com veemente eloqüência: “Convinha que aquela que no parto manteve ilibada virgindade conservasse o corpo incorrupto mesmo depois da morte. Convinha que aquela que trouxe no seio o Criador encarnado, habitasse entre os divinos tabernáculos. Convinha que morasse no tálamo celestial aquela que o Eterno Pai desposara. Convinha que aquela que viu o seu Filho na cruz, com o coração traspassado por uma espada de dor de que tinha sido imune no parto, contemplasse assentada à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse o que era do Filho, e que fosse venerada por todas as criaturas como Mãe e Serva do mesmo Deus”.(12)

22. Condizem com essas palavras de s. João Damasceno as de muitos outros que afirmam a mesma doutrina. E não são menos expressivas, nem menos exatas, as palavras que se encontram nos sermões proferidos pelos santos Padres mais antigos ou da mesma época, ordinariamente por ocasião dessa festividade. Assim, para citar outro exemplo, s. Germano de Constantinopla julgava que a incorrupção do corpo da virgem Maria Mãe de Deus, e a sua assunção ao céu são corolários não só da sua maternidade divina, mas até da santidade singular daquele corpo virginal: “Vós, como está escrito, aparecestes ‘em beleza’; o vosso corpo virginal é totalmente santo, totalmente casto, totalmente domicílio de Deus de forma que até por este motivo foi isento de desfazer-se em pó; foi, sim, transformado, enquanto era humano, para viver a vida altíssima da incorruptibilidade; mas agora está vivo, gloriosíssimo, incólume e participante da vida perfeita”.(13) Outro escritor antiquíssimo assevera por sua vez: “A gloriosíssima Mãe de Cristo, Deus e Salvador nosso, dador da vida e da imortalidade, foi glorificada e revestida do corpo na eterna incorruptibilidade, por aquele mesmo que a ressuscitou do sepulcro e a chamou a si duma forma que só ele sabe”.(14)

23. À medida que a festa litúrgica se foi espalhando, e celebrando mais devotamente, maior foi o número de bispos e oradores sagrados que julgaram de seu dever explicar com toda a clareza o mistério que se venerava nesta solenidade e mostrar como ela estava intimamente relacionada com as outras verdades reveladas.

Testemunho dos teólogos

24. Entre os teólogos escolásticos, não faltaram alguns, que, pretendendo penetrar mais profundamente nas verdades reveladas, e mostrar o acordo entre a chamada razão teológica e a fé católica, notaram a estreita conexão existente entre este privilégio da assunção da santíssima Virgem e as demais verdades contidas na Sagrada Escritura.

25. Partindo desse pressuposto, apresentam diversas razões para corroborar esse privilégio mariano. A razão primária e fundamental diziam ser o amor filial de Cristo para o levar a querer a assunção de sua Mãe ao céu. E advertiam mais, que a força dos argumentos se baseava na incomparável dignidade da sua maternidade divina e em todas as graças que dela derivam: a santidade altíssima que excede a santidade de todos os homens e anjos, a íntima união de Maria com o seu Filho, e sobretudo o amor que o Filho consagrava a sua Mãe digníssima.

26. Muitas vezes os teólogos e oradores sagrados, seguindo os passos dos santos Padres,(15) para explicarem a sua fé na assunção, serviram-se com certa liberdade de fatos e textos da Sagrada Escritura. E assim, para mencionar só alguns mais empregados, houve quem citasse a este propósito as palavras do Salmista: “Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca de vossa santificação” (Sl 131, 8); e na Arca da Aliança, feita de madeira incorruptível e colocada no templo de Deus, viam como que uma imagem do corpo puríssimo da virgem Maria, preservado da corrupção do sepulcro, e elevado a tamanha glória no céu. Do mesmo modo, ao tratar desta matéria, descrevem a entrada triunfal da Rainha na corte celeste, e como se vai sentar a direita do divino Redentor (Sl 44,10.14-16); e recordam a propósito a esposa dos Cantares “que sobe pelo deserto, como uma coluna de mirra e de incenso” para ser coroada (Ct 3,6; cf. 4,8; 6,9). Ambas são propostas como imagens daquela Rainha e Esposa celestial, que sobe ao céu com o seu divino Esposo.

