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Archive for dezembro \24\-03:00 2010

Reclinavit eum in praesepio; quia non erat eia locus in diversorio ― «Ela reclinou-o em uma manjedoura; porque não havia lugar para eles na estalagem» (Luc, 2, 7).

Sumário. Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar na gruta de Belém, afim de dar à luz o Filho de Deus? Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; e ao Rei do céu prepara-se para nascer uma estrebaria fria, para cobri-lo uns pobres paninhos, para cama um pouco de palha e para o colocar uma vil manjedoura? Oh, ingratidão dos homens! Oh, confusão para nosso orgulho que sempre ambiciona comodidades e honras!

I. Continuemos hoje a meditar na história do nascimento de Jesus Cristo. Vendo-se repulsos de toda parte, São José e a Bem-aventurada Virgem saem da cidade afim de achar fora dela ao menos algum abrigo. Os pobres viandantes caminham na escuridão, errando e espreitando; afinal depara-se-lhes ao pé dos muros de Belém uma rocha escavada em forma de gruta, que servia de estábulo para os animais. Disse então Maria: José, meu Esposo, não precisamos ir mais longe; entremos nesta gruta e deixemo-nos ficar aqui. ― Mas como? responde São José; não vês, minha Esposa, que esta gruta é tão fria e úmida que a água escorre em toda parte? não vês que não é uma morada para homens, senão uma estribaria para animais? Como queres passar aqui a noite e dar à luz? ― Contudo é verdade, tornou Maria, que este estábulo é o paço real onde quer nascer na terra o Filho eterno de Deus.
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Ah! que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar naquela gruta para dar à luz! Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; preparam-se-lhes berços incrustados com pedras preciosas, e mantilhas pre¬ciosas; e fazem-lhe cortejo os primeiros senhores do reino. E ao Rei do céu prepara-se uma gruta fria e sem lume para nela nascer, uns pobres paninhos para cobri-lo, um pouco de palha para leito, e uma vil manjedoura para o colocar? Ubi aula, ubi thronus? Meu Deus, assim pergunta São Bernardo, onde está a corte, onde está o trono real deste Rei do céu, porquanto não vejo senão dois animais para lhe fazerem companhia, e uma manjedoura de irracionais, na qual deve ser posto?
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Ó gruta ditosa, que tiveste a ventura de ver o Verbo divino nascido de ti! Ó presépio ditoso, que tiveste a honra de receber em ti o Senhor de céu! Ó palha ditosa, que serviste de leito àquele cujo trono é sustentado pelos serafins! Sim, fostes ditosos, ó Gruta, ó presépio, ó palha; mais ditosos, porém, são os corações que tenra e fervorosamente amam esse amabilíssimo Senhor, e que abrasados em amor o recebem na santa Comunhão. Oh, com que alegria e satisfação vai Jesus Cristo pousar no coração que o ama!
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II. Um Deus que quer começar a sua infância num estábulo, confunde o nosso orgulho, e, segundo a reflexão de São Bernardo, já prega com exemplo o que mais tarde havia de pregar à viva voz: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração. Eis porque ao contemplarmos o nascimento de Jesus Cristo e ao ouvirmos falar em gruta, em manjedoura, em palha, em leite, em vagidos, estas palavras deveriam ser para nós como que chamas de amor, e como que setas que nos ferissem os corações e nos fizessem amantes da santa humildade.
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É verdade, ó meu Jesus, Vós, tão desprezado por nosso amor, com o vosso exemplo fizestes os desprezos excessivamente caros e amáveis aos que Vos amam. Mas como então é possível que eu, em vez de os abraçar, como Vós os abraçastes, ao receber algum desprezo da parte dos homens, me tenha mostrado tão orgulhoso, e tenha ainda chegado a ofender-Vos, ó Majestade infinita? Pecador e orgulhoso!

Ah Senhor, já o compreendo: eu não soube aceitar com paciência as humilhações e as afrontas, porque não Vos soube amar. Se Vos tivera amor, ter-me-iam sido doces e amáveis. Mas visto que prometíeis o perdão a quem se arrepende, de toda a minha alma arrependo-me de toda a minha vida desordenada, tão diferente da vossa. Quero emendar-me, e por isso Vos prometo que para o futuro aceitarei com paz todos os desprezos que me vierem, e que os sofrerei por vosso amor, ó Jesus meu, que por meu amor tendes sido tão desprezado. Compreendo que as humilhações são as minas preciosas por meio das quais quereis enriquecer as almas com tesouros eternos. Já sou digno de outras humilhações e de outros desprezos, porque desprezei a vossa graça. Mereço ser pisado aos pés do demônio. Mas os vossos merecimentos são a minha esperança. Quero mudar de vida; não quero mais causar-Vos desgosto; para o futuro não quero buscar senão a vossa vontade, e por isso Vos dou todo o meu coração. Possui-o, e possui-o para sempre, afim de que eu seja sempre vosso e todo vosso.

«E Vós, ó Pai eterno, que cada ano nos alegrais com a esperança de nossa Redenção, concedei-me que com confiança possa esperar a vinda do vosso Filho unigênito como Juiz, a quem agora recebo alegremente como Salvador». Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo e de Maria Santíssima. (*III 727.)
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Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 76-79.

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Iacob autem genuit Ioseph, virum Mariae, de qua natus est Iesus ― «Jacob gerou a José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus» (Mat. 1, 16)

Sumário: Para formarmos uma ideia da dignidade de São José, basta ponderarmos que, na qualidade de esposo de Maria e chefe da sagrada Família, tinha verdadeiros direitos sobre a Mãe de Deus e seu divino Filho, que assumiram a obrigação de lhe obedecer, e lhe obedeceram em tudo. Quanto devemos, pois, honrar àquele a quem Deus honrou tanto! Quanto devemos confiar na eficácia de sua proteção! ― E tu, és-lhe realmente devoto?… Recorres prontamente a ele em tuas necessidades?

