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Archive for fevereiro \24\-03:00 2011

Fonte: Mulher Católica

Laudate eum secundum multitudinem magnitudinis eius ― «Louvai (a Deus) segundo a multidão da sua grandeza» (Sl 150, 2).
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Sumário. Todas as honras que foram tributadas a Deus, e lhe serão ainda tributadas por todas as criaturas, sem excetuar a divina Mãe, nunca poderão igualar a honra que lhe é dado por uma única Missa, porquanto nesta é sacrificada a Deus uma vítima de valor infinito, que lhe dá uma honra infinita. Que honra, pois, para nós, que se nos permite assistirmos cada dia e até mais de uma vez a este divino sacrifício! Ouçamos quantas Missas possamos, particularmente neste tempo do carnaval, para desagravar o Senhor dos ultrajes que recebe.
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I. Nunca um sacerdote celebrará a santa Missa com a necessária devoção, nem nunca o cristão lhe assistirá com o devido respeito, se não tiverem de tamanho sacrifício a estimação que merece. «É certo», diz o Concílio de Trento, «que o homem não faz ação mais sublime e mais santa do que a celebração da Missa»[1]; mais, Deus mesmo não pode fazer que se cometa no mundo ação mais sublime do que esta. ― A Missa não é somente uma recordação do sacrifício da Cruz, senão o mesmo sacrifício, porque em ambos o oferente é o mesmo, a mesma é a vítima, a saber: o Verbo incarnado. A diferença está unicamente no modo de se oferecer; porquanto o sacrifício da Cruz foi feito com derramamento de sangue, e o sacrifício da Missa é incruento. No primeiro Jesus Cristo morreu verdadeiramente, no segundo morre de morte mística.
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Por isso todos os sacrifícios antigos, apesar da grande glória que deram a Deus, não foram senão uma sombra e figura de nosso sacrifício do altar. Todas as honras que jamais têm dado e darão a Deus os anjos com os seus louvores, os homens com as suas boas obras, penitências e martírios, e mesmo a divina Mãe com a prática das mais sublimes virtudes, nunca chegaram nem poderão chegar a glorificar o Senhor tanto como uma só Missa. A razão é que todas as honras das criaturas são honras finitas, mas a glória que Deus recebe no sacrifício do altar, no qual se lhe oferece uma vítima de valor infinito, é uma glória igualmente infinita. ― Numa palavra, a Missa é uma ação pela qual se tributa a Deus a maior honra que lhe pode ser tributada. Pela Missa cumprimos o nosso dever primário, sublime e essencial, o de louvarmos a Deus segundo a sua grandeza: Laudate eum secundum multitudinem magnitudinis eius.
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II. Se tu, que fazes a presente meditação, tens a grande dita de ser padre, emprega toda a diligência para celebrar este divino sacrifício com a maior pureza e devoção possíveis. Lembra-te de que a maldição fulminada contra aqueles que exercem as funções sagradas negligentemente, diz exatamente respeito aos sacerdotes que celebram a Missa de modo irreverente: Maledictus homo, qui facit opus Domini fraudulenter (Jer 48, 10) ― «Maldito o que faz a obra de Deus com negligência».
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Se não és padre, esforça-te por ouvir ao menos cada dia devotamente a Missa, mesmo à custa de algum incômodo; especialmente nestes dias de carnaval, para desagravar Jesus dos ultrajes que lhe são feitos. ― Santa Margarida de Cortona desejava ter para amar e louvar a Deus tantos corações e tantas línguas, quantas são as estrelas do céu, as folhas das árvores, as gotas de água no mar. Mas o Senhor dignou-se dizer-lhe: «Consola-te; se ouvires devotamente uma única Missa, tributar-me-ás toda a glória que possas desejar, e infinitamente mais».
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Meu Deus, adoro a vossa majestade e grandeza infinita; comprazo-me com as vossas infinitas perfeições e quisera honrar-Vos tanto quanto mereceis. Que honra Vos posso tributar eu, miserável pecador digno de mil infernos? + «Eterno Pai, ofereço-Vos o sacrifício que o vosso dileto Filho fez de si mesmo sobre a cruz, e agora renova sobre o altar. Eu Vo-lo ofereço em nome de todas as criaturas em união com as Missas que já foram celebradas e ainda serão celebradas em todo o mundo, para Vos adorar e louvar como mereceis; para agradecer os vossos inúmeros benefícios; para aplacar a vossa ira, excitada por tantos pecados nossos; e dar-Vos uma satisfação digna, para Vos suplicar por mim, pelo mundo universo e pelas almas do purgatório»[2]. ― Ó Maria, minha Mãe, em vós repousou o Deus que se sacrifica sobre os nossos altares, ajudai-me a ouvir sempre (e celebrar) a Missa com a devida devoção. (*III 832.)
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[1] Sess. 22, Decr. De observ. In celebr. Missae.
[2] Indulgência de 3 anos uma vez por dia. S. Afonso, Meditações. I.
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Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 254-257.

