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Archive for março \31\-03:00 2012

Extraído do blog SPES

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Frederico de Castro
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Não se pretende cair na vala comum e iniciar mais uma discussão sobre a deturpação comercialista da Santa Páscoa. Temos conhecimento de que os nossos amigos e leitores já são suficientemente esclarecidos sobre os absurdos que se cometem neste período tão importante em nome de alguns trocados.
Por outro lado, nunca é demais deixar patente, sem qualquer dúvida, para fins de catequese de crianças e de recém-convertidos a importância que a Santa Páscoa representa para a vida do católico.
No tempo em que Nosso Senhor Jesus Cristo veio ao mundo, os judeus celebravam a festa a Páscoa – Pessach em hebreu (que significa passagem – para os judeus/da escravidão para a liberdade) – ; fato que obrigava a peregrinação até ao Templo de Jerusalém para a realização dos sacrifícios prescritos por Deus para a expiação dos pecados. Importa ressaltar que exatamente nesse período se realizaram as profecias do Antigo Testamento acerca do Cristo prometido por Deus, na pessoa de Jesus de Nazaré, segunda pessoa da Santíssima Trindade, nascido da Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa, sob a proteção e paternidade terrena de São José, esposo de Santa Maria.
Nesse contexto, se faz igualmente importante apontar com clareza a sucessão dos acontecimentos no tempo e sua relação com tais profecias para favorecer o entendimento e uma maior conversão. Informa-se, portanto, que a contagem dos dias e dos meses no calendário dos judeus seguem os ciclos da lua e não do sol, como em nosso calendário.
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Assim sendo, é preciso que se saiba que tudo seguia um rito bastante estrito e muito bem definido na Lei Mosaica. No dia 10 do mês de Nisan (Março-Abril), as famílias judaicas providenciavam um cordeiro para o sacrifício; já na noite do dia 13 para 14 deste mesmo mês as famílias limpavam as casas de todo o pão com fermento, para que no dia seguinte, exatamente ao meio-dia, começassem com a preparação da Páscoa, cessando todo o trabalho secular.
Nesse dia 14, entre as 14,30h e as 17,00 h, os homens entravam no pátio do Templo com o cordeiro do sacrifício. A oferenda constituia-se de cordeiros ou cabritos, machos, de um ano de idade (as primícias, os mais robustos e perfeitos de cada casa), e abatidos pelo Pai da Família (era permitido um cordeiro por família) em qualquer lugar no pátio do Templo.
Uma vez imolados, os sacerdotes recolhiam o sangue em recipientes de prata e ouro, que passavam de um para outro até o mais próximo ao altar, de tal sorte que se derramava o sangue na base desse. As gorduras e entranhas do cordeiro eram queimadas no altar dos holocaustos, enquanto os levitas, cantavam Salmos (Salmos 113 a 118). O homem que trouxera o cordeiro levava-o nos ombros para casa, para o assar e comer em um jantar que começava com o aparecimento da primeira estrela daquela noite.
No dia 15 era iniciada a Páscoa propriamente dita e nessa noite começava a festa dos Ázimos com um descanso (que terminava no dia seguinte à noite) e a oferta própria ao Templo. A festa dos Ázimos tinha o seu fim a 21 de Nisã à noite, que também era um dia de repouso.
Desse modo, os ritos da pascoa começavam por se recostar à mesa, beberem uma 1ª taça de vinho. Nessa ocasião, o Pai de Família abençoava o vinho. Em seguida, trazia-se os legumes, colocava-se o cordeiro na mesa e bebia-se a 2ª taça de vinho. O filho mais novo então perguntava ao pai “Porque é que esta noite é diferente das outras?”, que por sua vez explicava: “É em memória do que o Senhor fez por nós, quando saímos do Egíto”. Seguia-se o cântico de Salmos (Sl 113-114) e uma 3ª taça de vinho era servida aos convivas. Por fim, era feita uma ação de graças pelo Pai de Família seguida de mais uma 4ª taça de vinho e em seguida últimos Salmos (Salmos 115-118). Note-se, portanto, a prefiguração da Sagrada Eucaristía.
Nosso Senhor Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, foi condenado e morto (imolado) na véspera de sábado, no dia da preparação, ou seja, 14 de Nisan (Jo 19,31) e São Marcos disse que foi à “hora nona”, ou seja, na exata e mesmíssima hora em que os cordeiros da Páscoa eram imolados em grande quantidade no Templo de Jerusalém.  São João Baptista declara abertamente que Nosso Senhor é “O Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo” (Jo1,29). Os salmos todos e diversas profecias anunciam estas coisas.
Os judeus incrédulos que não aceitam a Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda celebram apenas uma libertação secular, daí o porquê do período e da forma de ambas as festas serem bastante semelhantes no  que toca o simbolismo (até porque se trata de um testemunho profético), mas mínimamente no que diz respeito ao conteúdo. Com efeito, a Santa Páscoa para nós católicos é a celebração de uma redenção completa, do pecado, para a pureza, da morte, para a vida!
Com a destruição do Segundo Templo de Jerusalém, os judeus que permaneceram no judaísmo perderam a possibilidade do local de sacrifício o que  tornou inviável a continuação dos sacríficios de cordeiros, razão pela qual estes celebram a sua páscoa sem a imolação de cordeiros.
Curiosamente, este é um fato bastante relevante para nós católicos, pois atesta a perfeição do sacrifício feito por Nosso Senhor; e mais ainda a renovação do sacrifício da Santa Missa, no qual o sacrifício de Cristo é renovado de forma incruenta, e assim o será até o fim dos dias, pela Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Significativamente, tanto a páscoa judaica, quanto as celebrações protestantes, e mais disfarçadamente a apostasia silenciosa do Concílio Vaticano II, transformaram a Santa Páscoa em um momento de meras lembranças, sem qualquer sacrifício pascal, afastando-se, portanto, voluntariamente da remissão dos pecados.
Nesses termos, eis que temos o cordeiro como o primeiro e mais importante símbolo da Santa Páscoa, representando sua imagem o próprio Cristo em sua qualidade de redentor da humanidade.
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Eis o Cristo! O Cordeiro de Deus que retira os pecados do mundo!

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Não obstante, o simbolismo da Santa Páscoa é numeroso e não se restringe à imagem do Cordeiro. Os ovos, por exemplo, longe de ser um costume pagão como alguns ignorantes gostam de dizer para tentar difamar a Santa Igreja, são na verdade a continuidade da tradição dos judeus e simbolizam a vida e a própria redenção. Eis que Nosso Senhor Jesus Cristo nos liberta e permite que possamos nascer para a vida eterna.
Na antiga Europa costumava-se escrever mensagens e datas nos ovos e doá-los aos amigos. Em alguns lugares, como na Alemanha, por exemplo, o costume era presentear somente as crianças. Na Armênia decorava-se ovos ocos com figuras de Jesus, Nossa Senhora e outras imagens de Santos. Pintar ovos com cores da primavera para celebrar a páscoa foi um costume adotado, ao que tudo indica, no século XVIII. Nesse tempo, a Igreja doava aos fiéis ovos bentos. A origem dos ovos de chocolate ao que tudo indica é realmente já um apelo comercial da modernidade, entretanto há notícia de que pode ter sido um costume originário de uma maior penitência no que diz respeito ao consumo de carnes. Evidentemente, como tudo o que é destes tempos de apostasia, vender ovos de chocolate é mais lucrativo… logo, eis o resultado. No Brasil, apesar dos pesares, algumas famílias de católicos ainda preservam uma agradável tradição com as crianças: a de esconder os ovos de páscoa pela casa para que as mesmas brinquem de procurá-los.
Um outro símbolo famoso e vilipendiado em seu sentido religioso é o coelho. O  coelho é um pequeno mamífero cuja fecundidade talvez seja seu aspecto mais conhecido. Com efeito, uma coelha pode chegar a gerar mais de 50 filhotes por ano. Assim, eis que o coelho representa com sua imagem a Santa Madre Igreja, que tem como uma de suas funções gerar, reunir e cuidar da maior quantidade de filhos e filhas que puder para Deus.
Na ceia pascal das famílias católicas era costume servir cordeiro, mas a presença do coelho pode ter ganhado maior destaque diante da maior ou menor escasses ou abundancia de um ou de outro conforme a região ou pátria. Enfim, em termos de Brasil contemporâneo são carnes raras e de alto custo, sem mencionar o próprio esquecimento das tradições.
Outro símbolo da ceia das famílias católicas é a colomba pascal. Trata-se de um bolo em forma de “pomba” cujo significado inconfundível é representar o Divíno Espírito Santo. Diz-se que a tradição haveria surgido na vila de Pavia (norte da Itália), onde um confeiteiro teria presenteado um rei lombardo (Albuíno) com o delicioso bolo em forma de pomba. O soberano, por sua vez, teria poupado a cidade de uma cruel invasão graças ao bondoso gesto (não da satisfação do apetite, obviamente). O fato é que, à maneira dos ovos de páscoa, a colomba também se “achocolatou”, fato este que não lhe retira o simbolismo, igualmente ao exemplo dos ovos.
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Uma colomba pascal tradicional

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Afora estes simbolismo próprio da ceia é ou foi costume decorar as residências com pequenos sininhos, geralmente decorados com cores e temas pascais, além de algumas velas, espigas de trigo e em alguns locais algumas flores de girassóis. O significado geral é o anúncio de uma festividade, de grande alegria. No domingo da Santa Páscoa, os sinos das igrejas devem dobrar festivamente, anunciando com alegria a celebração da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo e a nossa redenção. As velas representam a luz de Cristo representada nas igrejas pelo Círio Pascal. Nosso Senhor Jesus Cristo disse que Ele é a luz do mundo e que quem o seguir não andará em trevas. Na noite anterior ao Domíngo de Páscoa, o Sábado Santo, uma grande vela denominada Círio Pascal é acessa. Nesse Círio estão cravados cinco pregos representativos das cinco chagas de Cristo, as letras gregas Alfa e Ômega (respectivamente primeira e última do alfabeto grego), simbolizando Deus mesmo como princípio e fim de todas as coisas, e o ano em que foi aceso e celebrada a Santa Páscoa.

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Cristo é a luz do mundo!

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E, na medida em que o Círio representa a Luz de Cristo, o girassol por sua vez representa o católico. O girassol é uma bela flor de cor amarela, formada por muitas pétalas, e de tamanho realmente muito grande. Como é óbvio, recebeu esse nome porque está sempre se voltando para o sol. O girassol representa a busca da luz que é o próprio Cristo Jesus e, assim, tal qual ele busca o astrorei, o católico busca a Cristo, luz do mundo; Caminho, Verdade e Vida.
Dito isso, podemos verificar verdadeiramente que Jesus de Nazaré é de fato o Cristo prometido e que a celebração da Santa Páscoa conserva um simbolismo próprio e condizente com esta realidade. Que Deus nos favoreça a todos com Sua imensa misericórdia. Tenhamos todos, se Deus quiser, mais uma Santa Páscoa. Vinde sem demora Senhor Jesus!
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VIVA CRISTO REI! SALVE MARIA!

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Extraído do blog SPES

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RESPOSTA ABERTA À CARTA ABERTA DE MONSENHOR NICOLA BUX

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Em uma carta aberta de 19 de março endereçada a Dom Fellay e a todos os padres da FSSPX, o senhor apelou a nós para que aceitássemos a sincera e afetuosa oferta de reconciliação que o Papa Bento XVI está fazendo à FSSPX para a cura da longa fratura entre Roma e a FSSPX. Permita que um dos bispos da FSSPX tome para si a responsabilidade de lhe expressar o que pensa poderia ter sido a resposta daquele “grande homem da Igreja”, o Arcebispo Lefebvre.

A sua carta começa com um apelo para “todo sacrifício em nome da unidade”. Mas não pode haver verdadeira unidade Católica que não esteja fundada na verdadeira Fé Católica. O grande Arcebispo fez todos os sacrifícios pela unidade na verdadeira doutrina da Fé. Infelizmente, as discussões doutrinais de 2009-2011 provaram que a fratura doutrinal entre a Roma do Vaticano II e a FSSPX continua maior do que nunca. Mas a Fé sacrificada em nome da unidade seria uma unidade infiel.
Claro que a Igreja é uma instituição tanto humana quanto divina. Claro que o elemento divino não pode falhar, então é claro que a Igreja ao fim não pode falhar, e o sol nascerá de novo. Mas há quem possa divergir quando o senhor diz que o amanhecer está próximo como ao alcance das mãos, porque a verdadeira Fé que a FSSPX sustentou nas discussões não está brilhando desde a Roma do Vaticano II, do que decorre que nela a FSSPX não poderia estar em segurança. Nem poderia trazer luz se ela mesma adotasse a escuridão Conciliar.
A sinceridade do desejo do Papa em acolher de volta a FSSPX na “plena comunhão eclesial”, como demonstrada em uma série de gestos de verdadeira boa vontade, não está em dúvida, mas “uma profissão de fé comum” entre a FSSPX e aqueles que crêem no Vaticano II não é possível, a menos que a FSSPX esteja prestes a abandonar a Fé que defendeu nas discussões. E quando a FSSPX grita “Deus não o permita!” por tal deserção, longe de sua voz ser sufocada, ela é ouvida em todo o mundo.
Certamente, “esta é o momento apropriado”, certamente “chegou o momento favorável” para a solução daqueles agonizantes problemas da Igreja e do mundo aos quais a Mãe do Céu há muito nos chama, e os quais depende do Santo Padre sozinho. Esta clara solução há muito é conhecida.
Como os Céus poderiam ter deixado o mundo em tal agonia como a dos últimos 100 anos sem dar uma solução como aquela dada pelo Profeta Elias para a lepra do general sírio Naamã? Humanamente falando, a solução parecia ridícula, mas ninguém diria que não seria possível. Ela pedia meramente alguma fé e humildade. O general pagão uniu suficiente fé e confiança no homem de Deus para fazer o que os Céus pediam, e, é claro, ele foi curado instantaneamente.
Permita-se que o Santo Padre reúna fé e confiança o suficiente na promessa da Mãe do Céu! Permita-se que ele agarre este “momento oportuno” antes que homens totalmente loucos tenham sucesso em lançar uma Terceira Guerra Mundial no Oriente Médio! Permita-se que ele, nós o imploramos, nós o suplicamos, salve a Igreja e o mundo ao fazer meramente o que a Mãe do Céu pediu. Não é impossível. Ela superaria todos os obstáculos em seu caminho. Certamente, ele sozinho pode agora nos salvar de sofrimentos inimagináveis e desnecessários.
E se ele desejar qualquer apoio, na oração ou na ação, da humilde FSSPX para ajudá-lo a consagrar a Rússia ao Seu Imaculado Coração, em união com todos os bispos do mundo, os quais a Mãe do Céu reuniria, ele sabe que poderia contar antes de tudo mais com o de Dom Fellay e dos outros três bispos da FSSPX, pelo menos dentre os quais está
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Seu devoto servo em Cristo,
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+ Richard Williamson.

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Extraído do blog SPES

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São Pio X

147. Que se celebra na festa da Anunciação da Santíssima Virgem Maria?

Na festa da Anunciação da Santíssima Virgem Maria celebra-se o anúncio, que Lhe transmitiu o Anjo São Gabriel, de que estava escolhida para ser a Mãe de Deus.

148. Onde se encontrava a Santíssima Virgem quando Lhe apareceu o Anjo São Gabriel?

Maria, quando Lhe apareceu o Anjo São Gabriel, encontrava-se em Nazaré, cidade da Galiléia.

149. De que maneira o Anjo São Gabriel saudou a Virgem Maria, quando Lhe apareceu?

Quando o Anjo São Gabriel apareceu à Virgem Maria, dirigiu-Lhe aquelas palavras com que nós A saudamos todos os dias: “Ave, ó cheia de graça; o Senhor é conVosco, bendita sois Vós entre as mulheres”.

150. Qual foi a atitude da Santíssima Virgem ao ouvir as palavras do Anjo São Gabriel?

Ao ouvir as palavras do Anjo São Gabriel, a Santíssima Virgem perturbou-Se, verificando que A saudavam com títulos novos e gloriosos dos quais se julgava indigna.

151. Quais são as virtudes que a Santíssima Virgem mostrou, de modo especial, ao receber a mensagem do Anjo São Gabriel?

Ao receber a mensagem do Anjo São Gabriel, a Santíssima Virgem mostrou, de modo especial: pureza admirável, humildade profunda, fé e obediência perfeita.

152. Ao receber a mensagem como é que Maria deu a conhecer o seu grande amor à pureza?

Ao receber a mensagem do Anjo São Gabriel, a Santíssima Virgem Maria deu a conhecer o seu grande amor à pureza com a solicitude em conservar a virgindade, solicitude manifestada por Ela precisamente na ocasião em que ouvia dizer que estava destinada para a dignidade de Mãe de Deus.

153. Ao receber a mensagem do Anjo São Gabriel, como deu Maria Santíssima a conhecer a sua profunda humildade?

Ao receber a mensagem do Anjo São Gabriel, Maria Santíssima deu a conhecer a sua profunda humildade com as palavras: “Eis aqui a escrava do Senhor”. Ela disse precisamente no instante em que se tornava Mãe de Deus.

154. Ao receber a mensagem do Anjo São Gabriel, como mostrou Maria Santíssima a sua fé e obediência?

Ao receber a mensagem do Anjo São Gabriel, Maria Santíssima mostrou a sua fé e obediência dizendo: “Faça-se em Mim segundo a vossa palavra”.

155. Que sucedeu no momento em que a Virgem Maria consentiu em ser Mãe de Deus?

No próprio momento em que Maria Santíssima consentiu em ser Mãe de Deus, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade encarnou-se no seu seio, tomando corpo e alma como os nossos, por obra do Espírito Santo.

156. Que nos ensina a Santíssima Virgem na sua Anunciação?

A Santíssima Virgem na sua Anunciação: 1º. ensina em particular às virgens o altíssimo apreço em que devem ter o tesouro da virgindade; 2º. ensina-nos a nós todos a dispor-nos com grande pureza e humildade para receber dentro de nós a Jesus Cristo na Sagrada Comunhão; 3º. ensina-nos a submeter-nos prontamente à vontade divina.

157. Que devemos fazer na solenidade da Anunciação de Maria?

Na solenidade da Anunciação de Maria devemos fazer três coisas: 1º. adorar profundamente o Verbo Encarnado para nossa salvação, e agradecer-Lhe tão grande benefício; 2º. congratular-nos com a Santíssima Virgem pela dignidade de Mãe de Deus, a que foi elevada, e honrá-La como nossa Senhora e nossa advogada; 3º. tomar a resolução de rezar sempre com grande devoção e respeito a saudação angélica chamada comumente Ave-Maria.

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Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã: Catecismo Maior de São Pio X.