27. Os doutores escolásticos vislumbram igualmente a assunção da Mãe de Deus não só em várias figuras do Antigo Testamento, mas também naquela mulher, revestida de sol, que o apóstolo s. João contemplou na ilha de Patmos (Ap 12, ls.). Porém, entre os textos do Novo Testamento, consideraram e examinaram com particular cuidado aquelas palavras: “Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres” (Lc 1,28), pois viram no mistério da assunção o complemento daquela plenitude de graça, concedida à santíssima Virgem, e uma singular bênção contraposta à maldição de Eva.

Na teologia escolástica

28. Por esse motivo, nos primórdios da teologia escolástica, o piedosíssimo varão Amadeu, bispo de Lausana, afirmava que a carne da virgem Maria permaneceu incorrupta – nem se pode crer que o seu corpo padecesse a corrupção -, porque se uniu de novo à alma, e juntamente com ela penetrou na corte celestial. “Pois ela era cheia de graça e bendita entre as mulheres (Lc 1,28). Só ela mereceu conceber o Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, e sendo virgem deu-o à luz, amamentou-o, trouxe-o no regaço, e prestou-lhe todos os cuidados maternos”.(16)

29. Entre os escritores sagrados que naquele tempo com vários textos, comparações e analogias tiradas das divinas Letras, ilustraram e confirmaram a doutrina da assunção em que piamente acreditavam, ocupa lugar primordial o doutor evangélico s. Antônio de Pádua. Na festa da assunção, ao comentar aquelas palavras de Isaías: “glorificarei o lugar dos meus pés” (Is 60,13), afirmou com segurança que o divino Redentor glorificou de modo mais perfeito a sua Mãe amantíssima, da qual tomara carne humana. “Daqui, vê-se claramente”, diz, “que o corpo da santíssima Virgem foi assunto ao céu, pois era o lugar dos pés do Senhor”. Pelo que, escreve o Salmista: “Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca da vossa santificação”. E assim como, acrescenta ainda, Jesus Cristo ressuscitou triunfante da morte e subiu para a direita do Pai, assim também “ressuscitou a Arca da sua santificação, quando neste dia a virgem Mãe foi assunta ao tálamo celestial”.(17)

No período áureo

30. Quando, na Idade Média, a teologia escolástica atingiu o maior esplendor, s. Alberto Magno, para demonstrar essa verdade, apresenta vários argumentos fundados na Sagrada Escritura, na tradição, na liturgia e em razões teológicas, e conclui: “Por estas e outras muitas razões e autoridades, é evidente que a bem-aventurada Mãe de Deus foi assunta ao céu em corpo e alma sobre os coros dos anjos. E cremos que isto é absolutamente verdadeiro”.(18) E num sermão pregado em dia da Anunciação de nossa Senhora, ao explicar aquelas palavras do anjo: “Ave, cheia de graça…”, o doutor universal compara a santíssima Virgem com Eva, e afirma clara e terminantemente que Maria foi livre das quatro maldições que caíram sobre Eva.(19)

31. O Doutor Angélico, seguindo as pisadas do mestre, ainda que nunca trate expressamente do assunto, no entanto sempre que se oferece a ocasião fala dele, e com a Igreja católica afirma que o corpo de Maria juntamente com a alma foi levado ao céu.(20)

32. É da mesma opinião, entre outros muitos, o Doutor Seráfico, o qual tem como certo que, assim como Deus preservou Maria santíssima da violação do pudor e da integridade virginal ao conceber e dar à luz o seu Filho, assim não permitiu que o seu corpo se desfizesse em podridão e cinzas.(21) Aplica a santíssima Virgem, em sentido acomodatício, aquelas palavras da Sagrada Escritura: “Quem é esta que sobe do deserto, cheia de gozo, e apoiada no seu amado?” (Ct 8,5), e raciocina desta forma: “Daqui pode concluir-se que ela está ali corporalmente (na glória celeste)… Porque… a sua felicidade não seria plena se ali não estivesse em pessoa; ora a pessoa não é só a alma, mas o composto; logo é claro que está ali segundo o composto, isto é, em corpo e alma; de outro modo não gozaria de felicidade plena”.(22)