I. Considera em primeiro lugar a dignidade de São José por ser esposo de Maria. Nesta qualidade adquiriu o direito de lhe dar ordens, e Maria, na qualidade de esposa, assumiu a obrigação de obedecer a São José. O humílimo São José nunca se serviu de mandos para com a santa Virgem, mas somente de pedidos, por venerar nela a grande santidade e a dignidade de Mãe de Deus. A humílima Esposa, porém, entre todas as criaturas a mais humilde, considerava sempre aqueles pedidos como outras tantas ordens. ― Ó Maria, ó José, ó Esposos santíssimos, que por vossa grande humildade vos fizestes tão amados de Deus, suplico-vos que me alcanceis o perdão de todos os meus atos de soberba, e a graça de sofrer d’aqui por diante com paciência todos os desprezos e injúrias que me vierem da parte dos homens, porquanto hei merecido ser pisado aos pés dos demônios no inferno.

Considera em segundo lugar a alta dignidade de São José por lhe ser conferido por Deus o ofício de pai de Jesus Cristo: Et erat subditus illis (Luc. 2, 51) ― «E era-lhes submisso». Quem é que estava submisso? O Rei do mundo, o Filho de Deus e também verdadeiramente Deus todo-poderoso, eterno, perfeito, em tudo igual ao Pai. Este é quem na terra quis estar submisso a São José. Por si mesmo não tinha José autoridade sobre Jesus, por não ser o pai verdadeiro, mas tão somente o pai putativo. Como esposo, porém, e chefe de Maria, foi o chefe também de Jesus Cristo, enquanto homem, por ser o fruto das entranhas de Maria. Quem é dono de uma árvore, o é também dos frutos.

Eis porque a Beata Virgem o chamou pai de Jesus: Pater tuus et ego dolentes quaerebamos te (Luc. 2, 48) ― «Eu e teu pai angustiados te procuramos».

Foi portanto a São José, como chefe daquela pequena Família, que coube o ofício de mandar, e a Jesus o de obedecer; de sorte que Jesus nada fazia, não se movia, não tomava alimento nem repouso, senão segundo as ordens de José. Ó dignidade inefável!

II. Devemos honrar muito aquele a quem Deus mesmo tanto tem honrado. E grande confiança devemos pôr na proteção de São José, que viu nesta terra o Senhor do mundo submisso às suas ordens. Escreve Santa Teresa: «O Senhor nos quis dar a entender que, assim como na terra quis ficar submisso a São José, assim faz agora no céu tudo o que o Santo lhe pede».

Meu santo Patriarca, pela grande reverência que, como a seu esposo, vos teve Maria, rogo-vos que me recomendeis a ela, e me alcanceis a graça de ser o seu verdadeiro e fiel servo até à morte. E pela submissão que na terra vos mostrou o Verbo encarnado, obtende-me a graça de lhe obedecer e de amá-lo perfeitamente. No céu Jesus se compraz em conceder todas as graças que vós pedis em favor daqueles que a vós se recomendam. Eu também, miserável como sou, me recomendo a vós, escolho-vos por meu advogado especial e prometo honrar-vos cada dia com algum obséquio particular. Meu Pai, São José, por piedade, alcançai-me aquela graça que vós sabeis ser mais útil à minha alma, e especialmente a virtude da santa pureza.

«Sim, glorioso São José, pai e protetor das virgens, guarda fiel, a quem Deus confiou Jesus, a mesma inocência, e Maria, a virgem das virgens, eu vos peço e conjuro por Jesus e Maria, este duplo depósito a vós tão caro, com vosso eficaz auxílio dai-me conservar meu coração isento de toda mancha, e que, puro e casto, sirva constantemente a Jesus e Maria em perfeita castidade»[1]. ― E vós, ó Mãe de Deus e minha Mãe Maria, pela santa humildade e obediência com que executastes tudo que vosso santo Esposo José vos pedia, alcançai-me de Deus a graça da santa humildade e da perfeita obediência a seus preceitos divinos[2].

[1] Indulgência de 100 dias.
[2] Esta meditação, embora não se ache nas obras completas de Santo Afonso, é todavia do santo Doutor.

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Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 324-326.

Fonte: Mulher Católica

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Fonte: Fratres in Unum

(FSSPX – Distrito Alemão) Em 8 de dezembro, 27 seminaristas fizeram seus votos na Fraternidade Sacerdotal São Pio X, conforme informações do Portal Internacional DICI. 13 em Ecône, Suíça (foto), 11 em Winona (EUA) e 3 em Zaitzkofen (Alemanha). A Fraternidade conta agora com 27 novos membros.

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Por: Gustavo Corção – Permanência

É a última espetacular novidade religiosa que se espalha com grande sucesso no mundo inteiro. Num recorte recente de “Le Monde” lemos a notícia desse movimento cujo sucesso se contrapõe, na pena de Henri Fesquet, “ao declínio das grandes Igrejas” mais ou menos institucionalizadas. Esse movimento de origem protestante, nascido antes do século, cresceu agora rapidamente. O número de “Assembléias de Deus” que era de 264 em 1963 ultrapassa o número de 400 em 1972. Calcula-se em dez milhões o número de praticantes no mundo inteiro”, diz “Le Monde“; e como era de esperar anuncia que o movimento já entusiasmou o mundo católico onde ganha o nome de “renovação carismática” e até reclama o mais ousado título de “novo pentecostes“.

Em Junho reuniu-se na Universidade Notre Dame, nos Estados Unidos, um “congresso de renovação carismática” com o comparecimento de 25.000 participantes entre os quais figuravam muitos padres, Bispos, e o Cardeal Suhenens, Primaz da Bélgica.

Que dizem de si mesmos esses católicos empenhados em tal movimento? Várias publicações, entre as quais destaco a do jovem casal americano Kevin e Dorothy Ranaghan, num livro traduzido em francês com o título “Le Retour de l’Esprit“, apresentam o movimento pura e simplesmente como uma descontinuidade explosiva surgida na História do Cristianismo e produzida, nem mais nem menos, por uma nova descida do Espírito Santo sobre os milhares de adeptos que recebem, por imposição das mãos de outros, o “batismo do Espírito” e subitamente se convertem, mudam de vida, passam da mais profunda depressão à mais jubilosa exaltação, e começam a “falar em línguas“, como os cristãos da Igreja nascente, e como os apóstolos no dia de Pentecostes (At 2, 1)

Uma as características do estado de espírito produzido nas assembléias carismáticas é a predominância da exteriorização sobre a interiorização, e a marcada emotividade que leva os adeptos a sentirem a presença do Espírito Santo, e a declararem essa convicção com uma espontaneidade — cada um contando sua experiência própria — que se liberta de qualquer compromisso de submissão à aprovação da Igreja.