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(29 de novembro 1905 - 25 de março de 1991)

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Extraído do site Permanência

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Santo Antônio de Pádua

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Exórdio. Sermão aos pregadores ou aos prelados

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1.  Qual de vós me argüirá de pecado? Se vos digo a verdade, porque não me credes1?
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Aos pregadores fala Jeremias2Armai-vos de fortaleza, filhos de Benjamim, no meio de Jerusalém e fazei soar a trombeta em Técua e levantai o estandarte em Betacarém. Benjamim interpreta-se filho da direita3; Jerusalém, visão da paz4; Técua, trombeta5; Betacarém, casa estéril6. Armai-vos, portanto, de fortaleza e não temais, ó pregadores, filhos de Benjamim, isto é, da direita, ou seja, da vida eterna7, da qual se escreve nas Parábolas8Na sua direita está uma larga vida. Armai-vos de fortaleza no meio de Jerusalém. Jerusalém é a Igreja militante, na qual há visão de paz, ou seja, a reconciliação do pecador9. E diz-se bem: no meio. O meio da Igreja é a caridade, que se estende ao amigo e ao inimigo. Para conseguir este meio deve o pregador armar de fortaleza os fiéis da Igreja. E fazei soar a trombeta da pregação em Técua, isto é, entre aqueles que, quando praticam alguma obra boa, como os hipócritas, tocam a trombeta diante de si10 – comprazem-se, como se diz no livro da Sabedoria11em ter debaixo de si muitas nações –,para que, ao ouvir a trombeta, como diz Jeremias12, exclamem: Ai de nós, Senhor, porque pecamos. E em Betacarém, casa estéril daqueles que são áridos da umidade da graça, estéreis de boas obras, cuja terra, o entendimento, não recebe gota de sangue do corpo de Cristo13, levantai o estandarte da cruz, pregai a Paixão do Filho de Deus, porque chegou o tempo da Paixão, anunciai aos mortos que ressurjam na morte de Jesus Cristo, que afirma às turbas dos Judeus no Evangelho de hoje: Qual de vós me argüirá de pecado?
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2.  Observa que neste Evangelho há sete pontos: Primeiro, a inocência de Jesus Cristo, ao dizer: Qual de vós me argüirá? Segundo, a atenta audição da sua palavra, ao juntar: Quem é de Deus ouve as palavras de Deus etcTerceiro, a blasfêmia dos Judeus: Porventura não dizemos nós bem que tu és Samaritano e tens demônio? Quarto, a glória da vida eterna ao cumpridor da sua palavra: Em verdade, em verdade vos digo, se alguém guardar a minha palavra, não experimentará a morte eternamente. Quinto, a glorificação do Pai: É meu Pai quem me glorifica. Sexto, a alegria de Abraão: Abraão, vosso Pai, exultou ao ver o meu dia. Sétimo, a voluntária lapidação dos Judeus e a ocultação de Jesus Cristo: Pegaram em pedras para lhas atirarem etc14.
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Nota ainda que neste domingo e no seguinte se lê Jeremias e se cantam os responsórios: Estes são os dias15, juntamente com os restantes, em que se não diz o Glória ao Pai.
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I – A inocência de Jesus Cristo
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3.  Assim fale o cordeiro inocente, que tirou o pecado do mundo16, que não pecou nem se encontrou engano na sua boca17, que tomou sobre si os pecados de muitos, como diz Isaías18, e intercedeu pelos pecadores.Qual de vós me argüirá, isto é, acusará ou convencerá19, de pecado? Certo, ninguém. Como poderia alguém argüir de pecado quem viera perdoar os pecados e dar a vida eterna? Por isso, o Apóstolo refere na Epístola de hoje aos Hebreus20: Cristo intervém como pontífice dos bens futuros etc. Intervir significa ajudar ou obedecer. Cristo interveio, isto é, ajudou-nos21. Donde o Profeta22Ajudou o pobre a sair da sua miséria. O gênero humano era pobre, porque espoliado dos dons gratuitos, vulnerado nos naturais23; estava sem o recurso e sem o auxílio de ninguém. Veio Cristo: assistiu-lhe, ajudou-o, quando lhe perdoou os pecados. Cristo também obedeceu a Deus Pai até à morte, e morte de cruz24. Nela ofereceu a Deus Pai, em reconciliação do gênero humano, não o sangue de bodes ou bezerros, mas o próprio sangue, para purificar a nossa consciência das obras mortas, para servir a Deus vivo25. Chama-se-lhe Pontífice dos bens futuros26. Pontífice é o que estabelece uma ponte27, para dar passagem aos viandantes28. Havia duas margens, a da mortalidade e a da imortalidade, entre as quais deslizava um rio intransponível, o rio das nossas iniqüidades e misérias. Delas escreve Isaías29: As vossas iniqüidades abriram um abismo entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados esconderam de vós a sua face, para não vos ouvir.
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Veio, portanto, Cristo, como Pontífice; fez-se ponte que vai da margem da nossa mortalidade à margem da sua imortalidade. Por ele, como prancha de madeira lançada entre as duas margens, passaríamos a possuir os bens futuros. Esta a razão por que se diz Pontífice dos bens futuros, não dos presentes, que não prometeu aos seus amigos, antes diz: Haveis de ter aflições no mundo30. Cristo, portanto, intervém no perdão dos nossos pecados, como Pontífice dos bens futuros, para nos dar os bens eternos. Quem, portanto, o pode argüir de pecado? Que é o pecado senão a transgressão da Lei divina e a desobediência aos mandamentos celestes31? Quem, pois, o pode argüir de pecado, cuja vontade esteve na lei do Senhor32, que obedeceu, não só ao Pai celeste, mas ainda à Mãe pobrezinha? Qual de vós, portanto, me argüirá de pecado? Se eu vos digo a verdade, porque não me credes33? Não criam na verdade, porque eram filhos do diabo34, que é mentiroso e pai da mesma mentira35, por ele inventada36.
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II – A audição da palavra de Cristo
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4.  Segue o segundo. Quem é de Deus, ouve as palavras de Deus; vós não as ouvis porque não sois de Deus37. Deus, em hebraico, que dizer temor38. É de Deus aquele que teme a Deus; a quem teme a Deus, ouve as suas palavras. Por isso, diz o Senhor por Jeremias39: Levanta-te e desce à casa do oleiro, e ao ouvirás as minhas palavras. Levanta-te aquele que, tomado pelo temor, se arrepende de ter praticado o mal; e desce à casa do oleiro ao reconhecer-se lodo, temendo que o Senhor o quebre como vaso de barro40; e desta forma ouve aí as palavras do Senhor, porque é de Deus, porque teme a Deus. Diz S. Jerônimo41: É grande sinal de predestinação ouvir de bom grado as palavra de Deus e ouvir notícias da pátria celeste, como alguém que gosta de ouvir notícias da pátria terrena. E o contrário é sinal de obstinação. Por isso, ajunta-se: Vós não ouvis porque não sois de Deus, como se dissesse: Não ouvis as suas palavras porque não o temeis. Daí a fala de Jeremias42A quem falarei eu? A quem conjurarei eu que me ouça? Eis que os seus ouvidos estão incircuncidados e não podem ouvir; eis que a palavra do Senhor se tornou para eles motivo de opróbrio, e não a receberão. E noutra parte refere43: Eis o que diz o Senhor: Farei apodrecer a soberba de Judá, isto é, dos clérigos, e o grande orgulho de Jerusalém, isto é, dos religiosos. Este povo perversíssimo, a saber, o povo dos leigos, não quer ouvir as minhas palavras e anda na maldade do seu coração. Acerca destes escreve ainda noutro sítio44: Engordaram e engrossaram, e transgrediram pervesissimanente os meus preceitos. Não defenderam a causa da viúva. Porventura não hei-de eu punir estes excessos, diz o Senhor? Ou a minha alma não se há-de vingar duma tal gente? E noutra passagem45: Eis que eu farei cair calamidades sobre este povo, fruto dos seus desígnios, porque não ouviram as minhas palavras e rejeitaram a minha lei. Para que me trazeis vós incenso de Sabá e cana de suave cheiro de terra longínqua? Os vossos holocaustos não me são agradáveis, nem as vossas vítimas me agradaram, diz o Senhor.
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Sabá interpreta-se rede ou cativa. O incenso designa a oração46; a cana, a confissão do crime ou do louvor. Quem não ouve as palavras de Deus e não conhece a sua lei, que é a caridade, porque o amor é a plenitude da lei47, queima baldadamente o incenso da oração. O incenso vem de Sabá, vaidade do mundo. A vaidade retém o homem enredado e cativo. Traz ao Senhor ainda a cana da confissão, que é de suave cheiro, se for feita em caridade; trá-la de terra longínqua, isto é, da imundície do espírito, que separa o homem de Deus. Os vossos holocaustos, isto é, as vossas abstinências, não me são agradáveis; e as vítimas, isto é, as vossas esmolas, não me agradaram, diz o Senhor, porque lançastes fora a caridade. Que mais? Todas as nossas obras são inúteis para a vida eterna se não são condimentadas com o bálsamo da caridade.
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III – A blasfêmia dos Judeus contra Cristo
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5.  Segue o terceiro: Responderam os judeus e disseram-lhe: Não dizemos nós com razão que tu és um samaritano e que tens demônio? Jesus respondeu: Eu não tenho demônio, mas honro o meu Pai, e vós a mim desonrastes-me. E eu não busco a minha glória; há quem a busque e quem fará justiça48. Os samaritanos, transferidos pelos Assírios, adotaram em parte o rito dos Israelitas e em parte o rito dos gentios49 Os judeus não mantinham relações com eles50, por os reputarem impuros, por isso, a quem queriam insultar chamavam samaritano. Samaritanos interpretam-se guardas, por terem sido colocados pelos babilônios na guarda dos Judeus51. Dizem portanto: Não dizemos nós com razão que tu és um samaritano? Isto aceita o Senhor sem o negar, porque é guarda52. Não dorme nem dormita quem guarda a Israel53 e vigia sobre o seu rebanho54. Daí a afirmação do Senhor a Jeremias55Que vês tu, Jeremias? E ele disse: uma vara vigilante, ou segundo outra tradução, uma vara de nogueira ou de amendoeira56estou eu a ver. E disse-me o Senhor: Viste bem, e eu vigiarei sobre a minha palavra para a realizar.A vara, assim chamada de virtude ou verdura ou porque com ela os homens governam57, significa Jesus Cristo58, virtude de Deus59; plantada junto do curso das águas, isto é, junto da abundância das graças60, permanece verde, ou seja, imune de todo o pecado61. Ele de si próprio diz em S. Lucas62: Se fazem isto no lenho verde, que acontecerá no seco? A ele disse o Pai: Governa-os com vara de ferro63, isto é, com justiça inflexível64. Esta vara vigiou sobre a sua palavra para a realizar, porque mostrou com fatos o que pregou de palavra. Vigia sobre a sua palavra quem pratica o que prega por palavra.
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6.  Ou então, Cristo chama-se vara vigilante, porque assim como o ladrão, desperto durante a noite, rouba objetos da casa dos que dormem com uma vara munida de gancho, também Cristo, com a vara da sua humanidade e o gancho da santa Cruz roubou as almas ao diabo65. Por isso, disse: Quando for exaltado da terra, tudo atrairei a mim66, com o gancho da santa Cruz. De fato, o dia do Senhor virá como o ladrão durante a noite67. E no Apocalipse68 diz: Se não vigiares, virei a ti como o ladrão.
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Igualmente se chama Cristo vara de nogueira ou de amendoeira. Nota que na nogueira ou na amendoeira a amêndoa é doce, o caroço rijo, a casca amarga69. A amêndoa doce designa a divindade de Cristo; o caroço rijo, a alma; a casca amarga, a carne, que suportou a amargura da Paixão70. Vigiou sobre a palavra do Pai, que é chamada sua, porque faz um só com o Pai, para a realizar. Daí o dizer: Como o Pai me mandou, assim o faço71. portanto, não tenho demônio, porque cumpro as ordens do Pai. Por conseguinte, blasfemam em verdade os falsos judeus: Tens demônio. Desta blasfêmia contra a pessoa de Cristo refere Jeremias72: Ai de mim, minha mãe! Porque me geraste homem de rixa e de discórdia em toda a terra? Nunca lhes dei dinheiro a usura, nem a mim mo deu ninguém; todos me amaldiçoam, diz o Senhor.
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Nota que há um duplo ai: o da culpa e o da pena. Cristo teve o ai da pena, mas não o da culpa. Ai, portanto, de mim, minha mãe! Porque me geraste para tamanha pena homem de rixa e homem de discórdia? Rixa é o que se comente entre muitos73. Por isso, rixoso quer dizer ricto canino, porque sempre pronto a contradizer74. A discórdia quer dizer coração diverso. Discordar é possuir um coração diverso. Assim entre os judeus havia rixa por causa das palavra de Cristo. Com efeito, os judeus estavam sempre prontos a ladrar e a contradizer como se foram cães. Tinham opiniões diferentes. Alguns efetivamente diziam: é bom; outros, pelo contrário: Não é, mas seduz as multidões75. Nunca dei dinheiro a usura, nem a mim mo deu ninguém. Usurário chama-se não só o que empresta mas também o que recebe76. Cristo, portanto, não deu dinheiro a usura, porque não encontrou dentre os judeus a quem emprestasse o dinheiro da sua doutrina. E não lhe deu ninguém dinheiro a usura, porque não quiseram multiplicar com boas obras a moeda da doutrina77, antes todos o amaldiçoavam dizendo: És samaritano e tens demônio. Respondeu Jesus: Eu não tenho demônio. Refuta a calúnia, mas, paciente, não retorna a injúria. Honro o meu Pai, dando-lhe a honra devida78, atribuindo-lhe tudo79, e vós desonrastes-me. Por isso, na pessoa de Cristo diz Jeremias nos Trenos80: Estou feito objeto de escárnio para o meu povo ao longo de todo o dia. E noutro lugar81: Oferecerá a face a quem lhe bater, será saturado de opróbrios. Eu, porém, não procuro a minha glória, como os homens, que às afrontas sofridas retribuem com afrontas, mas reservo-a ao Pai. Donde ajuntar: Há quem a procure e quem faça justiça82. É o que diz em Jeremias83Mas tu, Senhor dos exércitos, que julgas segundo a equidade e que sondas os afetos e os corações, faz que eu veja as vinganças que deles tomarás.
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E nota que há duplo juízo: um de condenação, do qual se escreve: O Pai não julga ninguém, mas confiou todo o juízo ao Filho84; outro de separação. Dele diz o Filho no Intróito da missa de hoje: Julga-,e, ó Deus, e separa a minha causa de uma gente não santa85 etc. É ainda neste sentido que ele diz: É o Pai quem procura a minha glória e separa a minha glória da vossa. Vós gloriais-vos segundo o século, não eu; a minha glória é aquela que tive junto do Pai antes que o mundo existisse, diferente do orgulho dos homens86.
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7.  Sentido moral. Tens demônio. Demônio, do grego daimonion, quer dizer perito e conhecedor de fatos87. O vocábulo grego daimon88 significa muito ciente. Quando, portanto, alguém, por adulação ou aplauso, te diz: És perito e sabes muito, diz-te: Tens demônio. E tu imediatamente deves responder com Cristo: Eu não tenho demônio. De mim mesmo nada sei, nada tenho de bom, mas honro o meu Pai. A ele atribuo tudo; a ele dou graças; dele provém toda a sabedoria, toda a perícia e ciência. Eu não busco a minha glória. Diz com S. Bernardo89: Não me toques, palavra de vanglória, pois é só devida a glória a quem se reza: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. Diz igualmente: O anjo, no céu, não busca do anjo a glória; e o homem, na terra, deseja ser louvado pelo homem90.
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IV – Glória eterna para o servidor da palavra de Cristo
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8.  Segue o quarto: Em verdade, em verdade vos digo: quem guardar a minha palavra, não verá a morte eternamente. Disseram-lhe, pois, os judeus: Agora reconhecemos que tens demônio. Abraão morreu e os Profetas, e tu dizes: Quem guarda a minha palavra não verá a morte eternamente. Porventura és maior do que o nosso pai Abraão, que morreu? E os Profetas morreram. Que pretendes tu ser? Respondeu Jesus: Se eu me glorifico a mim mesmo, não é nada a minha glória91. Ámen significa: verdadeiramente, fielmente, ou faça-se. É vocábulo hebraico como aleluia. E assim como no céu S. João ouviu ámen e aleluia, conforme refere no Apocalipse92, assim na terra estas duas palavras foram entregues pelos Apóstolos para serem pronunciadas por todos os povos93: Em verdade, em verdade vos digo: quem guardar a minha palavra, não verá a morte eternamente. Morte vem da mordedura do primeiro homem, porque ao morder o pomo da árvore proibida incorreu na morte. Se tivesse guardado a palavra do Senhor: Come de toda a árvore do paraíso, mas não comas da árvore da ciência do bem e do mal94, não teria experimentado a morte eternamente; mas porque não a guardou, experimentou a morte e pereceu juntamente com toda a sua posteridade. Daí a fala de Jeremias95O Senhor pôs-te o nome de oliveira fecunda, formosa, fértil, vistosa; à voz da sua palavra grandíloqua, acendeu-se nela o fogo e queimaram-se os seus ramos.
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A natureza humana antes do pecado foi oliveira na criação e criada no campo damasceno96, mas plantada, por assim dizer, no paraíso de delícias; fecunda nos dons gratuitos, formosa nos naturais, fértil no gozo da eterna felicidade, vistosa na sua pureza. Mas ai! à voz da sua palavra grandíloqua, isto é, da sugestão diabólica a prometer grandes coisas: Sereis como deuses97, acendeu-se nela o fogo da vanglória e da avareza e desta forma foram queimados os seus ramos, ou seja, toda a sua posteridade. Ó filho de Adão, não imiteis os vossos pais, que não guardaram a palavra do Senhor, e por isso pereceram, mas guardai-a: Em verdade, em verdade vos digo que se guardardes a minha palavra, não vereis a morte eternamente. Ver, neste lugar, é o mesmo que experimentar98.
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9.  Segue. Disseram, pois, os judeus: Agora reconhecemos que tens demônio. Ó desatino de espírito imbecil! Ó perfídia de gente demoníaca! Não vos basta uma vez só blasfemar do inocente, imune de todo o pecado, de modo tão horrível, com ultraje tão ignominioso, senão que repetis segunda vez: Agora reconhecemos que tens demônio. Ó cegos, se conhecêsseis que ele não tinha demônio, mas crêsseis no Senhor Filho de Deus!
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Abraão morreu, não com aquela morte que o Senhor disse99, mas de morte corporal, da qual se escreve no Gênesis100: Foram os dias de Abraão cento e setenta e cinco anos; e faltando-lhe as forças, morreu numa ditosa velhice e em avançada idade e cheio de dias; e foi unir-se ao seu povo. E Isaac e Ismael, seus filhos, sepultaram-no na dupla caverna.
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10.  Sentido moral. Abraão significa o justo, cuja vida deve constar de cento e setenta e cinco anos. O número centenário, número perfeito, designa toda a perfeição do justo101; o septuagenário, que consta de sete e de dez, a infusão da graça septiforme e o cumprimento do decálogo102; no quinário, a vida limpa dos cinco sentidos103. Portanto, a vida do justo deve ser perfeita pela infusão da graça septiforme e pelo cumprimento do decálogo e pelo porte limpo dos cinco sentidos; e desta maneira abandonará o amor mundano e morrerá para o pecado, cheio, não vazio, de dias e reunido ao seu povo. Deste diz o Senhor em Isaías104Os dias do meu povo serão como dias da árvore, isto é, de Jesus Cristo105, porque assim como ele viverá eternamente, também o meu povo viverá e reinará com ele sempiternamente106. Daí a palavra do Evangelho: Eu vivo, e vós vivereis107.
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E Isaac e Ismael, seus filhos, sepultaram-no na dupla caverna. Isaac interpreta-se gozo108, Ismael interpreta-se audição de Deus109. O gozo da esperança dos bens celestes e a audição dos divinos preceitos sepultam o justo na dupla caverna da vida ativa e contemplativa110, a fim de que, escondido da perturbação dos homens no secreto da face do Senhor, se proteja das línguas maldizentes111. Destas ainda se ajunta: Que pretendes tu ser? Segundo eles, pretendia passar por Filho de Deus, igual a Deus, como se o não fosse. Mas não se fazia: era-o verdadeiramente. Donde a afirmação do Apóstolo112: Não considerou ser rapina ao fazer-se igual a Deus. Por isso, não diziam: Que és, mas: Que pretendes tu ser? Se eu me glorifico a mim mesmo, a minha glória não é nada. Contra o que dizem: Que pretendes tu ser?, refere a sua glória ao Pai. Dele é que tira o ser Deus113.
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V – Cristo a glorificar pelo Pai
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11.  Segue o quinto: É o Pai quem me glorifica, aquele que vós dizeis ser o vosso Deus; mas vós não o conhecestes; eu, porém, conheço-o; e se disser que o não conheço, serei mentiroso como vós. Mas eu conheço-o e guardo a sua palavra114. Nota que o Pai glorificou o seu Filho no nascimento, ao fazê-lo nascer duma Virgem; no rio Jordão e num monte115, quando disse: Este é o meu filho amado116. Glorificou-o ainda na ressuscitação de Lázaro, na Ressurreição e na Ascensão. Por isso, disse em S. João117: Pai, glorifica o teu nome. Veio, pois, uma voz do céu, dizendo: E glorifiquei-o, na ressurreição de Lázaro; e de novo o glorificarei na Ressurreição e na Ascensão118. É, pois, o Pai quem me glorifica, o qual vós dizeis ser o vosso Deus. Aqui está abertamente um testemunho contra os hereges119, que afirmam ter sido dada a Lei a Moisés pelo deus das trevas. Mas o Deus dos judeus, que deu a Lei a Moisés, é o Pai de Jesus Cristo; portanto, o Pai de Jesus Cristo deu a Lei a Moisés120. E vós não o conheceis espiritualmente, quando servis os bens terrenos121. Eu, porém, conheço-o, porque sou um com ele. E se disser que não o conheço, quando o conheço122serei mentiroso como vós, que dizíeis conhecê-lo, quando não o conheceis123Mas eu conheço-o e guardo a sua palavra. Como Filho, exprimia a palavra do Pai; e ele mesmo era a Palavra do Pai, Ele que fala aos homens124. Guarda-se a si mesmo, isto é, guarda a divindade em si.
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VI – A alegria de Abraão
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12.  Segue o sexto. O vosso pai Abraão suspirou por ver o meu dia; viu-o e ficou cheio de gozo. Disseram-lhe, por isso, os Judeus: Tu ainda não tens cinqüenta anos e viste Abraão? Disse-lhe Jesus: Em verdade, em verdade vos digo, antes que Abraão fosse feito, eu sou125. Nota as três palavras: suspirou, viu e alegrou-se. Nota ainda que é triplo do dia do Senhor: o do Natal, o da Paixão e o da Ressurreição. Sobre o primeiro escreve Joel126Naquele dia sairá uma fonte da casa do Senhor e irrigará uma torrente de espinhos. No dia de Natal, uma fonte, isto é, Cristo, sairá da casa de David, isto é, do útero da Santíssima Virgem, e irrigará uma torrente de espinhos, isto é, refrigerará a abundância das nossas misérias, com que todos os dias somos atormentados e feridos.
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Acerca do segundo, diz Isaías127: Meditou no seu espírito duro, para o dia da ardência. No dia da Paixão, em que o Senhor suportou a ardência128 dos trabalhos e da dor no seu espírito duro, enquanto pendia na cruz, meditou no modo de condenar o diabo e libertar de suas mãos o gênero humano.
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A respeito do terceiro, diz Oséias129: Ao terceiro dia ressuscitará, e nós viveremos na sua presença: entraremos na ciência do Senhor e o seguiremos a fim de o conhecer. Ao terceiro dia, Cristo, ressurgindo dos mortos, ressuscitou-nos juntamente com ele130, isto é, conformes com a sua ressurreição131, porque assim como ele ressuscitou, também nós acreditamos que havemos de ressuscitar na ressurreição geral132. E então viveremos, entraremos na sua ciência e o seguiremos, a fim de o conhecer. Nestes quatro verbos entendemos os quatro dotes do corpo glorioso: viveremos: eis a imortalidade; entraremos na sua ciência: eis a sutileza; o seguiremos: eis a agilidade; a fim e conhecermos o Senhor: eis a claridade.
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Abraão, pois, isto é, o justo, exulta no dia do nascimento do Verbo Encarnado; com a visão da fé, vê-o suspenso no patíbulo da cruz; com ele, já imortal, gozará no reino celeste.
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Disseram-lhe os judeus, olhando nele só para a idade da carne, sem considerar a natureza divina133: Ainda não tens cinqüenta anos e viste Abraão? Com trinta e um ou talvez trinta e dois anos, por causa do demasiado trabalho e instância da pregação, o Senhor parecia ser mais velho. Disse-lhes Jesus: Antes que Abrão fosse feito, eu sou. Não disse: fosse. Mas: fosse feito, porque criatura; não disse, feito, mas: sou, porque criador134.
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VII – A ocultação de Jesus dos Judeus que o queriam lapidar
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13.  Segue o sétimo: Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus encobriu-se, e saiu do templo135. Os apedrejadores recorrem a pedras para lapidar a pedra angular. Em si juntou as duas paredes136: o povo judaico e o povo gentio, que vinham de parte contrária. Os judeus, imitadores da malícia de seus antepassados, quiseram lapidar o Senhor dos profetas. Seus pais apedrejaram o profeta Jeremias no Egito137. Por isso, diz-lhes o Senhor em S. Mateus138Sois filhos daqueles que mataram os profetas, e vós enchei a medida dos vossos pais.
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14.  Sentido moral. Os falsos cristãos, filhos estranhos, filhos do diabo, que mentiram ao Senhor, violando o pacto feito no Batismo, apedrejam todos os dias, quanto deles depende, com as duras pedras dos seus pecados, o seu pai e Senhor Jesus Cristo, do qual tiraram o nome de cristãos139, e se esforçam por matá-lo, por matar a fé nele. Assemelham-se aos filhos do abutre, que deixam o pai morrer de fome. Não são como os filhos do grou, que se expõem à morte pelo pai, quando o abutre lhes persegue o pai; já envelhecido, alimentam-no140, por já não poder caçar. O nosso pai, como pai faminto, bate à porta, para que lha abramos e lhe demos, se não uma ceia, ao menos um bocado de pão. Eu, diz no Apocalipse141estou à porta e bato; se alguém me abrir, entrarei na casa dele e cearei com ele e ele comigo. Nós, porém, filhos degenerados, como os do abutre, deixamos morrer de fome o nosso pai. Por isso, ele queixa-se de nós por boca de Jeremias142:Porventura tenho eu sido para Israel um deserto ou terra de trevas? Porque disse, pois, o meu povo: Nós nos retiramos, não tornaremos mais a ti? Porventura esquecer-se-á a donzela do seu ornato, ou a esposa da faixa que lhe cinge o peito? Mas o meu povo esqueceu-se de mim durante dias sem número. O Senhor não é deserto ou terra de trevas, que não dão fruto algum ou dão pouco fruto, mas é paraíso de delícias e terra de bênção, na qual recebemos o cêntuplo de tudo o que tivermos semeado.
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Qual a razão, pois, por que, miseráveis, nos afastamos dele e dele nos esquecemos por tão longo tempo? Mas a alma, esposa de Cristo, donzela pela fé e pela caridade, não pode esquecer-se do seu ornato, isto é, do amor divino, de que anda adornada, e da faixa que lhe cinge o peito, ou seja, da consciência pura, sob a qual vive segura.
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Sejamos, por favor, irmãos caríssimos, como os filhos do grou, a fim de que, se for necessário, afrontemos a morte pelo nosso pai, isto é, pela fé do nosso pai, e restauremos, com boas obras, este mundo, já envelhecido e que depressa cairá na ruína, para que não nos suceda o que se ajunta: Jesus, porém, encobriu-se e saiu do templo. E, por esta causa, desde o presente domingo, que se intitula Paixão do Senhor, nos responsórios não se diz Glória ao Pai. Todavia, não há completo silêncio, porque o Senhor ainda não fora entregue nas mãos dos lanistas143.
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Roguemos, portanto, e com lágrimas peçamos ao Senhor Jesus Cristo que não nos encubra a sua face e não saia do templo do nosso coração, e não nos argua de pecado no seu juízo; antes nos infunda a sua graça, para que diligentemente ouçamos a sua palavra; nos conceda paciência na injúria sofrida; nos livre da morte eterna; nos glorifique no seu reino, a fim de merecermos ver o dia da sua eternidade juntamente com Abraão, Isaac e Jacob. Ajude-nos ele mesmo, ao qual é devida honra e poder, decoro e império pelos séculos eternos. Diga toda a Igreja: Assim seja.
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Fonte: SANTO ANTÔNIO DE LISBOA. Obras Completas. Sermões Dominicais e Festivos (Vol. I)
Introdução, tradução e notas por Henrique Pinto Rema.
Lello e Irmão Editores, Porto, 1987; págs 228-247.
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1.     Jo 8, 46 (Vg… dico vobis…).