Na escolástica posterior

33. Na escolástica posterior, ou seja no século XV, são Bernardino de Sena, resumindo e ponderando cuidadosamente tudo quanto os teólogos medievais tinham escrito a esse propósito, não julgou suficiente referir as principais considerações que os antigos doutores tinham proposto, mas acrescentou outras novas. Por exemplo, a semelhança entre a divina Mãe e o divino Filho, no que respeita à perfeição e dignidade de alma e corpo – semelhança que nem sequer nos permite pensar que a Rainha celestial possa estar separada do Rei dos céus – exige absolutamente que Maria “só deva estar onde está Cristo”.(23) Portanto, é muito conveniente e conforme à razão que tanto o corpo como a alma do homem e da mulher tenham alcançado já a glória no céu; e, finalmente, o fato de nunca a Igreja ter procurado as relíquias da santíssima Virgem, nem as ter exposto à veneração dos fiéis, constitui um argumento que é “como que uma experiência sensível” da assunção.(24)

Nos tempos modernos

34. Em tempos mais recentes, as razões dos santos Padres e doutores, acima aduzidas, foram usadas comumente. Seguindo o comum sentir dos cristãos, recebido dos tempos antigos s. Roberto Belarmino exclamava: “Quem há, pergunto, que possa pensar que a arca da santidade, o domicílio do Verbo, o templo do Espírito Santo tenha caído em ruínas? Horroriza-se o espírito só com pensar que aquela carne que gerou, deu a luz, alimentou e transportou a Deus, se tivesse convertido em cinza ou fosse alimento dos vermes”.(25)

35. De igual forma s. Francisco de Sales afirma que não se pode duvidar que Jesus Cristo cumpriu do modo mais perfeito o divino mandamento que obriga os filhos a honrar os pais. E a seguir faz esta pergunta: “Que filho haveria, que, se pudesse, não ressuscitava a sua mãe e não a levava para o céu?”(26) E s. Afonso escreve por sua vez: “Jesus não quis que o corpo de Maria se corrompesse depois da morte, pois redundaria em seu desdouro que se transformasse em podridão aquela carne virginal de que ele mesmo tomara a própria carne”.(27)

36. Quando já tinha aparecido em toda a sua luz o mistério que se celebra nesta festa, não faltaram doutores que, em vez de tratar das razões teológicas pelas quais se demonstrasse a absoluta conveniência de crença na assunção corpórea da Virgem santíssima, voltaram o pensamento para a fé da Igreja, mística esposa de Cristo, sem mancha nem ruga (cf. Ef 5,27), que o Apóstolo chama “coluna e sustentáculo da verdade” ( 1Tm 3,15). E apoiados nesta fé comum pensaram que seria temerária, para não dizer herética, a opinião contrária. S. Pedro Canísio, como outros muitos, depois de declarar que o termo assunção se referia à glorificação não só da alma mas também do corpo, e que a Igreja há muitos séculos venerava e celebrava solenemente este mistério mariano, observa: “Esta opinião é admitida há vários séculos e tão impressa na alma dos fiéis, é tão recomendada pela Igreja, que quem negasse a assunção ao céu do corpo de Maria santíssima nem sequer seria ouvido com paciência, mas seria vaiado como pertinaz, ou mesmo temerário, e imbuído mais de espírito herético do que católico”.(28)

37. Pela mesma época, o Doutor Exímio estabelecia esta regra para a mariologia: “Os mistérios da graça que Deus operou na virgem Maria não se devem medir pelas leis ordinárias, senão pela onipotência divina, suposta a conveniência do fato e a não contradição ou repugnância com as Escrituras”.(29) E apoiado na fé de toda a Igreja, podia concluir que o mistério da assunção devia crer-se com a mesma firmeza que o da imaculada conceição, e já então julgava que ambas as verdades podiam ser definidas.