Até aqui o nosso espanto não foi excessivo porque este fim de século e o mundo católico dito “progressista” já nos saturaram de extravagâncias, e já nos embotaram a manifestação do espanto. A nossa preocupação começou a ganhar dimensões de alarme quando vimos que o prudente hebdomadário “L’Homme Nouveau”, dirigido por Marcel Clement, enviou 7 representantes ao Congresso de “renovação carismática” na Universidade Notre Dame, e que o próprio Marcel Clement, no seu editorial de 1o. de Julho, não hesita em falar de “novo Pentecostes” e de fazer este estranho pronunciamento:

É uma realidade de Igreja. Equilibrada, serena, poderosa. Não se trata de misticismo exaltado. É verdadeiramente o Espírito Santo que os invade e os faz caminhar muito depressa até à única e verdadeira Igreja de Jesus Cristo.”

A nós nos parece que depressa demais pronunciou-se o Prof. Marcel Clement, como também nos parece incompreensível que se diga “cheminement très vite jusqu’à la seule et veritable Église de Jesus Christ” de pessoas já nela inseridas pelos sacramentos.

Prevemos o caminho de uma luta mais difícil do que as outras que até agora tivemos de enfrentar porque todos terão pressa excessiva de marcar pontos positivos num movimento em que os rapazes e as moças só dizem que querem rezar em “comunidade carismática“, porque receberam do próprio Espírito Santo, num novo Pentecostes, dons maravilhosos que os tiraram dos mais profundos abismos e os elevam à mais pura alegria. Quem quererá cobrir-se do negrume de todas as antipatias para enfrentar tão maravilhosa transformação do mundo com um mínimo de reserva ou de exigência?

Para encaminhar adequadamente a questão, amigo leitor, começo por lhe lembrar alguns títulos que nos dão direitos a certas exigências. Somos um povo que há 2 mil anos segue a pista de um Deus flagelado; pertencemos à forte raça daqueles mártires que deram o sangue para testemunhar a verdadeira Religião e para resistir a todas as fraudes; descendemos também daqueles outros que silenciaram nos mosteiros os seus próprios sentimentos e as suas próprias emoções para deixar que só o Espírito de Deus falasse por eles. Pertencemos a um Povo ainda mais antigo que ouviu do próprio Deus o trovão de uma identidade absoluta:

Eu sou aquele que sou”, e o preceito da mais inquebrantável intolerância: “não terás outro deus diante de minha face“.

Tudo isto, amigo leitor, nos inclina a uma profunda aversão por tudo que pareça equívoco, e que, em matéria de Religião, mais manifeste as turbulências da pobre alma humana torturada por um mundo encandecido do que as grandezas de Deus manifestas pelos Apóstolos no dia do único e verdadeiro Pentecostes.

Logo a seguir tentarei expor as razões que me levam a ver nesse movimento uma nova feição da “revolução” que quer por vários processos destruir a Igreja.

Aqui trago apenas os títulos que me dão o direito de exprimir tais reservas, e que me lembram o dever de as exprimir. Pecador e inútil servidor, pertenço todavia àquela raça exigente. Sou homem de Igreja que só quer nela viver e nela morrer.

Para comparar o movimento chamado “pentecostismo” com a Igreja de Jesus Cristo, comecemos por comparar a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos, no dia de Pentecostes ao “novo pentecostes” que desce sobre cada um dos 25 mil membros do encontro realizado na Universidade Notre Dame (USA).

Há fenômenos semelhantes, como a “glossolalia” ou língua estranha falada pelos crentes do Cristianismo no primeiro século, pelos Apóstolos no dia de Pentecostes, e hoje pela multidão dos pentecostistas. Mas a semelhança termina quando ponderamos que Pentecostes foi, para a Igreja nascente, não uma explosão de manifestações espontâneas e multiplicadas, mas, ao contrário, um atingimento de maturidade e de esplendor de ordem. Foi mais uma cristalização eclesial do que uma explosão carismática. Diríamos até que esse grande dia da Confirmação da Igreja vinha pôr termo à anarquia ou à dispersão informe dos primeiros tempos. Assinalemos que, em Pentecostes, com a evidência das línguas de fogo, a descida do Espírito Santo se fazia sobre a Hierarquia para bem marcar o caráter da Igreja Católica. E as “línguas” que também os Apóstolos nesse dia falaram, usando o dom das línguas que S. Paulo não reprova mas não estimula? Ora, esse ponto de semelhança é na verdade um ponto de oposição porque, enquanto os “pentecostistas” de hoje falam línguas que ninguém entende, nem eles mesmos, os Apóstolos falavam uma “língua que todos os vários estrangeiros presentes ouviram e entenderam como a própria”. Torna-se evidente que o Espírito Santo, nesse dia, usou o mesmo dom para exprimir a “unidade de língua” da Igreja e a sua destinação universal. Formalmente, essa “unidade de língua” significa “unidade de doutrina”, mas também pode significar a real unidade de língua que a Igreja teria quando recebesse seu o cunho Romano e portanto latino.

Vê-se assim que o “novo pentecostes” é dispersador quando o verdadeiro Pentecostes foi congraçador; que o moderno fenômeno é anarquista onde o autêntico é ordenador e hierárquico; que o moderno fenômeno se traduz em manifestações emotivas diversas e mais ou menos chocantes, enquanto o verdadeiro Pentecostes se arremata por um discurso de Pedro que imprime ao mistério pentecostal todo o seu sentido de unidade eclesial. É especialmente digno de nota o arremate do discurso de Pedro e do capítulo II dos “Atos“.

Vale a pena comparar esses textos sagrados com a narração de Irling Shelton, uma das representantes de “L’Homme Nouveau” no congresso de Notre Dame:

“A oração perde seu ritualismo, seu formalismo, sua rotina.” (Por que rotina?) Sem rejeitar completamente a oração ritual (…) a tônica é posta na espontaneidade (…)  “a expressão dessa efusão anterior pode então se acompanhar de movimentos da sensibilidade. Cantam, riem, choram, batem as mãos, prosternam-se no chão ou elevam os braços (…) Essas manifestações incontroladas da emotividade podem degenerar em atitudes grotescas e até em histeria de grupo. Mas quando o líder (?) controla bem seu grupo de orações, e sua emotividade, as manifestações sensíveis da efusão do Espírito poderão aquecer os corações e servir de edificação para todos”.