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Fonte: A grande guerra

I- A LOUCURA DA CRUZ

Nos stulti propter Christum

Verdadeiramente, nós somos loucos, mas loucos de amor por Jesus Cristo
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A obra prima da alegria é a Cruz de Jesus Cristo. Esta cruz, que aos olhos do século parece não ser mais que o símbolo da tristeza, do sofrimento e da dor, é, na realidade, o requinte da ventura; e essa loucura de que fala o apóstolo São Paulo, a do cristão que procura assemelhar-se a Jesus Cristo e por Seu amor se torna como que louco, essa loucura é verdadeiramente o supremo arroubo da felicidade.
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Sei, o século não entende assim: um Deus flagelado, ferido, ensangüentado, crucificado, morto, parece-lhe um símbolo absurdo. O homem que o cobre de beijos e lágrimas, que pelo repúdio de sua vaidade e de seu orgulho, pela renúncia de suas paixões, que procura reproduzir em si a Cruz de Jesus Cristo, parece-lhe o cúmulo da loucura.
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Que importa, porém, os pensamentos do século?! Se na terra já houve uma alegria completa e inefável, a do Amor Crucificado; se as criaturas humanas já foi dado algum antegosto da felicidade, que ardentemente desejam, elas o acharam no contato com Jesus Cristo.
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O mundo físico tem muitas alegrias: a vida, a saúde, a força, o espetáculo das cenas variadas da natureza, o aspecto das montanhas, a extensão dos mares, a beleza das planícies, os brilhos do sol, os próprios ruídos da tempestade são fontes de prazer para o homem.
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O mundo intelectual tem muitas alegrias: o simples exercício das faculdades do espírito, a rapidez, o fluxo e o refluxo dos pensamentos, os encantos da poesia, as harmonias da música, os atrativos da forma e da cor, a pintura, a escultura, a arquitetura são para o espírito e o coração do homem fontes de emoções deliciosas.
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O mundo moral tem muitas alegrias: o amor da família, da pátria, da humanidade; as tranqüilas afeições do lar; os afetos ardentes da juventude; as profundas meditações da idade madura; uma grande esperança que se alimenta; uma grande vitória que se conquista – tudo isso é para o homem perene, inesgotável manancial de alegria.
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Pois bem; resumi numa só as variadas alegrias do mundo físico, as alegrias variadíssimas do mundo intelectual e moral; resumi num só todos os gozos puríssimos da inteligência, todos os prazeres mais delicados da imaginação, vós não tereis senão uma pálida sombra desta infinita alegria que se chama – a Cruz.
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Strauss escreveu: 

– “A Cruz com um Deus morto pelos pecados dos homens é para os crentes não somente o penhor visível da redenção, mas também a apoteose do sofrimento. É a humanidade na sua forma mais triste, com todos os seus membros dilacerados e quebrados; a perfeição do cristão e a maldição do mundo. A humanidade moderna, satisfeita de viver e operar, não pode mais achar em tal símbolo a expressão de sua consciência religiosa; e conservá-lo na Igreja é acrescentar mais uma razão às muitas que já o tornam incapaz de existir. A Cruz é um anacronismo, um sinal de decadência e caducidade”.

Que ignorância! A Cruz, o poema predileto da humanidade, é o símbolo que se encontra ainda nos lares, em milhares de corações e em todos os túmulos; a Cruz é o alívio do desventurado, a esperança do moribundo. Na alegria ela enternece; na tristeza ela consola; até mesmo no cemitério, nas sombras da morte,  a Cruz é um penhor de vida!
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Mas a humanidade ama ardentemente o gozo e o prazer; de fato, ela não procura senão a felicidade. A Cruz, portanto, é só aparentemente a apoteose dos sofrimentos; e a maior das felicidades humanas é a dos corações crucificados.
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A Cruz é a obra prima da alegria, porque ela é obra de Deus, e Deus é alegria infinita; e compreende mal a criação, mesmo depois da queda primitiva, quem supõe que a dor representa nas obras de Deus mais que um papel secundário. 

No mundo físico não é a dor que prepondera: ninguém pode descrever o número, a grandeza e magnificência de suas alegrias, que envolvem o globo inteiro.

No mundo moral, sem dúvida, existe a dor; mas ela procede da prevaricação do homem, e não de Deus, cuja bondade aponderou-se dela, transfigurou-a, e de tal sorte transformou-a, que a dor tornou-se para o homem, na condição em que ficou colocado depois da queda, uma condição da alegria.

É uma alegria a dor que o homem sente vendo o que há de irregular no mundo físico, de trágico e triste no mundo moral. É uma alegria a dor do arrependimento, a contrição dos pecados, a resignação na desgraça, a paciência no infortúnio, a conformidade com a vontade de Deus em todos os estados e condições da vida. É pela dor que a criação reassume a sua alegria; e por isso a dor entra em tudo que há de dramático e patético na vida humana; e por isso glorificar a dor é uma das mais altas funções da música, da pintura e das escultura; e por isso para a humanidade nada tem interesse real se não tem alguma relação com  a dor; e por isso a dor é verdadeiramente para  a vida de cada homem uma condição necessária de sua alegria.

Onde, porém, perguntareis, colocar a alegria numa vida como a de Jesus Cristo? Onde ver a alegria naquela Cruz?! Pois a Paixão do Homem-Deus não foi o sumo da dor, e por consequência exclusão de toda alegria?!

Sim; a Paixão de Jesus Cristo foi uma dor real, completa e tão vasta que abrangeu toda a Sua vida, desde o primeiro vagido do Presépio até ao derradeiro gemido do Calvário. É só aparentemente que se distinguem o berço do menino Deus e a Cruz do Varão de dores; na realidade se confundem a manjedoura de Belém e o monte Calvário. Para o menino, pela ciência completa de Sua alma e o pleno uso de sua razão, a previsão de Seus opróbrios e ignominias, de Seus sofrimentos e de Sua morte era já uma paixão substancial.