2.     Jer 6, 1 (Vg. muda)
3.     Gen 35, 18.
4.     Glo. Ord., Is 1, 1.
5.     Glo. Int., Jer 1 c.
6.     Betacarém interpreta-se “quinta da vinha” (Glo. Int., ibidem); outro étimo, o hebraico, dá-lhe o significado de “casa estéril”.
7.     Cf. Glo. Ord., Prov 3, 16.
8.     Prov 3, 16
9.     Cf. Glo. Ord., Is 1, 1.
10.  Cf. Mt 6, 2.
11.   Cf. Sab 6, 3.
12.   Cf. Lam 5, 16.

13.   Cf. Lc 22, 44.
14.   Cf. Jo 8, 46-49.
15.   Breviário Romano, Domingo da Paixão, a Matinas, 1º responsório.
16.   Cf. Jo 1, 29.
17.   1Ped 2, 22 e Is 53, 9.
18.   Is 53, 12 (Vg. Et ipse peccata…).
19.   Cf. ISID., Diff. I, 19, PL 83, 12; cf. CÍCERO, Mur. 67. St. Antônio deve ter-se servido diretamente de Papias.
20.   Heb 9, 11.
21.   Cf. Glo. Int., ibidem.
22.   Sl 106, 41.
23.   Cf. p. lomb., Sent. II, dist. 25, 7, p. 432. “Antes dos escolásticos, o santo de Pádua usava a célebre fórmula que sintetiza os efeitos do pecado original”. Isto é o que escreveu DIOMEDE SCARAMUZZI, La figura intellecttuale di s. Antonio di Padova, Roma 1943, PP. 159 nota.
24.   Fil 2, 8.
25.   Cf. Heb 9, 13-14.
26.   Heb 9, 11.
27.   Cf. VARRÃO, De língua latina, IV; BERN., De moribus et officio Episcoporum, 3, 10, PL 182, 817. St. Antônio terá utilizado, ou VARRÃO (o original) ou florilégios, por exemplo, o texto de Pápias, que não propriamente São Bernardo, na opinião de ANNA BURLANI CALAPAJ, Le citazioni di s. Bernardo, in Actas 1981, p. 218.
28.   ISID., Etym. VIII, 12, 13, PL 82, 291. Mas St. Antônio utilizou aqui diretamente o Vocabularium Latinum de PAPIAS.
29.   Is 59, 2.
30.   Jo 16, 33.
31.   Esta é a definição de pecado, já lida em ST. AMBRÓSIO, De paradiso 8, 39, PL 14, 309; cf. P. LOMB., Sent. II, dist. 35, 1, p. 492.
32.   Cf. Sl 1, 2.
33.   Jô 8, 46.
34.   Cf. Glo. Int., Jo 8, 46.
35.   Jo 8, 44 (Vg. quia…).
36.   Glo. Ord., ibidem.
37.   Jo 8, 47.
38.   Cf. ISID., Etym. VII, 1, 5, PL 82, 259-260: “Deus graece Théos dicitar, quase déos, idest Timor”. GUSTAVO CANTINI, De fontibus sermonum S. Antonii qui in editione Locatelli continentur, em Antonianum (Roma), 1931, p. 348, nota, afirma ser ela certametne uma leitura defeituosa. Propõe: “Deus, em hebraico Eloim, quer dizer temor”.
39.   Jer 18, 2.
40.   f. Sl 2, 9.
41.   Os Editores não conseguiram identificar esta citação de São Jerônimo.
42.   Jer 6, 10.
43.   Jer 13, 9-10.
44.   Jer 5, 27-29.
45.   Jer 6, 19-21.
46.   Cf. Glo. Ord. e Int., Is 60, 6.
47.   Cf. Rom 13, 10.
48.   Jo 8, 48-50 (V. ajunta, muda).
49.   Cf. 4Reis 17, 24; 33, 41.
50.   Cf. Jo 4, 9.
51.   Cf. ISID., Etym. IX, 2, 54, PL 82, 333.
52.   Glo. Int., Jo 8, 48.
53.   Cf. Sl 120, 4.
54.   Cf. Lc 2, 8.
55.   Jer 1, 11-12 (V. muda).
56.   Cf. Glo. Ord. Int., Jer 1, 11. St. Antônio pensa ainda em São Jerônimo, aliás inspirador do Autor da Glossa.
57.   Cf. ISID., Etym. XVII, 6, 18, PL 82, 608.
58.   Cf. Glo. Ord., Jer 1 c.
59.   Cf. 1Cor 1, 24.
60.   Cf. Sl 1, 3 e Glo. Ord., ibi.
61.   Cf. Glo. Ord., Lc 23, 31.
62.   Lc 23, 31 (Vg… haec faciunt…).
63.   Sl 2, 9.
64.   Glo. Int., ibidem.
65.   Cf. Glo. Int., Ex 7, 9-10.
66.   Jo 12, 32.
67.   Cf. 1Tess 5, 2.
68.   Ap 3, 3 (Vg. Si ergo non…).
69.   Cf. Glo. Ord., Jer 1, 11.
70.   Cf. AGOST., Sermo 245 (por suposições) 5, PL 39, 2189; Glo. Int., Cant 6, 10.
71.   Jo 14, 31.
72.   Jer 15, 10-11.
73.   ISID., Diff. I, 346, PL 83, 46.
74.   ISID., Etym. X, 239, PL 82, 392.
75.   Cf. Jo 7, 12.
76.   ISID., Etym. X, 97, PL 82, 377.
77.   Cf. Glo. Ord., Jer 15, 10.
78.   Glo. Int., Jo 8, 49.
79.   Glo. Ord., ibidem.
80.   Lam 3, 14 (Vg. ajunta).
81.   Lam 3, 30.
82.   Glo. Ord., Jo 8, 50.
83.   Jer 11, 20.
84.   Jo 5, 22 (Vg. Neque enim Pater iudicat…).
85.   Sl 42, 1.
86.   Glo. Ord., Jo 8, 50.
87.   ISID., Etym. VIII, 11, 15, PL 82, 315; cf. LACTÂNCIO, Institutiones, II, 15, PL 6, 331.
88.   O primeiro significado de daimónion é divindade. Daimon pode traduzir-se por deus, destino, sorte, felicidade. Há quem lhe vá buscar a raiz ao verbo daio, repartir; para outros virá de daénai, saber. Esta é a origem seguida por St. Antônio, que foi colher ao Vocabularium Latinum de PAPIAS.
89.   Cf. BERN., In festo omnium sanctorum, sermo 5, 7, PL 183, 479.
90.   BERN., In Nativitate B. V. Mariae, 14, PL 183, 445.
91.   Jo 8, 51-54 (Vg. muda).
92.   Cf. Ap 19, 1. 3-4.
93.   Cf. ISID., Etym. VI, 19, 20-21, PL 82, 253-254.
94.   Gen 16-17.
95.   Jer 11, 16 (Vg. muda).
96.   Cf. Is 17, 1. CRISTIANO ADRICÔNIO diz-nos o seguinte sobre o campo damasceno: “Hic asserunt Adam a Deo plasmatum et hinc translatum in paradisum terrestrem, atque inde rursus ejectum peccato, quo se et nos omnes perdidit, huc relatum. Distat autem spatio quantum arcus jacit Ebron: ager u que adeo fertilis et speciosus, ut aliqui paradisum terrestrem intelligi hic debere crediderent. Habet terram rubram et mire tractabilem, quam Saraceni deferunt in Aegiptum, Indiam, Aethiopiam, care vendentes. Ferunt autem foveas revoluto anno adimpleri, habeturque; fama constanti terram hanc talis esse virtutis, ut eam gestantibus nulla incommoda noceant, unde et aliqui abuntuntur in varuas superstitiones”. Cf.Theatrum Terrae Sancte et biblicarum historiarum, Coloniae Agrippinae 1682, p. 45.
97.   Gen 3, 5.
98.   Glo. Ord., Jo 8, 51.
99.   Glo. Int., Jo 8, 52.
100.  Gen 25, 7-9 (Vg. ajunta).
101.  Cf. Glo. Ord. e Int., Lc 8, 8.
102.  Cf. GREG., Moralium XXXV, 16, 42, PL 76, 773.
103.  Cf. GREG., In Ez II, hom 5, 5, PL 76, 987.
104.  Is 65, 22.
105.  Glo. Ord.¸ibidem.
106.  Cf. Glo. Ord., ibi.
107.  Jo 14, 19.
108.  Glo. Int., Gen 21, 3.
109.  Glo. Int., Gen 21, 11.
110.  Glo. Int., Gen 25, 9.
111.  Cf. Sl 30, 21.
112.  Fil 2, 6 (Vg… esse se…).
113.  Glo. Ord., Jo 8, 53-54.
114.  Jo 8, 54-55 (Vg. Est Pater meus…).
115.  Cf. Glo. Ord., Jo 8, 54.
116.  Mt 3, 17/ 17, 5.
117.  Jo 12, 28 e Glo. Int., ibi.
118.  Glo. Int., ibidem.
119.  O Santo alude aqui à falsa teoria dos cátaros. Renovando no século XII o dualismo maniqueu, ensinavam que o Autor do Velho Testamento foi um princípio mau, o qual é ainda o “príncipe deste mundo”, enquanto o Novo Testamento tem por Autor o Deus bom. Contra estes tais, o Doutor Evangélico prova que é um e o mesmo o Deus do Velho e do Novo Testamento. Cf. DIOMEDE SCARAMUZZI, La figura intellettuale di s. Antonio di Padova, p. 170, nota 3.
120.  Cf. Glo. Ord., Jo 8, 54; AGOST., In Joannis evangelium tractatus 44, 5, PL 35, 1711.
121.  Glo. Ord., Jo 8, 55.
122.  Glo. Int., ibidem.
123.  Glo. Int., ibidem.
124.  Glo. Int., ibidem.
125.  Jo 8, 56-58 (Vg. junta, omite).
126.  Joel 3, 18 (Vg. ajuda, muda).
127.  Is 27, 8.
128.  Cf. Glo. Ord., ibidem.
129.  Os 6, 3.
130.  Glo. Int., ibidem.
131.  Cf. Glo. Ord., ibidem.
132.  Glo. Ord., ibidem.
133.  Glo. Int., Jo 8, 57.
134.  Jo 8, 59.
135.  Jo 8, 59.
136.  Cf. AGOST., De Scripturis sermo 4, 17, 18, PL 38, 42.
137.  Cf. Heb 11, 37; P. COMESTOR, Historia Scholastica, Liber Tobiae, 3, PL 198, 1440.
138.  Mt 23, 31-32.
139.  ISID., Etym. VIII, 14, 1, PL 82, 294.
140.  O que se refere aqui da cegonha aparece em ARIST., De hist. an., IX, 13, 615b23-27;ISID., Etym. XII, 7, 17, PL 82, 461; SOLINO, Polyhistor, 53 e AMB., Hexameron, V, 15, 55, PL 14, 243.
141.  Ap 3, 20 (Vg. ajunta).
142.  Jer 2, 31-32 (Vg. ajunta, muda).
143.  Em sentido próprio, o vocábulo latino lanista significa mestre ou chefe de gladiadores. No presente contexto assume o sentido de malfeitor.

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Fonte: SPES

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Extraído do blog SPES

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São José, rogai por nós!

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O GLORIOSO São José era descendente direto dos grandes reis da tribo de Judá, e dos mais ilustres patriarcas; mas sua verdadeira glória consistiu em sua humildade e virtude. A história de sua vida não foi escrita por homens, mas suas ações principais foram registradas pelo próprio Espírito Santo. Deus delegou-lhe a educação de seu divino Filho, manifestado na carne. Para este fim, ele esposou a Virgem Maria. É um erro evidente de alguns autores considerar que, de uma ex-mulher, ele fosse pai de São Tiago Menor, e de outros que nos evangelhos são referidos como irmãos do Senhor: pois havia apenas primos-primeiros de Cristo, os filhos de Maria, irmã da Virgem Santíssima, esposa de Alfeu, que ainda vivia no tempo da crucificação do Redentor. São Jerônimo assegura-nos[1] que São José sempre preservou sua castidade virginal; e é de fé que nada contrário a isto jamais ocorreu em relação à sua casta esposa, a Virgem Maria Santíssima. Ele lhe foi dado pelo céu para ser o protetor de sua castidade, para defendê-la de calúnias na ocasião do nascimento do Filho de Deus, e para assisti-la na educação d’Ele, em sua caminhada, fatigas e perseguições. Quão imensa foi a pureza e santidade daquele que foi escolhido como guardião da mais imaculada Virgem! Este homem santo parece ter desconhecido, por tempo considerável, o grande mistério da Encarnação, que fora nela forjado pelo Espírito Santo. Consciente, contudo, de seu próprio comportamento casto em relação a ela, era natural que uma grande preocupação surgisse em seu interior, ao descobrir que, não obstante a santidade do comportamento dela, com toda a certeza ela estava grávida. Mas sendo um homem justo, como as Escrituras o chamam, e conseqüentemente possuidor de todas as virtudes, especialmente a caridade e a mansidão em relação ao próximo, ele estava determinado a deixá-la em segredo, sem condená-la ou acusá-la, entregando tudo a Deus. Estas suas perfeitas disposições foram tão aceitáveis a Deus, o amante da justiça, caridade e paz, que antes que ele executasse o planejado, Ele enviou um anjo do céu, não para repreender qualquer coisa de sua santa conduta, mas para dissipar todas as suas dúvidas e temores, revelando-lhe o adorável mistério. Quão felizes seríamos se fossemos tão delicados em tudo que se relacionasse à reputação do próximo; tão livres de maus pensamentos ou suspeições, qualquer que fosse a certeza que fundamentasse nossas conjecturas ou nossos sentidos; tão controlados em usar nossa língua! Cometemos estas faltas somente porque, em nossos corações, somos desprovidos daquela verdadeira caridade e simplicidade da qual São José nos deu tão eminente exemplo naquela ocasião.