Chamo a atenção do leitor católico alfabetizado na boa doutrina para a sem-cerimônia com que a autora dessas linhas atribui tais efusões ao Espírito, em vez de atribuí-las à Carne que costuma opor às obras do Espírito esse tipo de exteriorização. Na sadia espiritualidade traçada na Igreja pelos santos doutores aprendemos que os dons do Espírito Santo são recebidos por todos desde o seu batismo, e sabemos também que a espontaneidade sobrenatural é o chamado “modo dos dons” que opera nas almas longamente trabalhadas, arduamente purgadas. Há uma espontaneidade animal, sensível que precede a maturidade e a espiritualização. Qualquer criança a possui. Mas a espontaneidade dos dons é uma longa conquista que só os grandes santos atingem através da noite dos sentidos e da subida do Carmelo.

Estas poucas considerações tecidas no plano da teologia mística servem para mostrar que não há nada mais diverso e distante da verdadeira espontaneidade dos santos do que essa dos novos carismáticos.

Essas e outras notas do movimento chamado “Pentecostismo” mostram, a quem conheça os rudimentos da sagrada doutrina, que se trata de mais uma subversão contra a Igreja, disfarçada na falsa sublimidade de manifestações temerariamente atribuídas ao Espírito Santo. Explicam-se talvez pela extrema miséria a que chegou esta infortunada geração condenada às oscilações vertiginosas que vão da mais profunda depressão à mais delirante exaltação. Dá pena. Sim, dá-nos uma imensa tristeza esse quadro — mais esse! — de uma geração que se precipita na degradação dos mais altos dons naturais e sobrenaturais com uma espécie de irresponsabilidade, de subinocência que nos leva à vertiginosa indagação sobre a origem desse mal. Quem será então o culpado do rapto de crianças? Quem serão os culpados da perversão de toda essa geração dos que já não sabem de que espírito são? Deverei procurar entranhas de misericórdia para não ver culpas nos erros e nas quedas? Não seriam antes entranhas de indiferença que de bondade?

Ah! Se pudéssemos deixar os “pentecostistas” fazerem a grande antepenúltima asneira do século! Se pudéssemos apenas suspirar e lamentar o misterioso consentimento divino! O dia correria mais doce e o crepúsculo da vida teria a suavidade das tardes em que o Céu e a Terra parecem festejar o feliz amadurecimento de um dia do mundo. Mas que contas prestaria eu a Quem me pôs esta pena na mão e esse papel estendido sobre a mesa?

(Revista “Resistência”, 15 de Janeiro de 1974)

É a última espetacular novidade religiosa que se espalha com grande sucesso no mundo inteiro. Num recorte recente de “Le Monde” lemos a notícia desse movimento cujo sucesso se contrapõe, na pena de Henri Fesquet, “ao declínio das grandes Igrejas” mais ou menos institucionalizadas. Esse movimento de origem protestante, nascido antes do século, cresceu agora rapidamente. O número de “Assembléias de Deus” que era de 264 em 1963 ultrapassa o número de 400 em 1972. Calcula-se em dez milhões o número de praticantes no mundo inteiro”, diz “Le Monde“; e como era de esperar anuncia que o movimento já entusiasmou o mundo católico onde ganha o nome de “renovação carismática” e até reclama o mais ousado título de “novo pentecostes“.

Em Junho reuniu-se na Universidade Notre Dame, nos Estados Unidos, um “congresso de renovação carismática” com o comparecimento de 25.000 participantes entre os quais figuravam muitos padres, Bispos, e o Cardeal Suhenens, Primaz da Bélgica.

Que dizem de si mesmos esses católicos empenhados em tal movimento? Várias publicações, entre as quais destaco a do jovem casal americano Kevin e Dorothy Ranaghan, num livro traduzido em francês com o título “Le Retour de l’Esprit“, apresentam o movimento pura e simplesmente como uma descontinuidade explosiva surgida na História do Cristianismo e produzida, nem mais nem menos, por uma nova descida do Espírito Santo sobre os milhares de adeptos que recebem, por imposição das mãos de outros, o “batismo do Espírito” e subitamente se convertem, mudam de vida, passam da mais profunda depressão à mais jubilosa exaltação, e começam a “falar em línguas“, como os cristãos da Igreja nascente, e como os apóstolos no dia de Pentecostes (At 2, 1)

Uma as características do estado de espírito produzido nas assembléias carismáticas é a predominância da exteriorização sobre a interiorização, e a marcada emotividade que leva os adeptos a sentirem a presença do Espírito Santo, e a declararem essa convicção com uma espontaneidade — cada um contando sua experiência própria — que se liberta de qualquer compromisso de submissão à aprovação da Igreja.

Até aqui o nosso espanto não foi excessivo porque este fim de século e o mundo católico dito “progressista” já nos saturaram de extravagâncias, e já nos embotaram a manifestação do espanto. A nossa preocupação começou a ganhar dimensões de alarme quando vimos que o prudente hebdomadário “L’Homme Nouveau”, dirigido por Marcel Clement, enviou 7 representantes ao Congresso de “renovação carismática” na Universidade Notre Dame, e que o próprio Marcel Clement, no seu editorial de 1o. de Julho, não hesita em falar de “novo Pentecostes” e de fazer este estranho pronunciamento:

É uma realidade de Igreja. Equilibrada, serena, poderosa. Não se trata de misticismo exaltado. É verdadeiramente o Espírito Santo que os invade e os faz caminhar muito depressa até à única e verdadeira Igreja de Jesus Cristo.”

A nós nos parece que depressa demais pronunciou-se o Prof. Marcel Clement, como também nos parece incompreensível que se diga “cheminement très vite jusqu’à la seule et veritable Église de Jesus Christ” de pessoas já nela inseridas pelos sacramentos.

Prevemos o caminho de uma luta mais difícil do que as outras que até agora tivemos de enfrentar porque todos terão pressa excessiva de marcar pontos positivos num movimento em que os rapazes e as moças só dizem que querem rezar em “comunidade carismática“, porque receberam do próprio Espírito Santo, num novo Pentecostes, dons maravilhosos que os tiraram dos mais profundos abismos e os elevam à mais pura alegria. Quem quererá cobrir-se do negrume de todas as antipatias para enfrentar tão maravilhosa transformação do mundo com um mínimo de reserva ou de exigência?