Se as dores físicas da Paixão não Lhe torturavam já os músculos, os nervos e a carne pela vivacidade da Sua previsão dava-Lhe um horror e tremor correspondentes. Aliás, os sofrimentos da santa infância, agravados pela fraqueza física e a impossibilidade voluntária de as fazer conhecer, foram em Jesus Cristo dores físicas perfeitas. Quanto as dores morais, a santa infância é em toda a realidade o começo da Paixão: o presépio é o Calvário que começa.

Exterior e interiormente, Nosso Senhor sofreu desde o primeiro instante de Sua vida terrestre. Derramou lágrimas, sentiu frio, fadigas, terrores, o desprezo e a perseguição dos homens, e todos os tristes resultados da pobreza e do silêncio a que voluntariamente se condenou. Nasceu fora dos muros de uma cidade, súdito de um imperador romano; ainda menino, teve necessidade do exílio para escapar ao furor de um déspota; os elementos, que Ele próprio tinha criado, o sol, o vento, a chuva, molestaram o Seu corpo infantil; a Sua infância reuniu todas as condições da pobreza, e o pleno uso de Sua razão, a plena ciência de Sua alma, sem dúvida Lhe tornaram penitências cruéis todas as fraquezas que em nós são o resultado do pecado, mas nEle eram os mistérios da Encarnação.

A vista interior que Ele tinha dos pecados de todos os homens; de suas perfídias e ingratidões; das vicissitudes de Sua Igreja; dos combates improfícuos do Amor Divino pela salvação de tantas almas que recusaram, que recusam e que hão de recusar tantos testemunhos da Sua misericórdia, aumentavam sem dúvida, esses sofrimentos exteriores da santa infância.

Onde, portanto, ver a alegria numa existência tão atribulada e na qual ainda mesmo os sofrimentos futuros não eram simples profecias, eram já uma paixão substancial?!

Pois a alegria está ali, a maior das alegrias que tenha feito na terra palpitar um coração.

A todos os instantes, desde o Presépio ao Calvário, durante mesmo o abandono na Cruz, e não obstante todos os sofrimentos da Paixão, Jesus Cristo era bem-aventurado, era perfeitamente feliz, Sua alma palpitava de alegria.

Parece-nos impossível no coração de Jesus Cristo a harmonia de uma tão grande alegria com uma tão grande dor; mas isso somente porque não compreendemos as operações das duas naturezas – divina e humana- numa só pessoa, nem compreendemos a dupla vida de viajor e compreensor que a alma de Jesus levava na terra.

Mas a razão esclarecida pela teologia nos diz que a alegria em Jesus Cristo não foi menos real que a dor.

A dor teve uma revelação exterior – a Paixão; e por isso vemo-la melhor.

Como, porém, poderemos compreender a vida de Jesus Cristo sem a alegria?

Ele era na terra o próprio Verbo revestido da nossa natureza; era o próprio Deus, e não podemos compreendê-lO senão como uma imensa alegria.

Deus é a bem-aventurança, a perfeição, a felicidade, a alegria; e o Verbo de Deus não é senão a infinita alegria do Pai substancial e perfeitamente reproduzida no Filho, unidos ambos por um amor substancial, que não é também senão um coninfinito de alegria.

Mas, se Deus é alegria, tudo que procede de Deus não pode ser senão a alegria.

A criação foi a primeira efusão da alegria; a redenção a segunda, porque a redenção não se fez senão para que o mundo reassumisse o seu destino primitivo.

Sendo o Verbo o próprio Deus e sendo Deus uma infinita alegria, esta alegria que se comunica a todas as Suas obras comunica-se também à Sua humanidade santa.

Que inefáveis alegrias as do Verbo encarnado!

Alegria da perfeição da Sua humanidade; do pleno uso da Sua razão; da perfeita ciência da Sua alma; da Sua soberania e realeza sobre a criação; da completa visão que Ele tem de Deus; da perfeita adoração que Lhe presta; do Seu amor pela Mãe Imaculada que Ele próprio criou; pelos homens Seus irmãos, que veio resgatar; pela Igreja, Sua noiva, que veio esposar; pela própria Cruz, que, desde o primeiro instante da Sua vida terrestre, plantava com gozo inefável no centro do Seu coração, como o símbolo da Sua vitória e o emblema da redenção!

O Criador no seio da Sua criação! Um homem perfeito compreendendo todas as leis do mundo físico, todos os mistérios do mundo moral!

Uma alma humana tendo a visão de todos os enigmas do universo; de todas as vicissitudes da humanidade! Nada Lhe sendo desconhecido no passado, no presente, no futuro!

Ele vê todos os séculos futuros; vê o combate improfícuo de todas as civilizações contra a Sua Cruz; vê o desenvolvimento sucessivo e completo da Sua obra, as Suas vicissitudes, os seus triunfos; vê em toda a série de idades os Seus milhões de adoradores; os milhões de súditos de Sua Mãe; vê a vitória decisiva e final da Sua Igreja; vê, enfim, glorificada a nova humanidade, de que Ele foi o Salvador!

Que alegrias inefáveis! Que júbilo infinito!

Por isso é feliz nas Suas próprias dores; por isso Ele encontra a alegria na própria presciência de Sua Paixão; por isso, ávido, como Ele próprio o dizia, pelo batismo de sangue, na Agonia do Jardim, antecipa o Seu sacrifício e na Cruz do Calvário sacia a sede do Seu amor!

Vede: a Cruz, que aos olhos do século parece não ser mais que um símbolo de tristeza, é, entretanto, a obra prima da alegria; e, portanto, a maior das felicidades humanas é essa loucura de que nos fala São Paulo.