Fundamento escriturístico

38. Todos esses argumentos e razões dos santos Padres e teólogos apóiam-se, em último fundamento, na Sagrada Escritura. Esta nos apresenta a Mãe de Deus extremamente unida ao seu Filho, e sempre participante da sua sorte. Pelo que parece quase que impossível contemplar aquela que concebeu, deu à luz, alimentou com o seu leite, a Cristo, e o teve nos braços e apertou contra o peito, estivesse agora, depois da vida terrestre, separada dele, se não quanto à alma, ao menos quanto ao corpo. O nosso Redentor é também filho de Maria; e como observador perfeitíssimo da lei divina não podia deixar de honrar a sua Mãe amantíssima logo depois do Eterno Pai. E podendo ele adorná-la com tamanha honra, preservando-a da corrupção do sepulcro, deve crer-se que realmente o fez.

39. E convém sobretudo ter em vista que, já a partir do século II, os santos Padres apresentam a virgem Maria como nova Eva, sujeita sim, mas intimamente unida ao novo Adão na luta contra o inimigo infernal. E essa luta, como já se indicava no Protoevangelho, acabaria com a vitória completa sobre o pecado e sobre a morte, que sempre se encontram unidas nos escritos do apóstolo das gentes (cf. Rm 5; 6; lCor 15,21-26; 54-57). Assim como a ressurreição gloriosa de Cristo constituiu parte essencial e último troféu desta vitória, assim também a vitória de Maria santíssima, comum com a do seu Filho, devia terminar pela glorificação do seu corpo virginal. Pois, como diz ainda o apóstolo, “quando… este corpo mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá o que está escrito: a morte foi absorvida na vitória” (1Cor 15,14).

40. Deste modo, a augustíssima Mãe de Deus, associada a Jesus Cristo de modo insondável desde toda a eternidade “com um único decreto” (30) de predestinação, imaculada na sua concepção, sempre virgem, na sua maternidade divina, generosa companheira do divino Redentor que obteve triunfo completo sobre o pecado e suas conseqüências, alcançou por fim, como suprema coroa dos seus privilégios, que fosse preservada da corrupção do sepulcro, e que, à semelhança do seu divino Filho, vencida a morte, fosse levada em corpo e alma ao céu, onde refulge como Rainha à direita do seu Filho, Rei imortal dos séculos (cf. 1Tm 1,17).

Oportunidade da definição

41. Considerando que a Igreja universal – que é assistida pelo Espírito de verdade, que a dirige infalivelmente para o conhecimento das verdades reveladas – no decurso dos séculos manifestou de tantas formas a sua fé; considerando que os bispos de todo o mundo quase unanimemente pedem que seja definida como dogma de fé divina e católica a verdade da assunção corpórea da santíssima Virgem ao céu; considerando que esta verdade se funda na Sagrada Escritura, está profundamente gravada na alma dos fiéis, e desde tempos antiquíssimos é comprovada pelo culto litúrgico, e concorda, inteiramente, com as outras verdades reveladas, e tem sido esplendidamente explicada e declarada pelos estudos, sabedoria e prudência dos teólogos – julgamos chegado o momento estabelecido pela providência de Deus, para proclamarmos solenemente este privilégio insigne da virgem Maria. (42). Nós, que colocamos o nosso pontificado sob o especial patrocínio da santíssima Virgem, à qual recorremos em tantas circunstâncias tristes, nós, que consagramos publicamente todo o gênero humano ao seu imaculado Coração, e que experimentamos muitas vezes o seu poderoso patrocínio, confiamos firmemente que esta solene proclamação e definição será de grande proveito para a humanidade inteira, porque reverte em glória da Santíssima Trindade, a qual a virgem Mãe de Deus está ligada com laços muito especiais. É de esperar também que todos os fiéis cresçam em amor para com a Mãe celeste, e que os corações de todos os que se gloriam do nome de cristãos se movam a desejar a união com o corpo místico de Jesus Cristo, e que aumentem no amor para com aquela que tem amor de Mãe para com os membros do mesmo augusto corpo. E também é lícito esperar que, ao meditarem nos exemplos gloriosos de Maria, mais e mais se persuadam todos do valor da vida humana, se for consagrada ao cumprimento integral da vontade do Pai celeste e a procurar o bem do próximo. Enquanto o materialismo e a corrupção de costumes que dele se origina ameaçam subverter a luz da virtude, e destruir vidas humanas, suscitando guerras, é de esperar ainda que este luminoso e incomparável exemplo, posto diante dos olhos de todos, mostre com plena luz qual o fim a que se destinam a nossa alma e o nosso corpo. E, finalmente, esperamos que a fé na assunção corpórea de Maria ao céu torne mais firme e operativa a fé na nossa própria ressurreição.