Para encaminhar adequadamente a questão, amigo leitor, começo por lhe lembrar alguns títulos que nos dão direitos a certas exigências. Somos um povo que há 2 mil anos segue a pista de um Deus flagelado; pertencemos à forte raça daqueles mártires que deram o sangue para testemunhar a verdadeira Religião e para resistir a todas as fraudes; descendemos também daqueles outros que silenciaram nos mosteiros os seus próprios sentimentos e as suas próprias emoções para deixar que só o Espírito de Deus falasse por eles. Pertencemos a um Povo ainda mais antigo que ouviu do próprio Deus o trovão de uma identidade absoluta:

Eu sou aquele que sou”, e o preceito da mais inquebrantável intolerância: “não terás outro deus diante de minha face“.

Tudo isto, amigo leitor, nos inclina a uma profunda aversão por tudo que pareça equívoco, e que, em matéria de Religião, mais manifeste as turbulências da pobre alma humana torturada por um mundo encandecido do que as grandezas de Deus manifestas pelos Apóstolos no dia do único e verdadeiro Pentecostes.

Logo a seguir tentarei expor as razões que me levam a ver nesse movimento uma nova feição da “revolução” que quer por vários processos destruir a Igreja.

Aqui trago apenas os títulos que me dão o direito de exprimir tais reservas, e que me lembram o dever de as exprimir. Pecador e inútil servidor, pertenço todavia àquela raça exigente. Sou homem de Igreja que só quer nela viver e nela morrer.

Para comparar o movimento chamado “pentecostismo” com a Igreja de Jesus Cristo, comecemos por comparar a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos, no dia de Pentecostes ao “novo pentecostes” que desce sobre cada um dos 25 mil membros do encontro realizado na Universidade Notre Dame (USA).

Há fenômenos semelhantes, como a “glossolalia” ou língua estranha falada pelos crentes do Cristianismo no primeiro século, pelos Apóstolos no dia de Pentecostes, e hoje pela multidão dos pentecostistas. Mas a semelhança termina quando ponderamos que Pentecostes foi, para a Igreja nascente, não uma explosão de manifestações espontâneas e multiplicadas, mas, ao contrário, um atingimento de maturidade e de esplendor de ordem. Foi mais uma cristalização eclesial do que uma explosão carismática. Diríamos até que esse grande dia da Confirmação da Igreja vinha pôr termo à anarquia ou à dispersão informe dos primeiros tempos. Assinalemos que, em Pentecostes, com a evidência das línguas de fogo, a descida do Espírito Santo se fazia sobre a Hierarquia para bem marcar o caráter da Igreja Católica. E as “línguas” que também os Apóstolos nesse dia falaram, usando o dom das línguas que S. Paulo não reprova mas não estimula? Ora, esse ponto de semelhança é na verdade um ponto de oposição porque, enquanto os “pentecostistas” de hoje falam línguas que ninguém entende, nem eles mesmos, os Apóstolos falavam uma “língua que todos os vários estrangeiros presentes ouviram e entenderam como a própria”. Torna-se evidente que o Espírito Santo, nesse dia, usou o mesmo dom para exprimir a “unidade de língua” da Igreja e a sua destinação universal. Formalmente, essa “unidade de língua” significa “unidade de doutrina”, mas também pode significar a real unidade de língua que a Igreja teria quando recebesse seu o cunho Romano e portanto latino.

Vê-se assim que o “novo pentecostes” é dispersador quando o verdadeiro Pentecostes foi congraçador; que o moderno fenômeno é anarquista onde o autêntico é ordenador e hierárquico; que o moderno fenômeno se traduz em manifestações emotivas diversas e mais ou menos chocantes, enquanto o verdadeiro Pentecostes se arremata por um discurso de Pedro que imprime ao mistério pentecostal todo o seu sentido de unidade eclesial. É especialmente digno de nota o arremate do discurso de Pedro e do capítulo II dos “Atos“.

Vale a pena comparar esses textos sagrados com a narração de Irling Shelton, uma das representantes de “L’Homme Nouveau” no congresso de Notre Dame:

“A oração perde seu ritualismo, seu formalismo, sua rotina.” (Por que rotina?) Sem rejeitar completamente a oração ritual (…) a tônica é posta na espontaneidade (…)  “a expressão dessa efusão anterior pode então se acompanhar de movimentos da sensibilidade. Cantam, riem, choram, batem as mãos, prosternam-se no chão ou elevam os braços (…) Essas manifestações incontroladas da emotividade podem degenerar em atitudes grotescas e até em histeria de grupo. Mas quando o líder (?) controla bem seu grupo de orações, e sua emotividade, as manifestações sensíveis da efusão do Espírito poderão aquecer os corações e servir de edificação para todos”.

Chamo a atenção do leitor católico alfabetizado na boa doutrina para a sem-cerimônia com que a autora dessas linhas atribui tais efusões ao Espírito, em vez de atribuí-las à Carne que costuma opor às obras do Espírito esse tipo de exteriorização. Na sadia espiritualidade traçada na Igreja pelos santos doutores aprendemos que os dons do Espírito Santo são recebidos por todos desde o seu batismo, e sabemos também que a espontaneidade sobrenatural é o chamado “modo dos dons” que opera nas almas longamente trabalhadas, arduamente purgadas. Há uma espontaneidade animal, sensível que precede a maturidade e a espiritualização. Qualquer criança a possui. Mas a espontaneidade dos dons é uma longa conquista que só os grandes santos atingem através da noite dos sentidos e da subida do Carmelo.

Estas poucas considerações tecidas no plano da teologia mística servem para mostrar que não há nada mais diverso e distante da verdadeira espontaneidade dos santos do que essa dos novos carismáticos.