O século sempre entendeu esta loucura erradamente, servindo-se dela para zombar da fé, caluniar o cristão e apresentá-lo como o refugo da natureza humana, cuja ciência consiste em bestializar a inteligência, obliterar o sentimento e atrofiar o coração.

Nunca foi esta a doutrina da Igreja, que, bem longe de assim entendê-lo, quando, no século 17, homens saídos de seu seio, mal interpretando as palavras do Apóstolo, fizeram uma guerra encarniçada à ordem natural, à razão humana, ao desenvolvimento da inteligência e às necessidades legítimas do coração, condenou essa doutrina – o Jansenismo – e reprovou a sua moral.

A loucura da Cruz, como a entende a Igreja, não é, pois, a mutilação do homem; não é a renúncia de seus sentimentos, nem do que eleva o seu espírito, dilata o seu coração e alegra a sua vida.

A doutrina da Igreja, é que a Graça não destrói a natureza: purifica-a, aperfeiçoa-a.

Santo Agostinho dizia que a Encarnação não é senão um vasto sistema higiênico e curativo para a natureza humana; e, se bem compreenderdes este pensamento do egrégio doutor da Igreja, vós tereis a justa idéia do que seja a loucura da Cruz.

Nas práticas da vida cristã, nas humilhações do homem que quer purificar-se, há uma espécie de loucura; mas loucura somente para os instintos depravados da natureza corrompida. Como em todo remédio há uma parte por assim dizer ignóbil, vil, desprezível, repugnante à natureza; há também isso no aparelho curativo da Igreja.

O homem é também doente do espírito e do coração; e os remédios de que precisa esta sua enfermidade são, como os do corpo, duros, amargos, repugnantes à vaidade e ao orgulho.

É uma loucura humilhar-se, abater-se pedir perdão das ofensas, amar os inimigos?! Pois é a loucura da Cruz!

É uma loucura ser casto, renunciar aos gozos animais, rivalizar com os anjos?! Pois é a loucura da Cruz!

É uma loucura repudiar a avareza a ambição da glória, o furor do bem-estar?! Pois é a loucura da Cruz!

Reparai, porém: esta loucura  é um verdadeiro remédio, porque nos despoja do velho homem, restaura as partes nobres da nossa natureza, que só se purifica e regenera pela crucificação, isto é, pelo aniquilamento de suas partes más.

E não foi essa loucura que regenerou o mundo, quando, num momento solene da história, para libertá-lo da gangrena romana, foi preciso lavá-lo no sangue das virgens, dos confessores, dos mártires?!

E, hoje, que falta ao nosso século? É justamente a loucura da Cruz!

Porque o homem moderno é tão vaidoso, tão cheio de ambições, tão sensual, tão rebelde? Porque não ama a Cruz de Jesus Cristo e zomba do cristão que procura reproduzi-la em si? Porque na política a impostura, a mentira, a perfídia? Na ciência – o orgulho, na literatura – a luxúria, nas artes – a prostituição do belo, o repúdio de todas as formas nobres da imaginação? Porque o estadista, o sábio, o filósofo, o poeta e o artista não conseguem fazer feliz a humanidade moderna?

Percorrei o mundo inteiro, batei a todas as portas; perguntai aos homens, nos palácios ou nas choupanas, se eles são felizes; e um gemido doloroso saído de todos os corações vos responderá: não, não somos felizes.

Mas porque o homem moderno, no meio de tantos esplendores da civilização material, é verdadeiramente desgraçado?

Porque ele não ama a Cruz de Jesus Cristo.

Vós, homem moderno, podeis pretender todas as glórias: a de terdes surpreendido, com um pedaço e vidro, o infinitamente pequeno nas profundezas da terra, o infinitamente grande nas profundezas do céu; a de terdes dado aos vossos olhos o prodigioso óptico poder de verem no solo o arbusto crescer, a verem no espaço o astro girar; a de terdes reunido nas vossas exposições universais as riquezas espalhadas pelo globo; a de terdes consorciado nos vossos museus as faunas e as floras do mundo inteiro; a de terdes pelejado com os seus ventos e tempestades, medido mesmo a profundeza dos seus oceanos.

Há uma glória, porém, que vós não podeis reclamar: a de terdes medido a inanidade dos vossos prazeres, domado os ímpetos do vosso orgulho, medido a profundeza incomensurável da vaidade universal, que não deixa ver na Cruz de Jesus Cristo a salvação do mundo, e na loucura da Cruz – a sabedoria verdadeira!

(A Paixão pelo Pe. Júlio Maria de Lombaerde, cruzada da Boa Imprensa – Rio, 1937)

PS: Grifos meus.

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Fonte: Fratres in Unum

A serviço do Papa. Uma vida consagrada à cátedra de São Pedro. Duas provas disso.

Na audiência que, dentre tantas outras, Pio IX concedeu a Dom Bosco em janeiro de 1875, o bondoso Pontífice, a pedido do Servo de Deus, depois de um instante de recolhimento deixou esta palavra de ordem para ser transmitida aos salesianos e a seus alunos: “Recomendai a todos a obediência e a fidelidade ao Vigário de Jesus Cristo”.

– Que coincidência, Santo Padre! respondeu Dom Bosco. Pois justamente uma coisa faltava para dizer a V. Santidade. Está notada neste papelzinho.

O Papa quis ver e leu: “Na última audiência, antes de partir, penhorar ao Papa a obediência e fidelidade de todos os Salesianos e de todos os alunos”.

– Está vendo como nos encontramos? disse o Papa todo jubiloso.