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Podemos admirar em secreta contemplação, com que devoção, respeito e delicadeza ele contemplava e adorava o primeiro de todos os homens, o recém-nascido Salvador do mundo, e com que fidelidade ele se desincumbia de suas duas responsabilidades, a educação de Jesus e a guarda de sua santa mãe. “Ele foi verdadeiramente o servo fiel e prudente,” diz São Bernardo,[2] “a quem nosso Senhor nomeou para o chefe do lar, o conforto e apoio de Sua mãe, Seu padrasto, e o mais fiel colaborador na execução de seus mais profundos conselhos na terra.” “Que felicidade,” diz o mesmo padre, “não somente ver Jesus Cristo, mas também ouvi-Lo, carregá-Lo em seus braços, levá-Lo a lugares, abraçá-Lo e acariciá-Lo, alimentá-Lo, compartilhar todos os grandes segredos que eram ocultados dos príncipes deste mundo.”
“Oh, assombrosa elevação! Oh, incomparável dignidade!” clama o piedoso Gerson,[3]numa devota alocução a São José, “que a mãe de Deus, rainha dos céus, o chame de senhor; que o próprio Deus feito homem o chame de pai e obedeça suas ordens. Oh, gloriosa Tríade na terra, Jesus, Maria e José, que família mais querida à gloriosa Trindade nos céus, Pai, Filho e Espírito Santo! Nada é tão grande na terra, tão bom, tão excelente.” Em meio a estas graças extraordinárias, que coisa há mais maravilhosa que sua humildade! Ele oculta seus privilégios, vive como um homem obscuro, não escreve nada acerca dos grandes mistérios de Deus, não indaga mais nada sobre os mistérios de Deus, deixando a Deus a decisão de manifestá-los em Seu próprio tempo, procura cumprir a ordem da providência a seu respeito, sem interferir com qualquer coisa, exceto a que lhe diz respeito. Embora descendente da família real que tivera uma longa possessão do trono da Judéia, ele se contenta com sua condição de mecânico e artesão,[4] de cujo trabalho tira o sustento para manter a si próprio, a sua esposa e a seu divino filho.
Seríamos ingratos a este grande santo se não lembrássemos que é a ele, como instrumento de Deus, que devemos a preservação do menino Jesus do ciúme e da malícia de Herodes, manifestada na matança dos Inocentes. Um anjo, que lhe apareceu em sonho, ordenou-lhe que levantasse, tomasse o menino Jesus, fugisse com ele para o Egito e ficasse lá até que lhe fosse ordenado que voltasse. Esta repentina e inesperada fuga deve ter causado muitos inconvenientes e sofrimentos a José, numa viagem tão longa, com uma criança pequena e uma virgem delicada, grande parte do caminho sendo através de desertos e em meio a estranhos; mesmo assim, ele não alegou nenhuma desculpa, nada perguntando acerca do momento do retorno. S. Crisóstomo observa que Deus trata assim todos os seus servos, enviando-lhes freqüentes provas, para livrar seus corações da ferrugem do amor-próprio, mas entremeando períodos de consolação.[5] “José”, diz ele, “está ansioso ao ver a Virgem com o filho; um anjo remove o temor; ele regozija-se com o nascimento da criança, mas um grande temor sucede; o rei furioso procura destruir a criança e toda a cidade está em alvoroço para tirar sua vida. Isto é seguido por uma nova alegria, a adoração dos Magos: uma nova tristeza então surge; ele recebe a ordem de fugir para um país estrangeiro e desconhecido, sem auxílio ou alguém conhecido.” É a opinião dos Padres da Igreja, que com a presença do menino Jesus, todos os oráculos daquele país supersticioso ficaram mudos, e as estátuas de seus deuses estremeceram e, em muitos lugares, caíram por terra, de acordo com Isaías 19: E as estátuas egípcias estremecerão diante d’Ele.[6] Os Padres também atribuem a esta divina visita as graças derramadas naquele país, que fez dele, por muitos anos, um campo fértil de santos.[7]
Depois da morte do rei Herodes, que foi informada a São José por meio de uma visão, Deus ordenou-lhe o retorno, com a criança e a mãe, para a terra de Israel, ordem que nosso santo prontamente obedeceu. Mas quando ele chegou à Judéia, sabendo que Arquelau sucedera Herodes naquela parte do país, temendo que ele tivesse sido infectado pelos vícios de seu pai – crueldade e ambição – ele temeu, por isso, lá se estabelecer, como ele teria, de resto, feito, pelas facilidades de educação da criança. E assim, sendo orientado por Deus em nova visão, ele se fixou nos domínios do irmão de Arquelau, Herodes Antipas, na Galiléia, em sua residência anterior, em Nazaré, onde as maravilhosas ocorrências do nascimento de Nosso Senhor eram menos conhecidas. São José, sendo um austero observante da Lei Mosaica, em conformidade com ela, anualmente visitava Jerusalém para celebrar a páscoa. Arquelau, tendo sido banido por Augusto, e a Judéia tendo se tornado uma província romana, José não tinha, agora, nada a temer em Jerusalém. Nosso Salvador, tendo completado doze anos de idade, acompanhou seus pais até lá; os quais, tendo realizado as cerimônias usuais da celebração, estavam agora retornando, com muitos de seus vizinhos e conhecidos, para a Galiléia. Sem nunca duvidarem que Jesus se unira ao grupo com algum amigo, viajaram durante todo dia sem procurar por Ele, antes que descobrissem que Ele não viajara com eles. Mas quando caiu a noite e eles não conseguiram obter nenhuma notícia d’Ele entre parentes e conhecidos, eles, na mais profunda aflição, retornaram com a máxima urgência a Jerusalém; onde, depois de uma busca ansiosa de três dias, eles O encontraram no templo, entre doutores da lei, ouvindo seus discursos e argüindo-os de forma a causar grande admiração a todos que O ouviam, deixando-os impressionados com a maturidade de Sua compreensão: tampouco seus pais ficaram menos surpresos na ocasião. E quando sua mãe contou-lhe a aflição e o afinco com que Lhe procuraram, e para expressar sua tristeza por aquela privação, embora de curta duração, de sua presença, disse a Ele: “Filho, por que procedestes assim conosco? Eis que seu pai e eu andávamos angustiados à tua procura;” ela recebeu como resposta que, sendo o Messias e Filho de Deus, enviado por seu Pai ao mundo para redimi-lo, Ele deve cuidar das coisas do Pai, as mesmas pelas quais Ele fora enviado ao mundo; e portanto, era muito provável que eles O encontrassem na casa de Seu Pai: dando a entender que sua aparição em público naquela ocasião era para manifestar a honra de Seu Pai, e para preparar os príncipes dos judeus para recebê-lo como seu Messias; advertindo-os, a partir dos profetas, acerca do tempo de Sua vinda. Mas, embora permanecendo assim no templo sem o conhecimento de seus pais, Ele tenha feito algo sem a permissão deles, em obediência ao Seu Pai celeste, em todas as outras coisas, Ele lhes foi obediente, retornando com eles para Nazaré, e lá vivendo numa obediente sujeição a eles.
Aelred, nosso compatriota, abade de Rieval, em seu sermão sobre a perda do menino Jesus no templo, observa que essa Sua conduta em relação a Seus pais é uma verdadeira representação do que ele nos mostra, quando ele, não raro, se afasta de nós por um curto período para nos fazer procurá-Lo com mais afinco. Ele assim descreve os sentimentos de Seus santos pais naquela ocasião:[8] “Consideremos o que era a felicidade daquele abençoado grupo, no caminho de Jerusalém, a quem foi dado contemplar Sua face, ouvir Suas doces palavras, ver n’Ele os sinais da sabedoria e virtude divinas; e em suas conversações receber a influência de Suas verdades que salvam e de Seus exemplos. Os velhos e os jovens O admiravam. Creio que os meninos de Sua idade ficavam atônitos com a gravidade de suas maneiras e palavras. Creio que tais raios de graça lançados de Seu abençoado semblante atraiam os olhos, ouvidos e corações de todos. E quantas lágrimas eles não derramavam quando estavam longe d’Ele?” Ele continua, considerando qual deve ter sido o desconsolo dos pais quando eles O perderam; quais foram seus sentimentos e quão veemente fora sua procura: mas que alegria quando eles O encontraram novamente! “Revela-me”, diz ele, “Oh, minha Senhora. Oh, Mãe de meu Deus, quais foram seus sentimentos, seu assombro e sua alegria quando a senhora O viu novamente, sentado, não entre meninos, mas no meio de doutores da lei: quando a senhora viu os olhos de todos fixados n’Ele, os ouvidos de todos O escutando, grandes e pequenos, instruídos ou não, atentos somente em suas palavras e movimentos. A senhora diz então: encontrei Quem eu amo. Eu O abraçarei e não O deixarei mais se afastar de mim. Abrace-O, doce Senhora, segure-O firme; lance-se ao Seu pescoço, demore em seu peito, e compense os três dias de ausência multiplicando os gozos de vosso atual desfrute d’Ele. Diga-Lhe que a senhora e Seu pai o procuraram em aflição. Por que se afligiram?, não por temor que Ele ficasse com fome ou necessitasse de algo, pois vocês sabiam que Ele era Deus: mas creio que vocês se afligiram por se verem privados dos gozos de Sua presença, mesmo por um curto período; pois o Senhor Jesus é tão doce para aqueles que O experimentam, que a mais mínima ausência é um motivo da maior aflição para eles.” Esse mistério é um emblema da alma devota, que Jesus por vezes se afastando e deixando-a na secura, a faça procurá-Lo com mais fervor. Mas, acima de tudo, quão fervorosamente não deve a alma que perdeu a Deus pelo pecado procurá-Lo novamente, e quão amargamente ela não deve deplorar sua extrema infelicidade!
Como nenhuma outra menção é feita a São José, ele deve ter morrido antes das bodas de Caná e do começo do ministério de nosso divino Salvador. Não podemos duvidar que ele tenha tido a felicidade da presença de Jesus e Maria em sua morte, rezando ao seu lado, assistindo-o e confortando-o nos seus últimos momentos. Por isso, ele é particularmente invocado pela grande graça de uma morte feliz e pela presença de Jesus nesta hora tremenda. A Igreja lê a história do patriarca José no seu dia, este que era chamado o salvador do Egito, que ele livrou de uma fome fatal; e foi nomeado o mestre fiel da casa de Putephar, do faraó e seu reino. Mas nosso grande santo foi escolhido por Deus como o salvador da vida do verdadeiro Salvador das almas dos homens, resgatando-O da tirania de Herodes. Ele está agora glorificado nos céus, como o guardião e mantenedor de seu Senhor na terra. Como o faraó dizia aos egípcios em suas tribulações: “Ide a José;” que nós confiantemente nos dirijamos à mediação dele, a quem Deus, feito homem, esteve sujeito e obediente na terra.
O devoto Gerson expressou a mais calorosa devoção a São José, que ele empenhou-se em promover por cartas e sermões. Ele compôs um ofício em sua honra, e escreveu sua vida em doze poemas, chamados Josefina. Ele engrandeceu todas as circunstâncias de sua vida através de piedosas afeições e meditações. Santa Teresa o escolheu o principal patrono de sua ordem. No sexto capítulo de sua vida, ela escreveu assim: “Escolhi o glorioso São José para meu patrono, e me recomendo singularmente a sua intercessão em todas as coisas. Não me lembro de ter suplicado a Deus alguma coisa por seu intermédio que eu não tivesse conseguido. Nunca conheci alguém que, por sua invocação, não tenha muito avançado na virtude: pois ele assiste de uma forma maravilhosa todos que se dirigem a ele.” São Francisco de Sales, ao longo de seus “dezenove entretenimentos”, recomendava grandemente a devoção a São José, e exaltava seus méritos, principalmente sua virgindade, humildade, constância e coragem. Os sírios e outras igrejas orientais celebram sua festa em 20 de julho; a Igreja ocidental, em 19 de março. O papa Gregório XV, em 1621, e Urbano VIII, em 1642, ordenou manter esta data como feriado de guarda.
A Sagrada Família de Jesus, Maria e José, nos apresenta o mais perfeito modelo de convivência na terra. Como aqueles dois serafins, Maria e José, viviam em sua pobre casa! Eles sempre desfrutavam da presença de Jesus, sempre se abrasando no mais ardente amor por Ele, inviolavelmente ligados à Sua sagrada Pessoa, sempre ocupados e vivendo apenas por Ele. Quantos foram seus êxtases em contemplá-Lo, qual foi sua devoção em ouvi-Lo, e seu gozo em possuí-Lo! Oh, vida celestial! Oh, antecipação da beatitude celestial! Oh, convívio divino! Podemos imitá-los, e compartilhar algum grau dessas vantagens, ao conversar freqüentemente com Jesus, e ao contemplar sua mais amigável bondade, acendendo o fogo de Seu divino amor em nosso peito. Os efeitos desse amor, se ele for sincero, aparecerá necessariamente na adoção de Seu espírito, na imitação de Seu exemplo e virtudes; e em nosso esforço em caminhar continuamente na presença divina, encontrando Deus em todos os lugares, e na consideração de todo o tempo perdido que não dedicamos a Deus, ou à Sua honra.
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[1] L. adv. Helvid. c. 9.
[2] Hom. 2. super missus est, n. 16. p. 742.
[3] Serm de Nativ.
[4] Isto aparece em: Mat 23:55; S. Justino (Dial. n. 89. ed. Ben. p. 186.); S. Ambrósio (in Luc. p. 3.). Theodoreto (b. 3. Hist. c. 18.) diz que ele trabalhou em madeira, como carpinteiro. S. Hilário (in Matt. c. 14. p. 17.) e S. Pedro Chrisólogo (Serm. 48.) dizem que ele trabalhava em ferro como ferreiro; provavelmente ele trabalhou tanto em ferro quanto em madeira; opinião esposada por S. Justino, que diz: “Ele e Jesus fabricavam arados e parelhas de bois”.
[5] Hom. 8. in Matt. t. 7. p. 123. ed. Ben.
[6] Isto é afirmado por: S. Atanásio (1. de Incarn.); Eusébio (Demonstrat. Evang. l. 6. c. 20.); S. Cirilo (Cat. 10.); S. Ambrósio (in Ps. 118. Octon. 5.); S. Jerônimo (in Isai. 19.); S. Crisóstomo e St. Cyril of Alexandria, (in Isai.); Sozomeno, (l. 5. c. 20.); etc.
[7] Note 7. Ver, Vidas dos Santos dos Pais do Deserto.
[8] Bibl. Patr. t. 13.

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O MISTÉRIO DA CRUZ

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Redenção, palavra forte, cujo sentido muitos ignoram!
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Há vinte séculos é tão difícil medir-lhe a extensão, quanto sondar-lhe a profundidade. Há um mistério de luz, nas trevas do Calvário. Há um resgate de vida, por trinta moedas de Sangue…
 .
Condenamos a traição de Judas, mas, traímos a vocação cristã.
 .
Maldizemos a fraqueza de Pilatos, mas, fugimos aos compromissos do Batismo.
 .
Quantas vezes, na vida diária, a descrença macula as intenções e o desespero arruína a esperança. Somos filhos de Deus pela Graça, mas, seguimos a carne pelo sangue.
 .
Ouvimos o apelo dos Céus, mas, voltamos os olhos para a terra.
 .
No entanto, Senhor, a Mensagem é a mesma: “Se alguém quiser Me seguir, tome a sua cruz e Me acompanhe”!
 .
Meu Deus, uns conhecem a cruz e rejeitam o seu peso, outros suportam o peso, mas, não querem carregar a cruz. Uns arrastam a cruz porque não podem fugir do Calvário; outros chegam ao Calvário, mas, se negam a morrer na cruz.
 .
A cruz para ser árvore de vida há de ser plantada na morte. A seiva que lhe esgarça os ramos, só dá frutos quando nela morremos.
 .
A cruz é qual sementinha do campo, que morre na terra para rebentar com vida. Senhor, pela redenção, nos legaste a Vossa Cruz! Os lábios que pregam essa “loucura”, exprimirão o que a Fé nos ensina. A alma que sente esta Verdade, deve saber por que o mundo sofre.
 .
Senhor, não é doce o tufão, quando varre as areias do deserto.
 .
Não é doce o calor, quando mata a virulência dos gérmens.
Não é doce o bisturi, quando rasga a podridão da matéria.
Não é doce uma cruz, quando estamos pregados nela.
 .
A cruz só é leve na vida, quando aceitamos o seu peso de morte.
 .
Daí, a renúncia que se faz entrega e o amor que gera o sacrifício.
Daí, o heroísmo que sagra os fortes e a vitória que consagra os Santos.
 .
Somos, por natureza, esquivos ao sofrimento.
Tudo o que nos rouba a fonte do prazer é espinho dorido macerando a nossa carne.
 .
Há, na cruz, um plano da Providência que jamais se esgota.
 .
A cruz não se pesa pela soma de sofrimentos, mas, pela unção paciente das dores. Uma cruz pequenina pode ser mais custosa que um madeiro imenso. Uma cruz gigantesca pode ser mais leve que um bloco de granito.
 .
Aceitar, com paciência, a cruz, é diminuir-lhe o peso. Fugir ao seu domínio, é ser esmagado por ela. Na ordem do Cristianismo, em matéria de cruz, tudo depende dos ombros que se curvam e dos braços que a carregam.
 .
Senhor, quem decifrará o mistério da dor?
 .
As almas feridas são extremamente sensíveis; buscam o alívio das dores e escondem a cicatriz das chagas; suplicam a doçura do bálsamo e se esquecem do amor de gratidão.
 .
O mundo sofre porque não sabe viver.
O mundo morre porque não sabe sofrer.
 .
Senhor, dá-nos a conhecer o valor do sofrimento para aproveitarmos dos méritos de Vossa Paixão.
 .
(Vozes do silêncio, meditações eucarísticas, pelo Pe. Isnard da Gama, gráfica Nibo LTDA, 1956, com imprimatur)
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Extraído do blog A grande guerra

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Numéro CCXLIII (243)
10 de marzo de 2012