Essas e outras notas do movimento chamado “Pentecostismo” mostram, a quem conheça os rudimentos da sagrada doutrina, que se trata de mais uma subversão contra a Igreja, disfarçada na falsa sublimidade de manifestações temerariamente atribuídas ao Espírito Santo. Explicam-se talvez pela extrema miséria a que chegou esta infortunada geração condenada às oscilações vertiginosas que vão da mais profunda depressão à mais delirante exaltação. Dá pena. Sim, dá-nos uma imensa tristeza esse quadro — mais esse! — de uma geração que se precipita na degradação dos mais altos dons naturais e sobrenaturais com uma espécie de irresponsabilidade, de subinocência que nos leva à vertiginosa indagação sobre a origem desse mal. Quem será então o culpado do rapto de crianças? Quem serão os culpados da perversão de toda essa geração dos que já não sabem de que espírito são? Deverei procurar entranhas de misericórdia para não ver culpas nos erros e nas quedas? Não seriam antes entranhas de indiferença que de bondade?

Ah! Se pudéssemos deixar os “pentecostistas” fazerem a grande antepenúltima asneira do século! Se pudéssemos apenas suspirar e lamentar o misterioso consentimento divino! O dia correria mais doce e o crepúsculo da vida teria a suavidade das tardes em que o Céu e a Terra parecem festejar o feliz amadurecimento de um dia do mundo. Mas que contas prestaria eu a Quem me pôs esta pena na mão e esse papel estendido sobre a mesa?

(Revista “Resistência”, 15 de Janeiro de 1974)

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Fonte: Fraternidade Sacerdotal São Pio X – Brasil

Se fala muito em nossos dias, na Igreja, do pentecostalismo e dos carismáticos. Há, de fato, numerosos católicos que hoje se esforçam em receber a graça do Espírito Santo por uma nova via que, em definitivo, nos vem do protestantismo. Pois o pentecostalismo nasceu no protestantismo e se difundiu na Igreja, onde se transformou em movimento carismático. Nos vemos obrigados a constatar que estas manifestações se multiplicam cada vez mais, e isto com a autorização das autoridades eclesiásticas.

Com motivo da reunião do Katholikentag, em Munique, em novembro de 1984, todos os cardeais e bispos alemães estavam reunidos com oitenta mil de seus fiéis. Todo o mundo pôde ser testemunha desses fatos estranhos que ocorreram, especialmente antes da recepção do sacramento da Eucaristia. Alguém pode, em verdade, perguntar-se se estas eram inspiradas pelo verdadeiro Espírito de Deus, ou por outro espírito.

Pouco depois, na mesma época, em Graz (Áustria), realizaram-se fenômenos carismáticos na presença do bispo, quem explicou que, desde agora, estas estavam introduzidas na Igreja, como um meio de atrair os jovens aos templos que se esvaziavam. Talvez, anotou, este seria um caminho para fazer reviver a vida cristã na juventude.

Ao mesmo tempo, em Paray-le-Monial (França), realizam-se freqüentemente fatos idênticos, revestidos também de certos aspectos tradicionais. Lá, em particular, se vê jovens que passam a noite em adoração diante do Santíssimo Sacramento, recitam o rosário e dão testemunho de um espírito de oração. Logo se dá ali um aspecto curioso e estranho que mistura, ao mesmo tempo, a tradição e expressões mais bem estranhas que habituais na Igreja.

O que devemos pensar a respeito? Devemos crer, por acaso, que foi aberta uma nova via por ocasião do Concílio Vaticano II e alguns anos antes, para receber o Espírito Santo? Parece que estes fenômenos não seriam de todo conformes com a Tradição da Igreja. Quem nos dá o Espírito Santo? Quem é o Espírito?

 

De onde vem o Espírito?

O Espírito é Deus. Spiritus est Deus, diz São João. “Deus é Espírito”. Deus quer que se lhe reze e se lhe adore em espírito e em verdade. Por conseguinte, nosso amor ao Espírito Santo deve manifestar-se muito mais por um estado de ordem espiritual que por manifestações sensíveis, exteriores. Nosso Senhor Jesus Cristo mesmo é quem anuncia aos Apóstolos, no Evangelho, que receberão o Espírito Santo, que lhes enviará o Espírito do Pai, o Espírito de verdade, de caridade. Mittam eum ad vos. “Vos lho enviarei”. Este Espírito vem, pois, de Nosso Senhor Jesus Cristo e do Pai. Dizemos no Credo: Credo in Spiritum Sanctum, qui ex Patre Filioque procedit. “Que procede do Pai e do Filho”. É esta a Fé Católica: cremos que o Espírito Santo vem do Pai e do Filho, e que Nosso Senhor Jesus Cristo veio precisamente à terra para entregar-nos sua vida espiritual, sua vida divina.

 

Os Sacramentos

Como foi-nos dado o Espírito Santo? Que meios usou Nosso Senhor? Empregou, por acaso, estas manifestações que vemos no pentecostalismo e no carismatismo? De modo algum. Elegeu o meio dos sacramentos que instituiu para comunicar-nos seu Espírito.

Devemos insistir especialmente sobre esta verdade da Tradição: Nosso Senhor nos comunica seu Espírito pelo batismo. O disse a Nicodemos nessa entrevista noturna que teve com ele: “Quem não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus”. Devemos renascer da água e do Espírito Santo. É assim, igualmente, que Nosso Senhor comunicou seu Espírito aos Apóstolos. Eles receberam primeiro o batismo de João e posteriormente, em Pentecostes, o batismo do Espírito. E de imediato, depois de receber o Espírito Santo, o que fizeram? Os Apóstolos batizaram. Comunicaram o Espírito Santo a todos aqueles que tinham a fé, a todos os que criam em Nosso Senhor Jesus Cristo.

Deste modo, pois, a Igreja, debaixo da influência e do mandato de Nosso Senhor Jesus Cristo mesmo, comunica o Espírito Santo às almas pelo Batismo. Me parece que teríamos que meditar mais sobre a grande realidade de nosso batismo. Quando recebemos este sacramento realizou-se em nossas almas uma transformação total. Os demais sacramentos vêm a completar esta efusão do Espírito Santo, recebida no dia de nosso batismo.

O sacramento da Confirmação nos comunica também todos os dons do Espírito Santo com grande profusão; necessitamo-lo para alimentar e fortificar nossa vida espiritual, nossa vida cristã.