A obediência e a fidelidade ao representante de Jesus Cristo na terra foi uma das grandes virtudes que Dom Bosco se empenhou, durante o curso de toda a sua vida, em inculcar a todos os seus filhos. Pode-se dizer que sua vida inteira de apóstolo se encerra entre dois episódios comoventes que dizem toda a sua devoção à Cátedra de São Pedro.

No dia 15 de novembro de 1848, foi apunhalado covardemente em Roma o Primeiro Ministro do Papa Pio IX, Peregrino Rossi, e hordas revolucionárias tentaram dar o assalto aos Palácios Pontifícios. Mons. Palma, Secretário de Pio IX, tombou prostrado por uma bala em pleno rosto. O perigo era ameaçador. De uma hora para outra a Revolução poderia apoderar-se da pessoa do Sumo Pontífice. Portanto era necessário tomar providências urgentes. No dia 23 de novembro, à noite, Pio IX, acompanhado de um simples criado, deixava o Quirinal por uma porta secreta, e se entregava à proteção do Embaixador da Baviera, que o aguardava a pouca distância numa carruagem fechada. Poucas hora depois, o augusto Pontífice se achava em território do Reino de Nápoles, e aí o Rei Fernando de Bourbon punha à sua disposição a cidade e o castelo de Gaeta. Iria, ficar seis meses. Esse exílio forçado comoveu o mundo católico todo, e pensou-se antes de mais nada, em prover à manutenção do Pai comum dos fiéis. Data desse ano a obra do óbolo de São Pedro.

Imagem de São João Bosco na Basílica de São Pedro.

Abriram-se subscrições em toda a parte. Em Turim, foi uma surpresa para a Comissão o dia que viram figurar, na lista a soma fabulosa e modesta ao mesmo tempo, oferecida pelos meninos do Oratório de Dom Bosco: trinta e três liras!

Sabemos que esses pobres meninos recebiam de Dom Bosco apenas a importância de 5 soldos por dia, para comprarem alguma coisa que servisse para completar o pobre cardápio, onde figurava apenas sopa ou polenta. E no entanto, filhos dedicados do Papa, tinham sabido economizar na própria miséria e tinham conseguido em poucos dias esse óbolo, que Pio IX recebeu chorando de comoção e que agradeceu por meio de seu Núncio, na Côrte de Turim.

Tal fato acontecia bem no início do apostolado do Santo. E vêde o que ele balbuciou no leito de morte, no dia 28 de dezembro de 1887, na presença de seu Arcebispo, Cardeal Alimonda, que lhe fôra fazer uma visita: “Tempos difíceis, Eminência! Atravessei tempos bem difíceis!… Mas a autoridade do Papa… Já o disse a Monsenhor Cagliero, aqui presente, para que o transmita ao Santo Padre; os Salesianos existem para defender o Papa, onde quer que trabalhem”.

Dom Bosco, A. Auffray SDB, tradução de Dom João Resende Costa, cap. XI, A serviço do Papa.

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Fonte: FSSPX

São Pio X e o Ecumenismo

Retirado e traduzido da Revista Tradición Católica,
da Casa Autônoma da FSSPX em Espanha-Portugal nº 209. Janeiro-Fevereiro 2007,
APUD apostoladoeucaristico.blogspot.com

 

por José Andrés Segura Espada

Quando em 15 de julho de 1905 o Papa São Pio X mandou publicar o Catecismo Maior, para a diocese de Roma, quis que fosse de caráter obrigatório tanto para o uso público como privado da Província romana, e com o desejo de que ao menos fosse um texto unificado para toda a Itália.

Nele, então, temos um guia seguro e claro para a exposição dos rudimentos de nossa fé que, como indiquei, quis o santo Papa que fosse de uso obrigatório no coração da cristandade.

Em seu anexo Breve Resumo da História Eclesiástica, encontramos algumas passagens que coloca à mostra qual é o caráter dos hereges e cismáticos e como sempre agiu a Igreja a respeito deles, e portanto qual deve ser o verdadeiro caminho a seguir no ecumenismo.

Exponho alguns fragmentos de dito Catecismo Maior:

Já nos tempos apostólicos houve homens perversos que, por interesse e ambição, turbavam a corrompiam no povo a pureza da fé com erros abomináveis. Opuseram-se-lhes os Apóstolos com a pregação, com os escritos e com as infalíveis sentenças do primeiro Concílio que celebraram em Jerusalém“.

Já no século V escrevia São Vicente de Lerins: “foi um fato sempre muito frequente na Igreja, que quanto mais religiosa era uma pessoa com mais facilidade saía ao encontro de novas invenções” (Commo. VI, 2).

Ou seja, que diante dos hereges que corrompiam a fé dos mais simples, os Apóstolos se opuseram defendendo a Santa Fé com palavras, escritos e condenações. Nada de diálogos com os “irmãos separados”.

Desde então, aqui não cessou o espírito das trevas em seus venenosos ataques contra a Igreja e as verdades divinas de que é depositária indefectível; e suscitando constantemente novas heresias, foram atentando seguidamente contra todos os dogmas da religião cristã“.

O “espírito das trevas”. Este é o maléfico indutor de todas as heresias.

O Protestantismo ou religião reformada, como orgulhosamente a chamam seus fundadores, é o compêndio de todas as heresias que houve antes dele, que houve depois e que pode ainda nascer para a ruína das almas“.

Para a ruína das almas, são as heresias!

Com uma luta que dura sem trégua há vinte séculos, não cessou a Igreja Católica de defender o depósito sagrado da verdade que Deus lhe encomendou e de amparar os fiéis contra o veneno das doutrinas heréticas”.