MOMENTO DECISIVO
Hablando en Estados Unidos el mes pasado acerca de las relaciones Roma-Fraternidad San Pío X, el Superior General dijo que algún acuerdo práctico entre las dos sería posible si Roma aceptara la Fraternidad San Pío X tal como es, y citó a Monseñor Lefebvre cuando decía a menudo que tal arreglo podría ser aceptable. Sin embargo, Monseñor Fellay sí añadió que la última vez que Monseñor Lefebvre dijo eso fue en 1987. Esta pequeña precisión es altamente significativa y merece ser analizada, especialmente para la generación mas joven que puede no estar familiarizada con el drama histórico de las Consagraciones Episcopales de 1988.
De hecho, el drama de los dramas, sin el cual la Fraternidad San Pío X nunca hubiera existido, fue el Concilio Vaticano II (1962-1965), en el cual la gran mayoría de los obispos Católicos del mundo se alistaron en esta reconciliación de la Iglesia con el mundo moderno (este “aggiornamiento”) y así divorciaron su autoridad Católica de la Verdad de la Tradición Católica. Desde ese momento en adelante, los Católicos tuvieron que elegir entre la Autoridad y la Verdad. Hasta hoy día, si ellos eligen la Autoridad, se ven obligados a anhelar la Verdad, y si eligen la Verdad, deben sin embargo añorar su reunión con la Autoridad. Monseñor Lefebvre eligió la Verdad, razón por la cual, para defenderla, fundó la Fraternidad San Pío X en 1970, pero durante todo el tiempo posible hizo todo lo que estaba en su poder para sanar todo distanciamiento de la Aut oridad, esforzándose por obtener de Roma la aprobación de su Fraternidad. Por ello Monseñor Fellay puede decir que hasta 1987 Monseñor Lefebvre repetidamente deseó y trabajó para un arreglo práctico con Roma.
Sin embargo, en 1987 Monseñor Lefebvre tenía 82 años. Tenía previsto que sin sus propios obispos, el combate de la Fraternidad San Pío X por la Tradición, iba a terminar. Devenía urgente obtener de Roma por lo menos un obispo, pero Roma frenó tal cosa, seguramente porque sabía muy bien que la Fraternidad San Pío X sin su propio obispo moriría de lenta agonía. El firme frenazo dado por el entonces Cardenal Ratzinger en Mayo de 1988 al proyecto mencionado, le hizo ver claramente a Monseñor Lefebvre que la Roma neo-modernista no tenía la mas mínima intención de proteger o de aprobar la Tradición Católica. Entonces, el tiempo de la diplomacia había llegado a su fin, y siguió adelante con las Consagraciones Episcopales, diciendo a partir de ese momento quedebía ser doctrina o nada. A partir de ese momento el preludio absolutamente necesario para cualesquiera fueren los contactos entre Roma y la Fraternidad San Pío X, dijo, sería una profesión de Fe por parte de Roma sobre los grandes documentos anti-liberales de la Tradición Católica, por ejemplo, Pascendi, Quanta Cura, etc.
Y por eso, como lo sugirió Monseñor Fellay el 2 de Febrero, nunca mas hasta su muerte en 1991, se escuchó a Monseñor Lefebvre decir que algún acuerdo práctico sería posible o deseable. El mismo había ido tan lejos como pudo para obtener de la Autoridad los requisitos mínimos para la Verdad. Incluso una vez sugirió que en Mayo de 1988 había ido demasiado lejos. Pero a partir de ese momento nunca aflojó ni se comprometió, y apremiaba a todo aquel que lo escuchara a seguir la misma línea.
¿Ha cambiado la situación desde entonces? ¿Volvió Roma a la profesión de la Fe de siempre? Uno lo podría pensar cuando Monseñor Fellay nos informa en el mismo sermón que Roma había modificado su dura posición del 14 de Septiembre, y se declara ahora ella misma dispuesta a aceptar la Fraternidad San Pío X tal cual es. Pero uno necesita solamente acordarse de Asís III y de la Neo-beatificación de Juan Pablo II, para sospechar que detrás de esta repentina benevolencia de los hombres de Iglesia de Roma hacia la Fraternidad descansa muy verosímilmente la confianza que ellos tienen en que la euforia por la reanudación de los mutuos y prolongados contactos, diluirá, disminuirá y eventualmente disolverá la obstinada resistencia de la Fraternidad San Pío X a su Nueva Iglesia de ellos. ¡Ay de mí!
“Nuestro socorro está en el nombre del Señor”.
Kyrie eleison

Locais onde foram publicados outras traduções do Comentário Eleison número CCXLIII  de Monsenhor Williamson, segue links:

Radio Cristiandad:
http://radiocristiandad.wordpress.com/2012/03/10/mons-williamson-reconoce-la-utilizacion-de-las-fechas-en-el-sermon-de-mons-fellay/

SPES:
http://www.spessantotomas.blogspot.com/2012/03/comentarios-eleison-de-d-williamson.html

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Extraído do blog A grande guerra

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O Sinal da Cruz

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“O Sinal da Cruz é a armadura invencível dos Cristãos. Esta armadura que te não falte ó Soldado de Cristo, nem de dia nem de noite, nem um instante, seja qual for o lugar em que te aches. Quer durmas, quer vigies, quer trabalhes, quer comas, quer bebas, quer navegues, quer atravesses rios, sempre andarás revestido desta couraça. Orna e protege teus membros com este Sinal vencedor e nada te poderá fazer mal. Contra as setas do inimigo, não há escudo mais poderoso. A vista deste Sinal, trêmulas e aterradas fugirão as potências infernais.”
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(São João Crisóstomo)
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Extraído do blog A grande guerra

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Número CCXLIII (243) –  10 de março de 2012 
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PONTO DE VIRAGEM
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No mês passado, falando nos EUA sobre as relações entre Roma e FSSPX, o Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X disse que um acordo prático entre as duas poderia ser possível se Roma aceitasse a FSSPX tal como ela é, e citou o Arcebispo como tendo dito freqüentemente que um semelhante arranjo seria aceitável. Entretanto, Dom Fellay acrescentou que a última vez que o Arcebispo o disse foi em 1987. Este pequeno acréscimo é bastante significativo, e bem merece ser ressaltado, especialmente para uma geração jovem que talvez não esteja familiarizada com o drama histórico das Consagrações Episcopais de 1988.
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Na verdade o drama dos dramas, sem o qual a FSSPX nunca nem mesmo teria vindo à existência, foi o Concílio Vaticano Segundo (1962-1965), no qual a grande maioria dos bispos católicos do mundo pôs sua assinatura sobre este aggiornamento da Igreja pelo qual separou sua autoridade católica da verdadeira Tradição católica. Desde então, os católicos têm de escolher entre Autoridade e Verdade. Deste dia em diante, se escolhem a Autoridade, vêem-se obrigados a anelar pela Verdade, e se escolhem a Verdade, anseiam contudo pela união com a Autoridade. O Arcebispo Lefebvre escolheu a Verdade e por isso, para defendê-la, fundou a FSSPX em 1970, mas, enquanto foi possível, fez tudo que esteve ao seu alcance para sanar sua separação da Autoridade esforçando-se por obter a aprovação de Roma para a sua Fraternidade. Por isso D. Fellay tem razão ao dizer que, até 1987, o Arcebispo desejou e trabalhou insistentemente por alguma sorte de acordo prático com Roma.
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Não obstante, em 1987 o Arcebispo tinha 82 anos de idade. Ele previu que sem seus próprios bispos, o suporte que a FSSPX dava à Tradição inevitavelmente viria a fenecer. Tornava-se urgente obter de Roma pelo menos um bispo; Roma, contudo, o impedia; seguramente porque também estava bem consciente de que a FSSPX sem seu próprio bispo morreria de uma morte lenta. O decidido bloqueio por parte do Cardeal Ratzinger em maio de 1988 patenteou ao Arcebispo que a Roma neomodernista não tinha a intenção de proteger ou mesmo aprovar a Tradição católica. Com isso o tempo da diplomacia havia chegado ao fim, e ele foi adiante com as Consagrações Episcopais. Desde então, disse ele, era para ser ou doutrina ou nada. Desde então o preâmbulo absolutamente necessário para quaisquer contatos entre Roma e a FSSPX, disse ele, seria a Profissão, por parte de Roma, de Fé nos grande documentos antiliberais da Tradição católica; por exemplo, PascendiQuanta Cura, etc…
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E é por isso que, como D. Fellay deixou subentender em 2 de fevereiro, nunca mais, até sua morte em 1991, ouviu-se o grande Arcebispo dizer que alguma sorte de acordo prático podia ser possível ou desejável. Ele fôra tão longe quanto pôde para obter da Autoridade os requisitos minímos da Verdade. Certa feita ele mesmo sugeriu que, em maio de 1988, havia ido longe demais. Desde as Consagrações em diante, porém, ele nunca hesitou ou transigiu, e instou sua Fraternidade a tomar o mesmo caminho.
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A situação mudou desde então? Roma voltou à profissão de Fé de todos os tempos? Pode-se pensar assim quando D. Fellay nos informa, no mesmo sermão, que Roma modificou sua rigorosa posição de 14 de setembro, e agora declaram-se dispostos a aceitar a FSSPX tal como é. Contudo, basta relembrar-se Assis III e a neobeatificação de João Paulo II para suspeitar que por detrás da recém-descoberta benevolência dos eclesiásticos romanos para com a FSSPX encontra-se com toda a probabilidade a confiança na euforia do contato mútuo reestabelecido e prolongado para diluir, desbotar e eventualmente dissolver a, até agora, tenaz resistência da FSSPX à sua Neo-igreja. Ai de mim, meu Deus!
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Adjutorium nostrum in nomine Domini.”
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Kyrie eleison
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P.S: Texto recebido por e-mail.
Extraído do blog A grande guerra

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Extraído do site Permanência

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Lúcia, Jacinta e Francisco eram, antes de 1916, crianças católicas do vilarejo de Aljustrel, na diocese de Leiria, Portugal. Brincavam como todas as crianças, gostavam de jogos e de dançar animados, enquanto pastoreavam as ovelhas da família. Viviam um catolicismo verdadeiro, porém como muitas crianças, limitavam-se ao mínimo necessário. Lúcia conta que às vezes, para que o terço passasse mais depressa, em vez de rezar as orações completas, limitavam-se a dizer: Pai Nosso, Ave Maria, Ave Maria, Ave Maria…. Ora, para que estas alminhas, inocentes e comuns, pudessem ter a honra de ver Nossa Senhora, um anjo lhes aparecerá por três vezes, fazendo dessas crianças verdadeiras almas de oração.

Vamos acompanhar a transformação.

Estamos em 1916.

Na primavera deste ano (março ou abril), Lúcia, Jacinta e Francisco estavam na Loca do Cabeço pastoreando as ovelhas quando viram um ser luminoso vindo em sua direção. Ele tinha os traços de um rapaz de 14 a 15 anos. O anjo lhes disse:

«Não tenham medo. Rezem comigo».

E num gesto de grande familiaridade e simplicidade, pôs-se ao lado das crianças e prostrando-se com o rosto por terra disse esta oração:

«Meu Deus eu creio, adoro, espero e amo-Vos; peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e Vos não amam.

Orai assim; os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas» (2ª Memória).

E o anjo desapareceu.

Esta primeira aparição do anjo foi como uma aproximação do sobrenatural na vida das crianças. Servirá para familiariza-las com os seres e os costumes do céu: a adoração, os atos de fé, esperança e caridade, a reparação e o nome de Deus, deste Deus atento às suas súplicas. A própria Lúcia, na 4ª Memória, dirá que «Levados por um movimento sobrenatural, imitamo-lo e repetimos as palavras que o ouvimos pronunciar».

Nossos pastorinhos, doravante alunos do céu, sentirão imediatamente o peso da presença da vida sobrenatural. Passarão vários dias num estado de abatimento físico, de recolhimento, de um silêncio difícil de ser rompido e principalmente de paz interior.

«Acontece, porém, ainda depois de passado, ficar a vontade tão embebida e o entendimento tão absorto, que assim permanecem o dia todo e até vários dias…Quando volta a si, está com tão imensos lucros e tem em tão pouco as coisas da terra que todas lhe parecem cisco em comparação do que viu. Daí em diante vive muito penada, e tudo o que lhe costumava causar prazer não lhe infunde a menor consolação.» – Sta Tereza d’Avila, Castelo Interior, Sextas Moradas, cap. IV e V

Tinham dificuldade de brincar, de falar e até mesmo de se mover. Daí em diante eles passarão várias horas em oração, prostrados como o amigo do céu, repetindo: Meu Deus eu creio, adoro, espero e vos amo…. Só muitos dias depois que este estado de alma diminuirá pouco a pouco.

Eis como nos conta Lúcia, na 4ª Memória:

«A atmosfera do sobrenatural, que nos envolveu era tão intensa que quase não nos dávamos conta da própria existência, por um grande espaço de tempo, permanecendo na posição em que nos tinha deixado, repetindo sempre a mesma oração. A presença de Deus sentia-se tão intensa e íntima, que nem mesmo entre nós nos atrevíamos a falar. No dia seguinte, sentíamos o espírito ainda envolvido por essa atmosfera, que só muito lentamente foi desaparecendoNesta aparição, nenhum pensou em falar, nem em recomendar segredo. Ela de si o impôs. Era tão íntima, que não era fácil pronunciar sobre ela a menor palavra. Fez-nos talvez também maior impressão por ser a primeira assim manifesta».

A segunda aparição foi no verão deste mesmo ano (julho ou agosto). Será a segunda lição de vida sobrenatural, centrada sobre o espírito de sacrifício. Após lhes dizer para rezar muito, o anjo acrescenta:

– Os Corações Santíssimos de Jesus  e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. E acrescenta: Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios.

– Como nos havemos de sacrificar? pergunta Lucia.

– De tudo o que puderes oferecei a Deus sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e súplica pela conversão dos pecadores. Atraí, assim, sobre a vossa Pátria a Paz….sobretudo aceitai e suportai com submissão os sofrimento que o Senhor vos enviar.(2ª Memória)

Eis, então, que Deus pede a Lúcia e seus companheiros muito mais do que na primeira vez. É normal que eles tenham perguntado ao anjo como se sacrificar. Para crianças daquela idade a palavra sacrifício tem um sentido limitado, infantil. Deus queria que eles fossem além. Por isso o anjo lhes ensina a se sacrificar, e traz para eles algumas noções até então ignoradas: ato de reparação pelos pecados, súplica pela conversão dos pecadores, aceitação das cruzes que Deus nos envia.

Que impressão causou esta nova lição do anjo, em suas almas? Lúcia nos conta:

«Estas palavras do Anjo gravaram-se em nosso espírito, como uma luz que nos fazia compreender quem era Deus; como nos amava e queria ser amado; o valor do sacrifício, e como ele lhe era agradável; como, por atenção a ele, convertia os pecadores. Por isso, desde esse momento começamos a oferecer ao Senhor tudo o que nos mortificava, mas sem discorrermos a procurar outras mortificações ou penitências, exceto a de passarmos horas seguidas prostrados por terra, repetindo a oração que o Anjo nos tinha ensinado». (4ª Memória)

Vemos neste texto a origem da grande mortificação das três crianças. Ela não nasceu de uma vontade mórbida qualquer, de um fanatismo fabricado pela imaginação; ela não lhes foi inspirada por nenhum sacerdote exagerado. A luz divina que invadiu suas almas as levou com mansidão e naturalidade a um conhecimento tal da vida divina, do olhar de Deus sobre nós, que eles não conseguiriam mais viver sem este espírito e prática do sacrifício reparador.

É de se notar que os efeitos da primeira aparição limitam-se a um estado de alma por certa presença do sobrenatural. Nesta, trata-se de um verdadeiro conhecimento de Deus e de seu relacionamento com suas almas.

Por aí se vê que é impossível proceder da imaginação. Também não pode ser obra do demônio, pois não tem ele poder para apresentar coisas que tanta operação e paz e sossego e aproveitamento produzem na alma. Especialmente três são os frutos que deixa em subido grau.

Primeiro: conhecimento da grandeza de Deus, a qual se nos dá a entender na medida das luzes maiores que temos sobre Ele.

Segundo: conhecimento próprio e humildade, ao ver como criatura tão baixa em comparação do Criador de tantas grandezas, ousou ofendê-lo; até mesmo não sabe como se atreve a por nele os olhos.

Terceiro: baixo apreço de todas as coisas da terra, com exceção das que lhe podem ser úteis para serviço de tão grande Deus. – Sta Tereza d’Avila, Castelo Interior, Sextas Moradas, cap. V

A terceira aparição do Anjo levará a formação espiritual das crianças a um ponto altíssimo, onde a própria comunhão eucarística marcará a Caridade que Deus lhes comunica.

Estavam eles numa gruta de difícil acesso, para rezar escondidos. Estavam assim, prostrados, repetindo a oração do Anjo: “Meu Deus eu creio, adoro…etc.”

«Não sei quantas vezes tínhamos repetido esta oração, quando vemos que sobre nós bilha uma luz desconhecida. Erguemo-nos para ver o que se passava, e vemos o Anjo, tendo na mão esquerda um cálice, sobre o qual está suspensa uma Hóstia, da qual caem algumas gotas de sangue dentro do cálice. O Anjo deixa suspenso no ar o cálice, ajoelha junto de nós e faz-nos repetir três vezes:

Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.

Depois levanta-se, toma em suas mãos o cálice e a Hóstia. Dá-me a Sagrada Hóstia a mim, e o Sangue do cálice dividiu-O pela Jacinta e o Francisco, dizendo ao mesmo tempo: – Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos! Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus. E prostrando-se de novo em terra, repetiu conosco outras três vezes a mesma oração e desapareceu. Nós permanecemos  na mesma atitude, repetindo sempre as mesmas palavras, e quando nos erguemos vimos que era noite, e por isso horas de virmos para casa» (2ª Memória)

Na quarta Memória, Lúcia dá detalhes sobre as conseqüências desta última aparição do Anjo:

«A força da presença de Deus era tão intensa que nos absorvia e aniquilava quase por completo. Parecia privar-nos até do uso dos sentidos corporais por um grande espaço de tempo. Nesses dias, fazíamos as ações materiais como que levados por  esse mesmo ser sobrenatural que a isso nos impelia. A paz e felicidade que sentíamos era grande, mas só íntima, completamente concentrada a alma em Deus. O abatimento físico que nos prostrava também era grande».

Um pouco antes ela escrevia: «Na terceira aparição a presença do sobrenatural foi ainda muitíssimo mais intensa. Por vários dias nem mesmo o Francisco se atrevia a falar. Depois dizia: Gosto muito de ver o Anjo; mas o pior é que depois não somos capazes de nada! Eu nem andar podia! Não sei o que tinha».

Era tanto o abatimento espiritual e corporal, era tal o  êxtase dessas crianças, que nem viram a noite chegar: «Apesar de tudo, foi ele (Francisco) que se deu conta das proximidades da noite. Foi quem disso nos advertiu e quem pensou em conduzir o rebanho para casa».

Procurei citar toda a passagem das Memórias de Lúcia devido ao seu caráter eminentemente sobrenatural. É muito difícil ler estas palavras e dizer que tudo foi invenção. Os detalhes de vida espiritual são muito fortes. Já estavam as crianças levadas espiritualmente à oração constante e mortificada. O Anjo lhes ensina uma oração nova, onde destacamos:

–    a adoração à Santíssima Trindade
–    o oferecimento de Jesus na Sagrada Hóstia como reparação
–   o Imaculado Coração de Maria medianeira de todas as graças, participando dos méritos do Sagrado Coração.

Lúcia conta que recebeu uma verdadeira hóstia. Jacinta recebe o Preciosíssimo Sangue sabendo que é a comunhão. Já Francisco não percebe de imediato que está comungando.

Só passados alguns dias, quando conseguem falar novamente, é que o menino pergunta:

«O Anjo, a ti deu-te a Sagrada Comunhão; mas a mim e à Jacinta, que foi o que ele nos deu?!

Foi também a Sagrada Comunhão! respondeu a Jacinta numa alegria indizível. Não vês que era o Sangue que caía da Hóstia?!

E Francisco diz então estas palavras, que são a prova da veracidade das graças com as quais Deus enchia estas almas infantis:

«–Eu sentia que Deus estava em mim, mas não sabia como era!

E prostrando-se por terra, permaneceu por largo tempo, com sua irmã, repetindo a oração do Anjo: Santíssima Trindade…etc.».

Aqui se lhe comunicam todas três Pessoas, e lhe falam, e lhe dão a compreender aquelas palavras do Senhor no Evangelho, quando disse que viria Ele com o Pai e o Espírito Santo a morarem na alma que o ama e guarda os seus mandamentos… E cada dia se admira mais esta alma, porque lhe parece que as Pessoas Divinas nunca mais se apartaram dela; antes, notoriamente vê que, do modo sobredito, as tem em seu interior, no mais íntimo, num abismo muito fundo; e não sabe dizer como é, porque não tem letras, mas sente em si esta divina companhia.  – Sta Tereza d’Avila, Castelo Interior, Sétimas Moradas, cap. I

É no exemplo vivo desta criança que aprendemos o que muitos espirituais nos ensinam com palavras humanas e que nos torna difícil a compreensão do que seja a Santa Comunhão. Que extraordinária ação de graças fazem estas crianças, dias depois de receberem a comunhão, milagrosamente, das mãos de um Anjo, elevadas a um júbilo sobrenatural ao compreenderem que era Jesus escondido que os visitara.

A lição estava dada, a formação espiritual alcançara um grau em que já era possível que elas entendessem profundamente as graças que a Mãe do Céu viria lhes dar.

A história da vida de oração, da vida interior deles, apenas começava. E se foi com razão que disseram que o grande milagre de Lourdes foi a alma de Santa Bernadete, podemos dizer o mesmo destas três crianças, ou pelo menos das duas menores, visto que Lúcia ainda vive.

As aparições de Nossa Senhora

Chegamos ao dia 13 de maio de 1917.

Comecemos pela descrição que Lúcia nos faz na sua 4ª Memória. Transcrevo-a toda para os que nunca a leram. As crianças viram um reflexo de luz no céu, como um relâmpago, e com medo de uma chuva, vão tocando as ovelhas em direção à casa, quando vêem um segundo clarão e, logo depois, uma senhora sobre uma carrasqueira «Vestida de branco, mais brilhante que o sol, espargindo luz mais clara e intensa que um copo de cristal cheio d’água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente…estávamos tão perto que ficávamos dento da luz que a cercava ou que ela espargia. Talvez a metro e meio de distância, mais ou menos». Esta proximidade com a luz  que dela saía tem sua importância pelo que virá.