43. E é para nós motivo de imenso regozijo que este fato, por providência de Deus, se realize neste Ano santo que está a decorrer, e que assim possamos, enquanto se celebra este jubileu maior, adornar com esta pedra preciosa a fronte da Virgem santíssima, e deixar um monumento, mais perene que o bronze, da nossa ardente devoção para com a Mãe de Deus.

Definição solene do dogma

44. “Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus onipotente que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos s. Pedro e s. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”.

45. Pelo que, se alguém, o que Deus não permita, ousar, voluntariamente, negar ou pôr em dúvida esta nossa definição, saiba que naufraga na fé divina e católica.

46. Para que chegue ao conhecimento de toda a Igreja esta nossa definição da assunção corpórea da virgem Maria ao céu, queremos que se conservem esta carta para perpétua memória; mandamos também que, aos seus transuntos ou cópias, mesmo impressas, desde que sejam subscritas pela mão de algum notário público, e munidas com o selo de alguma pessoa constituída em dignidade eclesiástica, se lhes dê o mesmo crédito que à presente, se fosse apresentada e mostrada.

47. A ninguém, pois, seja lícito infringir esta nossa declaração, proclamação e definição, ou temerariamente opor-se-lhe e contrariá-la. Se alguém presumir intentá-lo, saiba que incorre na indignação de Deus onipotente e dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo.

Dado em Roma, junto de São Pedro, no ano do jubileu maior, de 1950, no dia 1 ° de novembro, festa de todos os santos, no ano XII do nosso pontificado.

Eu PIO, Bispo da Igreja Católica assim definindo, subscrevi.


Notas

1. Petitiones de Assumptione corporea B. Virginis Mariae in caelum definienda ad S. Sedem delatae, 2 vol. Typis Polyglottis Vaticanis,1942.

2. Bula Ineffabilis Deus, Acta Pii IX, parte I, vol. 1, p. 615.

3. Cf. Conc. Vat. I, Const. dogm. Dei Filius de fide catholica, cap. 4.

4. Conc. Vat. I, Const. dogm. Pastor aeternus de Ecclesia Christi, cap. 4.

5. Conv Vat. I, Const. dogm. Dei Filius de feide catholica. cap. 3.

6. Carta Encíclica Mediator Dei, AAS 39( 1947), p. 541.

7. Sacramentário gregoriano.

8. Menaei totius anni..

9. Liber Pontificalis. 

10. Ibid.

11. Responsa Nicolai Papae 1 ad Consulta Bulgarorum, 13 nov. 866.

12. S. João Damasc., Encomium in Dormitionem Dei Genetricis semperque Virginis Mariae, hom. II, 14; cf. também ibid. n. 3).

13. S. Germ. Const., In Sanctae Dei Genitricis Dormitionem, sermo 1.

14. Encomium in Dormitionem Sanctissimae Dominae nostrae Deiparae semperque Virginis Mariae [atribuído a S. Modesto de Jerusalém] n. 14.

15. Cf. S. João Damasc., Encomium in Dormitionem Dei Genetricis semperque Virginis Mariae, hom. II, 2, 11; Encomium in Dormitionem… [atribuído a S. Modesto de Jerusalém].

16. Amadeu de Lausana, De Beatae Virginis obitu, Assumptione in Caelum, exaltatione ad Filii dexteram.

17. S. Antônio de Pádua, Sermones dominicales et in solemnitatibus. In Assumptione S. Mariae Virginis Sermo.

18. S. Alberto Magno, Mariale sive quaestiones super Evang. “Missus est”, q. 132.

19. Idem, Sermones de Sanctis, sermo XV: In Annuntiatione B. Mariae; cf. também Mariale, q.132.

20. Cf. Summa Theol. III, q. 27, a. 1. c.; ibid. q. 83, a. 5 ad 8; Expositio salutationis angelicae; In symb. Apostolorum expositio, art. 5; in IV Sent. D. 12, q. l, art. 3, sol. 3; D. 43, q. l, art. 3, sol. I e 2.