A Igreja desde sempre “luta”, não dialoga -, “defende”, não entrega – o tesouro da fé que Deus lhe confiou, e protege os fiéis do veneno dos hereges.

À imitação dos Apóstolos, sempre que o exigiu a pública necessidade, a Igreja, congregada em Concílio ecumênico ou geral, definiu com toda claridade a verdade católica, propôs como dogma de fé a seus filhos e tirou de seu seio os hereges, lançando contra eles a excomunhão e condenando seus erros“.

Sempre em conformidade com os Santos Padres: “Anatematizar aqueles que anunciam algo fora do que já foi uma vez recebido, nunca deixou de ser necessário; nunca deixará de ser necessário”. (S. Vicente de Lerins, Commo. IX, S)

O concílio que condenou o protestantismo foi o Sacrosanto Concílio de Trento, denominado assim pela cidade onde foi celebrado. Ferido com esta condenação, o protestantismo (…) encerra um apinhamento, o mais monstruoso, de erros privados e individuais, recolhe todas as heresias e representa todas as formas de rebelião contra a Santa Igreja Católica“.

Conclusão: Seguindo o exemplo dos Apóstolos, a Igreja sempre condenou as heresias e expulsou de seu seio os hereges. Nada de diálogo, nem de “louvar a unidade na legítima diversidade” do falso ecumenismo, ou confraternizar publicamente em atos reprováveis com os hereges.

O verdadeiro ecumenismo, a verdadeira caridade com os que estão no erro, é mostrar-lhes a verdade plena, e rezar por eles – não “com” eles – para que se convertam à verdadeira fé, tal e como rezava toda a santa Igreja na sagrada liturgia da Sexta-feira Santa:

Oremos também pelos hereges e cismáticos, para que Deus nosso Senhor os tire de todos os seus erros, e se digne trazê-los à santa Madre Igreja Católica e Apostólica”.

Oremos também pelos incrédulos judeus; para que Deus nosso Senhor aparte o véu de seus corações, e, eles também, reconheçam nosso Senhor Jesus Cristo”.

Oremos também pelos pagãos, para que Deus Onipotente tire a perversidade de seus corações; e abandonando seus ídolos se convertam ao Deus vivo e verdadeiro e a seu único Filho e Senhor nosso Jesus Cristo”.

CONVERSÃO de judeus, maometanos e pagãos; e RETORNO de hereges e cismáticos.

Esta sim é nossa fé de sempre; a fé dos apóstolos; a fé que nos gloriamos de professar.

Glória e adoração somente a Ti, Santíssima Trindade, único e verdadeiro Deus!

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Fonte: Mulher Católica

Fonte: http://www.cathinfo.com

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Fonte: O Ultrapapista Atanasiano

Há muitas fotos no Atanasiano que não precisam ser comentadas, estas são algumas delas. A Virgem Dulcíssima com doces inocentes tomando do Corpo de Cristo.

Créditos das fotos: amigos do Ars Orandi

[Atualização] Não resisti e fui procurar por mais fotos e consegui encontrar algumas que considero emblemáticas. Basta olhar a postura dessas crianças para se encher de esperança e conseguir penetrar num catolicismo sem meandros, sem inovações, ou seja, um catolicismo in natura e não artificial.

 

 

 

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Fonte: Contra Impugnantes

Carlos Nougué

Concordo integralmente com as palavras do Sermão abaixo.

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PAX

III DOMINGO DEPOIS DA EPIFANIA – 2011
APÓS AS GRANDES CHUVAS QUE SE ABATERAM SOBRE NOVA FRIBURGO

Nesta tragédia que se abateu sobre nossa cidade, nós devemos procurar a causa do mal, de tal maneira que possamos evitar uma nova calamidade. Mas, objetarão alguns: como evitar no futuro o que é obra do acaso? Como evitar aquilo que não é senão o efeito das forças naturais? Quem é dono do acaso? Quem é dono dos ventos, das chuvas e de todas as coisas?

A pergunta por si só nos dá a resposta.

O dono de todas as coisas é Deus. O autor das leis da natureza é Deus. O acaso pode ser acaso para nós, mas não para Deus, pois tudo está em suas mãos. “Todas as coisas, Senhor, dependem de vossa vontade e nada há que vos possa resistir” canta a Santa Igreja no Intróito da missa do XXIº Domingo depois de Pentecostes. Tudo está nas mãos de Deus e nem uma folha, nem uma gota, nem um fio de cabelo cai sem sua permissão, pois Deus governa todos os seres, dos maiores aos menores e nada, absolutamente nada, escapa ao seu governo.

Mas alguns poderão ainda dizer: “Não foi Deus; foi o demônio!”

Assim como no caso de Jó, foi o demônio que causou todas as desgraças que caíram sobre Jó, e, em particular, que fez desabar a casa onde estavam os seus filhos e nenhum deles escapou. Esta objeção não é comum hoje em dia, mas merece uma resposta. Jó, ao ter notícia deste acontecimento, ficou muito aflito, rasgou suas vestes, como era costume no Oriente, raspou a cabeça, prostrou-se por terra, adorou o Senhor e disse:

“O Senhor o deu, o Senhor o tirou.”

Jó não diz: “O Senhor me deu e o demônio me tirou.” Mesmo se o demônio é que fez desabar a casa, Jó sabe que nada, absolutamente nada, acontece sem a permissão de Deus.