«– Não tenhais medo. Eu não vos faço mal. 

– De onde é vossemecê? perguntei. 
– Sou do Céu. 
– E o que é que Vossemecê me quer? 
– Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13, a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que quero. Depois voltarei ainda aqui uma sétima vez. 
– E eu também vou para o Céu? – Sim, vais. 
– E a Jacinta?  – Também. 
– E o Francisco? – Também, mas tem que rezar muitos Terços.»

Depois desta introdução, que segue com perguntas sobre as amigas de Lúcia já falecidas, Nossa Senhora dirá o que realmente quer das crianças, dizendo coisas parecidas com as palavras do Anjo, já conhecidas dos três. Não vemos aqui Nossa Senhora ensinando-os a rezar ou as crianças perguntando do que se trata. Tudo é claro e rápido:

– «Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores? 

– Sim, queremos. 
– Ide pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.

Dentro do nosso estudo das graças místicas das três crianças, temos os seguintes elementos nesta primeira aparição:

–   elas se encontram dentro da luz que emana da Virgem.
–  Nossa Senhora lhes pede sofrimentos e eles aceitam já sabendo do que se trata.
–   Ela confirma que sofrerão muito e terão o socorro especial da graça de Deus.

O que segue, é a conseqüência disso:

«Foi ao pronunciar as últimas palavras que abriu pela primeira vez as mãos, comunicando-nos uma luz tão intensa, como que reflexo que delas expedia, que nos penetrava no peito e no mais íntimo da alma, fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz, mais claramente que nos vemos no melhor dos espelhos.»

Estando dentro da luz que emana de Nossa Senhora elas vêem, das palmas das mãos da Senhora, brotar mais luz ainda. E essa nova luz penetra no íntimo de suas almas, dando-lhes  um conhecimento que uma simples criança não poderia ter: conhecimento de si mesmos em Deus que era aquela luz. Ora, isso é o que acontecerá conosco no céu. Durante alguns instantes, que não foram demorados, mas também não foram muito rápido, elas estiveram no céu. O que mais impressiona é que elas não tenham morrido de amor, passando do êxtase para a glória. O fato é que a terra, naquele momento desapareceu para eles:

«Então, por um impulso íntimo, também comunicado, caímos de joelhos e repetíamos intimamente: “Ó Santíssima Trindade, eu Vos adoro. Meu Deus, meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo Sacramento”. Passados os primeiros momentos Nossa Senhora acrescentou: Rezem o Terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra».

Nossa Senhora não repetiu para eles a oração. Ela brota da iluminação em que estão mergulhados. A Santíssima Trindade já era deles conhecida pela oração do Anjo, assim como o amor por Jesus escondido no Santíssimo Sacramento. Ambos lhes foram comunicados na terceira aparição do Anjo, quando as crianças comungam de suas mãos.

É preciso compreender que o que há de mais rico e elevado nesta aparição de Nossa Senhora está escondido no coração das crianças: «Omnis glóriae filiae Regis ab intus – toda a glória da filha do Rei vem do interior» (Sl.44). E a Virgem Maria permanece ali, no silêncio das colinas de Fátima, rodeada por três inocentes criancinhas, mergulhadas num êxtase de amor. Quanto tempo ficou ali a Mãe de Deus? Ninguém sabe.

Na verdade, o que Nossa Senhora comunicou às almas das crianças naquele momento foi algo diferente das aparições do Anjo: «A aparição de Nossa Senhora veio de novo a concentrar-nos no sobrenatural, mas mais suavemente. Em vez daquele aniquilamento na Divina presença, que prostrava mesmo fisicamente, deixou-nos uma paz e alegria expansiva que nos não impedia falar, em seguida, de quanto se tinha passado.» (4ª Memória).

E, de fato, os três falavam entre si com facilidade sobre o grande acontecimento. Jacinta será mesmo indiscreta, contando em casa o acontecido, o que será motivo de muito sofrimento e humilhações para os três.

«…foi ela que, não podendo conter em si tanto gozo, quebrou o nosso contrato de não dizer nada a ninguém. Quando, nesta mesma tarde, absorvidos pela surpresa, permanecíamos pensativos, a Jacinta, de vez em quando, exclamava com entusiasmo: Ai! que Senhora tão bonita!» (1ª Memória)

E Francisco também expansivo:

«Oh! Minha Nossa Senhora, terços rezo todos quantos Vós quiserdes!» E ainda: «Gostei muito de ver o Anjo; mas gostei ainda mais de Nossa Senhora. Do que gostei mais foi de ver a Nosso Senhor naquela luz que Nossa Senhora nos meteu no peito. Gosto tanto de Deus! Mas Ele está tão triste por causa de tantos pecados. Nós nunca havemos de fazer nenhum.»

A vida dos pastores se transforma e seria muito longo nós comentarmos todas as impressionantes mortificações que eles farão, pela conversão dos pecadores, para que as almas não se percam no inferno, para consolar o Bom Deus já tão ofendido.

No entanto devemos marcar a vocação própria dos dois menores: Jacinta fica muito impressionada com o inferno, antes mesmo de terem a visão da terceira aparição; a pequenina pensa com freqüência nos pobres pecadores que sofrerão para sempre ali.

Francisco, o mais interior dos três, isola-se em oração, rezando o Terço, pensando sempre em consolar a Deus.

Mas as graças não param na primeira aparição. Suas almas ainda têm mais a aprender sobre Deus e sobre elas mesmas. E a lição de vida mística continuará na segunda aparição.

A Segunda Aparição: 13 de junho de 1917.

Tanto pelas palavras de Nossa Senhora quanto pela visão da luz que se irradia novamente de suas mãos, esta segunda aparição nos mostra a missão de cada uma delas e a  importantíssima revelação da devoção ao Imaculado Coração de Maria:

– Queria pedir-lhe para nos levar para o Céu. 
–  Sim, a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá m ais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração. 
–  Fico cá sozinha? perguntei com pena. 
–  Não filha. E tu sofres muito?! Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio, e o caminho que te conduzirá até Deus.

Foi no momento em que disse estas últimas palavras que abriu as mãos e nos comunicou, pela segunda vez, o reflexo dessa luz imensa. Nela nos víamos como que submergidos em Deus. A Jacinta e o Francisco parecia estarem na parte dessa luz que se elevava para o Céu, e eu na que se espargia sobre a terra. À frente da palma da mão direita de Nossa Senhora estava um coração cercado de espinhos que parecia estarem-lhe cravados. Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade, que queria reparação.» (4ª Memória)

Esta visão sublime e tão importante foi como um segredo que eles conseguiram guardar, pois tratava-se da vida deles. Só em 1941, ao redigir estas Quartas Memórias, é que irmã Lúcia revelará ao mundo esta luz.

Porém, o modo como Deus se serviu de seus inocentes amiguinhos para revelar ao mundo o Imaculado Coração de sua Mãe Santíssima é outra marca da grandeza dos acontecimentos de Fátima.

«Parece-me que neste dia, este reflexo teve por fim principal infundir em nós um conhecimento e amor especial para com o Coração Imaculado de Maria, assim como das outras duas vezes o teve, me parece, a respeito de Deus e do mistério da Santíssima Trindade.» (3ª Memória).

Vemos assim que não foi por causa da visão do Coração na palma da mão que os corações das crianças passaram a ter grande amor pelo Imaculado Coração, mas sim pela luz divina que lhes foi comunicada, com o conhecimento infuso da realidade de fé que se escondia por detrás daquela visão extraordinária. Devoção real, sólida, profunda, sem nada de sentimental. «Desde esse dia sentimos no coração um amor mais ardente pelo Coração Imaculado de Maria. A Jacinta dizia-me de vez em quando: “Aquela Senhora disse que o Seu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá a Deus. Não gostas tanto? Eu gosto tanto do seu Coração. É tão bom!» E antes de ir para o hospital ela insistia com Lúcia para não ter medo de, chegada a hora, dizer ao mundo que Deus queria a devoção ao Imaculado Coração de Maria.

Não sei se as longas citações das Memórias de Irmã Lúcia nos desvia das considerações de ordem espiritual, no sentido da vida mística das crianças. Mas tudo o que foi citado mostra as principais etapas e acontecimentos que foram formando e elevando as suas almas.

Assim é que, entre a segunda e a terceira aparição aconteceu um fato de grande importância para o que estamos a tratar. Lúcia passa por uma grande noite da Fé. Ela, cheia de dúvidas, achando que tudo aquilo pode ser do demônio, e os seus priminhos chorando e sofrendo por ver a prima naquele estado. Grandes purificações para grandes almas. Todos os esforços foram vãos para convencer a mais velha, que só foi ao encontro por ter sido arrancada de sua casa por um impulso mais forte do que ela, indo encontrar os dois pequenos chorando de joelhos em sua casa. E Francisco dirá depois como se comporta os santos diante das grandes decisões: «Credo! Aquela noite não dormi nada; passei-a toda a chorar e a rezar para que Nossa Senhora te fizesse ir!» (4ª Memória)

Eles estavam, enfim, prontos para a grande revelação que Nossa Senhora queria lhes fazer.

A Terceira Aparição: 13 de julho de 1917.

A narrativa da terceira aparição nos afastaria do nosso assunto. Lembremos apenas que ela é o centro do conjunto de aparições e de fatos sobrenaturais que as três crianças assistiram:

– a visão do inferno para onde vão as almas dos pecadores
– o Imaculado Coração de Maria como remédio para salvar a humanidade desse inferno
– a Rússia, castigo para esse mundo pecador
– a terceira parte do segredo, que segundo testemunho de altas personalidades da Igreja, que a leram, fala da terrível crise de fé que assola o mundo e a Igreja desde o último Concílio.

O que mais nos interessa aqui é a impressão que lhes ficou da visão do inferno e das profecias ditas por Nossa Senhora: «Na terceira aparição, o Francisco pareceu ser o que menos se impressionou com a vista do Inferno, embora lhe causasse também uma sensação bastante grande. O que mais o impressionava ou absorvia era Deus, a Santíssima Trindade, nessa luz imensa que nos penetrava no mais íntimo da alma. Depois dizia: “Nós estávamos a arder naquela luz, que é Deus e não nos queimávamos! Como é Deus!…não se pode dizer! Isto sim, que a gente nunca pode dizer! Mas que pena Ele estar tão triste! Se eu O pudesse consolar!…» (4ª Memória)

Esta elevada e bela afirmação vem se juntar a todas as outras que já fizemos da vida de Francisco Marto, onde sua alma de criança e de santo se desenha com tanta clareza, inundada desta graça de vida mística, de vida perdida em Deus.

Jacinta, ela, viverá até o fim com esta visão do inferno diante de si, como um aguilhão que lhe dará sempre mais forças para sofrer: «A vista do Inferno tinha-a horrorizado  a tal ponto que todas as penitências e mortificações lhe pareciam nada, para conseguir livrar de lá algumas almas… Algumas pessoas, mesmo piedosas, não querem falar às crianças do Inferno, para não as assustar; mas Deus não hesitou em mostrá-lo a três e uma de seis anos apenas, e que Ele sabia se havia de horrorizar a ponto de, quase me atrevia a dizer, de susto se definhar.

Com freqüência se sentava no chão ou nalguma pedra e pensativa começava a dizer: “O inferno, o inferno! Que pena eu tenho das almas que vão para o inferno! E as pessoas lá, vivas, a arder como a lenha no fogo! E meio trêmula ajoelhava, de mãos postas, a rezar a oração que Nossa Senhora nos havia ensinado: “Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do Inferno, levai as alminhas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem”.» (3ª Memória)

Muitas graças extraordinárias são descritas por Lúcia sobre seus primos. A visão que Francisco tem de um demônio, como o que eles viram na visão do inferno, a visão que Jacinta tem do Papa, bi-locação, as profecias sobre as modas que ofenderão a Deus. Um pouco antes de sua morte, Nossa Senhora aparece para ela e lhe pergunta se ela aceita continuar a salvar as almas do inferno. Todas elas são confirmações, conseqüências da elevação a um alto grau de santidade operada pelo aprendizado do Céu, desde as aparições do Anjo até a morte das duas crianças. Mas voltemos ao dia 13 de julho:

Quando Nossa Senhora chega sobre a azinheira, Lúcia fica muda, em êxtase, diante dessa luz intensa, da qual ela tinha duvidado. Foi Jacinta que a alertou: fale pois ela já está falando com você. Lúcia, sempre discreta sobre as graças recebidas por ela própria ficará sempre com saudades do céu, e quando ela manifestava isso a eles, Jacinta lhe lembrava que o Imaculado Coração de Maria seria o seu refúgio. Sua missão quase profética de anunciar a revelação do Imaculado Coração de Maria parece, aliás, ter começado ainda no dia da última aparição. Eis o que nos conta o Dr. Carlos Mendes:

«Quando o sol voltou ao normal, tomei Lúcia nos meus braços para leva-la até o caminho. Meus ombros foram assim o primeiro púlpito de onde ela pregou a mensagem que acabara de lhe confiar Nossa Senhora do Rosário. Com grande entusiasmo e Fé ela gritava: “Façam penitência, façam penitência! Nossa Senhora quer que façais penitência. Se fizerdes penitência a guerra acabará”. Ela parecia inspirada. Era impressionante ouvi-la. Sua voz tinha entoações como a voz de um grande profeta

A Continuação

Depois da morte de Francisco e Jacinta, Lúcia continuará recebendo muitas graças e procurando desempenhar seu papel de testemunha da vontade de Nossa Senhora. No dia 10 de dezembro de 1925, apareceu-lhe a Santíssima Virgem e ao lado, suspenso numa nuvem luminosa, um Menino. Nossa Senhora pôs sua mão no ombro da religiosa e mostrou-lhe na palma da outra mão, seu Coração cercado de espinhos. Disse o Menino: “Tem pena do coração de tua Santíssima Mãe, que está coberto de espinhos, que os homens ingratos a todos os momentos lhe cravam, sem haver quem faça um ato de reparação para os tirar.

E Nossa Senhora pede, então, que irmã Lúcia espalhe pelo mundo a devoção dos 5 Primeiros sábados do mês. A todos os que se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, meditando nos quinze mistérios do Rosário, com o fim de desagravar ao Imaculado Coração de Maria, a boa Mãe do Céu promete assistir na hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação. E mais tarde Nossa Senhora explicará porque pediu 5 sábados: porque são cinco as espécies de ofensas e blasfêmias proferidas contra o Imaculado Coração de Maria:

–  blasfêmias contra a Imaculada Conceição
–  contra sua Virgindade
–  contra a Maternidade divina, e recusa de recebe-la como Mãe
–  os que procuram infundir nos corações das crianças a indiferença, o desprezo e até  o ódio para com esta Imaculada Mãe.
–  os que a ultrajam em suas sagradas imagens.

Os grandes mistérios revelados e vividos pelas criancinhas de Fátima continuam, portanto, diante de nós, diante do mundo indiferente. Cabe a cada um de nós tomar a iniciativa de se entregar ao amor desta incomparável Mãe, que trouxe o Céu até a terra, nas terras de Portugal, para a nossa salvação. Que os bem-aventurados Francisco e Jacinta de Fátima intercedam por nós, para que nós estejamos à altura deste amor Maternal que Nossa Senhora quer nos comunicar. Rezemos o Terço todos os dias.


Dom Lourenço Fleichman, OSB

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BUENAS NOTICIAS
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Muchos, sino todos, estimados lectores, os habreis enterado ya de las buenas noticias de Alemania de la semana pasada: el Miércoles de Ceniza la Corte de Apelaciones de Baja Baviera en Nuremberg anuló mi condenación por la Corte Regional de Ratisbona del 11 de Julio del año pasado por “incitación al odio racial”, cuando me condenaron por haber, en Noviembre del 2008, en suelo alemán, en una entrevista a la televisión sueca, expresado un pensamiento sobre ciertos eventos históricos diferente del pensamiento comúnmente tenido. Además, la Corte de Apelaciones decretó que el Estado Bávaro debe pagar mis gastos incurridos hasta el presente por mi juicio. Todo honor a mi abogado, Prof. Dr. Edgar Weiler, cuyos argumentos ellos adoptaron, al Padre Schmidberger que lo ha propuesto como abogado, y a Mons. Fellay que lo ha aceptado.
Sin embargo, no estoy todavía libre y blanqueado ya que los jueces de Apelaciones basaron su decisión en cuestiones de procedimiento. He aquí su conclusión: “Si una acusación legal describe actos del acusado que no son (hasta el momento) punibles, y no precisa las circunstancias concretas que supuestamente los harían punibles, entonces, por no señalar los hechos internos y externos del caso, la acusación falla en su función esencial, explicada arriba, de definir la acción por la cual el acusado está siendo enjuiciado. Caso cerrado”.
Así las cosas, en teoría, la oficina del Fiscal de Ratisbona podría corregir su procedimiento y empezar la acusación desde el vamos. Sin embargo, en la práctica, bien podría dudar hacerlo, porque los jueces de Apelaciones exigieron especificar quienes exactamente llegaron a enterarse de las palabras incriminatorias, por que medios los mismos vinieron a enterarse, cómo, exactamente, estas palabras eran propensas a turbar la paz en Alemania y, finalmente, en que medida yo habría aprobado que estas palabras fueran publicadas en ese país.
Ahora bien, la fiscalía podría fácilmente mostrar que el mundo entero, sin mencionar a Alemania, fue bombardeado con mis palabras durante un mes por todos los medios de comunicación del mundo (con el objetivo principal de obligar a Benedicto XVI a distanciarse de la Tradición Católica), pero no sería tan fácil probar el disturbio de la paz en Alemania. Además los fiscales tendrían una dificultad real para probar que yo quería que mis palabras fueran hechas públicas en Alemania dado que en el último minuto de la entrevista (accesible en YouTube) yo he expresamente deseado lo contrario. De manera que está en las manos de Dios si la fiscalía le dará o no seguimiento.
Mientras tanto, estimados lectores, no vayan a creer que alguna vez he sufrido demasiado por estos juicios en Alemania, ni tampoco que he tenido que tomar demasiado trágicamente mi exilio correspondiente de tres años dentro de la Fraternidad San Pío X. Este exilio ha sido hasta demasiado confortable, y estos juicios han tomado fin, al menos por el momento, con su suspensión total. Quisiera yo entonces agradecerles a todos vosotros que en el transcurso de estos tres años habéis rezado por mí. Yo sé que sois muchos y estoy agradecido a cada uno de vosotros. En retribución he celebrado en Enero una novena de Misas por vuestras intenciones porque, seguramente, pruebas mucho mayores nos esperan a todos nosotros.
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Kyrie eleison.
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Extraído do blog SPES