21. Cf. S. Boaventura, De Nativitate B. Mariae Virginis, sermo 5.

22. S. Boaventura, De Assumptione B. Mariae Virginis, sermo 1.

23. S. Bernardino de Sena, In Assumptione B. M. Virginis, sermo 2.

24. Idem, l.c.

25. S. Roberto Belarmino, Conciones habitae Lovanii, concio 40: De Assumptione B. Mariae Virginis.

26. Oeuvres de S. François de Sales, Sermon autographe pour la fête de l’Assomption.

27. S. Afonso Maria de Ligório, As glórias de Maria, parte II, disc. 1.

28. S. Pedro Canísio, De Maria Virgine.

29. E Suárez, In tertiam partem D. Thomae, q. 27, art. 2, disp. 3, sect. 5, n. 31.

30. Bula Ineffabilis Deus, l.c, p. 599.

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Fonte: Santa Sé

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A clonagem é ilícita porque supõe uma produção e não uma procriação (1) :

A Lei de Deus estabelece que o homem seja procriado no ato unitivo do amor do pai e da mãe, dentro do matrimônio. Este tem por fim primordial a procriação, e só dentro do Instituto do Matrimônio e como conseqüência do ato conjugal é lícita a descendência.

S. S. Pio XII, no seu Discurso sobre a Esterilidade e a Fecundidade (19 de Maio de 1956). O Papa assinalava então a inseparabilidade da procriação e da relação conjugal: “Nunca é permitido separar estes dois aspectos, até ao ponto de excluir positivamente seja a intenção procriadora, seja a relação conjugal”. Com respeito à fecundação artificial – portanto, aplicável hoje à clonagem – assinalava:

– “A respeito das tentativas da fecundação humana “in vitro”, basta-Nos observar que se deve excluí-las como imorais e absolutamente ilícitas.”

– “A fecundação artificial ultrapassa os limites do direito que os esposos adquirem pelo contrato matrimonial, a saber: direito a exercer plenamente a sua natural capacidade sexual na realização natural do ato matrimonial. O contrato em questão não lhes confere direito à fecundação artificial, porque semelhante direito não está de modo algum expresso no direito ao ato conjugal natural, nem poderia dele deduzir-se”.

Assim, não olvidemos que Deus é o único dono da vida, e Criador das leis que a regem. Portanto, sob nenhum motivo, nem por razões humanitárias, nem por causa de um mal entendido progresso científico, nem por nenhum interesse comercial, é lícito esquecer Deus.

Este é o argumento último e inapelável que se opõe não só à clonagem humana, mas também às técnicas de fecundação artificial.

Javier Mª Pérez-Roldan

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Nota
(1) Há que distinguir entre os vários termos. Criar, que o dicionário da Real Academia define como produzir algo de nada; procriar, engendrar, multiplicar uma espécie; e fabricar, produzir objetos em série, geralmente por meios mecânicos. O ato de criação é exclusivo de Deus, que criou tudo do nada; O ato procriador é próprio de cada ser vivo, que engendra descendência pelos meios com que a natureza o dota; E a fabricação é própria do ser humano, que por sua própria indústria e inteligência é capaz de utilizar como instrumento tudo aquilo que tem ao seu alcance, para produzir, por sua vez, novos objetos. A clonagem não é, pois, um ato criador, só próprio de Deus, e nem sequer um ato procriador, porquanto sai das regras que a natureza estabelece, mas uma mera fabricação, tanto quanto utiliza meios técnicos, e se bem que produza uma vida, fá-lo como se tratasse de mais um objeto, sem chegar a compreender o elevado sentido que a própria vida humana tem, fazendo um uso desta meramente instrumental.

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Fonte: Mosteiro da Santa Cruz

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