Por isto, ele acrescenta: “Como foi do agrado do Senhor, assim sucedeu; bendito seja o nome do Senhor.” Mas tendo visto que todos os acontecimentos estão sob o governo de Deus, que permite uns e realiza outros, procuremos a causa destes mesmos acontecimentos. Qual é a razão dos flagelos, das tragédias, dos sofrimentos, quer venham das forças naturais, quer do demônio, quer dos homens diretamente? No caso de Jó, a razão da permissão divina era a de aumentar a santidade de Jó. No caso de Nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós, a causa da permissão divina era a nossa Redenção. No caso de Nova Friburgo, qual é ela? Interroguemos a Revelação, que se exprime pela Tradição e pelas Sagradas Escrituras.

A Tradição encontra sua principal expressão na Santa Liturgia. É a ela, primeiramente, que vamos recorrer.

A Tradição se encontra também nos escritos e vida dos Santos, especialmente dos Santos Doutores. Vamos, pois, dividir nosso sermão em três pontos:

O que diz a Santa Liturgia.
O que dizem as Escrituras.
O que vemos na vida dos Santos.

1º ponto.

O que diz a Santa Liturgia. Numa das orações do missal que devem ser ditas por ocasião de um terremoto nós lemos: “por vossa misericórdia firmai a terra que vemos tremer sob o peso de nossas iniqüidades, a fim de que os mortais saibam que tais flagelos são castigo de vossa mão e a sua cessação o efeito de vossa misericórdia.”

Logo, todos os mortais, todos nós, somos avisados por este texto de que tais flagelos são um castigo das mãos de Deus. Na oração para pedir o bom tempo, a Santa Igreja reza dizendo: “…Concedei-nos bom tempo, a fim de que, punidos justamente pelos nossos pecados, possamos sentir, por vossa misericórdia, os efeitos de vossa clemência.”

“Punidos justamente pelos nossos pecados.”

Eis aí o que a Tradição nos ensina pela Santa Liturgia, que é, ela mesma, uma regra segura de nossa Fé, pois a regra da oração é a regra do que devemos crer. Passemos ao segundo ponto de nosso sermão ou segunda fonte de nossa investigação que são as Sagradas Escrituras.

2º ponto.

Que dizem os autores sagrados? Que nos revela Deus nos livros inspirados? “A terra será maldita por tua causa” diz Deus a Adão. E por quê? Por causa do pecado de desobediência de Adão. A terra abriu a sua boca e recebeu da tua mão o sangue de teu irmão. Quando a cultivares, ela não te dará os seus frutos.” disse Deus a Caim. E por quê? Porque Caim matou o seu próprio irmão, Abel. “Exterminarei da face da terra o homem que criei.” disse Deus antes do dilúvio. “Tudo o que há sobre a terra será consumido.” E por qual razão? Por causa do pecado dos homens. Sempre a mesma causa.

O pecado merece uma pena e onde há pena é porque houve um pecado, mesmo se a pena é sofrida por outro, como o foi na nossa Redenção, na qual Nosso Senhor tomou sobre si a pena de nossos pecados. Mas continuemos:

“Maldito seja Canaã; ele será escravo dos escravos de seus irmãos.” diz Noé. E por quê? Porque Cam pecou contra o mandamento de honrar pai e mãe. “Faze sair desta cidade todos que te pertencem, dizem os anjos a Lot, porque nós vamos destruir este lugar”, a saber, Sodoma e Gomorra. E por qual razão?

São os anjos mesmo que nos explicam:

“Visto que, dizem eles, o clamor de seus crimes aumentou diante do Senhor, O qual nos enviou para os exterminar.” E foi o que aconteceu. Sodoma e Gomorra foram consumidas pelo fogo e só escaparam Lot com suas duas filhas. Qual era o pecado de Sodoma e Gomorra? O homossexualismo.

Dez pragas caíram sobre a terra do Egito devastando tudo e desolando todo o país, no tempo de Moisés. Qual foi a causa? A obstinação do Faraó. Trinta mil homens pereceram em combate contra um inimigo muito inferior, no tempo de Josué. Qual foi a causa? Foi o pecado de um só homem. Um pecado de desobediência e de avareza. O pecado de Acham, que tomou para si o que Deus dissera para ser destruído, escondendo ouro e prata tomada ao inimigo contra a ordem dada por Josué daparte de Deus.

Assim vemos que tanto os flagelos naturais como o dilúvio, as pragas do Egito, a destruição de Sodoma e Gomorra têm por causa os pecados dos homens. O mesmo se vê no caso de Nínive, cuja destruição foi predita pelo profeta Jonas e que devido à conversão e penitência de seus habitantes foi finalmente poupada.

Mas alguns dirão: Isto era no Antigo Testamento. No Novo Testamento, na Nova Lei, na lei da caridade isto não acontece mais. Grave engano. A caridade consiste em amar o bem e não em tolerar o mal, acabando por aprová-lo. Pensar que Deus substituiu a pena pelo perdão sem exigir a conversão é um grande engano. É uma verdadeira heresia.

Deus abrandou o peso de sua mão, mas com uma condição: a conversão. A Nova Lei não se caracteriza pela facilidade, mas pela caridade, o que é bem diferente. Por acaso foi fácil a vida dos cristãos nos primeiros séculos? Nos tempos de perseguição dos imperadores romanos?

Fácil sim, mas pela caridade, pois “quem ama não pena e se pena, ama a sua pena.” Fácil, mas não como o mundo entende a facilidade. Fácil por causa do ardor da caridade, que é bem diferente da facilidade que o mundo deseja. A Nova Lei se caracteriza pelo amor, mas o amor da cruz. A grande diferença entre a Lei Antiga e a Nova Lei está na maior abundância da graça divina e, portanto, numa maior santidade dos verdadeiros católicos. Pensar que a Nova Lei se caracteriza pela falta de punição dos pecados cometidos pelos homens é um grave equívoco.