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Extraído do blog Contra Impugnantes
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Sidney Silveira
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Já se aludiu aqui à superioridade intrínseca da vida religiosa consagrada em relação à vida laica, à vida de quem se imiscui nos negotia secularia— idéia que está absolutamente de acordo com a doutrina da Igreja e com o ensinamento dos Santos Doutores. Um deles — Santo Antônio de Lisboa, talvez o maior taumaturgo da história da Igreja, Santo miraculoso e místico, de doutrina infelizmente pouco conhecida — nos mostra em vários dos seus Sermões que, no itinerário da vida espiritual, há uma primeira e necessária etapa ascética, pois o homem, absorvido pela multiplicidade de cogitações e de paixões (verdadeiras imago mundi pegajosas, de que precisa livrar-se), absorvido pelo tumulto das preocupações temporais, pela azáfama do dia-a-dia, não encontra as condições e as forças para entregar-se à contemplação das coisas espirituais superiores, para as quais Deus o criou. E no atual estágio de natureza decaída, ele precisa, pois, fazer uma lavagem prévia da alma, para então alcançar a silenciosa solicitude do deserto, que é o primeiro degrau da escada bíblica de Jacob, em cujo cimo está o próprio Deus. A subida da escada, segundo o Santo, supõe um esforço (a prática de atos virtuosos agradáveis a Deus, que significam a abertura da alma para a ação da Graça) e um prêmio (a visão beatífica).
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Como frisa Gama Caeiro, em seu Santo António de Lisboa (volume II), o grande Santo português refere, expressamente, duas situações nessa ascensão:
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a) a primeira é a da sublevatio mentis, na qual — após dar o primeiro passo na subida da escada mística — a inteligência e a vontade se aguçam, e os atos de devoção e admiração com as maravilhas da criação ganham nítido contorno, além de avivar a esperança dos bens futuros prometidos por Deus na Sagrada Escritura. Spes est bonorum expectatio futurorum, ensina o Santo, sem jamais esquecer-se de que tal expectativa é em relação a algo absolutamente transcendente. Nesta etapa, entra em jogo um elemento que modela o caminho: a discrição (discretio), que dá ao homem a proporção dos seus próprios atos nesta subida espiritual, um justo meio análogo ao que Platão define no Filebo como a realização da beleza e da virtude, com a diferença de que, no caso de Santo Antônio, a busca desse meio termo já é um efeito da Graça, e não uma virtude meramente natural. Na prática, a discretio antoniana é uma atitude de não querer ir além do que Deus concede nesta caminhada, a busca de um respeitoso limite humano perante a imensidade de Deus, como afirma o mesmo Gama Caeiro. Um feliz contentar-se com o lugar em que se está, mas, ao mesmo tempo, uma abertura para receber mais de Deus.
b) A segunda é a da alienatio mentis, último grau da contemplação infusa, quando cessa a ação da razão humana e não há lugar para a inteligência propriamente dita, no sentido racional, mas apenas para o afeto amoroso captado pelo olho da contemplação (oculo contemplationis), um olho intuivo. Mas com a seguinte e relevante ressalva: tal intuição se dá por infusão da Graça sobrenatural, já que nenhum tipo de conhecimento humano natural acontece por meio de intuição imaterial direta, e sim por abstração a partir da essência das coisas materiais, como temos dito em vários textos no blog.
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De um ponto a outro desses dois mencionados, tantas são as sutilezas da subida da escada mística antonina — cujo ápice, de acordo com o Santo, é o extasis contemplationis —, que não cabe destrinçá-las todas neste pequeno texto. Depois, posso indicar uma bibliografia antonina que, a propósito, deve começar pela leitura dos seus iluminadíssimos Sermões (por exemplo, em Santo António de Lisboa, Obras Completas. Sermões Dominicais e Festivos [Ed. Bilíngüe], com introdução, tradução e notas de Frei Henrique Pinto Rema, em dois volumes, da Editorial Restauração, 1970. Ou Santo António de Lisboa. Obras Completas. Lello & Irmão, 1982.).
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O que importa, por ora, é destacar um ponto central da doutrina deste Doutor da Igreja, proclamado Doutor Evangélico pelo Papa Pio XII, que, em 1946, na Carta Apostólica Exulta Lusitanis Fidelis, aclamara Santo Antônio como “exímio teólogo e insigne mestre em matérias de ascética e mística”. Justamente o ponto que ensina o seguinte: sem purgação do espírito, não há como desvencilhar-se das ciladas do mundo, que nos afastam de Deus decisivamente.
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Tudo isto vem a propósito de uma coisa muito importante: nenhuma ascética tem valor, se não se orientar à mística. Uma ascética mundanizada, em que se enfatiza o valor moral da ação sem a necessária orientação ao sobrenatural, é uma escada de Jacob sem Deus no ápice. E esta é, infelizmente, a mentalidade laicista de muitos católicos do nosso tempo: são pessoas moralmente boazinhas, pagadoras das contas do final do mês, não se metem em discussões (mormente para defender a Fé), são capazes de algumas mortificações corporais, etc. E acham que isto é ser santo. Confundem a sua própria acomodação ou covardia com “santidade”.
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A propósito, veremos, noutro post, o que o doce Santo Antônio (assim descrito em todas as principais biografias) escreveu sobre hereges e heresias. E com que firmeza e contundência! Sem medinhos de ferir alheias susceptibilidades.
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Em tempo 1: Os Sermões de Santo Antônio — que é também de Pádua — podem ser lidos em italiano (e também no original latino) neste link.

Em tempo 2: Que tristeza infinita ver o extraordinário Santo Antônio, um dos grandes sermonistas da história da Igreja, um dos grandes místicos de todos os tempos, um homem que teve a Graça de realizar milagres estupendos, um mestre espiritual, ser transformado pela devoção popular em apenas um Santo “casamenteiro”.

Em tempo 3: Que o doce Santo Antônio fosse tão azedo com os infiéis e com os hereges, explica-se pelo fato de que o homem que está na Fé acaba tendo graças proporcionadas à sua ação prática, o que lhe dá o discernimento dos meios adequados aos fins excelentes que tem em vista. Hoje se sabe que a linguagem de Santo Antônio para combater os hereges Cátaros e Albigenses era a mais popular, e não a do latim eruditíssimo, ciceroniano, que usava em seus escritos. É óbvio que o Santo não acanalhava a linguagem ao nível dos erros dos hereges, nem usava palavrões ou coisa que o valha; apenas sabia usar o instrumento certo para passar a sua límpida mensagem, que não era outra senão a da Santa Igreja.

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Extraído do site Permanência

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Santo Antônio de Pádua

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Exórdio. Sermão aos pregadores.