Isto não é tudo. Em efeito, Nosso Senhor quis que dois sacramentos em particular nos comuniquem seu Espírito de maneira freqüente, a fim de manter em nós a efusão de seu Espírito. Estes são os sacramentos da Penitência e da Eucaristia. O sacramento da Penitência reforça a graça que temos recebido no dia de nosso batismo e purifica nossas almas de nossos pecados. O sacramento da Penitência, em conseqüência, restitui em nós a virtude do Espírito Santo, a virtude da graça.

Que dizer do sacramento da Eucaristia! Sacramento dado pelo Santo Sacrifício da Missa. É no mesmo instante em que se consuma o Sacrifício da Missa, que é o Sacrifício da Redenção continuado, se realiza o sacramento da Eucaristia. Esta graça flui do Coração transpassado de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Sangue e a água que escapam de seu Sagrado Coração manifestam as graças da Redenção e nos comunicam ao mesmo tempo sua vida divina. Na Sagrada Eucaristia recebemos a santificação de nossas almas, pelo distanciamento do pecado e o apego a Nosso Senhor Jesus Cristo, como de outra das fontes do Espírito.

Os sacramentos do Matrimônio e da Ordem santificam a sociedade. O sacramento do Matrimônio santifica todas as almas. Estas são, pois, novas ocasiões pelas quais Nosso Senhor Jesus Cristo nos dá realmente seu Espírito, que é um Espírito de verdade, de caridade e de amor.

Finalmente, o sacramento da Extrema Unção nos prepara para receber a verdadeira e definitiva efusão do Espírito Santo, quando receberemos nossa recompensa no Céu.

 

Não temos direito a eleger outros meios

Eis aqui os meios pelos que Nosso Senhor Jesus Cristo quis comunicar-nos sua vida espiritual, seu próprio Espírito. Não temos direito de eleger outros meios fora dos que Nosso Senhor mesmo instituiu, meios tão simples, tão formosos, tão eficazes, tão simbólicos aos mesmo tempo. Não temos direito a esperar que por simples manifestações exteriores, por gestos particulares, possamos receber o Espírito Santo. É muito temeroso que estas outras manifestações sejam inspiradas pelo mal espírito, para enganar precisamente aos fiéis, fazendo-os crer que recebem o verdadeiro Espírito de Nosso Senhor. Em realidade, não recebem, de nenhum modo, este Espírito, senão que um espírito muito distinto… Tenhamos o cuidado de não deixarmo-nos arrastar, e quando se apresente a ocasião, distanciemos destes fenômenos e manifestações aqueles nossos familiares que se sentem atraídos por eles.

 

A verdadeira ação do Espírito Santo nas almas por meio de seus dons

Qual é a ação da efusão do Espírito Santo em nós? É, antes de tudo, distanciar-nos do pecado, por seus dons particulares e pelo temor de Deus. Especialmente pelo temor filial e não pelo temor servil que, certamente, pode ser útil pelo medo aos castigos para manter-nos no caminha da fidelidade a Nosso Senhor Jesus Cristo, na obediência aos seus mandamentos. Mas, devemos cultivar sobretudo o temor filial. É o que nos dá o Espírito Santo em seu dom de temor: o temor de distanciar-nos de Nosso Senhor Jesus Cristo que é nosso tudo, de distanciar-nos de Deus, do Espírito Santo. Este temor deveria ser suficiente e eficaz para rechaçar todo o pecado voluntário, qualquer que seja. O primeiro efeito dos dons do Espírito Santo é que nossa vontades não se distanciem de Deus por apegar-se aos bens temporais contra a sua santa vontade.

O Espírito Santo nos inspira a submissão à vontade de Deus pelos dons de conselho e de sabedoria. O dom de conselho aperfeiçoa a virtude da prudência. Precisamos, no transcurso da vida, saber qual é a vontade de Deus, para cumpri-la. Isto nem sempre é simples. Algumas vezes certas decisões não são fáceis de tomar e é difícil conhecer a vontade divina. O Espírito Santo nos esclarece pelo dom de conselho e o dom de sabedoria.

O Espírito Santo nos incita igualmente, pelo dom de piedade que nos comunica, a rezar, a unirmo-nos com Nosso Senhor Jesus Cristo, a unirmo-nos com Deus mediante a oração. Este dom de piedade se manifesta de um modo particular na virtude da religião, que forma parte da virtude de justiça, já que é justo e digno que lhe demos um culto. E o culto que Deus quer que lhe rendamos passa por Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pelo Sacrifício da Missa, Deus quis que lhe rendamos toda honra e toda glória, com Nosso Senhor Jesus Cristo, por Nosso Senhor Jesus Cristo, em Nosso Senhor Jesus Cristo. Isto é o que a Igreja pede que façamos a cada domingo: que nos unamos ao Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Santa Missa é a oração mais bela e mais grandiosa. Por meio dela o Espírito Santo nos inspira esta virtude de religião, esse espírito de piedade profunda, muito mais espiritual que sensível.

 

Um slogan: A participação ativa na liturgia

Por isto, também neste ponto, existe um erro na reforma litúrgica, quando se insistiu tanto na participação dos fiéis. Eu mesmo ouvi dizer de Dom Bugnini, artífice fundamental da reforma: “Toda esta reforma foi feita com a finalidade de fazer participar os fiéis na liturgia”. Mas, de que participação se trata? De uma participação puramente exterior? Não há que buscar mais bem a união interior? A união espiritual, sobrenatural? Para que essas cerimônias? Para que esses cantos? Para que essas orações vocais? Não é para unir nossas almas a Deus? Eis aqui o que há que contestar.

Por isto, é muito concebível que o fiel que assiste ao Santo Sacrifício da Missa permaneça em silêncio, sem abrir sequer seu missal, se se sente deveras atraído, conquistado, inspirado de certo modo, pelos sentimentos que o sacerdote manifesta em sua ação. Escutando o sacerdote fazer sua confissão, seu ato de contrição, a alma se une ao sacerdote e se arrepende de seus pecados.

Quantas pessoas dizem: “Já não se pode rezar nas novas missas! Se ouve sempre algo. Se ouve uma oração pública. Durante todo o tempo já uma manifestação exterior que faz com que estejamos distraídos e que não possamos recorrer-nos mais para unirmo-nos realmente com Deus”. Sucede exatamente todo o contrário da oração.