Mas para dar um exemplo concreto tirado dos tempos da Nova Lei eis o que lemos na vida de Santo Afonso de Ligório, Doutor da Igreja, no século XVIII. Assim passamos ao terceiro ponto.

3º ponto.

Conta-se que no ano de 1779 a cidade de Nocera padecia as conseqüências de uma prolongada seca que, se se prolongasse, destruiria todas as colheitas e deixaria a população da cidade e dos arredores sem alimentos. Santo Afonso, diante daquela calamidade, deplorava os pecados do povo que, diz o seu biógrafo, são a causa destes flagelos. Por esta razão, no domingo 15 de maio daquele ano de 1779 Santo Afonso empreendeu uma procissão de penitência para abrandar a cólera divina.

Revestiu-se de seus hábitos roxos, cobriu-se de cinzas e com a corda no pescoço, dirigiu-se com seus religiosos para a matriz a fim de lá levantar uma grande cruz. Toda a cidade assistiu a essa comovente cerimônia. O Santo ancião quis aproveitar da ocasião para exortar os pecadores ao arrependimento. Por mais de uma hora o santo invectivou contra o pecado mortal, que não só ofende a Deus, mas também atrai sobre uma população inteira os mais terríveis castigos.

Eis aí, mais uma vez, afirmado que as calamidades têm por causa os pecados dos homens. E se alguém disser que Santo Afonso é um caso isolado, então se lembre que Nosso Senhor chorou sobre Jerusalém e predisse a sua ruína, que se deu no ano 70 da nossa era, na era da Nova Lei.

Não ficou pedra sobre pedra na cidade de Jerusalém e algumas mães comeram seus próprios filhos durante o cerco da cidade, tal a desolação e desespero da população. Só mesmo os cegos e obcecados podem negar que Deus pune já na terra os pecados dos homens. Para uns já é o início das penas do inferno, mas, habitualmente, são avisos de Deus para que os homens se convertam.

Por esta razão, eu convido para, durante três dias, fazermos uma procissão de penitência. Ela sairá hoje do mosteiro às 15h rumo à capela São Miguel e voltará até o mosteiro.

Iremos cantando a ladainha de todos os Santos e rezando o terço. Amanhã e terça-feira ela sairá do mosteiro após a missa das 6h30 e fará o mesmo percurso. É pela oração e a penitência que nós podemos obter o perdão de nossos pecados e obter para Nova Friburgo a proteção divina. Quantos pecados dos quais nós mesmos nos tornamos culpados! Quantos pecados, além dos nossos, que mancham nossa cidade, que seria inútil fazer a lista aqui.

Lembremos apenas que não falta em nossa cidade nem o pecado de Caim nem o de Sodoma e Gomorra, nem o dos judeus que abandonaram Nosso Senhor e tiveram sua capital destruída pelos romanos. Pecados contra a Fé, pecados contra a caridade, pecados contra a castidade, pecados contra Deus, o próximo e contra si mesmo.

Triste ladainha, à qual temos que opor nossos sacrifícios e nossas orações. Toda oração bem feita é atendida. É ela, sobretudo, que pode nos obter o perdão e salvação do flagelo muito maior do que aconteceu em nossa cidade. Muito pior do que esta inundação é a morte eterna das almas, é o mar de fogo do inferno.

Rezemos, pois, primeiramente pela nossa própria conversão, pedindo as graças divinas, as virtudes e os dons sobrenaturais. E peçamos com humildade, confiança e perseverança. Que estes acontecimentos despertem em nós o zelo pela glória de Deus, pela santificação pessoal e pela conversão de nosso próximo.

Quantas almas, nessa confusão gerada por essa calamidade, permanecem sem saber a razão deste acontecimento. Quem entende que tais flagelos, como diz a Santa Igreja nas suas orações, são castigos das mãos de Deus?

Mas, como diz uma das orações do Missal Romano. “Convertei, Senhor, os flagelos de vossa ira em remédios de salvação.” Todos aqueles que foram ajudar os acidentados sentiram a verdade dessas palavras. Os flagelos, Deus os converte em remédios. “Deus só permite o mal porque Ele é bastante poderoso e misericordioso para do mal tirar um bem maior.”

Que a vossa caridade continue a socorrer os acidentados materialmente e espiritualmente. Para isto, convidamos a todos que puderem, a participar desta procissão de penitência e oração, pois é de Deus, antes de tudo, que devemos esperar a cessação de nossos males, sobretudo a cessação do mal supremo que é o pecado.

Nem o exército, nem a prefeitura, nem o auxílio, aliás tão precioso, dos tratoristas e dos voluntários pode fazer cessarem os flagelos. Só Deus pode fazê-lo. Só Deus governa os elementos, as forças da natureza. Devemos, pois, recorrer a Ele em primeiro lugar para que Ele converta os flagelos de sua ira em remédios de salvação, através da conversão desta cidade ao verdadeiro e único Senhor Jesus Cristo e à sua Mãe Santíssima, isto é, devemos pedir a conversão da população de Nova Friburgo à Santa Igreja Católica em sua verdadeira Tradição recebida dos Apóstolos e defendida por Dom Lefebvre, Dom Antônio de Castro Mayer e conservada pelos Bispos da Fraternidade São Pio X e por todos aqueles que têm o verdadeiro zelo pela glória de Deus e pela salvação das almas.

Que Nossa Senhora escute nossas orações e nos obtenha o que esperamos de sua bondade e de sua misericórdia.

Assim seja.

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