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1. Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João e levou-os a um monte muito alto etc.[1]
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Falou o Senhor a Moisés, dizendo no Êxodo[2]: Sobe para mim ao monte e permanece aí; e eu te darei duas tábuas: a lei e os mandamentos, que eu escrevi, para os ensinares aos filhos de Israel. Moisés interpreta-se aquático[3], e significa o pregador que rega os espíritos dos fiéis com a água da doutrina que salta para a vida eterna[4]. A este diz o Senhor: Sobe para mim ao monte. O monte, por causa da sua altitude, significa a excelência da vida santa[5], em que o pregador, deixado o vale dos bens temporais, deve subir pela escada do amor divino, e aí encontrará o Senhor, pois que o Senhor se encontra na excelência da vida santa. Daí a afirmação no Gênesis[6]: No monte o Senhor providenciará, isto é, na excelência da vida santa fará ver e entender quanto deve a Deus e ao próximo.
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Dar-te-ei, diz, duas tábuas. As duas tábuas designam a ciência de cada um dos Testamentos, a única capaz de saber e de fazer sábios; só esta ciência ensina a amar a Deus, a desprezar o mundo, a sujeitar a carne. O pregador deve ensinar estas coisas aos filhos de Israel, dos quais depende toda a lei e os profetas[7]. Mas onde se encontra esta tão preciosa ciência? De verdade, no monte: Sobe para mim ao monte e deixa-te estar ali, porque aí há a mudança da dextra do Excelso[8], a transfiguração do Senhor, a contemplação do verdadeiro gozo. Por isso, do mesmo monte se diz no Evangelho de hoje: Tomou Jesus consigo a Pedro, Tiago e João, etc.
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2. Neste Evangelho observam-se cinco coisas muito notáveis: a subida de Jesus ao monte com os três Apóstolos, a sua transfiguração, o aparecimento a Moisés e a Elias, a nuvem resplandecente que os envolveu, e o testemunho da voz do Pai: Este é o meu Filho caríssimo. Vejamos o que significam, no sentido moral, estas cinco coisas, conforme Deus for servido nos inspirar, para sua honra e utilidade de nossas almas.
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I – A subida de Jesus Cristo ao monte com três Apóstolos
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3. Digamos, portanto: Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João. Estes três Apóstolos e especiais companheiros de Jesus Cristo significam as três virtudes da alma sem as quais ninguém pode subir ao monte da luz, isto é, à excelência da vida santa. Pedro interpreta-se o que reconhece, Tiago o que suplanta, João a graça do Senhor[9]. Tomou, portanto, Jesus consigo a Pedro etc. Toma também tu, que crês em Jesus e de Jesus esperas a salvação, a Pedro, isto é, o reconhecimento do teu pecado, que consiste em três coisas: na soberba do coração, na lascívia da carne, na avareza do mundo. Toma também contigo Tiago, isto é, a suplantação destes vícios, a fim de esmagares debaixo da planta da razão a soberba do teu espírito, e mortificares a lascívia da tua carne, reprimindo a vaidade do mundo enganador. Toma ainda contigo João, isto é, a graça do Senhor, que está à porta e bate[10], para que te ilumine, faça reconhecer o mal que fizeste e te conserve no bem que começaste.
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Estes são aqueles três homens, dos quais disse Samuel a Saul no primeiro livro dos Reis[11]: Ao chegares ao carvalho de Tabor, encontrar-te-ão aí três varões, que vão adorar a Deus em Betel, levando um três cabritos e outro três tortas de pão e outro um barril de vinho. O carvalho e o monte Tabor significam a excelência da vida santa, que bem se diz carvalho e monte Tabor: carvalho, porque é constante e inflexível pela perseverança final; monte, porque alta e sublime pela contemplação de Deus; Tabor, que se interpreta luz que vem[12], pelo brilho do bom exemplo. Na excelência da vida santa requerem-se estes três predicados: constante em relação a si, contemplativo em relação a Deus, brilhante em relação ao próximo. Ao chegares, portanto, isto é, quando te dispuseres a vir ou subir ao carvalho ou monte Tabor, encontrar-te-ão aí três varões, que vão adorar a Deus em Betel. Estes três varões são Pedro, o que reconhece, Tiago, o que suplanta, e João, a graça do Senhor. Pedro leva três cabritos, Tiago três tortas de pão, João um barril de vinho.
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Pedro, isto é, o que se reconhece pecador, leva três cabritos. No cabrito simboliza-se o fedor do pecado; nos três cabritos os três gêneros de pecados em que mais pecamos, a saber, na soberba do coração, na petulância da carne, na avareza do mundo. Quem, portanto, quiser subir ao monte da luz, deve levar estes três cabritos; isto é, reconhecer-se pecador nestas três coisas.
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Tiago, isto é, o que suplanta os vícios da carne, leva três tortas de pão. O pão significa a suavidade do entendimento, que consiste na humildade do coração, na castidade do corpo, no amor da pobreza; ninguém poderá possuir esta suavidade se antes não suplantar os vícios. Portanto, leva três tortas de pão, isto é, a tríplice suavidade do entendimento, quem reprime a soberba do coração, refreia a petulância da carne e rejeita a avareza do mundo.
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João, isto é, o que conserva fielmente e de ânimo perseverante tudo isto, com a graça proveniente e subseqüente do Senhor, verdadeiramente leva um barril de vinho. O vinho no barril é a graça do Espírito Santo na boa vontade.
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Tomou, portanto, Jesus consigo Pedro, Tiago e João. Toma também tu estes três varões e sobe ao monte Tabor.
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4. Mas, crede-me, a subida é difícil, porque o monte é alto. Queres, portanto, subir mais facilmente? Toma aquela escada de que se lê e canta na história do presente domingo: Viu Jacob em sonhos uma escada direita, posta sobre a terra, cujo cimo tocava o céu e os anjos de Deus subindo e descendo por ela, e o Senhor apoiado na escada[13]. Observa cada uma das palavras e aparecerá a concordância do Evangelho. Viu: eis o reconhecimento do pecado, de que diz S. Bernardo: Deus não me dê a ver outra visão que não seja o conhecimento dos meus pecados. Jacob tem a mesma interpretação de Tiago: eis a suplantação da carne. Dele disse Esaú: Eis que me suplantou outra vez[14]. Em sonhos: eis a graça do Senhor, que traz consigo o sono da quietude e da paz. O sono assim é descrito pelo Filósofo[15]: O sono é o repouso das virtudes animais com intensificação das naturais. Quando alguém dorme no sono da graça, nele as paixões carnais repousam das suas más obras e intensificam-se as faculdades espirituais; daí o dizer-se no Gênesis[16]: Depois de se ter posto o sol, veio um sono profundo a Abraão, e um horror grande o acometeu. Por sol entende-se aqui o prazer carnal[17], que, ao sucumbir, um sono profundo, isto é, o êxtase da contemplação, vem sobre nós; e um horror grande nos invade a respeito dos pecados passados e das penas do inferno. Queres ouvir a intensificação das faculdades espirituais juntamente com o perdão das paixões carnais? Eu, diz a Esposa, durmo, isto é, repouso do amor dos bens temporais, e o coração vigia[18] na contemplação das celestes. Com razão, portanto, se diz: Viu Jacob em sonhos uma escada, pela qual podes subir ao monte Tabor.
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5. Nota que esta escada tem dois banzos e seus degraus, pelos quais se pode subir. Esta escada significa Jesus Cristo[19]; os dois banzos são a natureza divina e humana; os seis degraus são a sua humildade e pobreza, a sabedoria e misericórdia, a paciência e obediência. Foi humilde ao tomar a nossa natureza, quando olhou para a humildade da sua serva[20]. Pobre no seu nascimento, em que a Virgem pobrezinha, quando deu à luz o próprio Filho de Deus, não teve onde o reclinar, tendo de o envolver em panos e pôr em manjedoura de animais[21]. Foi sábio na sua pregação, porque começou a obrar e ensinar[22]. Foi misericordioso ao receber afavelmente os pecadores: Não vim, diz, chamar os justos mas os pecadores[23] à penitência. Foi paciente no meio dos flagelos, bofetadas e escarros: por isso, ele mesmo diz em Isaías[24]: Ofereci a minha face como uma pedra duríssima. Se se bate numa pedra, não se vinga nem murmura contra quem a quebra. Assim Cristo, quando o amaldiçoaram, não amaldiçoava; sofrendo, não ameaçava[25]. Foi ainda obediente até à morte e morte de cruz[26]. Esta escada apoiava-se sobre a terra, quando Cristo se entregava à pregação e operava milagres; tocava o céu, quando pernoitava, como refere S. Lucas[27], na oração do Senhor.
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Eis que a escada é direita; porque, pois, não subis? Porque rastejais de mãos e pés sobre a terra? Subi, porque Jacob viu anjos a subir e a descer pela escada. Subi, portanto, ó anjos, ó prelados da Igreja, ó fiéis de Jesus Cristo; subi, digo, a contemplar quão suave é o Senhor[28]; descei a socorrer, a aconselhar, porque disto precisa o próximo. Porque tentais subir por caminho diferente do da escada? Por onde quer que quiserdes subir, depara-se-vos um precipício. Ó estultos e tardos de coração, não digo para crer[29], porque credes, e os demônios também crêem[30], mas duros e de pedra para agir! Pensais poder subir por outro caminho ao monte Tabor, ao repouso da luz, à glória da felicidade celeste, sem ser pela escda da humildade, da pobreza, da Paixão do Senhor? Na verdade, não. A palavra do Senhor é clara: Quem quiser vir após de mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me[31]. E em Jeremias[32]: Tu me chamarás pai, e não cessarás de andar após de mim. Como refere S. Agostinho[33], o médico bebe primeiro a poção amarga, para que o doente não tenha medo de a beber. Por meio duma poção amarga, diz S. Gregório[34], se chega ao gozo de saúde. Para salvar a vida, tens de parecer o ferro e o fogo[35]. Subi, portanto, não temais, porque o Senhor está apoiado à escada, preparado para receber os que sobem. Tomou, portanto, Jesus consigo Pedro, Tiago e João e subiu a um alto monte.
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II – A transfiguração de Jesus Cristo.
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6. Segue o segundo: E transfigurou-se diante deles[36]. Imprimi-te, como cera mole, nesta figura, a fim de que possas receber a figura de Jesus Cristo, que foi assim: E o seu rosto ficou refulgente como o sol e as suas vestiduras tornaram-se brancas como a neve[37]. Nesta sentença verificam-se quatro coisas: o rosto e o sol, as vestiduras e a neve. Vejamos o eu significam no sentido moral o rosto e o sol, as vestiduras e a neve.
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Nota que na parte anterior da cabeça, chamada rosto do homem, há três sentidos ordenados por via e disposição sapientíssima: a vista, o olfato e o gosto. O olfato, na verdade, está colocado, semelhante a uma balança, entre a vista e o gosto[38]. Igualmente no rosto da nossa alma há três sentidos espirituais, dispostos em reta ordem pela sabedoria do sumo artífice: a vista da fé, o olfato da discrição, o gosto da contemplação.
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7. Acerca da vista lê-se no Êxodo[39] que Moisés e Aarão, Nadab e Abiu e setenta anciãos de Israel viram o Senhor de Israel; e debaixo de seus pés estava como que uma obra de pedra de safira, que se parecia com o céu quando está sereno. Nesta sentença descrevem-se todos aqueles que vêem e o que devem ver, isto é, crer, com a visão da fé. Moisés e Aarão, etcMoisés interpreta-se aquático e significa todos os religiosos, que devem ser mergulhados nas águas das lágrimas. De fato, foram tirados do rio do Egito, com o fim de semearem, em lágrimas, nesta solidão horrível, e depois, em júbilo, ceifarem na terra da promissão. E o sumo pontífice Aarão, que se interpreta montanhês[40], significa todos os prelados maiores da Igreja, constituídos no monte da dignidade. Nadab, que se interpreta espontâneo[41], todos os súditos, que devem obedecer espontaneamente, não à força. Abiu, que se interpreta pai deles[42], significa todos aqueles que, segundo o rito da Igreja, se uniram pelo matrimônio para serem pais de filhos. Os setenta anciãos de Israel significam todos os batizados que no batismo receberam o espírito da graça septiforme[43].
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Todos estes vêem, isto é, crêem, e devem ver, isto é, crer no Deus de Israel. E debaixo de seus pés estava como que uma obra de pedra de safira, etc. Quando diz Senhor de Israel: eis a divindade; ao dizer debaixo de seus pés: eis a humanidade de Jesus Cristo, que devemos crer como verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Destes pés diz Moisés no Deuteronômio[44]: Os que se aproximam de seus pés receberão da sua doutrina. Por isso, diz-se em S. Lucas[45] que Maria estava sentada aos pés do Senhor e escutava a sua palavra. Portanto, debaixo dos pés do Senhor, isto é, depois da Encarnação de Jesus Cristo apareceu a obra do Senhor, como que de pedra de safira, que se parecia com o céu quando está sereno. A pedra de safira e o céu sereno são da mesma cor.
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E nota que a safira tem quatro propriedades: ostenta em si uma estrela, dá cabo do antraz, é semelhante ao céu sereno, estanca o sangue. A pedra de safira significa a santa Igreja, começada depois da Encarnação de Cristo e que há-de durar até ao fim dos séculos. Esta divide-se em quatro ordens, a saber, apóstolos, mártires, confessores e virgens, que acertadamente entendemos nas quatro propriedades da pedra de safira.
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A safira ostenta em si uma estrela, e nisto significa os apóstolos, que primeiro mostraram a estrela matutina da fé aos que jaziam nas trevas e na sombra da morte[46]. A safira, com o seu contato, dá cabo do antraz, que é doença mortal[47]; nisto significa os mártires, que destruíram com o seu martírio o antraz da idolatria. A safira, semelhante à cor celeste, significa os confessores, que, reputando todas as coisas temporais como esterco, se suspenderam na corda do amor divino para contemplar a celeste beatitude, dizendo com o Apóstolo[48]: Somos cidadãos dos céus. Igualmente a safira estanca o sangue, e nisto significa as virgens, que por amor do celeste Esposo estancaram em si por completo o sangue da concupiscência carnal. Esta é a admirável obra da pedra de safira, que apareceu debaixo dos pés do Senhor. Eis claramente o que a tua alma deve ver e o que deve crer com a visão da fé.
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8. Do olfato da discrição escreve-se no Cântico[49] do amor: O teu nariz é como a torre do Líbano, que olha para Damasco. Nesta sentença há quatro palavras muito dignas de nota; o nariz, a torre, o Líbano e Damasco. No nariz designa-se a discrição, na torre a humildade, no Líbano, que se interpreta alvura[50], a castidade, em Damasco, que se interpreta o que bebe sangue[51], a malícia do diabo[52]. Portanto, o nariz da alma é a virtude da discrição, através da qual, como se fora nariz, deve discernir o bom do mal cheiro, o vício da virtude, e pressentir ainda as coisas postas ao longe, isto é, as futuras tentações do diabo[53]. Por isso, diz Job[54]: Cheira de longe a batalha, a exortação dos capitães e a gritaria do exército. De fato, a alma fiel pressente pelo nariz, isto é, pela virtude da discrição, a batalha da carne e a exortação dos capitães, isto é, as sugestões da razão vã, que são compreendidas por meio dos capitães, para não cair no fosso do mal, sob pretexto de santidade; e a gritaria do exército, isto é, as tentações do demônio, que gritam como bestas, porque gritar é próprio de bestas.
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Este nariz da esposa deve ser como a torre do Líbano, pois, na humildade de coração e castidade de corpo consiste sobretudo a virtude da discrição. E bem se diz humildade a torre da castidade, porque assim como a torre defende o castelo, assim a humildade do coração defende a castidade do corpo das setas da fornicação. Se tal for o nariz da esposa, bem poderá olhar para Damasco, isto é, para o diabo, desejoso de beber o sangue das nossas almas, descobrindo a malícia da sua sutileza.
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9. Acerca do gozo da contemplação diz o Profeta[55]: Experimentai e vede quão suave é o Senhor. Experimentai, isto é, esmagai com a garganta do vosso espírito e, esmagando, repensai na felicidade daquela Jerusalém celeste, na glorificação das almas santas, na glória inefável da dignidade angélica, na doçura perene da Trindade e Unidade; repensai também quanta será a glória de estar entre os coros dos anjos, louvar a Deus juntamente com eles com voz indefessa, contemplar face a face o rosto de Deus, ver o maná divino na urna de ouro da humanidade! Se saboreardes bem estas coisas, verdadeiramente, sim, vereis quão suave é o Senhor. Feliz aquela alma cujo rosto se adorna e se decora com tais sentimentos.
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E nota que o olfato, qual balança, está colocado entre a vista da fé e o gosto da contemplação. Na fé, com efeito, a discrição é necessária, para que não pretendamos aproximar-nos e ver a sarça ardente[56], desatar a correia do calçado[57], isto é, desvendar o segredo a Encarnação do Senhor[58]. Crê apenas, e basta. Não está em teu poder desatar a correia do calçado. O que quer sondar a majestade, diz Salomão[59], será oprimido pela sua glória. Portanto, acreditemos firmemente e confessemos com simplicidade.
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Na contemplação também é necessária a discrição, para que não saibamos mais da sabedoria, de sabor celeste, do que importa saber[60]. Donde Salomão nas Parábolas[61]: Filho, achaste mel, isto é, a doçura da contemplação[62], come o que te basta, para que não suceda que depois de farto o vomites. Vomita o mel quem, não contenta com a graça que lhe foi dada gratuitamente, deseja indagar com a razão humana a doçura da contemplação, não atendendo àquilo que se diz no Gênesis[63] que ao nascer Benjamim morreu Raquel. Por Benjamim designa-se a graça da contemplação, por Raquel a razão humana. Ao nascer, portanto, Benjamim, morre Raquel, porque, quando o entendimento, elevado acima de si mesmo na contemplação, divisa alguma coisa acerca da luz da divindade, toda a razão humana sucumbe. A morte de Raquel é a falta de razão. Por isso, disse alguém[64]: Ninguém chega pela razão humana aonde S. Paulo foi arrebatado
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Seja, portanto, o olfato da discrição como balança entre a vista da fé e o gosto da contemplação, para que o rosto da nossa alma resplandeça como o sol.
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10. E nota que no sol há três propriedades: claridade, alvura e calor; e vê quão bem elas convêm aos três sobreditos sentidos da alma. A claridade do sol convém à vista da fé, que divisa e crê as coisas invisíveis pela claridade da sua luz. Alvura, isto é, a mundícia ou pureza, convém ao olfato da discrição; e com acerto, porque assim como fechamos e viramos o nariz dum objeto mal cheiroso, assim nos devemos afastar da imundícia do pecado com a virtude da discrição. Também o calor do sol convém ao gosto da contemplação, na qual verdadeiramente há o calor da caridade. Escreve S. Bernardo[65]: É, de fato, impossível ver o sumo bem e não o amar, pois que o próprio Deus é caridade.
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Atendei, portanto, caríssimos, e vede quão útil, quão salutar é tomar três companheiros e subir ao monte da luz, porque aí há verdadeira transfiguração da figura deste mundo, que passa[66], na figura de Deus, que permanece por séculos de séculos. Dela se diz: O seu rosto resplandeceu como o sol. Resplandeça também o rosto da nossa alma como o sol, a fim de que transforme em obras o que vemos pela fé; e o bem que discernimos no interior, o executamos fora, na pureza da obra, com a virtude da discrição; e o que saboreamos na contemplação de Deus, se torne vida no amor do próximo; e desta maneira o nosso rosto resplandecerá como o sol.
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11. Segue: E as suas vestiduras tornaram-se alvas como a neve[67], quais um tintureiro não seria capaz neste mundo de o fazer[68]. As vestiduras da nossa alma são os membros do nosso corpo[69], que devem ser cândidos. Daí Salomão[70]: As tuas vestiduras sejam cândidas em todo o tempo. Mas de qual candura? Como a neve. Por boca de Isaías[71] promete o Senhor aos pecadores convertidos: Se os vossos pecados forem como o escarlate, tornar-se-ão alvos como a neve. Nota aqui duas palavras: Escarlate e neve. Escarlate é um pano que possui a cor do fogo e do sangue[72]. A neve é fria e alva. O fogo designa o ardor do pecado; o sangue, a imundícia do mesmo; a frigidez da neve, a graça do Espírito Santo; a alvura, a pureza do entendimento[73]. Diz, portanto, o Senhor: Se os vossos pecados forem como o escarlate etc. Como se dissesse: Se vos converterdes a mim, eu infundir-vos-ei a graça do Espírito Santo, que não só extinguirá o ardor do pecado, como também lavará a sua imundícia. Por isso, ele mesmo diz por Ezequiel[74]: Derramarei sobre vós água limpa, e sereis limpos de todas as vossas iniqüidades. As vestiduras, portanto, isto é, os membros do nosso corpo, sejam alvas como a neve, para que frigidez da neve, isto é, a compunção do espírito, extinga o ardor do pecado, e a alvura duma vida santa lave a imundícia do pecado.
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Por outras palavras, as vestiduras da nossa alma são as virtudes[75]. Vestida com elas, apareça gloriosa na presença do Senhor. Destes vestidos se diz na história do presente domingo que Rebeca vestiu Jacob de vestidos muito bons, que tinha consigo[76]. Rebeca, isto é, a sabedoria de Deus Pai, vestiu Jacob, isto é, o justo, com os vestidos, isto é, com as virtudes boas, porque feitas com a mão e o artifício da sua sabedoria, as quais ele tem consigo guardadas no tesouro da sua glória. Tem-nas verdadeiramente, porque é o Senhor, dono de tudo; tem-nas verdadeiramente, porque as distribui a quem quer, quando quer e como quer. Estas vestiduras são cândidas, de fato, dado que fazem cândido o homem, não digo como a neve, mas branqueiam-no acima da neve. O tintureiro, isto é, o pregador, na calandra da sua pregação, não pode fazer assim tais vestiduras neste mundo.
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III – A aparição a Moisés e a Elias.
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12. Segue o terceiro: E Moisés e Elias apareceram a falar com ele[77]. Moisés e Elias aparecem ao justo assim transfigurado, assim iluminado, assim vestido. Por Moisés, que era o mais manso de todos os homens que habitavam sobre a terra[78], cuja vista, como se diz no Deuteronômio[79], não diminuiu, nem os dentes se lhe abalaram, entende-se a mansidão da paciência e da misericórdia. Manso quer dizer acostumado à mão[80]. Ele, na verdade, como filho, como animal manso, acostumou-se à mão da divina graça, cuja vista, isto é, a razão, não diminui com a fuligem do ódio nem se ofusca com a nuvem do rancor; os seus dentes não se abalam contra alguém pela murmuração. Nem mordem pela detração.
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Por Elias, que, segundo se lê no terceiro livro dos Reis[81], matou os profetas de Baal na torrente de Cisão, entende-se o zelo da justiça. Baal interpreta-se superior ou devorador[82]; Cisão, a dureza deles[83]. Portanto, o que ferve verdadeiramente com o zelo da justiça, mata com a espada da pregação, da ameaça e da excomunhão os profetas e os escravos da soberba, – a qual se dirige sempre a coisas superiores – da gula e da luxúria, que tudo devoram, a fim de que, mortos ao vício, vivam para Deus[84]. E pratica isto na torrente de Cisão, isto é, na abundância do seu coração duro. Por isso, entesouram ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus[85].
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Dela diz Deus a Ezequiel[86]: Aqueles a quem te envio são filhos de cerviz dura e de coração indomável. De fato, toda a casa de Israel é de cara desavergonhada e de dura cerviz. Possui cara desavergonhada quem, ao ser corrigido, não só despreza a correção, mas não se envergonha do pecado. a este impropera Jeremias[87]: O descaramento duma mulher meretriz apoderou-se de ti; não quiseste ter vergonha. Moisés, portanto, e Elias, isto é, a mansidão da misericórdia e o zelo da justiça, devem aparecer justos com o justo, já transfigurado no monte da vida santa, a fim de que, à semelhança do Samaritano, derramem vinho e azeite nos cobertos de chagas. O acre do vinho exacerba a brandura do azeite, e abrandura do azeite suaviza o acre do vinho[88].
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Daí o dizer-se em S. Mateus, do anjo que apareceu na ressurreição de Cristo, que o seu aspecto era como o raio e as suas vestiduras como a neve[89]. o raio designa a severidade do juízo; o candor da neve, a brandura da mansidão[90]. O anjo, isto é, o prelado, deve ter o aspecto do raio, para que as mulheres, isto é, os espíritos efeminados, temam o seu olhar ao considerarem a sua vida santa. Desta maneira procedeu Ester, de quem se diz no livro[91] da mesma: Tendo o rei Assuero levantado o rosto e manifestado em seus olhos cintilantes o furor do peito, a rainha desmaiou, e, trocando-se a sua cor em palidez, deixou cair a cabeça vacilante sobre a criada. Mas o prelado, tal como procedeu Assuero, deve apresentar o báculo de ouro da benignidade[92] e revestir-se das vestiduras de neve, para, com piedosa benignidade de mãe, consolar os que corrigiu com austeridade de pai[93]. Donde o dito: Tem azorragues de pai e peitos de mãe.
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O prelado deve ser como o pelicano, o qual, segundo se conta, mata os seus filhos, mas depois extrai o sangue do próprio corpo e o derrama sobre os filhos mortos e desta forma os faz reviver[94]. Assim o prelado deve chamar os seus filhos, isto é, os seus súditos, os quais corrige com o flagelo da disciplina e mata com a espada da áspera reprimenda. Deve chamá-los, repito, à penitência, que é vida da alma, com o seu sangue, ou seja, com espírito compungido e com derramamento de lágrimas, sangue da alma, no dizer de S. Agostinho[95].
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IV – O testemunho da voz do Pai: Este é o meu Filho muito amado.
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13. E se estas três coisas, a subida ao monte, a transfiguração e o aparecimento a Elias e Moisés, precederam em ti, conseguirás a quarta, de que se acrescenta: eis que uma nuvem resplandecente os envolveu[96]. Lê-se coisa semelhante no fim do Êxodo[97], onde se diz: Depois de acabadas todas estas coisas, uma nuvem cobriu o tabernáculo do testemunho e a glória do Senhor o encheu.
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Nota que no tabernáculo do testemunho havia quatro objetos: o candelabro com sete lâmpadas, a mesa da proposição, a arca do testamento e o altar de ouro[98]. O tabernáculo do testemunho é o justo. É tabernáculo, porque a sua vida é um combate sobre a terra[99]. Os soldados em armas costumam desde a sua tenda[100] combater os inimigos e por estes ser combatidos. Também o justo, colocado na linha de batalha, enquanto combate é combatido; daí o dizer-se: O inimigo que bem combate torna-te bom combatente[101]. O justo é o tabernáculo do testemunho. Tem bom testemunho, não só dos de fora[102], nem sempre verdadeiro, mas também de si mesmo. A sua glória é o testemunho da própria consciência[103], não de língua alheia.
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Neste tabernáculo do testemunho há o candelabro de ouro batido, com sete lâmpadas; é o áureo coração compungido do justo, batido por múltiplos suspiros, como se foram martelos. As sete lâmpadas deste candelabro são os três cabritos, as três tortas de pão e o barril de vinho, que os sobretidos três companheiros do justo levam. Há ainda no tabernáculo do justo a mesa da proposição, pela qual se entende a excelência da vida santa. Sobre ela devem pôr-se os pães da proposição, isto é, o alimento da palavra divina, que a todos se deve propor. Donde o Apóstolo: Sou devedor de Gregos e Bárbaros[104]. Há também ali a arca do testamento, em que se guardava o maná e a vara. Na arca, isto é, no espírito do justo, deve existir o maná da mansidão, para que seja Moisés, e a vara da correção, para que seja Elias. Há também aí um altar de ouro, pela qual se entende o firme propósito da perseverança final. Neste altar, todos os dias se oferece o incenso da compunção devota e os perfumes da oração odorífera.
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14. Com razão, portanto, se diz: Depois de acabadas todas estas coisas, uma nuvem cobriu o tabernáculo do testemunho. Tal tabernáculo, em que são acabadas todas as coisas atinentes à perfeição, uma nuvem o cobre e a glória do Senhor o enche. Desta se escreve no Evangelho de hoje: E uma nuvem resplandecente os envolveu. A graça do Senhor, de fato, envolve o justo transfigurado no monte da luz, isto é, da vida santa, protegendo-o do ardor da prosperidade mundana, da chuva da concupiscência carnal, da tempestade da perseguição do demônio; e desta forma merecerá ouvir o cicio de tênue aura[105], a doçura de Deus Pai: Este é o meu Filho caríssimo; ouvi-o[106]. Verdadeiramente é digno de se chamar Filho de Deus quem tomou consigo os três sobreditos companheiros, subiu ao monte, a si mesmo se transfigurou de figura do mundo em figura de Deus, teve por companheiros Moisés e Elias e mereceu ser envolvido por nuvem resplandecente.
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Rogamos-te, portanto, Senhor Jesus, que nos faças subir deste vale de miséria ao monte duma vida santa, a fim de que impressos na figura da tua Paixão, fundados na mansidão da misericórdia e no zelo da justiça, mereçamos no dia do juízo ser envolvidos por nuvem transparente e ouvir a voz de gozo, alegria e exultação: Vinde, benditos de meu Pai, que vos abençoou no monte Tabor, recebei o reino que vos foi preparado desde o princípio do mundo[107]. A este reino Ele mesmo se digne conduzir-nos. A Ele pertence a honra e glória, louvor e império, majestade e eternidade pelos séculos dos séculos. Diga todo espírito: Assim seja.
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Fonte: SANTO ANTÔNIO DE LISBOA. Obras Completas. Sermões Dominicais e Festivos (Vol. I)
Introdução, tradução e notas por Henrique Pinto Rema.
Lello e Irmão Editores, Porto, 1987; págs 117-138.
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  1. Cf. Mt 17, 1.
  2. Cf. Ex 24, 12.
  3. Cf Ex 2, 10.
  4. Jo 4, 14.
  5. Cf. Glo. Ord., Ex 24, 15.
  6. Gen 22, 14.
  7. Cf. Mt 22, 40.
  8. Sl 76, 11.
  9. Glo. Int., Atos 1, 13.
  10. Cf. Ap 3, 20.
  11. 1Reis 10, 3 (Vg. muda).
  12. Glo. Ord. e Int., Sl 88, 13.
  13. Gen 28, 12-13 (Vg. Viditque in somnis…).
  14. Gen 27, 36 (Vg. muda, ajunta).
  15. ARIST., De somno et vigilia, 3, e também em Ethicorum, c. 1.
  16. Gen 15, 12 (Vg. ajunta, muda).
  17. Cf. GREG., Moralium IX, 45, 84, PL 85, 904.
  18. Cant 5, 2.
  19. Glo. Ord. e Int., Gen 28, 12.
  20. Lc 1, 18.
  21. Cf. Lc 2, 7.
  22. Atos 1, 1 (Vg. coepit Iesus…).
  23. Mt 9, 13 (Vg. Non enim…).
  24. Is 50, 7.
  25. 1Pd 2, 23.
  26. Fil 2, 8.
  27. Cf. Lc 6, 12.
  28. Cf. Sl 33, 9.
  29. Cf. Lc 24, 25.
  30. Cf. Tg 2, 19.
  31. Mt 16, 24 (Vg. Si quis…).
  32. Jer 3, 19.
  33. AGOST., Enarratio in Os. 92, 3, PL 37, 1259.
  34. Cf. GREG., Moralium XXXI, 33, 70, PL 76, 612.
  35. OVÍDIO, Remedia amoris, 229; cf. H. WALTHER, Lateiniche Sprichwörter, n. 32348.
  36. Mt 17, 2.
  37. Mt 17, 2.
  38. Cf. ARIST., De part. an., 11, 10, 657a, 8-11.
  39. Ex 24, 9-10 (Vg. muda, ajunta).
  40. Glo. Int., Ex 4, 28.
  41. JERON., De nom. hebr., PL 23, 833.
  42. Glo. Ord., Mt 1, 12.
  43. Cf. Glo. Int., Ex 24, 8.
  44. Deut 33, 3.
  45. Cf. Lc 10, 39.
  46. Lc 1, 79.
  47. Cf.ESCRIBÔNIO LARGO, Compositiones medicae, 25;chamam escaras às crostas dos olhos e antrazes aos carbúnculos.
  48. Fil 3, 20 (Vg. Nostra autem…); cf. Glo. Ord. e Int., Is 54, 11.
  49. Cant 7, 4.
  50. Glo. Ord., Cant 4, 8.
  51. Glo. Int., Cant 7, 4.
  52. Glo. Ord., ibidem.
  53. Cf. Glo. Ord. e Int., ibidem.
  54. Job 39, 25.
  55. Sl 33, 9.
  56. Cf. Ex 3, 3.
  57. Cf. Lc 3, 16.
  58. Glo. Ord., ibidem.
  59. Prov 25, 27 (Vg. Qui scrutator est…).
  60. Cf. Rom 12, 3.
  61. Prov 25, 16 (Vg. Mel invenisti; comede quod sufficit tibo…).
  62. Cf. Glo. Int., ibidem.
  63. Cf. Gen 35, 17-19.
  64. Cf. RICARDO DE SÃO VITOR, Beniamim minor, 73-74, PL 196, 52-53.
  65. Não é de São Bernardo, nem de Guido Cartusiano, como chegou a afirmar-se e vem nos Editores, mas é de GUILHERME DE ST. THIERRY, Epistola ad fratres de Monte Dei, II, 3, 18. Cf. Actas 1981, p. 178, n. 30.
  66. Cf. 1Cor 7, 31.
  67. Mt 17, 2.
  68. Mt 9, 2 (Vg… super terra candida facere).
  69. Cf. Glo. Int., Ecle 9, 8; Glo. Ord., Job 9, 31.
  70. Ecle 9, 8.
  71. Is 1, 18.
  72. Cf. ISID., Etym. XIX, 22, 10, PL 82. 685.
  73. Cf. JERÓN., Commentarium in Job, 9, 37, PL 26, 678-783.
  74. Ez 36, 25.
  75. Cf. Glo. Int., Sl 44, 10.
  76. Cf. Gen 27, 15.
  77. Mt 17, 3.
  78. Cf. Num 12, 3.
  79. Deut 34, 7 (Vg. non caligavit oculus…).
  80. Cf. ISID., Etym. X, 169, PL 82, 385.
  81. Cf. 3Reis 18, 30.
  82. Glo. Int., Jz 6, 25.
  83. Glo. Ord., Sl 82, 10.
  84. Cf. Gal 2, 19.
  85. Cf. Rom 2, 5.
  86. Ez 2, 4; 3, 7 (Vg. Filli dura facie… et duro corde).
  87. Jer 3, 3 (Vg. ajunta).
  88. Cf. GREG., Moralium XX, 6, 14, PL 76, 143; Lc 10, 34.
  89. Cf. Mt 28, 3.
  90. Cf. Glo. Ord., ibidem.
  91. Ester 15, 10 (Vg. muda).
  92. Cf. Ester 15, 15.
  93. Cf. GREG., Regula pastoralis, II, 6, PL 77, 38.
  94. Cf. Glo. Ord., Sl 101, 7; ISID., Etym. XII, 7, 26, PL 82, 162. Ambas as citações são colhidas de ST. AGOSTINHO, In Ps 101, sermo , 8, PL 37, 1 1299.
  95. Cf. AGOST., Epistola 262, 11, PL 33, 1081; cf. Sermo 351, 4-7, PL 39, 1542.
  96. Mt 17, 5.
  97. Ex 40, 31-32 (Vg. Postquam omnia perfecta sunt operuit nubes...).
  98. Ex 25, 31-37.
  99. Job 7, 1 (Vg. militia est vita hominis…).
  100. Em português não há seqüência de pensamento, como em latim, por tabernaculum ter de e traduzir no segundo lugar por tenda.
  101. OVÍDIO, Pont. 11, 3, 53.
  102. Cf. 1Tim 3, 7.
  103. Cf. 2Cor 1, 12.
  104. Rom 1, 14.
  105. Cf. 3Reis 19, 12.
  106. Mt 17, 5 (Vg. muda, ajunta).
  107. Cf. Mt 25, 34.

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