 

Da piedade à contemplação

Finalmente, os dois últimos dons de entendimento e de ciência nos convidam à contemplação de Deus através das coisas deste mundo. O dom de ciência e o dom de entendimento penetram e nos dão luz sobre a existência de Deus, sobre sua presença em todas as coisas, e particularmente nas manifestações espirituais e sobrenaturais de Deus através da graça e dos sacramentos. A alma inspirada pelo Espírito Santo vê, de algum modo, a presença de Deus em todo lugar, e se une assim a Deus durante sua vida, esperando vê-lo tal qual é, na vida eterna.

 

O Espírito Santo, fonte da vida interior

Eis aqui, em verdade, o que é o Espírito Santo, e como se manifesta. Se o admira nos Evangelhos e nos Atos dos Apóstolos, em todas as Epístolas dos Apóstolos. O Espírito Santo se encontra em todas as partes. Se manifesta aonde quer. É a expressão muito clara da vontade de Deus, que consiste na santificação de nossas almas pela presença de seu Espírito.

Peçamos à Santíssima Virgem Maria, que sempre esteve cheia do Espírito Santo, que nos ajude a viver esta vida interior contemplativa, Ela que exteriorizou pouco sua oração. Algumas palavras no Evangelho bastam para mostrar-nos e descobrir-nos um pouco a alma da Santíssima Virgem Maria. Ela meditava as palavras que pronunciava Nosso Senhor. O Evangelho nos diz que Ela as repetia em seu Coração. Eis aqui o Espírito da Santíssima Virgem Maria: Ela meditava as palavras de Jesus. Meditemos também nós as palavras do Evangelho, meditemos as palavras que a Igreja põe em nossos lábios, para unir-nos mais a Deus.

+ Marcel Lefebvre
Arcebispo.

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Por volta de 1531, os missionários espanhóis haviam já aprendido a língua dos indígenas para fins de evangelização. Conforme a antiga tradição, foi justamente nesse ano que a Virgem Mãe de Deus apareceu ao recém convertido Juan Diego (João Diogo, em Português), um piedoso índio, na colina de Tepeyac, perto da capital do México. Com muita afabilidade o exortou a ir ter com o Bispo e pedir-lhe que nesse lugar erguessem um Santuário em sua honra. O Bispo da diocese, Dom Frei João de Zumárraga retardou a resposta a fim de averiguar, cuidadosamente, o que tinha acontecido. Quando Juan, movido por uma segunda aparição e nova insistência da Santíssima Virgem, renovou as suas súplicas, entre lágrimas, ordenou-lhe o bispo que pedisse um sinal que comprovasse de que a ordem vinha realmente da grande Mãe de Deus.
Vindo Juan, certo dia, de um lugar mais distante, por um caminho que não passa pela colina de Tepeyac e dirigindo-se à capital, à procura de um sacerdote que administrasse os últimos sacramentos ao tio moribundo, a Virgem veio ao seu encontro, pela terceira vez, e consolou-o com a notícia do completo restabelecimento do tio, colocando-lhe no manto estendido belíssimas flores que haviam desabrochado há pouco tempo, apesar da esterilidade do terreno e do inverno: “Escuta, meu filho, não temas; não fiques preocupado ou assustado; não tens que temer essa doença, nem outro qualquer dissabor ou aflição. Não estou eu aqui ao teu lado? Eu sou a Mãe dadivosa. Não te escolhi para mim e não te tomei ao meu cuidado? Não permitas que nada te aflija ou perturbe. Quanto à doença do teu tio, não é mortal. Acredita: agora mesmo ficará curado.”
Ao ouvir estas palavras, o piedoso vidente voltou a renovar o seu oferecimento para levar o sinal ao Bispo.
A SS. Virgem mandou-o ao lugar onde a tinha visto pela primeira vez, dizendo-lhe que lá encontraria uma grande variedade de flores. Que as colhesse e as trouxesse.
Subiu Juan Diego ao alto da colina. No frio mês de Dezembro, naquela terra árida e rochosa, onde nem vegetação havia, tinham brotado abundantes rosas de cor e perfume maravilhosos. Nossa Senhora colocou-as no “poncho” (manta com um buraco no meio por onde enfiavam a cabeça) e mandou levá-las ao Bispo que com este sinal se havia de convencer.

Juan Diego obedeceu e, ao despejar as flores perante o Bispo, apareceu uma linda pintura de Nossa Senhora tal como ela se mostrara na colina perto da cidade. O bispo acompanhou Juan ao local designado por Nossa Senhora e depois foi ver o tio dele, já curado. Este, ouvindo descrever a Senhora, assentiu sorrindo: “Eu também a vi. Ela veio a esta casa e falou-me. Disse-me também que desejava a construção de um templo na colina de Tepeyac. Disse que sua imagem seria chamada Santa Maria de Guadalupe, embora não tenha explicado o porquê.”

A fama do milagre espalhou-se rapidamente por todo o território. Os cidadãos, profundamente impressionados por tão grande prodígio, procuraram guardar respeitosamente a santa Imagem na capela do paço episcopal. Mais tarde, após várias construções e ampliações, chegou-se ao magnífico templo actual. De toda a parte e não só do México, acorrem os homens à Senhora de Guadalupe.

Em 1754, escrevia o Papa Bento XIV: “Nela tudo é milagroso: uma imagem que provém de flores colhidas num terreno totalmente estéril, no qual só podem crescer espinheiros; uma Imagem estampada num tecido tão transparente que se pode ver através dele facilmente o povo e a nave da Igreja: uma imagem em nada deteriorada, nem no seu supremo encanto, nem na nitidez das cores, pelas emanações da humidade do lago vizinho que já corroeram a prata, o ouro e o bronze… Deus não procedeu assim com nenhuma outra nação.”

Fonte: http://www.evangelhoquotidiano.org

Virgem de Guadalupe, Padroeira das Américas e Protetora dos  Nascituros, Rogai por nós!


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Doctrinam, quæ tenet, beatissimam Virginem Mariam in primo instanti suæ conceptionis fuisse singulari omnipotentis Dei gratia et privilegio, intuitu meritorum Christi Jesu Salvatoris humani generis, ab omni originalis culpæ labe præservatam immunem, esse a Deo revelatam atque idcirco ab omnibus fidelibus firmiter constanterque credendam.

A doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, essa doutrina foi revelada por Deus, e por isto deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis.

Pio IX, Ineffabilis Deus
8 de dezembro de 1854

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